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The Hurt Locker – Guerra ao Terror


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Desde que o ex-presidente estadunidense George W. Bush decidiu invadir o Iraque em 2003 – querendo “terminar o trabalho” que o pai tinha começado com Saddam Hussein mais de uma década antes -, Hollywood questionou a nova guerra através de diversos filmes. Mas de todos eles, possivelmente The Hurt Locker seja o melhor da nova safra (descontados os documentários, é claro). Ele não faz discursos – seja a favor ou contra a invasão. Também evita repetir os passos dos filmes que “simplesmente” reproduzem combates, invasões e crimes de guerra. Não. The Hurt Locker se aproxima de Apocalypse Now e Full Metal Jacket ao mostrar como a adrenalina e o perigo da guerra podem viciar como uma droga. Este, aliás, é o lema do filme, dirigido com cuidado e exemplarmente por Kathryn Bigelow. Mas o que faz The Hurt Locker ser diferente dos demais é o foco de sua narrativa, centrada em um grupo de soldados especializado em desarmar bombas. Ação, suspense, dramas pessoais e guerra em um mesmo caldeirão. E o resultado disso, além de manter o espectador atento durante toda a história, é o de provocar a reflexão de forma natural. Agora, ignore o título do filme para o mercado brasileiro – mais uma escolha infeliz de uma distribuidora, porque o nome de “Guerra ao Terror” não tem nada a ver com a idéia original de The Hurt Locker.

A HISTÓRIA: Um robô desliza pelo solo árido de Bagdá. Enquanto ele avança, mulheres, homens e crianças correm para se proteger. Soldados tentam convencer os comerciantes do local a saírem dali porque há um perigo eminente na rua. A Companhia Bravo, liderada pelo sargento Matt Thompson (Guy Pearce) toma todos os cuidados possíveis para evitar que a bomba que eles devem desarmar seja acionada. Mas a missão deles sofre uma reviravolta quando o especialista Owen Eldridge (Brian Geraghty) identifica um suspeito em um açougue próximo e, ao hesitar em puxar o gatilho, permite que a resistência árabe detone o dispositivo. Faltando 38 dias para que o grupo formado por Eldridge e o sargento JT Sanborn (Anthony Mackie) seja substituído por outros especialistas em desarmamento, começa a trabalhar com eles o chefe de equipe e sargento William James (Jeremy Renner). Militar experiente, com experiência na guerra do Afeganistão, James apresenta um comportamento distinto de Thompson: para alguns, ele é corajoso e ousado, beirando o heróico, para outros, suicida e enlouquecido.

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a The Hurt Locker): Filmes de guerra, normalmente, primam pela ação e por ótimos efeitos especiais. The Hurt Locker não foge desta regra. Mas ele dá um passo à frente ao explorar um tipo de ação diferente, centrada em um trabalho altamente perigoso e feito por especialistas que, normalmente, não viram tema de reportagens, filmes ou ganham o holofote como heróis de guerra. Ainda que muitos especialistas em desarmamento sejam condecorados e subam de postos dentro do exército, normalmente o protagonismo da guerra vai para líderes de equipe, fuzileiros e demais combatentes da “linha de frente”. Por essa inversão de papéis, ao colocar um grupo “menos visado” como protagonista da história, The Hurt Locker interessa. Além disso, há tempos não vejo a um filme que assimile tão naturalmente os efeitos especiais que a indústria cinematográfica disponibilize atualmente.

As cenas de slow motion da explosão que “abre” o filme, para começar, são lindas (no que uma explosão pode ser bonita… hehehehehehe) e perfeitamente justificadas. Assim como o uso de imagens de “vídeo”, reproduzindo o “olhar” do robô utilizado para a missão. A diretora Kathryn Bigelow, com o auxílio do diretor de fotografia Barry Ackroyd sabe utilizar, em cada momento, a técnica adequada para exprimir o maior realismo possível da história que está sendo contada. Não falta nesta produção também o bom e velho recurso da “câmera na mão”, que propicia o movimento adequado para o filme ao “acompanhar” os atores em suas ações.

Algo que gostei muito também, a respeito das escolhas da diretora, foi o seu apreço por mostrar cenas da cidade e da população de Bagdá. As condições de vida daquela população e, especialmente, a sua expressão a respeito dos “invasores ianques” falam mais que muitas linhas de roteiro. E mesmo tratando de algo originalmente feio, como é o caso de um conflito armado, a verdade é que Bigelow consegue nos surpreender com algumas cenas belíssimas e surpreendentes, como aquela do “ninho” de bombas descoberto por James logo em sua primeira missão em Bagdá.

Falando na história, The Hurt Locker agrada por não acelerar a narrativa artificialmente, como tantos filmes de guerra e/ou de ação. O que eu quero dizer com isso? Que ele segue o “tempo real” da ação, criando tensão justamente quando nada está acontecendo – regra básica do suspense, a de criar expectativa no espaço da narrativa em que “nada acontece” até que o extraordinário entre em cena. Acompanhamos, assim, a angústia de Sanborn e de Eldridge cada vez que James parte para uma missão e, contrariando os companheiros, desliga o rádio ou deixa de se comunicar. Todos querem sobreviver naquele território de conflito, mas alguns parecem ter mais apreço às suas vidas do que outros.

Gostei muito do roteiro de Mark Boal. O autor equilibra muito bem, em diferentes doses, ação, drama, suspense e questionamentos sobre a guerra e o modo de vida que ela procura sustentar. Boal acerta também ao dar profundidade aos seus personagens, especialmente ao trio que compõe a Companhia Bravo. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). A verdade é que, ainda que o filme tenha vários personagens interessantes, o maior deles é mesmo o do sargento William James. Como em qualquer história bem escrita, em The Hurt Locker não conseguimos definir se ele é louco, viciado em adrenalina ou um cara que já passou por tanto, que já viu tanto que, no fim das contas, ele se importa com o que realmente é importante. Digo isso porque está claro que ele não consegue mais se adaptar a “vidinha normal” de família consumista nos Estados Unidos. Fascinado por explosivos e pela criatividade dos que colocam a vida em perigo nos combates mundo afora, ele vive de adrenalina. Mas não apenas isso. A atitude dele em relação ao garoto Beckham (Christopher Sayegh) revela que ele, diferente de seus companheiros de farda, se importa com as pessoas que não levam a sua bandeira. Isso é tão raro para um estadunidense quanto a sua vontade de atuar em um campo de batalha mais do que a de voltar para casa. The Hurt Locker mostra, assim, tanto o horror da guerra, sua loucura e capacidade de viciar, quanto o lado das pessoas que fazem parte dos dois lados desta moeda.

NOTA: 10.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: Todos os atores de The Hurt Locker se destacam. Este é um destes raros filmes em que não há profissional que entre em cena e que não mostre estar comprometido com aquelas linhas do roteiro destinadas para ele. Ainda assim, de todos os atores de The Hurt Locker, o grande nome do filme é mesmo Jeremy Renner. Que desempenho o deste ator! Fiquei impressionada. Também gostei muito, muito mesmo de Anthony Mackie. Além deles, esta produção conta com algumas pontas de luxo: o já citado Guy Pearce; Ralph Fiennes como o líder de um grupo de soldados que voltava de uma missão de captura de alvos para o exército; David Morse em uma super ponta como o Coronel Reed, que elogia o trabalho de James; e Evangeline Lilly como Connie James – a atriz aparece apenas no finalzinho do filme para falar três frases. 😉

Em um filme em que tudo funciona bem, impossível não citar aspectos técnicos que auxiliam em muito a história, como é o caso da edição de som da equipe de Paul N.J. Ottosson ou a trilha sonora bastante pontual de Marco Beltrami e Buck Sanders. Tão importante quanto a direção precisa e criativa de Bigelow para o filme é a edição de Chris Innis e Bob Murawski. Todos estão de parabéns pelo trabalho bem feito.

Achei especialmente interessante a simbologia de uma das cenas finais do filme. (SPOILER – não leia se você não assistiu ainda a The Hurt Locker). Aqueles meninos correndo ao lado do Humvee de James e Sanborn e atirando pedras no veículo mostravam como, independente das razões que fizeram aqueles soldados irem até o Iraque, não fazia com que eles fossem bem-vindos. Pelo contrário. Mesmo que soldados como eles salvassem vidas impedindo explosões de bombas em locais públicos, para os garotos dali eles eram e sempre serão invasores – e muitas vezes os responsáveis indiretos para que aquelas bombas que eles queriam impedir que explodissem tivessem sido colocadas, em primeiro lugar. Com aquela sequência e de maneira muito singela Boal e Bigelow refletem sobre a eficácia da guerra e do trabalho de James e companhia. Todos sabemos, no fim das contas, que histórias como esta acabam se revelando parte de um círculo de erros repetidos sem fim.

The Hurt Locker ganhou, até o momento, seis prêmios – e foi indicado ainda a outros quatro. Entre os que recebeu, destaque para quatro prêmios especiais no Festival de Veneza do ano passado (incluindo um que faz referência aos direitos humanos); um para a diretora Kathryn Bigelow no Festival Internacional de Cinema de Seattle e outro para o roteirista Mark Boal no desconhecido Festival de Cinema de Nantucket.

Fiquei especialmente impressionada com a avaliação excelente que o filme têm conseguido entre o público e a crítica. Os usuários do site IMDb deram a nota 8 para a produção, enquanto que os críticos que tem textos linkados no Rotten Tomatoes dedicaram 128 textos positivos e apenas três negativos para a produção – o que lhe garante uma aprovação impressionante de 98%. Bacana.

The Hurt Locker estreou no Festival de Veneza do ano passado, em setembro. Depois, o filme fez a sabatina de participar de outros nove festivais mundo afora – o último deles foi o de Melbourne, na Austrália, em julho de 2009. No Brasil o filme foi lançado diretamente em DVD.

Esta produção teria custado aproximadamente US$ 11 milhões – e arrecadado, apenas nos Estados Unidos, até o dia 16 de agosto deste ano, pouco mais de US$ 10,3 milhões. Certamente ela vai conseguir se pagar e, com o faturamento em outros mercados, obter algum lucro – nada comparado a um arrasa-quarteirão claro, mas acredito que não seja essa sua intenção também.

Para os que perderam o fio da história e não lembram exatamente da obsessão dos Bush com Saddam Hussein e o Iraque, deixo aqui um link com um mega resumo sobre esse tema.

The Hurt Locker foi filmado em três locais: na cidade de Amman, na Jordânia; no Kuwait e na cidade de Langley, no Canadá. A escolha da Jordânia ocorreu por sua proximidade ao Iraque – o foco da narrativa.

Durante as filmagens, foram utilizadas três, quatro ou até mais que quatro câmeras de mão de super 16-mm para registrar os detalhes das cenas de ação – o que garante a The Hurt Locker, segundo os produtores, um certo clima de documentário de guerra. O material resultante teria se aproximado a 200 horas de filmagens – mais do que foi reunido pela produção de Apocalypse Now, por exemplo.

Segundo as notas de produção do filme, a equipe de The Hurt Locker foi surpreendida, na primeira semana de filmagens, por uma onda de calor do verão da Jordânia. O sufoco foi tanto que o diretor de fotografia Barry Ackroyd chegou a ficar doente com uma insolação.

Durante as filmagens foram registrados alguns acidentes. Um deles envolvendo o ator Jeremy Renner, que caiu de uma escada, enquanto carregava um menino iraquiano. Por causa deste acidente as filmagens foram atrasadas durante vários dias até que Renner tivesse o tornozelo totalmente recuperado. Outro acidente envolveu um ônibus cheio de refugiados iraquianos contratados como extras para o filme. O veículo tombou em uma estrada quando se dirigia até o local das filmagens. Os produtores afirmaram que ninguém ficou gravemente ferido – mas um dos ocupantes do ônibus teria quebrado o nariz.

A trilha sonora do filme conta com três músicas da banda Ministry – Khyber Pass, (Fear) Is Big Business e Palestina fazem parte do álbum Rio Grande Blood, um trabalho declaradamente crítico à guerra do Iraque e em relação a administração de George W. Bush.

Gostei deste texto (em inglês) da crítica Ann Hornaday, do Washington Post. Ela afirma que “The Hurt Locker trata do Iraque da mesma forma com que Paths of Glory tratou sobre a Primeira Guerra Mundial ou Full Metal Jacket sobre o Vietnã”. Hornaday comenta ainda que o filme consegue manter os seus personagens e, por extensão, o público na ponta nervosa de uma faca entre “o caos e o controle, bravatas e colapsos, ameaças e promessas que definem a vida de um soldado”.

Lendo o ótimo (e extenso, o que é bacana) texto de Hornaday fiquei sabendo que Mark Boal é um jornalista que conheceu de perto a realidade por ele descrita neste roteiro. Boal acompanhou, durante várias semanas, um esquadrão de elite do Exército especializado no desarmamento de bombas. Como um bom jornalista, habituado a observar os detalhes ao seu redor, ele conseguiu capturar a essência do trabalho destes personagens. Para a crítica de cinema, The Hurt Locker é o melhor trabalho da carreira da diretora Kathryn Bigelow.

CONCLUSÃO: Um filme de guerra primoroso. Bem acabado e misturando diversos estilos cinematográficos – além do óbvio, o de filmes de guerra -, The Hurt Locker inova ao centrar a sua narrativa em um grupo de especialistas em desarmamento de bombas. Como outras produções clássicas do gênero, este filme questiona as motivações pessoais e a eficácia da guerra de maneira muito natural, sem grandes discursos. Centrado em três atores de talento, The Hurt Locker ainda conta com várias pontas de astros conhecidos em papéis minúsculos – o que demonstra a sua capacidade em atrair bons nomes para o projeto. Além de contar com um ótimo roteiro e uma direção criativa, esta produção prima pela qualidade técnica, com a escolha dos recursos adequados para cada momento da história – do slow motion até imagens da câmera de vídeo de um robô, passando pelo uso frequente de câmeras na mão. Merece ser visto tanto por suas belas imagens, pela narrativa envolvente quanto pelos questionamentos que deixa no ar.

PALPITE PARA O OSCAR 2010 (atualização dia 16/01/01): Bem, escrevi a crítica sobre este texto bem antes de The Hurt Locker começar a receber a avalanche de prêmios que ele tem recebido e de ser, também por isso, um dos favoritos a ganhar o Globo de Ouro e o Oscar. Escrevo estas linhas logo depois de The Hurt Locker ter recebido os prêmios de melhor filme e melhor direção no Critics Choice Movie Awards 2010. Ele tem ainda três indicações no Globo de Ouro. Francamente, considero ele um dos melhores filmes de 2009. Se ele vencer as premiações mais importantes da temporada, seja como melhor filme e/ou melhor direção, será algo justo. Agora a dúvida é se o Oscar vai premiar uma produção perfeita como esta ou se vai preferir um fenômeno de mercado. Meu voto seria para ele.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 25 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing, professora universitária (cursos de graduação e pós-graduação) e, atualmente, atuo como empreendedora após criar a minha própria empresa na área da comunicação.

29 respostas em “The Hurt Locker – Guerra ao Terror”

acabei de ver.Como não ver um daqueles que levam sua nota “10”

as tomadas de câmara são incríveis, retratando os detalhes mais sutis, em alguns momentos dá quase pra sentir como pode ser estar num inferno daqueles. Aquela cena no deserto, combatendo os rebeldes dentro de uma casinha isolada no meio do nada. Um calor do cão..moscas, sede e uma fadiga física e mental que a gente quase..sente na pele.

o “filho do Michael James Fox”..,(a cara dele..he he…), desarmando bombas e se alimentando de adrenalina pra se manter vivo no inferno, também prende bastante a atenção e mais uma vez, como na maioria dos filmes do gênero, constata o dano psicológico e emocional que os combatentes são expostos. E isso é porque a gente só vê em filme, imagina na vida real, o que não deve ser uma coisa dessas.

em meio a total e injustificável estupidez das guerras, pelo menos a maioria dos filmes que abordam o tema, são ótimos não é mesmo ? alguma coisa de bom isso rende.

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Oi Mangabeira!!

Sempre você, me acompanhando com os bons filmes. 😉

Grande filme este, verdade? Como tu bem definiu, The Hurt Locker nos transporta para dentro da história… eu diria que é quase um teletransporte. hehehehehehe. Gostei muito também daquela sequência no deserto, quando eles ficam naquela situação limite por muitas horas, até escurecer e eles se sentirem mais seguros para sair dali com vida.

E tens razão… geralmente os filmes de guerra são muito bons. Mas nem todos conseguem o efeito deste. Não sei, mas The Hurt Locker parece trazer uma brisa nova para o gênero. Para nossa sorte.

Um grande abraço, garoto, e agora vou para teu outro comentário… 😉

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Aqui vai mais um spoler :
Perto do final do filme, o sargento William James conversa com seu filho que deve ter um pouco mais de um aninho e diz :
” Você ama tudo que tem, tudo que vê em sua volta, mas quando vai crescendo vão diminuindo as coisas que você ama, e quando chegar na minha idade, vai ter uma ou duas coisas somente que você vai amar, no meu caso uma…”

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Em primeiro lugar, apesar de gostar muito de filmes de guerra, nunca passou pela minha cabeça que este tipo de filme merecesse um Oscar com o melhor, com excessão de Apocalipse Now e, talvez, Nascido para Matar. Coincidentemente filmes que tratam da guerra do Vietnã e a criticam. Digo coincidentemente, pois, a guerra no Iraque está parecendo o lamaçal que foi a Guerra do Vietnã e, claro polariza opiniões.

The Hurt Locker (achei a tradução ridícula e pode afastar algumas pessoas) é, para mim, o primeiro filme sobre a guerra do Iraque que pode se tornar um classico e só o tempo dirá isto.

Quanto a participação de Evangeline Lilly, ela não aparece apenas no final, mas também no meio do filme ao atender, com um bebê no colo a ligação do esposo.

Outro detalhe que me deixou intrigado foi o final, pois ao falar com o filho que, em sua idade, só teria um coisa que amasse, pensei que o objeto deste amor seria o próprio filho, mas, em seguida fiquei na dúvida se o verdadeiro amor era a andrenalina da guerra. Realmente aquela cena do supermercado e da limpeza da calha da casa mostrou todo o contraste entre o dia a dia na guerra, e o dia a dia de uma pessoa “normal”. Acho que, para quem passa algum tempo em batalha deve ter sérias dificuldades para se adaptar ao mundo civil onde nem sempre é “yes sir!”, mas sim “vamos conversar” ou “discordo”.

Como imagino que um filme para ganhar o oscar como o melhor, deve ter vários atributos que este tem de sobre como ótima e segura Direção, roteiro, efeitos especiais e os toques de drama e tensão (ainda bem que o ví pela manhã) além de excelente atuação e, porquê não, bons diálogos.

Não posso cravar ainda minha opinião sobre o Oscar, pois ainda não assistí a Avatar que, com certeza será um páreo duro, pois se ele mostrar o mesmo conjunto positivo de “The Hurt Locker”, vai ganhar por “um focinho” ou seja, o desempate seria pelo 3D que, com certeza vai ser a tecnologia que vai se espalhar como um rastilho de pólvora nas próximas produções de Hollywood.

Por fim, devo destacar que sentí um pouco de “James Bond” bem como lembrei de filmes “Western” em algumas partes e, também achei ótimo por não ter tão escancarado o estereótipo do “Herói Americano”

Bem, o jeito é deixar o parágrafo decisivo deste comentário para depois de ver o Avatar.

Como de praxe, e comparado com outras análises brasileiras, esta mostrou toda a paixão da autora em analisar deixando claro sua opinião, mas deixando alternativas de pesquisa ao leitor. Nota dez para a avaliação e para o filme.

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Oi Roberto!!

Que final é aquele, não é mesmo? Simplesmente perfeito. E que faz pensar um bocado, sobre valores, escolhas, “coisas” com que uma pessoa não pode deixar de fazer para se sentir vivo.

Um filme realmente especial, impressionante. Para mim, The Hurt Locker deveria ganhar quase tudo para o qual foi indicado no Oscar. Vamos esperar para ver…

Obrigada por teu comentário e por tua visita. Espero que ambos se repitam muitas vezes por aqui ainda.

Um grande abraço!

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Olá Reinaldo!!

Vou mais além do que você… para mim, mesmo agora, no “calor do momento”, já é possível dizer que The Hurt Locker é um clássico do gênero de filmes de guerra. E, sem dúvida, o melhor já feito sobre a mais recente Guerra do Iraque – ainda que ele seja bastante universal, o que o torna, justamente, um clássico.

Talvez eu tenha me expressado mal quando falei da Evangeline Lilly. Eu não quis dizer que ela aparece uma única vez. Quis dizer que ela aparece apenas na parte final do filme e que acaba falando um par de frases. No restante da história – talvez 90% da produção? – ela está ausente.

(SPOILER). O final, como eu disse agora há pouco para o Roberto, é excepcional justamente pela forma sutil com que ele questiona os valores da nossa sociedade. Mas eu, cá entre nós, não tenho dúvidas de que o protagonista tinha, ao comentar aquilo com o filho, a certeza de que seu único amor continuava sendo a adrenalina da guerra. Essa constatação é a que faz este filme ser tão perfeito. As razões para as pessoas não se adequarem a vida normal depois de uma guerra são muitas, mas sem dúvida o “desperdício de tempo” que a vida da classe média estadunidense pode significar para eles, que viram de perto a morte, é algo brutal.

Amanhã, finalmente, vou assistir a Avatar. Mas algo me diz – talvez o “burburinho” de muitas pessoas dizendo que a história do filme de James Cameron é muito fraquinha – que eu continuarei preferindo The Hurt Locker. Logo saberei… 😉

No mais, Reinaldo, obrigada mais uma vez por prestigiar este blog e por elogiar o meu texto. Você é bondoso!

Um grande abraço para ti.

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Olá luis!!

Olha, vou citar a revista Superinteressante de fevereiro deste ano para te dar a melhor resposta. The Hurt Locker é uma gíria utilizada pelos norte-americanos para fazer referência a um “abrigo antibomba”. Esta seria a melhor tradução para o título do filme – além daquelas que eu citei na crítica.

Obrigada por tua visita e por teu comentário. Volte mais vezes!

Um abraço!

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Olá galera. Acabei de assistir o filme e…não gostei. A imagem, o som, a fotografia e as atuações são primorosos, mas o que me incomodou foi a história. Me pareceu vazia, e às vezes carregada. Cenas sem nexo com o arco central e o final foram ridículos de se assistir. Era grande a expectativa, pra falar verdade maior que a do “boom” Avatar. Mas, me decepcionei. Agora, torço para Avatar, que mesmo com uma história fraca, me mostrou conteúdo.
Abraço!

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Olá Guilherme!!

Antes de mais nada, seja bem-vindo por aqui.

Pois é, o que eu posso te dizer? O cinema realmente é maravilhoso por essas e outras… porque ele nos entrega obras que podem render múltiplas e variadas leituras.

Ainda assim, você vai me desculpar, mas discordo completamente de você. The Hurt Locker é tudo, menos vazio de significados. Talvez precises assistí-lo novamente, perceber as sutilezas da história e seus vários significados. Falei de alguns deles na crítica acima – você a leu?

O final do filme achei simplesmente brilhante. Ele questiona, de maneira nada óbvia, todos os valores da sociedade consumista que, teoricamente, é defendida com a vida do protagonista. Ele continua indo para lá, para a guerra, mas não suporta mais a “vidinha” de seu país que tanto defende. Quando ele comenta aquilo com o próprio filho, está deixando claro que não vê mais sentido em nada além daquela adrenalina da guerra, onde as prioridades são muito mais claras, onde cada momento é chave.

Honestamente? Achei um filme perfeito. Não apenas tecnicamente, mas especialmente na complexidade e (por que não dizer?) beleza de sua história. Agora, de fato, não é um filme óbvio como Avatar, onde todos os significados são minuciosamente explicados para o espectador.

Tudo, certamente, é questão de gostos. Eu prefiro filmes que atingem seu propósito com histórias menos mastigadas.

De qualquer forma, valeu por teu comentário e por tua visita. Espero que apareças por aqui mais vezes.

Abraços!

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Olá maykon!!

Antes de qualquer outra coisa, seja bem-vindo por aqui.

Respeito a tua opinião, mas devo dizer que discordo.

Não sei até que ponto as altas expectativas podem ter afetado a tua visão do filme. Assim como não sei até que ponto as pessoas realmente entenderam o filme e toda a sua complexidade – 9 em cada 10 pessoas com quem falei sobre ele tinham entendido The Hurt Locker apenas em parte -, mas o fato é que acho esta produção simplesmente brilhante.

Ela entrou, desde que a vi, na lista dos grandes filmes de guerra de todos os tempos e, mais que isso, das produções que questionam os valores da sociedade na qual ele está inserido. Brilhante, perfeito.

Mas valeu por tua opinião. Obrigada, aliás, por tua visita e teu comentário. Volte mais vezes.

Um abraço!

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Olá vic!

Você chegou a ler as minhas explicações sobre o nome do filme?

Pergunto porque no texto eu comento que, mais do que uma tradução literal, The Hurt Locker reflete uma “gíria” do Exército. Dê uma lida no texto… vai ser esclarecedor para ti.

No mais, obrigada por tua visita e por teu comentário. Volte mais vezes.

Um abraço!

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Mais um filminho de guerra pra limpar a barra dos “estadosunidenses”… a embalegem ta de primeira, pra variar, mas o conteudo ta podre… pra variar!

Soldadinho bonzinho? Q joga futebolzinho? Q chora bonitinho? Q brinca de briguinha? Q gosta de adrenalinazinha? Poupe-me, eles nem deveriam estar la!

Embalagem por embalagem a do Avatar tava mais bonita.

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Olá Dani!

Sério mesmo que você achou só isso do filme? Que coisa!

Eu realmente vi muito mais do que esta embalagem que comentaste. Mas ok, cada um com suas percepções.

Obrigada, de qualquer forma, por tua visita e comentário. Melhor sorte com os próximos filmes. Abraços e volte mais vezes!

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Olá pessoal…

Não sou um grande conhecedor de cinema para apontar qualidades ou defeitos tecnicos, mas sem dúvida alguma o roteiro tem que ter tido grande contribuição para que o filme tenha sido ganhador de tantos prêmios. Não é apenas embalagem. Existe uma estrutura muito bem armada na história do filme. Aliás, bem armada, bem dosada e trabalhada por um grande artesão.

O que me preocupa, entretanto, é que não é apenas a coerência interna ou a boa condução dos diálogos que fez tal roteiro ser tão aclamado. O filme e, principalmente, os carimbos que carrega, mostram que o mundo (principalmente os norte-americanos) ainda percebem que há uma luta vital a ser travada contra o terror. Li o comentário que criticava a tradução para o português do título e concordo que o significado literal não corresponda ao original, mas sem dúvida alguma concordo que o “clima” é o mesmo em ambos os títulos, assim como as sensações do espectador, seja ele norte-americano ou “brasileiro com mentalidade norte-americana”.

O protestantismo xenófobo do norte-americano que se entende portador da missão libertar o mundo acima de qualquer outra prioridade é algo explícito no filme e aplaudido pelo planeta. É uma pena que o mundo ratifique o fundamentalismo e ovacione o totalitarismo norte-americano. Mas Hannah Arendt já nos previniu: esses nossos tempos de “liberdade e felicidade possíveis” carrega um perigo oculto que pode explodir a qualquer momento. Ideologias perigosas podem reunir com facilidade grandes massas e justificar genocídios e ódio. E não falo de interesses materiais e superficiais como espólios de guerra (nesse caso o petróleo). Falo do perigo do ódio, da falta de conhecimento da cultura do outro, do centramento de nossas visões sobre aquilo que pretende a mídia e, por trás dela, as ideologias.

Isso tudo, é inegável, o filme mostra com clareza no desinteresse de James por sua família. Ele não luta pela sobrevivência de sua nação, que todos costumam associar ao futuro dos filhos, mas sim por uma ideologia de combater o terror. O suspense do filme está em combater o suposto perigo oculto que pode haver atrás de cada parede, o perigo daquilo que não se conhece. Quando um justiceiro vinga sua família, ele pode estar errado, mas nos remete ao ser humano em sua essência, seu instinto. James nos remete a Hitler, combatendo o mal e apoiado por toda a população “de bem”.

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Po caramba sera que ninguem vai me ajudar com o real significado da expressao ” The Hurt Locker”? Ja pequisei e ainda nao encontrei uma resposta para o que os americanos entendem pelo titulo do filme.

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Oi Fernando!

Estás certíssimo na tua avaliação. Sem dúvida o roteiro de The Hurt Locker é um de seus grandes pontos fortes.

Também concordo que a cultura “do medo” dos estadunidenses continua dominando os discursos. Sem dúvida muitos deles acreditam que uma guerra “contra o terror” invisível/visível deve continuar sendo travada. Mas uma parte importante da opinião pública dos Estados Unidos também acha que estas práticas já foram esgotadas, que é preciso buscar outras alternativas.

Não sei, honestamente, se toda a questão da “política do medo” se resume a questão do protestantismo. Tanto que o principal articulador disto, o Sr. George Bush, era católico. A religião sempre jogou papel importante nos Estados Unidos, para eleger ou deixar de eleger políticos, mas não acho, de verdade, que ela tenha sido fundamental para determinadas políticas equivocadas de exclusão e de fomento à guerra.

Também acho, Fernando, que nem todo o mundo bata palmas para isso não. Tanto que, se olharmos para trás, vamos recordar de uma série de manifestações e movimentos anti-Bush – que, só para lembrar, foi o último presidente a defender claramente uma política “contra o terror”.

De qualquer forma, muito oportuna a tua colocação e a citação de Arendt. Sem dúvida estamos em uma era em que ideologias extremistas conseguem se disseminar de forma muito mais rápida e por meios alternativos, podendo causar pequenas grandes tragédias em diferentes partes do mundo.

Sim, este filme é perfeito pela discussão que ele propicia. Bate firme ao mostrar que não existe herói de guerra, mas um cara fascinado pelo perigo, pelo desafio, como qualquer grande investidor da bolsa de valores – aliás, nada mais “pós-pós-moderno”, hein? Não existe moral, boas intenções… os valores (ou falta deles) são outros. Se percebe, aliás, um grande vazio, inclusive de emoções – perda do sentido de família, nação, entre outros. Por tudo isso, este é um grande, grande filme.

No mais, obrigadíssimo por teus comentários e por tua visita. Espero que apareças por aqui mais vezes. Gostei muito da tua contribuição.

Abraços e inté!

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