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Kick-Ass – Quebrando Tudo


Pense em um filme violento. Ao estilo de Kill Bill, mas mais divertido. E com uma aposta marcante em três elementos certeiros para cair no gosto dos jovens: quadrinhos, internet e sonzeira. Kick-Ass mistura tudo isso em uma produção impecável. Inteligente no roteiro e na forma com que a história é conduzida, este filme surpreende pela astúcia e pela violência. Ao mesmo tempo em que faz refletir – ainda que vagamente – sobre os fenômenos de mídia e os produtos de consumo que conduzem e inspiram atitudes das massas. Ironizando muitos conceitos e chavões do gênero super-heróis, Kick-Ass traz boas ideias para um mercado um tanto que saturado.

A HISTÓRIA: Um homem fantasiado olha a cidade de Nova York do alto de um prédio. Enquanto ele se prepara para pular, o narrador comenta sobre a sua vocação para se tornar um super-herói. E se pergunta porque ninguém nunca fez isso antes do que ele, apesar de todas as referências de quadrinhos, filmes e seriados. O narrador ainda ironiza o tédio da vida comum e todas as promessas que um homem fantasiado representam para a quebra desta rotina. O homem fantasiado se atira no espaço e morre na queda. Em seguida descobrimos que o narrador, o adolescente Dave Lizewski (Aaron Johnson), não era aquele homem suicida. A história então volta seis meses para contar como o jovem Dave se transformou em Kick-Ass, um “super-herói” que se acostuma a apanhar e que, através de suas convicções, encontra “justiceiros” de verdade: Hit-Girl (Chloe Moretz) e Big Daddy (Nicolas Cage).

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Kick-Ass): A produção dirigida por Matthew Vaughn começa colocando o dedo na ferida. Em poucos minutos, ela questiona o fascínio da cultura pop para os jovens – e também expõe algo que sempre rende notícias no noticiário: atos extremos de pessoas que tem problemas psicológicos e que não recebem assistência devida nos Estados Unidos. O roteiro de Vaughn e Jane Goldman, baseado nos quadrinhos de Mark Millar e John Romita Jr., também ironiza a figura do super-herói como “antídoto” para o cidadão comum e sua vida enfadonha. Começa, por tudo isso, muito bem. Pena que, pouco a pouco, o filme vá perdendo a sua ironia e capacidade crítica para mergulhar, perto do final, apenas na adrenalina que ele mesmo questionava ao princípio.

Não sei vocês, mas eu esperava realmente uma grande dose de humor e ironia neste filme. O que me surpreendeu foi a alta dose de violência que ele apresentou. Claro que depois de Kill Bill e tantos outros filmes, ninguém mais se assusta com cenas de pancadaria e de assassinatos em série. E a verdade é que, tecnicamente falando, Kick-Ass é perfeito na forma com que as sequências foram filmadas, editadas e finalizadas. Um trabalho primoroso e de rigor técnico de Matthew Vaughn. Se destaca, nesta produção, também o estilo com que ela é narrada – reproduzindo, como outros filmes fizeram antes, a dinâmica e os traços característicos dos quadros de gibis em determinados pontos da história.

O fato do protagonista ser um adolescente comum, um “loser” padrão do sistema de ensino estadunidense, serve de senha fundamental para que o filme caia no gosto popular. Afinal, quantos garotos não irão se identificar com Dave? E mesmo que eles não consigam se colocar exatamente na pele do personagem, certamente eles irão se lembrar de algum “nerd” e/ou “esquisito” da escola. Seja pelo protagonista ou pelo restante da “fauna escolar” retratada em Kick-Ass, o objetivo de tornar o filme “identificável” para o grande público foi alcançado. Agora, para tornar ele interessante para mais pessoas, basta acrescentar cenas de pura adrenalina, violência e alguma dose de ironia aqui e ali.

Por tudo isso, e por mais que pareça contraditório, Kick-Ass é inovador e ao mesmo tempo segue fórmulas já desbravadas pelo gênero. Ele avança ao fazer o exercício de colocar a cultura pop – do qual o cinema também faz parte – frente a um espelho bem iluminado. Os tão debatidos “efeitos malévolos” de uma cultura que dá pouco espaço para a invenção e que aposta na padronização entram em cena.

A novidade no discurso e o curioso de Kick-Ass é a forma com que a internet joga um papel fundamental neste processo. Dave só consegue se tornar “fenômeno de mídia” graças aos vídeos que a galera que assistiu a sua ação tresloucada contra três bandidos de verdade colocaram no Youtube. E a partir do sucesso que estes vídeos fizeram na internet, Kick-Ass passou a ser notícia nos canais de televisão e, consequentemente, virou febre nacional. Algo bastante comum nos nossos dias, quando a “imprensa tradicional” bebe descaradamente da inventividade e da cultura do “faça você mesmo” difundida pela  internet. Neste ponto, esta produção ganha muitos pontos ao debruçar-se sobre o efeito-dominó que um fenômeno de massas pode despertar no público – vide o personagem de Red Mist (Christopher Mintz-Plasse). Outros filmes já esboçaram ironias a respeito, mas poucos trataram o assunto de forma tão natural e “legítima” quanto Kick-Ass.

Mas se esta produção avança nestes questionamentos e debates, ela também repete fórmulas ao optar, em certo momento, por um modelo clássico de “filme de heróis”. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Afinal, existe fórmula mais clássica do que a do “policial boa gente que combatia o crime até um certo vilão estereotipado lhe ferrar a vida e, depois dele perder quase tudo, passar o pão que o diabo amassou na prisão e tudo o mais, ele resolver se vingar”? Não, acho que não. Pois este é o resumo por trás da existência de Big Daddy – o bacana do filme é que, justamente no momento de contar esta “origem” do herói, eles optaram por fazê-lo exclusivamente através de traços de quadrinhos. Sem dúvida, ao fazer esta escolha, os produtores estavam afirmando que “ok, nós sabemos até que ponto repetimos fórmulas e não nos importamos com isso”. Uma decisão inteligente.

A escolha de uma garota de 11 anos para ser a verdadeira estrela do filme também é algo que Hollywood sabe que funciona – vide Little Miss Sunshine e tantas outras produções recentes. (SPOILER – não leia se você não assistiu a Kick-Ass). Além disso, a partir do momento em que a produção deixa de questionar e ironizar a figura do super-herói e o fascínio que os fenômenos de mídia desempenham na vida dos jovens, escolhendo simplesmente a defesa destes “heróis solitários”, a história entra em contradição. Afinal, ela é uma ironia, uma sátira destes filmes e personagens, ou uma forma de homenageá-los? Talvez Kick-Ass seja as duas coisas. O que revelaria ainda mais a sua “consonância” com os tempos atuais, classificados por Zygmunt Baumann como tempos de uma “modernidade líquida”. Sem dúvida, por tudo isso, Kick-Ass é um sintoma e um produto do nosso tempo. E, definitivamente, por todos os seus acertos e contradições, desde já, um clássico.

NOTA: 9,2.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: Gostei muito do desempenho do jovem Aaron Johnson. Ele tem carisma, é “boa pinta” (alguém ainda fala isso? tá, ele é gatinho, hehehehehe), consegue equilibrar bem as idéias de rapaz desastrado com a altivez de um sujeito corajoso e determinado. Enfim, está perfeito. Fiquei feliz também com a volta a um bom papel do Nicolas Cage. A primeira cena dele com a perfeita Chloe Moretz é uma autoironia para papéis seus anteriores – especialmente 8MM e Snake Eyes. Sem dúvida um achado colocar estes dois atores fazendo uma dupla em Kick-Ass. Chloe Moretz, por sua vez, comprova que vem caminhando com passos largos em uma carreira em crescimento. Depois de The Eye, ela fez um trabalho ótimo em (500) Days of Summer e, agora, em Kick-Ass. Este ano, a atriz está envolvida em nada menos que cinco projetos, com destaque para o thriller Let Me In.

Como qualquer garoto “nerd” e/ou desastrado, Dave tem que ser acompanhado por amigos que estão sempre “testando” e ironizando o nosso “herói”. Em Kick-Ass, estes papéis são interpretados por Clark Duke (Marty) e Evan Peters (Todd). Seguindo a linha de “filmes juvenis”, a atriz que interpreta a garota cobiçada pelo protagonista é Lyndsy Fonseca (Katie Deauxma). Garrett M. Brown faz um pequeno papel como o pai de Kick-Ass, Mr. Liewski, e o excelente Mark Strong interpreta o super-vilão Frank D’Amico.

Vale a pena citar algumas pessoas envolvidas na parte técnica do filme e que acabam sendo fundamentais para que ele funcione bem: Ben Davis como diretor de fotografia; Eddie Hamilton, Jon Harris e Pietro Scalia no trabalho com a edição; Russell De Rozario no design de produção; Sammy Sheldon no divertido figurino; Joe Howard, John King e Sarah Stuart na direção de arte e, finalizando (mas tão importante ou mais que todos os pontos anteriores), Marius De Vries, Ilan Eshkeri, Henry Jackman e John Murphy na trilha sonora.

Fiquei curiosa para saber mais sobre os quadrinhos que deram origem a esse filme. Ou seja: admito que não li ao original Kick-Ass. Procurando críticas a respeito dos quadrinhos, encontrei esta resenha que achei interessante. Zak Edwards, do Comic Book Bin pondera que Kick-Ass segue a trilha de outros gibis lançados anteriores ao buscar o realismo para as histórias de super-heróis – ele cita, inclusive, Watchmen como exemplo. Mas diferente das tentativas anteriores, segundo Edwards, Kick-Ass realmente se aproxima do modelo do que seria um sujeito, nos dias atuais, tentando ser um super-herói. Pelo que seu texto comenta, o gibi original mergulha na oralidade da juventude e nos hábitos de um garoto que vive lendo gibis, jogando videogame, assistindo a Scrubs e escutando música – especialmente Stereophonics. Resumindo: um guri normal dos dias atuais. Gostei da expressão do “ordinário extraordinário”. Talvez ela resuma bem tudo o que Kick-Ass queira significar.

Claro que, como toda obra adaptada, o gibi original tem muito mais “espaço” para se debruçar sobre o cotidiano e a vida do protagonista do que o filme nele baseado. Interessante que, segundo o texto de Edwards, o que liga todos os personagens de Kick-Ass é o fato de todos serem “muito normais”. Um contraponto a isto acaba sendo – e aí não sei como o gibi trata estes personagens – as figuras de Big Daddy e Hit-Girl. Para as pessoas que ficaram interessadas em saber mais sobre o gibi, nesta mesma página há links para comentários de outros números do Kick-Ass.

Neste outro texto, por exemplo, o mesmo Edwards comentava que Kick-Ass, em seu terceiro número, se firmava como a “sensação do comic indie” exceto por um problema: pelo gibi ser publicado pela Marvel. 🙂 Para o especialista em quadrinhos, Kick-Ass apresentava uma escrita “violenta, polêmica, social e politicamente conscientes” em um pacote sem censuras. Interessante que, em seu texto, Edwards enfatiza bastante a violência impressa pelos quadrinhos escritos por Mark Millar e com arte de John Romita Jr. Finalmente, nesta outra resenha, Hervé St-Louis comenta o oitavo e último número da minissérie Kick-Ass. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Curioso que a dupla Millar e Romita Jr. levaram oito edições para contar a história da transformação de Dave, a aparição dos outros heróis e a morte de Big Daddy – o que o filme leva 117 minutos para narrar.

Interessante este vídeo feito pela MTV que compara sequências dos quadrinhos com algumas que acabaram entrando no filme.

Foi confirmada, para ser lançado em 2012, a sequência de Kick-Ass. O filme se chamará Kick-Ass 2: Balls to the Wall e será dirigido, novamente, por Matthew Vaughn, com roteiro de Jane Godman e do próprio diretor. Agora é esperar para ver – ainda que eu sempre fique com o pé atrás com este tipo de sequência.

Achei interessante este texto de Beth Davies-Stofka que afirma que não sabe dizer se Kick-Ass é ou não um bom filme. O que a crítica afirma é que ele não se arrasta nunca, e que ela se sentiu permanentemente golpeada por “cores, explosões, sangue, cérebros, surpresas, música, humor e linguagem” interessantes. Davies-Stofka também resume bem a produção ao classificá-la como “divertida e surpreendente”. Kick-Ass é realmente isso – em grande parte do tempo. Também importante a sua observação de que ele deve ser visto por adultos – ou, pelo menos, pessoas com mais de 15 anos. Ela está certa quanto a isso – porque ele é, algumas vezes, violento demais.

Ah sim, e antes que alguém comente que é um absurdo uma criança como a Mindy Macready ser mostrada da forma com que ela é mostrada em Kick-Ass – ou seja, empunhando variados tipos de arma, matando gente a dar com o rodo e apanhando muito também -, devo comentar: gente, isso é apenas um filme! E uma produção, diga-se, que toca o dedo em várias feridas da nossa sociedade. Ou seja: Kick-Ass, em momento algum, quer inspirar as pessoas a fazerem o mesmo. Pelo contrário. Se o filme quisesse fazer algo além de divertir – o que eu duvido -, ele faria é as pessoas questionarem o tipo de sociedade extremamente manipulável, violenta e cheia de exemplos ruins nós temos. Mas, francamente? Ele é um filme pipoca, ou seja, feito para surpreender, cair no gosto popular e divertir. Não pretende mostrar crianças vitimizadas, que perderam a infância pela loucura de um pai vingador e coisas do gênero. Não, não…

Kick-Ass caiu mais no gosto do público do que da crítica – como era esperado, aliás. Segundo as pessoas que votam no site IMDb, o filme merece a nota 8,2. Os críticos que tem seus textos linkados no Rotten Tomatoes, por sua vez, dedicaram 169 críticas positivas e 53 negativas para a produção – o que lhe garante uma aprovação de 76% e uma nota média 7.  Nada mal até, levando em conta o padrão do site.

Fiquei surpresa com os valores gastos com a produção de Kick-Ass: US$ 28 milhões. Para um filme com tantos efeitos especiais, explosões e bons atores, achei pouco – em relação a outros títulos. Até o dia 13 de junho, apenas nos Estados Unidos, esta produção havia arrecadado quase US$ 47,8 milhões. Vai lucrar bem, não há dúvidas.

CONCLUSÃO: Um filme que é puro entretenimento e, de quebra, um sinal do nosso tempo. Ressaltando e ironizando os fenômenos de massa criados pela internet e difundidos pela “imprensa tradicional”, Kick-Ass questiona e submerge, na mesma medida, em elementos da cultura pop. Feita para cair no gosto do grande público, especialmente dos jovens, esta produção surpreende pela alta carga de violência – mais até do que por suas ironias, humor e/ou questionamentos. Imerso na realidade juvenil, Kick-Ass também trata de temas bastante adultos – como depressão, vingança, desestruturação familiar e criminalidade. Com um ritmo perfeito e bastante equilibrado e uma trilha sonora impecável, condizente com a edição do filme, Kick-Ass guarda contradições importantes na condução de seu roteiro. Ele visivelmente passa de momentos irônicos e um tanto que questionadores para a escolha de seguir um modelo clássico de filmes de super-heróis. Mas justamente as suas contradições que o tornam um filme tão atual e marcante. Entretenimento cheio de violência e uma boa dose de humor e ironia. Planejado, em outras palavras, para ser um sucesso. Politicamente incorreto – afinal, ele coloca uma menina de 11 anos usando todo o tipo de arma e matando uma porrada de gente -, muitas vezes ousado e algumas vezes previsível, certamente se tornará um filme “cult”. Ainda bem que, desta vez, com alguns méritos.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 25 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing, professora universitária (cursos de graduação e pós-graduação) e, atualmente, atuo como empreendedora após criar a minha própria empresa na área da comunicação.

10 respostas em “Kick-Ass – Quebrando Tudo”

Então queres dizer que vale a pena? Esse eu estou afim de ver. Disseram-me boas coisas.

Eu assisti alguns recentes, o “Há Tanto tempo que te amo” e “A Outra”. Achei o “Há tanto”, um filme sensacional. Além de ter uma história muito bem conduzida, diálogos fortes e ser um todo denso, a irmã é linda [hehehe].

O “A Outra” foi bom de se ver, mas nada além. Uma história já meio manjada e até, creio, mal contada (no sentido de faltar coisa) no filme. A fotografia é muito bacana, as vestes idem. Mas sei lá, valeu pela Scarlett; mas não foi, longe disso, um 9 ou 8 para mim.

Alas, é uma pena que você não responde os comentários. Mas, com tanto que tudo esteja bem, está bem.

Abrazos

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Oi l3on!

E aí, acabasse assistindo ou desistiu?

O Há Tanto Tempo que Te Amo está na minha lista há muito tempo… hehehehehe. Mas fui deixando, deixando… e vários outros passaram na frente dele. Mas ouvi falar muito bem. Além disso, é francês, né? Normalmente os franceses valem a pena.

A Outra eu comentei por aqui, não sei se chegaste a ler o texto. Também achei razoável, nada assim “fora do comum”. É bonzinho, para resumir. Bem feito, mas com pequenos problemas, como comentaste.

Como podes ver, pouco a pouco, vou respondendo aos comentários. hehehehehe. Ainda vai levar um tempo para colocá-los todos em dia, mas eu chego lá.

Abrazos, besos y hasta luego!

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Oieee Mangabeira!

Como é bom ler um comentário teu… aliás, culpa minha não nos “falarmos” mais, né? Porque só agora, final de outubro, estou conseguindo responder um recado teu de julho. Eita!

Pois sim, este filme me lembrou demais o Kill Bill. E estou contigo… Hit-Girl é a herdeira da Mamba Negra. hehehehehe

Beijos e até mais!

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É gostei sim ale, ainda não li toda a sua critica mas, não gostei do filme.
não vou condena-lo, só não concordo com sua nota.

vou ler e comento depois.

abraço.

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Oi Enzo!

Então não gostaste muito do filme, foi? Só tens que explicar as tuas razões… ou, não. hehehehehe. Afinal, ninguém te obriga. Mas fiquei curiosa…

Acho que andaste tão ocupado quanto eu, não? Porque desde julho não voltaste aqui para comentar o que achaste. hehehehe

Espero que estejas bem.

Abraços e inté!

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Oi, Alessandra, desse eu discordo totalmente. Mas eu entendo sua nota. Para uma pessoa que não leu o gibi, o filme parece muito bacana, tanto que meu namorado gostou. Mas eu saí do cinema bufando de raiva.

Por que? Porque o gibi é uma perversão hollywoodiana do gibi. Tá, falei que nem um nerd xiita agora, não é? Mas é verdade. O gibi é de uma crueldade extrema. É a completa destruição de qualquer fantasia das histórias de super-heróis. Ele não tenta ser um pastiche de Tarantino, ele é pra ridicularizar as histórias de super-heróis, pura e simplesmente. Um chute nos bagos do romantismo escapista por assim dizer.

Para você ter uma noção, vou contar de três mudanças que fizeram no filme. A primeira eu acho que é a mais emblemática. Quando ele conta pra menina que tinha fingido que era gay, no filme ela fica brava com ele por 4 minutos e 22 segundos (mentira, estou inventando um número, mas foi um tempo curtíssimo). No gibi ele fica esperando que ela vá dizer que entende e que está apaixonada por ele, mas ela fica puta e manda um cara do time de futebol americano encher a cara dele de porrada e diz que nunca mais quer ver ele na vida. O que, vamos combinar, seria uma reação muito mais normal de uma menina que foi traída.

Outra é que no gibi aquela história de que o Paizão era um policial que teve a esposa assassinada era uma fantasia. Ele nunca foi policial. Ele era um nerd que queria que a filha se sentisse epecial. Ele nunca teve esposa assassinada. A mulher largou dele pra ficar com outro e deixou ele com a filha pra cuidar. A grande arma do final que ele guardava na mala todo o tempo no gibi era uma coleção de gibis raros que ele vendia pra sustentar a palhaçada. E a única razão pela qual ele foi atrás do mafioso é que eles precisavam de um arqui-inimigo. Patético, como o Mark Millar quis fazer os super-heróis todos parecerem.

Outra coisa é a Hit-Girl. Se no cinema ela é uma mini-adulta, pra manter a coisa no tom de comédia, no gibi ela é uma criança de verdade e chora um bocado quando o pai morre. Ela é uma criança! Uma criança assassina criada por um doente mental, mas ainda é uma criança. No cinema, obviamente deixaram isso de fora pra não chocar os espectadores.

E isso que me deixou puto no fim do filme: ver que o mainstream não topa se arriscar no cinema pra fazer umas coisas mais perturbadoras, como faz em outras áreas como os quadrinhos. Nunca desperte o leitor, como diria o Mário Quintana. E esse conservadorismo me tira dos nervos. Não à toa que a TV, mais disposta a arriscar, está conseguindo roteiros muito mais interessantes que o cinema. Ultimamente tenho acompanhado diversas séries, mas pouquíssimos filmes. Tudo é sequência, prequel, genérico incolor…

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Oi Panthro!!

Acabo de te responder um outro comentário e, para a minha surpresa, encontro este outro seu em seguida. Que bom!

Pois é, tenho certeza que a minha avaliação foi prejudicada pelo fato de que eu não li o gibi. Mas paciência… não consegui, realmente, fazer isso a tempo – e mesmo agora, tempos depois.

Agora, acho que o filme passa um pouco esta ideia de subversão que comentaste. Ele também é bastante violento e, ainda que ele não pegue tão “pesado” em alguns pontos, que não seja tão “cínico” quanto o gibi, no geral, ele bate com força em elementos que fizeram a construção da própria indústria do gibi e de todos os outros produtos da cultura “pop”.

Dito isso, quero comentar que, mais uma vez, fizeste um aporte importante de informações. Tua análise é bastante rica e bacana, acrescentando informações essenciais que o meu texto não conseguiu trazer porque, justamente, não li o original. Obrigada, mais uma vez, por essa tua contribuição.

Concordo contigo que seria muito mais bacana terem inserido a surra no “herói” pedida pela menina que se sentiu traída. Mas tens que concordar comigo que nem tudo que está no original pode acabar entrando na adaptação para o cinema. Algumas coisas, normalmente, precisam ser cortadas. E acho que esta surra, digamos assim, era menos importante para a história no geral. Então podemos perdoá-los, não? 🙂

Agora, concordo contigo que mudarem a história de um dos personagens principais, aquele vivido pelo Nicolas Cage, não fez sentido algum. Teria sido muito mais interessante seguir o que o HQ previa. Teria sido mais bacana também “humanizar” um pouquinho mais a Hit-Girl, concordo.

Verdade que a TV dos Estados Unidos está produzindo, no geral, coisas muito mais interessantes e ousadas que o cinemão. Ainda assim, aqui e ali, dá para encontrar alguma coisa boa. Especialmente fora de Hollywood – ou no cinema independente que, mesmo caindo pelas beiradas, continua vivo.

Bacana teu comentário, mais uma vez. Obrigada por ele. E volte mais vezes, ok? Abraços!!

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