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The Paperboy – Obsessão


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Um elenco com vários nomes de destaque em Hollywood, um roteiro fraco a maior parte do tempo e bastante violento. The Paperboy é um destes filmes que você não sabe muito bem a que veio. Nem para que. O roteiro tem alguns momentos totalmente absurdos, e a história parece não engrenar nunca. Ainda assim, abriga algumas cenas de impacto, e uma e outra reflexão interessante. Não é um totalmente desastre, mas está longe de ser bom.

A HISTÓRIA: Uma mulher ajeita o cabelo enquanto o diretor pede para ser avisado quando a equipe estiver gravando. Começam as gravações e ele comenta que muitas pessoas se perguntaram o que realmente teria acontecido. Ele afirma que muitas perguntas surgiram logo depois que o livro foi publicado, e agradece a Anita Chester (Macy Gray) pela ajuda a tornar o assunto mais claro. Ela deve saber o necessário, já que o livro foi dedicado a ela.

Anita afirma que tudo o que está no livro é verdade, e começa a contar a história conforme ela lembra do que aconteceu. Ela diz que tudo aconteceu em 1969, durante o verão em Moat County, na Flórida. Um policial foi morto, e Hillary Van Wetter (John Cusack) foi preso pelo crime. O assunto acaba entrando no cotidiano da família para a qual Anita trabalhava como empregada porque o irmão de Jack (Zac Efron), o jornalista Ward Jansen (Matthew McConaughey) desconfia da versão oficial e viaja para a cidade para tentar descobrir detalhes sobre o que aconteceu.

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue lendo quem já assistiu a The Paperboy): A primeira impressão que eu tive com este filme foi que Macy Gray, ótima cantora, estava forçando na interpretação da personagem Anita. E esta impressão só vai se confirmando conforme a trama avança. Nem sempre uma artista do meio musical consegue se sair bem no meio cinematográfico. Há bons exemplos, como Norah Jones em My Blueberry Nights (comentado aqui no blog).

Não podemos falar o mesmo sobre Macy Gray. Ela faz um trabalho exagerado, um tanto preguiçoso. Um dos pontos que incomoda neste filme. Mas ele não é o único. Depois da aparição de Macy Gray, voltamos até agosto de 1969, quando o xerife Thurmond Call (Danny Hanemann) é morto. Rapidamente percebemos que o diretor Lee Daniels tem estilo e vai levar esse filme sob rédeas curtas. Funcionam bem as cenas em preto e branco, e elas criam uma boa expectativa no espectador de que verá uma produção diferenciada. Ledo engano.

Certo que Daniels faz um bom trabalho na direção. As cenas em preto em branco são ótimas. E o estilo do restante do filme, com um trabalho fundamental do diretor de fotografia Roberto Schaefer, também é interessante. Mas o problema deste filme é mesmo o roteiro, escrito por Daniels e Peter Dexter. Este último, autor do livro que inspirou o filme.

Há sequências verdadeiramente desnecessárias nesta produção. Que não apenas não agregam informações para a história, como também beiram ao absurdo. Exemplos? (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). A sequência em que Anita vai limpar o quarto de Jack e eles acabam “trocando” de papéis e a segunda visita dos irmãos Jansen, junto com Charlotte Bless (Nicole Kidman), para ver a Hillary. Na primeira, totalmente dispensável aquela brincadeira de Anita com Jack, que acaba não tendo graça alguma, e, na segunda, bastante sem propósito a obsessão de Hillary sobre quem tem calças. No fim das contas, duas sequências que não agregam nada ao filme.

Mas há pelo menos uma outra sequência mais absurda que estas. Aquela que mostra Jack nadando na praia e, depois, sendo “atacado” por águas-marinhas. A solução para ajudá-lo, incluindo a execução da cena, é simplesmente ridícula. E beira o absurdo. Por estas cenas, o filme chega a deixar o espectador perplexo. Pelo lado negativo. A sensação que fica é que estamos perdendo o nosso precioso tempo vendo a um filme sem pé nem cabeça.

Para tornar a balança um pouco mais justa, contudo, há sequências em The Paperboy potentes. Há tanto a provocativa cena em que Hillary faz Charlotte masturbar-se na frente de Jack, Ward e do colega jornalista Yardley Acheman (David Oyelowo), quanto, e principalmente, a sequência em que Jack encontra o irmão sodomizado e quase morto. A reta final da produção, ainda que em parte prevista, também impressiona pela brutalidade. Aliás, este filme faz o estilo “sem papas na língua”. O problema é que ele é muito desigual e demora demais para chegar a alguma cena interessante.

Na maior parte do tempo, The Paperboy parece um filme arrastado, cansado, como se o roteiro e a equipe estivessem de fato sofrendo com aquele verão extremamente quente nos Estados Unidos. Seguindo a narrativa de Anita, esta produção parece ser a história do “primeiro amor” de um belo garoto, Jack, que ainda não sabe o que vai fazer da vida. Após os fatos que acontecem neste filme, ele aprende a duras penas um pouco mais sobre perder a quem se ama, reencontra a própria mãe, que há muito tempo não via, e acaba definindo os rumos que vai seguir.

Pena que apesar de ser centrado neste personagem, o roteiro aprofunde pouco na personalidade dele. A maior parte do tempo o esforçado Zac Efron fica babando para a bonita, mas não tão bela quanto deveria ser Charlotte Bless. Apesar da história dele parecer o centro deste filme, o enredo principal orbita sobre a culpabilidade ou a inocência de Hillary. Como pano de fundo, a divisão da sociedade norte-americana, mesmo no final dos anos 1960, sobre o tema racial.

Desde o princípio do roteiro fica evidente que os conflitos entre brancos e negros é um elemento importante desta história. Ainda que o homem que tem a culpa questionada seja branco. Mas existe o personagem do jornalista Yardley deslocado, sem contar a “descartável” Anita e o clima que os circunda. Outro preconceito surge lá pelas tantas: o que circunda os homossexuais. Pessoas como Ward que, aparentemente, devem esconder a sua vida privada e caminhar “nas penumbras” para encontrar o que lhe interessa. Mas estes assuntos são apenas citados na produção. Em nenhum momento ganham verdadeira relevância.

Uma questão que o filme levanta, contudo, verdadeiramente é interessante: como alguns defensores dos direitos civis fizeram besteira para defender os seus pontos de vista. Ainda que esta seja uma ficção, impossível não acreditar que houve histórias como a revelada em The Paperboy. Jornalistas como Yardley que ficaram famosos por escrever reportagens e livros sustentando histórias que não foram bem apuradas ou que, simplesmente, foram adulteradas para defender a teorias de acusados injustamente – e que, no fim das contas, eram culpados por seus crimes.

No caso de Hillary, não fica claro que ele foi culpado pela morte do xerife Thurmond Call. Mas pela personalidade violenta que acompanhamos na reta final da produção, e pela aparente história combinada entre ele e o tio Tyree Van Wetter (Ned Bellamy) sobre o campo de golfe, existe uma dúvida bem consistente de que ele foi o culpado. A pressa de Ward e, especialmente, de Yardley em defender a teoria de que Hillary era inocente, ele acaba sendo solto. E o restante da história se desenvolve.

Até hoje acompanhamos muitas histórias de culpados que saem rapidamente da prisão e acabam cometendo uma ou mais atrocidades. Não tenho dúvidas de que a “justiça dos homens” é falha. E não faltam exemplos para confirmar esta afirmação. Desta forma, The Paperboy aborda um tema interessante, ainda que perca muito tempo com bobagens e com sequências que poderiam ser dispensadas. Mas os atores se esforçam em seus papéis, ainda que falte química e sintonia entre eles. A direção funciona, mas o roteiro é muito ruim. Uma pena.

NOTA: 6.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: Se eu fosse avaliar este filme friamente, provavelmente daria uma nota ainda menor para ele. Mas como gostei da direção de Lee Daniels, resolvi melhorar um pouco a avaliação. Também vale dar a nota acima pelo esforço de Matthew McConaughey, que é o melhor em cena, e por Zac Efron fazer um bom trabalho – ele realmente é lindo e pode evoluir na carreira se estudar um pouco mais interpretação.

Por outro lado, e contrariando alguns textos que li por aí, não gostei da Nicole Kidman. Achei a interpretação dela um pouco “over”, exagerada, e algumas vezes até perdida. Não gostei. Assim como achei um desperdício o papel de John Cusack. Ele é um ator melhor que o que ele demonstra neste filme.

Além dos atores citados, vale comentar o trabalho de Scott Glenn como W.W. Jansen, pai de Jack e Ward; e Nealla Gordon como Ellen Guthrie, que trabalha com W.W. Jansen e acaba ficando noiva dele. Os demais fazem papéis muito secundários e que acabam não tendo muita relevância para a produção.

Da parte técnica do filme, Lee Daniels tem uma direção firme e mostra talento, ainda que não faça nada totalmente inovador – as técnicas utilizadas por ele podem ser vistas no trabalho de outros diretores. O roteiro é ruim, fraco, arrastado, com várias sequências dispensáveis. A direção de fotografia, por outro lado, é um dos pontos fortes da produção. Mérito de Roberto Schaefer, como comentei anteriormente.

Merecem aplausos também o design de produção de Daniel T. Dorrance, a direção de arte de Wright McFarland, a decoração de set de Tim Cohn e os figurinos de Caroline Eselin e a edição de Joe Klotz. Eles são os responsáveis por ambientar o filme de forma convincente em 1969. A maquiagem da equipe liderada por Robin Mathews, por outro lado, deixa um pouco a desejar. Me pareceu forçada em muitos momentos. A trilha sonora de Mario Grigorov funciona, tem alguns bons momentos, mas não achei digna de ser comprada, por exemplo.

Agora, algumas curiosidades sobre a produção. Nicole Kidman entrou no lugar da atriz Sofía Vergara, que faz Modern Family, que tinha sido confirmada como a protagonista do filme antes. E o diretor Pedro Almodóvar foi cotado diversas vezes para assumir este projeto, que seria o primeiro filme dele em inglês. Mas no fim das contas, Almodóvar desistiu do projeto – talvez ele tivesse feito algo melhor do material original. Nunca saberemos.

Outro nome cotado para esta produção foi o de Tobey Maguire. Mas o ator não conseguiu espaço na agenda, com outros projetos em andamento. Alex Pettyfer tinha sido escalado para o papel de Jack, mas acabou dando lugar para Efron.

E uma observação que eu faço do filme. O título original, The Paperboy, faz uma referência clara à Jack que, de fato, é um entregador de jornais no início da história. Depois, Hillary tira sarro de Ward e Yardley chamando eles também de “entregadores de jornais”. Os dois são jornalistas, mas isso pouco importa para o presidiário. E para quase não variar, a tradução do filme no Brasil mudou totalmente o sentido do título do original. Nestas situações, em que é difícil traduzir o título, sempre vou achar melhor deixar o título original, sem mudar o sentido dele.

The Paperboy estreou em maio de 2012 no Festival de Cannes. Depois, ele passaria por outros oito festivais, incluindo o do Rio de Janeiro, no início de outubro de 2013. Nesta trajetória, ele ganhou três prêmios e foi indicado a outros seis, além de ter sido indicado para o Globo de Ouro de Melhor Atriz Coadjuvante para Nicole Kidman.

Entre os que recebeu, destaque para o de Ator Favorito em Filmes Drama para Zac Efron no People’s Choice Awards; Ator do Ano para Matthew McConaughey (pelo conjunto de trabalhos dele recentes, incluindo ainda Magic Mike, Killer Joe e Bernie) pela Associação de Críticos de Cinema de Central Ohio e um Prêmio Especial Honorário para Matthew McConaughey (pelo mesmo conjunto de filmes citado anteriormente) entregue pela Associação de Críticos de Cinema de Austin. Os prêmios recebidos, até achei justos, mas a indicação de Kidman achei exagerada.

The Paperboy teria custado cerca de US$ 12,5 milhões. Nos Estados Unidos, o filme acumula um resultado de pouco mais de US$ 693,2 mil até o início de outubro. E no restante dos mercados, ele soma outros US$ 660,5 mil. Ou seja, somados, os resultados ultrapassam um pouco US$ 1,35 milhão. Perspectiva de um fracasso importante se seguir este ritmo. E cá entre nós, não me surpreende.

Esta produção foi rodada em Los Angeles e na cidade de New Orleans.

Os usuários do site IMDb deram a nota 5,7 para The Paperboy. Coincido bastante com esta avaliação. Os críticos que tem os seus textos linkados no Rotten Tomatoes dedicaram 78 textos negativos e 60 positivos para o filme, o que lhe garante uma aprovação de 43% e uma nota média de 5,1.

Como em outras vezes, quero citar uma parte da crítica do conceituado Peter Howell, da Toronto Star, que pode ser lida na íntegra aqui. Na opinião dele, The Paperboy é um “exagerado e pantanoso melodrama” que tem um elenco tipo A e um “material tipo Z”. hehehehe. Boa! Howell também considerou a cena da urinada a mais ridícula do filme, mas não a única, e que tudo na produção é exagerado – o que não é bom.

Outro crítico listado como um dos favoritos dos leitores do Rotten Tomatoes teve uma opinião bem diferente. Steven Rea, do Philadelphia Inquirer, deu três de quatro estrelas possíveis para The Paperboy. Você pode ler o texto na íntegra aqui. Rea destaca o trabalho de Matthew McConaughey e o de Macy Gray, que considera que está fantástica no filme. Na avaliação do crítico, Daniels busca com os seus filmes “choque e pavor”, e isso é algo positivo. “Mas eles também pretendem explorar os recantos mais obscuros da alma, os sonhos e desejos que circulam sobre as nossas cabeças, e isso é ainda melhor”, escreveu. Uma maneira diferente de analisar The Paperboy, a qual respeito – ainda que não concorde.

The Paperboy é o terceiro filme da carreira de Lee Daniels. Em 2009 ele impressionou a muita gente – e eu me incluo no grupo – com Precious (comentado aqui no blog). Antes, ele dirigiu a Shadowboxer, lançado em 2005. Depois de The Paperboy, ele dirigiu The Butler, estrelado por Forest Whitaker e que conta a história de um mordomo que trabalhou com vários presidentes dos Estados Unidos na Casa Branca. Pelo jeito, após Precious, ele não seguiu no mesmo ritmo. Anda apresentando trabalhos mais fracos.

Este filme, 100% made in USA, entra na lista de produções daquele país que estou comentando aqui no blog após uma votação feita entre vocês, caros leitores. Até a próxima!

CONCLUSÃO: Este filme é quase uma incógnita. Afinal, qual é o propósito de The Paperboy? Ele não conta apenas a história do primeiro amor de um jovem. Nem mesmo a história real por trás de um livro. Além do fascínio de um belo jovem por uma mulher vulgar e obstinada por um presidiário, este filme coloca no mesmo caldeirão a segregação racial do Sul dos Estados Unidos, direitos civis e pena de morte – e a consequente preocupação de alguns jornalistas em evitar injustiças.

Esta mistura levanta algumas questões interessantes, mas não a ponto de fazer o filme te convencer. Verdade que ele tem algumas cenas bem fortes, e algumas interpretações esforçadas. Ainda assim, falta alma para esta produção, assim como mais argumentos para convencer o espectador. O cinema poderia perfeitamente seguir adiante sem esta produção. Gaste seu tempo com ele apenas se você gosta muito dos atores, do diretor ou se já tiver assistido a tudo o mais de bom que está nos cinemas.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 25 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing, professora universitária (cursos de graduação e pós-graduação) e, atualmente, atuo como empreendedora após criar a minha própria empresa na área da comunicação.

6 respostas em “The Paperboy – Obsessão”

Voce nao entendeu que as cenas que tanto critica , primeiramente em que Anita e Jack fazem a brincadeira de “trocar ” de papel é importantisima por mostrar o nível de intimidade e cumplicidade e afeto entre o rapaz branco abandonado pela mae e a ” ama negra” que é afinal a única referencia de amor feminino a que Jack possui e que o conhece profundamente.

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Assisti J. Cussack em numa sequência recente de trabalhos interpretando pessoas perturbadas, “The Frozen Ground” foi outro que assisti além desse “Obsessão”, no primeiro achei sua interpretação melhor, embora, sejam bem parecidas.
Concordo quanto a N. Kidman, também acho que pesou na interpretação. M. McConaughey e Z. Efron conduzem o filme decentemente, o segundo me surpreendeu, apesar de ser o primeiro trabalho que tenha visto, mas pela referência de trabalhos anteriores de Efron, nesse ele foi bem.
Esse filme é pra estomago forte. Particularmente não gostei. Mesmo com a direção caprichada de Lee Daniels.
Abraços!!

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Péssima crítica, muitas vezes vocês pseudo avaliadores passam por nós leitores como “artistas frustrados” Uma coisa que vocês precisam aprender é criticar o que viu não como vocês fariam. Qual o problema de cenas de cotidiano? Claro que acrescentam ao filme, claro que demonstram os vínculos entre os personagens. Porque tudo é desnecessário? Onde isso? Sua crítica que está rebuscada e repetitiva, chega ser chato fazer a leitura. Enfim, fica a dica, faça observações sobre o que viu e não o que faria.

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Oi. Achei o filme bem intenso. Não entendi porque o personagem do Matthew McConaughey teve o rosto cortado? e porque o saco plástico? Eles tinham a intensão de sangra-lo até morrer? Não compreendi essa prática de sadismo? Alguem poderia explicar? Se é que se explica isso?

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