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Fail Safe – Código de Ataque (2000)


 

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Um projeto verdadeiramente interessante. Inicialmente, ele me lembrou uma peça de teatro. Mas depois, com o recurso de closes, especialmente, e de vários cenários sendo intercalados em sequência – o que possibilita os tradicionais cortes das produções cinematográficas -, Fail Safe se mostrou realmente um belo exemplar de cinema. Grande indicação do Giancarlo, leitor deste blog, há muito e muito tempo atrás. Este é o típico filme que, sem uma indicação, dificilmente o veria. E valeu muito a pena tê-lo assistido. Acho que um belo exemplar para eu começar a minha sequência de colocar as dicas dos leitores deste espaço em dia. 

A HISTÓRIA: O General Warren Black (Harvey Keitel) acorda cedo para um dia que ele sabe que será pesado, afinal, terá que enfrentar “grandes tubarões” em uma reunião no Pentágono. Paralela a essa reunião, o General Bogan (Brian Dennehy) apresenta para o congressista Raskob (Sam Elliot) como funciona a segurança aérea dos Estados Unidos diretamente na fronteira com o inimigo, a União Soviética. Tudo segue a normalidade até que uma falha no sistema aciona o código de ataque nuclear que leva a equipe liderada pelo Coronel Jack Grady (George Clooney) a se lançar contra Moscou. Entra em ação o presidente dos Estados Unidos (Richard Dreyfuss) que tenta de tudo para impedir uma guerra nulclear desastrosa para a Humanidade.

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Fail Safe): Como eu dizia inicialmente, o começo de Fail Safe – a versão do ano 2000 e não a de 1964, atenção! – me lembrou uma peça de teatro. Harvey Keitel seguia os trejeitos de um ator que encena em tempo real e sem cortes para uma platéia. A justificativa é óbvia: Fail Safe é um filme e, ao mesmo tempo, quase uma peça teatral. Isso porque, como bem confirma Walter Cronkite no início do filme, se trata de um projeto ousado da rede de televisão CBS que transmitiu, ao vivo, a “encenação” deste filme – experiência única na história da emissora em 39 anos de existência.

A idéia não era exatamente original. Pelo menos na questão de filmagem. Alfred Hitchcock já havia ousado desta maneira antes com o filme Rope, que foi rodado em um único cenário e praticamente de forma contínua – praticamente porque, na verdade, o filme foi feito em tomadas de 10 minutos que, depois editadas, deram a impressão de serem uma única tomada sequencial. Mas a exibição de Fail Safe foi algo realmente inédito na TV. Até então, nunca se havia feito um “filme” de forma contínua e que fosse exibido ao vivo – algo comum e diferente eram os “teleteatros”, ou seja, encenações dramáticas exibidos ao vivo. Então, claro que se justifica aquela sensação de “estou vendo uma peça teatral?” que volta e meia sentimos com Fail Safe. Só que o interessante é que a direção competente de Stephen Frears consegue dar ritmo para o filme e nos fazer esquecer, volta e meia, que estamos vendo uma sequencia de filmagens sem interrupção. Um dos grandes trabalhos do diretor, sem dúvida.

Mas para mim o grande nome deste filme é o de Richard Dreyfuss. Há tempos eu não assistia a uma interpretação tão impactante deste ator. Ele e Harvey Keitel mostram que dominam a interpretação como poucos no ramo. Os demais atores, em geral, também estão bem – de George Clooney a Brian Dennehy, passando por Noah Wyle e Sam Elliott -, mas ninguém se destaca mais que Dreyfuss. Sua interpretação é digna de aplausos. 

Um filme interessante por sua dinâmica e pela história, é claro. Uma crítica feroz aos avanços da tecnologia como armas para a guerra. (SPOILER – não leia se não assistiu ao filme ainda). A decisão do presidente em explodir Nova York como maneira de “apaziguar” os ânimos do presidente russo para evitar uma guerra nuclear que praticamente dizimaria a Humanidade é de matar. Necessária, mas impactante. A verdade é que quando fica evidente que nenhuma manobra será capaz de impedir o desastre, o filme ganha em força e em crítica. A que ponto quase chegamos? É a pergunta que fica no ar. E como bem denuncia a produção no final, o risco de absurdos ainda existe – afinal, atualmente, nove países tem controle de bombas nucleares. 

Dispositivos de segurança são suscetíveis a defeitos e problemas, como denuncia a obra de Eugene Burdick e Harvey Wheeler. E vivemos cada vez mais afundados em uma era tecnológica – pouco questionada, diga-se. Então quanto tempo vai demorar para que um problema “técnico” nos coloque em um verdadeiro caos? Esta é uma resposta que ninguém parece ter, mas que não custa indagar. A verdade é que hoje, mais do que em 1964 ou no ano 2000, os questionamentos de Fail Safe são importantes. Ok, não estamos mais em uma Guerra Fria. Estados Unidos e União Soviética não ficam mais medindo quem tem o porrete maior. Mas onde existe dinheiro existe busca por poder, e onde existe esse tipo de busca há também perigo.

A qualidade de Fail Safe em sua época foi questionar o que era inquestionável: a corrida armamentista e a confiança de Estados Unidos e União Soviética na alta tecnologia para “mediar” decisões vitais para a Humanidade. Hoje esta obra serve como um alerta para a segunda questão, o uso massificado e poderoso da tecnologia no mundo moderno. 

NOTA: 9.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: O projeto filmado para a TV e transmitido ao vivo no ano 2000 é uma refilmagem do material que originou o elogiado filme homônimo dirigido por Sidney Lumet em 1964. No original, fazia parte do elenco Henry Fonda (como o Presidente), Walter Matthau (como o professor Groeteschele), Dan O’Herlihy (como o General Warren A. Black) e Frank Overton (como o General Bogan), entre outros. Filmado também em preto-e-branco, Fail Safe de 1964 tinha roteiro de Walter Bernstein, inspirado no livro dos escritores Eugene Burdick e Harvey Wheeler. Em sua época, o filme concorreu a três prêmios, um no BAFTA e dois no extinto Laurel Awards.

Além dos atores já citados, Fail Safe (2000) conta com a participação de Noah Wyle como Buck, o tradutor que acompanha as negociações entre os presidentes dos Estados Unidos e da União Soviética; James Cromwell como Gordon Knapp, o “tecnólogo” que explica como uma máquina pode ter causado todo aquele caos; John Diehl como o Coronel Cascio, que reluta em atender as ordens superiores para matar compatriotas seus; Hank Azaria como o Professor Groeteschele, um maluco que tenta vender a idéia no Pentágono de extermínio dos russos – depois de dizer que eles se “entregariam” por saber que os ianques eram superiores; Norman Lloyd como o Secretário de Defesa Swenson, que tenta ser o “equilibrado” na questão; Bill Smitrovich como o General Stark; Don Cheadle como Jimmy Pierce, o homem que “cavalga” para a morte junto com Grady, entre outros.

A versão de 2000 de Fail Safe conseguiu a nota 7,1 pelos usuários do site IMDb. Por seu lado, o site Rotten Tomatoes abriga apenas cinco críticas sobre o filme – todas positivas. Ou seja: Fail Safe, versão ano 2000, tem 100% de aprovação dos críticos. Para David Cornelius, do DVDTalk.com, este é um dos “projetos para a televisão mais notáveis” que ele tem registrado em sua “memória recente”.

Fail Safe, na versão para a televisão, ganhou três prêmios e foi indicado a outros seis – incluindo um Globo de Ouro. Entre os prêmios que ganhou estão dois Emmy’s para a equipe técnica e um Saturn Award pela Academia de Ficção Científica, Fantasia e Horror.

Fail Safe, dirigido por Stephen Frears, foi exibido ao vivo pela CBS no dia 9 de abril de 2000.

CONCLUSÃO: Um filme rodado ao vivo para a televisão que trata de um texto muito bem produzido sobre os absurdos que a disputa pelo poder entre nações podem provocar – assim como do tema da tecnologia como algo que pode causar danos irreversíveis. Bem dirigido e com atuações muito boas – e uma excepcional, a de Richard Dreyfuss -, é um filme que lembra um pouco a dinâmica do teatro mas que, ao mesmo tempo, consegue trabalhar com planos de câmera (especialmente o uso de closes) que caracterizam o cinema. Um belo exemplo de um ótimo filme produzido para a TV. Vale ser visto tanto pela experiência inovadora que ele significou no ano 2000 como pelo resultado em si.

SUGESTÃO DE LEITORES: Como eu disse lá no começo, este filme foi sugerido pelo leitor Giancarlo – que, aliás, anda bastante sumido, hein? Por onde andas?? Demorei um bocado para assistí-lo, primeiro porque quase não tinha tempo de ver a filmes, depois porque fazia críticas um pouco “encomendadas” para um site do qual participava como colaborada – por isso alguns filmes eram “datados” graças a lançamentos nas videolocadoras – e, depois, por causa do Oscar. Mas agora que estou “livre, leve e solta”, vou colocando em dia a lista de filmes indicados por vocês, meus bons leitores do blog. Muito obrigada, Giancarlo, porque sem a sua sugestão eu não teria descoberto este filme verdadeiramente interessante.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 25 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing, professora universitária (cursos de graduação e pós-graduação) e, atualmente, atuo como empreendedora após criar a minha própria empresa na área da comunicação.

6 respostas em “Fail Safe – Código de Ataque (2000)”

nossa dogville! kakak não gosto da Nicole, mesmo.
mas o Filme de Lars Von Trier é excelente, principalmente o Manderlay. Estou esperando o ultimo filme da trilogia.

Passando só pra da um OI.
Abraços Ale.

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Oi Carol!!!

Então, eu já assisti a Dogvile. Um grande, grande filme, realmente. Gosto muito do Lars von Trier. Acho um dos grandes diretores da sua geração/área geográfica. E, diferente do Enzo, eu gosto da Nicole Kidman. hehehehehehehe

Enzo, meu caro, você é um figura. Quer dizer que não gostas da Nicole, mas gostaste do Dogville. hehehehehehehehe. Sempre quis ver o Manderlay, mas acabei deixando ele de lado até agora. Quem sabe outra hora?

Um grande abraço para você, Carol, e um grande abraço para você, Enzo. E obrigada a ambos por seus comentários. Inté!

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