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12 Years a Slave – 12 Anos de Escravidão


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A pior chaga da história recente das civilizações ganhou um filme que pode ser considerado definitivo. 12 Years a Slave foi feito para não deixar dúvidas de que a escravidão foi um absurdo na trajetória humana. Há quem tenha classificado ele como “The Passion of the Christ da escravidão”. Há sentido na comparação, mas 12 Years a Slave consegue ser um pouco mais “suave” que a produção dirigida por Mel Gibson que está completando uma década este ano. Ainda assim, não se engane: este é um filme forte e que mexe com o espectador.

A HISTÓRIA: Um grupo de homens negros está parado, de pé, como em uma fotografia antiga. Eles olham fixo para um senhor branco que lhes ensina o “jogo do corte” da cana de açúcar. Em seguida, os homens começam a trabalhar e seguem a instrução de fazerem isso ao som de uma canção. Um destes homens, Platt (Chiwetel Ejiofor) é observado pelo dono daquelas terras, o juiz Turner (Bryan Batt). Mais tarde, ao comer, Platt pensa em separar algumas frutas escuras do prato para transformá-las em tinta.

Ele fabrica o próprio “lápis” e tenta escrever, sem sucesso. À noite, todos os negros são colocados para dormir no chão, encostados uns nos outros. Platt acaba ajudando uma mulher a ter certo prazer em meio ao drama e à dor. Mas logo ele volta no tempo e lembra da mulher, Anne (Kelsey Scott) e dos filhos Margaret (Quvenzhané Wallis) e Alonzo (Cameron Zeigler) que ele foi obrigado a deixar.

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes de 12 Years a Slave, por isso só recomendo que continue a ler quem já assistiu ao filme): A expectativa era grande para este filme. Por mais que eu não goste de saber quase nada sobre uma produção que ainda não assisti, foi impossível não ouvir algo do grande burburinho sobre 12 Years a Slave. Primeiro, foi a ótima Ana Maria Bahiana a divulgar, muitos meses antes das bolsas de apostas para o Oscar ganharem força, que este filme era o melhor de 2013. E depois vieram as listas para o Oscar, e 12 Years a Slave sempre entre os mais cotados.

Sendo assim, impossível não começar a assistir ao novo filme de Steve McQueen sem esperar ver a uma grande produção. Como vocês sabem (eu já falei sobre isso aqui antes algumas vezes), toda grande expectativa é difícil de ser plenamente satisfeita. Por isso mesmo, e por mais que fiquem evidente várias qualidades deste filme logo no início, foi difícil achá-lo tão formidável quanto as críticas por aí tem comentado.

Voltemos um pouco nesta avaliação, antes da conclusão sobre o filme. Algo que eu achei interessante no trabalho do roteirista John Ridley, que trabalhou sobre o original de Solomon Northup – o romance Twelve Years a Slave – foi que ele evitou a forma de narrativa clássica. Ou seja, jogou em diferentes momentos com o vai e vem da história, mesclando “tempo presente” com a explicação sobre o que aconteceu com o personagem principal e as reminiscências que ele tinha sobre a própria história. O recurso não exatamente novo, mas funciona bem ao dar uma quebra importante no filme – evitando que ele se tornasse “maçante”.

Mas se por um lado o vai-e-vem do roteiro imprime dinâmica para 12 Years a Slave, ele também exige atenção redobrada da audiência. Afinal, não é a tarefa mais simples do mundo lembrar de personagens secundários como Parker (Rob Steinberg), por exemplo. E o detalhe é que personagens como ele acabam tendo uma relevância inusitada. (SPOILER – não leia a partir daqui se você ainda não assistiu ao filme). Para quem não conseguiu ligar o “nome à pessoa”, Parker é o dono da loja onde Solomon vai com a mulher e os filhos comprar mercadorias com uma certa frequência – o suficiente para a família ser tratada com respeito e simpatia. Esse mesmo Parker será o homem que irá atrás de Solomon quando ele é tratado como Platt na fazenda de Edwin Epps (o sempre ótimo Michael Fassbender).

Além do roteiro bem construído e que dá o espaço exato para cenas de pura crueldade – a mais angustiante, para mim, foi a do enforcamento de Solomon praticado pelo covarde John Tibeats (Paul Dano) -, algo que me chamou a atenção logo nos primeiros minutos do filme foi o estilo de direção de Steve McQueen. O diretor, que merecidamente deve ser indicado ao Oscar, escolheu a forma mais realista de contar esta história. Não é por acaso, mas bastante emblemática, a cena inicial, com um grupo de negros em pé, de olhos fixos, olhando para um capataz – imagem que lembra uma fotografia antiga.

Assim, a câmera do diretor desliza entre as folhas da plantação de cana-de-açúcar, foca nas pás do barco que leva os escravos de maneira opressiva, acompanha cada tortura e crueldade infligida aos negros da mesma forma com que revela o modo de vida dos brancos senhoriais. McQueen tem um propósito muito claro na cabeça e sabe concretizá-lo sem pestanejar. Ele quer contar a história verdadeira de Solomon Northup seguindo o ponto de vista deste artista negro que foi sequestrado e vendido como escravo, ficando nesta condição por tempo suficiente para não ver o crescimento do casal de filhos.

O efeito é marcante. Impossível não ver a cenas como a já citada e extremamente angustiante sequência do quase enforcamento do protagonista, assim como à pancadaria que Solomon sofre quando é “transformado” em Platt ou às chibatadas sádicas contra Patsey (a revelação excelente Lupita Nyong’o) sem nos sentirmos também feridos.

Se não fisicamente, porque nunca teremos a noção exata da dor física e moral de toda aquela injustiça, mas pelo menos na alma. McQueen e equipe conseguem o propósito de não apenas revisitar um capítulo da história dos Estados Unidos nunca explorado de forma realista, mas também de trazer toda aquela dor e absurdo à tona de forma com que o espectador descubra em si uma empatia necessária e urgente.

Li em alguma parte, como eu disse lá no início, uma comparação de 12 Years a Slave com The Passion of the Christ. De fato, em algumas cenas, especialmente nas mais fortes do filme de McQueen, temos a sensação de que o nível de crueldade não pode ser maior – sensação similar ao assistir à releitura que Gibson fez da sempre lembrada história do calvário de Cristo. Mesmo que haja paralelo, contudo, 12 Years a Slave não apresenta tantos closes de feridas e flagelos impostos injustamente quanto The Passion of the Christ – ainda assim, há quem diga que parte da Academia resiste a premiar o filme porque ele seria cruel demais.

Além do estilo do diretor, algo muito marcante em 12 Years a Slave, me chamou muito a atenção no filme a trilha sonora de Hans Zimmer. Em diversos momentos a música ajuda a contar a história, tornando ainda mais angustiante e repressivo o momento vivido pelo espectador. Um trabalho interessante e que não é muito comum no cinema – onde, na maior parte do tempo, a trilha sonora ajuda a contar a história, mas não se torna uma de suas protagonistas. Mais um excepcional trabalho deste veterano do cinema, Hans Zimmer.

Após comentar os elementos que mais me chamaram a atenção, devo dizer que 12 Years a Slave é, desde já, o filme mais marcante do qual tenho lembrança sobre o tema da escravidão. Desde Gone with the Wind os escravos são mostrados no cinema norte-americano, em diferentes produções, como uma classe necessária para o progresso do país e que foi tratada com “benevolência” pelos patrões. Sabemos que isso é uma grande balela. Quem nunca ouviu falar nos navios negreiros, no trabalho forçado e no estupro sem fim pelo que passaram os escravos que tente acreditar em uma mentira como esta.

No Brasil, para a nossa “sorte”, não tivemos uma segregação racial formal como nos Estados Unidos, onde até hoje muitos brancos do Sul do país acreditam que os negros são inferiores. Talvez por isso mesmo 12 Years a Slave tenha outra repercussão na América do Norte. Não que por aqui o filme não tenha valor. Nada disso. Mas lá, tenho certeza, ele tem outro tipo de discussão e de repercussão. O que resta saber é se o país e a Academia, que faz parte da indústria cultural que dita e revisa valores no país e para o mundo, estão preparados para aceitar a reflexão com maturidade e valorizando a coragem de McQueen.

Em mais de um século de cinema, é difícil um filme ser lançado e rapidamente tornar-se um marco em determinado tema. 12 Years a Slave conseguiu isso em relação ao tema da escravidão. Além dos pontos já citados, é preciso destacar o excelente trabalho do elenco escolhido de forma precisa. Chiwetel Ejiofor de fato está ótimo como Solomon Nothup, o músico talentoso que vivia com a família em Saratoga, cidade que faz parte do condado de Nova York, e que tem a vida mudada em 1841. Depois que a família viaja para fora da cidade, ele aceita o convite dos “artistas” Brown (Scoot McNairy) e Hamilton (Taran Killam) para ganhar um bom dinheiro em apresentações com um circo em Washington.

Enganado pela dupla, Solomon acaba sendo sequestrado e transformado no escravo Platt. Não demora nada para que ele seja espancado e “ensinado” a sobreviver. Desta forma, Solomon abandona a própria identidade e aprende a ser subjugado. É comprado primeiro por Ford (o também sempre competente Benedict Cumberbatch, estrela da ótima série Sherlock) que, apesar de ser um homem íntegro e culto, não é capaz de romper a lógica da exploração humana. Na fazenda de Ford, Platt/Solomon logo mostra ser um homem diferenciado, com diversas habilidades – o que desperta a inveja do cruel Tibeats, o chefe carpinteiro da propriedade e considerado um dos “mestres” da fazenda.

Mesmo incapaz de dar ouvidos a Platt, Ford tem a dignidade de agir para salvar a vida do homem que, mesmo sem admitir, ele passou a admirar. Desta forma que Solomon acaba parando nas mãos de Epps, considerado um dos mais cruéis donos de escravos da região. Na ótima interpretação de Michael Fassbender conhecemos um pouco mais a cara do “homem senhorial” dos Estados Unidos no século 19. Fraco para a bebida, sádico e racista, ele maltratava homens e mulheres de diferentes formas, tendo a esposa interpretada por Sarah Paulson (muito bem no papel também) não apenas como cúmplice, mas como artífice também de crueldades.

Além de trabalhar duro cortando madeira e construindo edificações com ela, Platt/Solomon foi explorado na colheita de algodão e de cana-de-açúcar. Encontrou em Ford e no juiz Turner interlocutores um pouco mais atentos, que foram capazes de ver talento naquele homem subjugado. Mas nenhum deles foi capaz de ouvi-lo ou mudar em algo o “status quo” do absurdo da época. No fim das contas, o protagonista teve a sorte de ter o caminho cruzado por Bass (Brad Pitt em uma ponta importante), um estrangeiro que via a escravidão como ela deveria sempre ter sido encarada: como um verdadeiro absurdo. Com a interferência de Bass conseguimos conhecer esta história.

Um filme bem conduzido e que não me arrebatou por pouco. Talvez porque fosse bastante previsível o que viria no final, ou porque para nós, brasileiros, esta história seja menos reveladora do que para os norte-americanos. Não sei exatamente a razão, mas o que posso dizer é que aguardo um filme que me impressione mais e que esteja cotado para o próximo Oscar. Algum azarão que provavelmente não vai ganhar nada, mas que me apresente mais elementos surpreendentes do que este 12 Years a Slave.

NOTA: 9,8 9,6.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: Filme bem acabado nos detalhes, 12 Years a Slave transporta o espectador para os Estados Unidos de 173 anos atrás. Contribui de forma fundamental para isto o figurino Patricia Norris, o design de produção de Adam Stockhausen, a direção de arte de David Stein e a decoração de set de Alice Baker. Todos trabalharam bem e em prol da história.

Além destes profissionais, merecem menção o trabalho do diretor de fotografia Sean Bobbitt, que usa as tradicionais cores cálidas para dar um tom de “envelhecido” para a produção; a maquiagem feita por 18 profissionais, incluindo os “cabeças” da equipe Ma Kalaadevi Ananda e Adruitha Lee – importante especialmente nas cenas pós-torturas; e a edição precisa de Joe Walker.

Interessante como o ator Brad Pitt se envolveu neste projeto. Ele não é um dos atores com maior espaço no filme, mas o personagem dele teve um papel fundamental na trama. Além disso, o ator entrou como um dos produtores de 12 Years a Slave – junto com o diretor Steve McQueen e outros nomes.

Falando em Brad Pitt, achei curioso que ele e o ator Michael Fassbender tiveram profissionais de maquiagem individuais e próprios – respectivamente Rena Grady e Nana Fischer.

12 Years a Slave tem vários atores interessantes em papéis secundários e menores. Alguns exemplos são Chris Chalk como Clemens, um dos negros que viaja de navio com Solomon e que lhe dá algumas “dicas” de sobrevivência; Paul Giamatti como Freeman, o negociante de negros que não se importa sobre a origem deles – porque está apenas preocupado em faturar; Liza J. Bennett como a esposa de Ford; J.D. Evermore como Chapin, capataz da fazenda de Ford e que acaba impedindo a morte de Solomon; Alfre Woodard como a Madame Shaw, uma ex-escrava que virou “madame” e que ajuda Patsey; e Garret Dillahunt como Armsby, o ex-capataz que caiu em desgraça ao virar alcoólatra e que trai a confiança do protagonista.

Esta produção estreou em agosto de 2013 no Festival de Cinema de Telluride. Depois, o filme participaria ainda de outros 13 festivais. De lá para cá, 12 Years a Slave ganhou o número impressionante de 87 prêmios e foi indicado a outros 106 – incluindo sete indicações ao Globo de Ouro.

Nas bilheterias dos Estados Unidos o filme conseguiu, até o momento, pouco mais de US$ 38 milhões. Não é uma cifra desprezível – até porque o custo da produção não teria sido muito alto -, mas está bem abaixo do desempenho do principal concorrente da produção no Oscar, Gravity, que teria conseguido pouco mais de US$ 251 milhões apenas na terra do Tio Sam.

12 Years a Slave foi totalmente rodado no estado da Louisiana, nos Estados Unidos, um dos territórios que deram um “jeito de burlar os direitos dos escravos libertados (após a proibição da escravidão em 1865), mantendo restrições legais, os chamados black codes” segundo este texto elucidativo sobre a questão nos EUA. Não deixa de ser irônico que o filme tenha sido rodado em um dos territórios mais resistentes ao fim da escravidão.

O livro de memórias de Solomon Northup que serviu de base para o roteiro de 12 Years a Slave tinha rendido uma outra produção anteriormente. Em 1984 foi lançado American Playhouse: Solomon Northup’s Odyssey, um filme produzido para a TV com direção de Gordon Parks, estrelado por Avery Brooks e que foi lançado em vídeo em 1985 com o título Half Slave, Half Free.

E agora, uma curiosidade sobre a produção: ela marca a estreia no cinema de Lupita Nyong’o. Incrível! Espero que a interpretação da atriz, marcante neste filme, lhe renda uma indicação ao Oscar.

Entre os prêmios que 12 Years a Slave já recebeu, destaque para o de Filme do Ano pelo AFI Awards; o de Melhor Filme no Gotham Awards; o Prêmio de Atriz Revelação para Lupita Nyong’o no Festival Internacional de Cinema de Palm Springs; o de Melhor Trilha Sonora e a Menção Especial de Filme no Festival de Cinema de Estocolmo; o Prêmio de Escolha do Público para Steve McQueen no Festival Internacional de Cinema de Toronto; e por figurar na lista Top Ten Films de 2013 da National Board of Review. Além destes prêmios, 12 Years a Slave foi considera o Melhor Filme do ano por nada menos que 10 associações de críticos dos EUA. Este último número torna ele o favorito a ganhar o Globo de Ouro como Melhor Filme – Drama. Logo veremos…

Falando em Globo de Ouro, enquanto 12 Years a Slave tem sete indicações, Gravity conseguiu quatro. Entre os dois, sem dúvidas, prefiro o filme de McQueen.

Os usuários do site IMDb deram a nota 8,6 para 12 Years a Slave. Os críticos que tem os seus textos linkados no Rotten Tomatoes dedicaram 205 textos positivos e apenas oito negativos para a produção, o que lhe garante uma aprovação de 96% e uma nota média de 9. Estes últimos números tornam o filme quase uma unanimidade.

12 Years a Slave é uma coprodução dos Estados Unidos e do Reino Unido.

CONCLUSÃO: 12 Years a Slave não deixa espaço para dúvidas. Entre a casa grande e a senzala não havia espaço para bondade ou condescendência. A escravidão foi uma época obscura da história. Pela primeira vez um filme feito nos Estados Unidos deixa para trás de forma tão contundente o estigma de “bom patrão” para tratar da relação de brancos com negros. A exemplo do que Mel Gibson fez antes sobre a reta final na vida de Jesus, 12 Years a Slave conta uma história dura e que foi estrategicamente esquecida até agora. Um belo resgate de uma história que dói na pele de qualquer pessoa, independente da cor que ela tenha.

Dirigido com maestria, com uma trilha sonora há tempos não vista e interpretações muito convincentes, 12 Years a Slave é uma experiência de cinema e de revisão histórica interessante. Prende o espectador, ainda que não nos conte tanta novidade assim – pelo menos nós, brasileiros, aprendemos nas escolas há tempos que a escravidão era cercada de violência e não de simpatia entre “proprietário e mercadoria”.

Para o meu gosto, apesar de funcionar muito bem, 12 Years a Slave não chegou a me arrebatar. Mas faltou pouco. De qualquer forma, o trabalho de Steve McQueen e equipe cumpre o seu papel com eficácia e paixão, tendo um peso importante, em especial, para o cinema feito nos Estados Unidos.

PALPITES PARA O OSCAR 2014: Todas as bolsas de apostas apontam 12 Years a Slave como um dos principais favoritos em indicações e prêmios na próxima festa do cinema dos Estados Unidos. E dá para entender tal fascínio pela produção. Primeiro, ela de fato é muito competente. Tem uma escalação muito boa de atores e uma história que não deixa o espectador relaxar. Depois, este filme tem grande relevância para o cinema feito nos EUA, que insistia em contar “histórias da carochina” sobre o tempo da escravidão. Sem contar que ainda existe muita gente naquele país que até hoje não entende porque houve a abolição da escravatura…

Sob essa ótica de importância história e agente desmistificador nos Estados Unidos – e em outras partes do mundo -, não há dúvida que 12 Years a Slave merece os holofotes que teve até agora e que terá com uma possível enxurrada de indicações ao Oscar. Além disso, esta produção resgata uma história impressionante de maneira bem direta, sem firulas e com bastante realismo. Estes predicados devem fazer a produção ter uma queda-de-braço importante com Gravity e outros filmes que eu ainda não vi, mas que estão bem cotados para a maior premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.

Para mim, não seria nenhuma surpresa se 12 Years a Slave recebesse algo em torno de 12 indicações. E isso não apenas para combinar com o título do filme. 🙂 O fato é que vejo reais chances dele ser indicado para Melhor Filme, Melhor Diretor (Steve McQueen), Melhor Ator (Chiwetel Ejiofor), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Trilha Sonora, Melhor Design de Produção, Melhor Edição, Melhor Atriz Coadjuvante (Lupita Nyong’o), Melhor Edição de Som, Melhor Maquiagem e Cabelo, Melhor Fotografia e Melhor Ator Coadjuvante (Michael Fassbender).

Agora, a pergunta que não quer calar é: quantos prêmios 12 Years a Slave poderá levar? Bem, esta questão já é mais difícil de responder. Tudo vai depender, basicamente, de uma escolha dos integrantes da Academia sobre qual título eles vão querer colocar no Olimpo do cinema este ano: Gravity e seu apuro técnico com história fraca e desenrolar previsível ou 12 Years a Slave com sua história marcante mas com final também em certo ponto previsto.

O fato é que os principais concorrentes deste ano não surpreendem pelos seus respectivos desfechos, mas sim pela convicção de seus realizadores em levar ao extremo diferentes preocupações de estilo. Gravity prima pela técnica, por tornar a experiência de ver um filme algo marcante com tudo que a tecnologia permite atualmente. 12 Years a Slave busca a história, o envolvimento humano e a revisão de um capítulo tenebroso da humanidade, apostando na interpretação dos atores. Os dois filmes tem em comum, aliás, elogios para os protagonistas.

Da minha parte, prefiro sem dúvida alguma a 12 Years a Slave. Mas ainda estou esperando por um filme que me deixe de queixo caído, entre os principais “concorrentes” deste ano no Oscar – a exemplo do que Black Swan fez comigo no Oscar de 2011. Há vários outros filmes para assistir ainda. Mas tudo indica que 12 Years a Slave vai receber muitas indicações. A dúvida que fica é se ele será capaz de vencer ao lobby de Gravity.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 25 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing, professora universitária (cursos de graduação e pós-graduação) e, atualmente, atuo como empreendedora após criar a minha própria empresa na área da comunicação.

19 respostas em “12 Years a Slave – 12 Anos de Escravidão”

Alessandra… Comecei a acompanhar o blog esta semana quando vi a crítica do filme “Os Suspeitos”… adorei a crítica… o sua dissertação é muito boa… parabéns…

Queria que fosse fizesse uma crítica do filme “Em Transe”… assisti esta semana e achei interessante… se você puder fazer seria bem legal!

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*Corrigindo o comentário de cima… meu teclado está um pouco ruim…

Alessandra… Comecei a acompanhar o blog esta semana quando vi a crítica do filme “Os Suspeitos”… adorei a crítica… parabéns…

Queria que você fizesse uma crítica do filme “Em Transe”… assisti esta semana e achei interessante… se não tiver assistido, é claro, porque sei a regra,,, se você puder fazer seria bem legal!

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Na verdade, eu não sabia como fazer para sugerir um filme para você assistir e por isso entrei aqui, no comentário de “12 years a slave”. Então, vou aproveitar para dizer que quanto a este filme estou remando contra quase todo mundo, porque acho que o filme tem tudo que a Academia gosta, está repleto de qualidades em todos os sentidos, mas tem um detalhe para mim essencial: não tem nada de novo. Violência não é assim tão necessária ser mostrada, mas “Django livre” mostrou. De resto, o filme não traz nada diferente do que tenho visto nas dezenas de filmes sobre o mesmo tema, das últimas décadas. Essa é a minha opinião. Daria um conceito “muito bom”, mas Oscar talvez ator e/ou atriz coadjuvantes. Em segundo lugar, não sei se v. vê filmes antigos, mas tem um que eu achei maravilhoso e tenho certeza de que você vai adorar e gastar páginas para comentar toda a profundidade dele: chama-se FUGITIVE PIECES. Um abraço.

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A cena do quase enforcamento de Solomon (ou Platt) é de uma competência espetacular, só por isso o filme já merece ser visto. Na minha opinião um dos melhores trabalhos do ano. Depois do excelente “Shame”, S. McQueen manteve a precisão nesse, com elenco e fotografia em trabalho formidável, bem como você mencionou a trilha sonora.
O protagonista Chiwetel Ejiofor está impecável!
Assiti esse filme e logo depois vi “The Butler”, parecia estar assistindo uma sequência, e principalmente ver o quanto perdurou ou perdura essa segregação racial na sociedade americana, marcada na historia violentamente.

Grande Abraço!

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Devo remar contra a maré mas não gostei nada do filme. Nada me transmitiu, a única atuação que apreciei foi de Michael Fassbender. Parece que a distância entre quando foi raptado e quando ficou livre foram dias não doze anos. Aliás se não soubesse o titulo, só saberia dessa distância temporal no final do filme.
Para mim é um mistério, honestamente, como é que este filme é tão aclamado. Gostei muito mais do Mordomo que para mim é muito melhor e as personagens estão bem melhores. Concordo com o que o Marcus disse: não tem nada de novo. Para mim nada choca porque isto já apareceu milhares de vezes. Aliás de tantos filmes que tem sido feitos sobre este tema estou surpreendido por terem dado tanto destaque a este.
Quanto à atuação de Chiwetel Ejiofor, para mim nada por aí além.

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MASTERPIECE!!
Obra-prima de Steve Mcqueen, 12 anos é o inverso do Gravidade, enquanto gravidade é um filme estritamente técnico, 12 anos é estritamente artístico. É só avaliar os prêmios recebidos e indicados, nos quesitos artísticos (roteiro, atuação, direção e produção) sempre se via 12 anos ou ganhador, ou “semi” favorito, hehehe…
Além de ser um tema fundamental para discussão e que Hollywood NUNCA tratou com verossimilhança, como dita na tua crítica.
Nossa o filme é duro feito pedra, para mim que sou branco foi chocante assistir, sentindo nojo do ser humano, principalmente meus antepassados.
É nessas horas que o cara admira ainda mais lutadores da causa racial como Martin Luther King e Mandela que sempre brigaram pela igualdade e, nunca incentivaram o revide ou a vingança, o que conhecendo a respeito da segregação que sofreram não era nada estranho imaginar que havia outros líderes com idéias como a de Malcom X.
Só para constar: As atuações são fora de série; Roteiro muito bom; Fotografia linda e agoniante. E por fim o que são aqueles plano sequência do Mcqueen nossa… a cena do enforcamento ou do açoite a Lupita…
Quanto a questão de sair do cinema “tocado” é muito pessoal, depende do momento pessoal, das emoções vividas e outros aspectos bem pessoais de cada um…
Contudo eu, particularmente, saí do cinema sem um pedaço do meu estômago, fui um soco na boca dele, mas enfim essa é uma questão bem pessoal.

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