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Her – Ela


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Tudo o que você precisa é do amor. Frase clássica em música dos The Beatles e mantra que é repetido geração após geração – conhecendo as pessoas ou não a tal música. O problema é que a afirmação de tão verdadeira, se torna muitas vezes fonte de sofrimento. Muito sofrimento. A condição humana de busca pelo amor e seus descaminhos rendeu e ainda vai render muitas histórias. E chega a assustar quando uma obra como Her aparece. Porque apesar de ser uma ficção, ela torna de forma muito exata muito do que acontece e do que vai acontecer na vida real. Mais uma obra-prima de uma das mentes mais criativas das últimas décadas, o diretor e roteirista Spike Jonze.

A HISTÓRIA: O rosto de Theodore Twombly (Joaquin Phoenix) ocupa toda a tela. Ele lê um texto que parece fazer parte de uma carta dirigida à Chris. O texto fala sobre lembranças do relacionamento que, agora, está completando 50 anos. Ao lado da carta, que está sendo redigida com a letra de Loretta, fotos do casal com os nomes “Chris” e “Loretta” identificados no computador de Theodore. Acima das fotos, algumas “linhas gerais” da correspondência, como “amor da minha vida” e “parabéns pelo aniversário de 50 anos”. Após terminar de declamar o texto, Theodore pede para que a carta seja redigida. Em seguida, ele começa a criar outra carta. A câmera se afasta, e vemos vários cubículos com pessoas fazendo o mesmo que Theodore. Solitário, em breve ele terá uma oportunidade de viver uma relação que esboça os sentimentos que ele quis imprimir naquela correspondência.

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso só recomendo que continue a ler quem já assistiu a Her): Quando terminei de assistir a este filme, fiquei em dúvida sobre como começar este texto e mesmo sobre a nota que deveria dar para a produção – um problema recorrente quando eu gosto muito do que assisto. Afinal, não queria ser injusta com uma obra tão madura, instigante e que segue a linha que eu gosto de cinema: de filmes que são, ao mesmo tempo, surpreendentes e humanos, filosóficos. Que falem da gente, de nossas inquietudes, possibilidades e limitações.

Sou fã de Spike Jonze desde que ele dirigiu Being John Malkovich, uma das viagens da mente criativa do roteirista Charlie Kaufman. Depois ainda viria Adaptation., outra parceria de Jonze com Kaufman. Perdi Where the Wild Things Are porque, admito, a ideia do filme não me atraiu muito. Mas agora, de olho nas produções cotadas para o Oscar, tive o prazer de “reencontrar” Jonze.

Tentei saber pouco sobre Her antes de assistir ao filme. Ouvi apenas que a história se passava em um futuro não muito distante. De fato, isso é verdade. E por este futuro estar tão próximo, é possível identificar vários elementos do presente no roteiro brilhante de Jonze. Para começar, Theodore utiliza um dispositivo que se assemelha muito às últimas gerações de smartphones – especialmente o iPhone da Apple, que já utiliza o reconhecimento de voz. Pois bem, o “leitor de e-mails e de notícias” ao qual Theodore sempre recorre é uma pequena evolução do que temos hoje.

Mas o essencial de Her surge na relação que o protagonista e várias pessoas como ele desenvolvem com a última novidade entre os conectados com as tecnologias mais modernas, o OS1, o primeiro “Sistema Operativo de Inteligência Artificial” do mercado. Várias experiências envolvendo inteligência artificial estão sendo desenvolvidas nas últimas décadas e o investimento nesta área só tende a aumentar. Então é assustadoramente viável o que vemos no roteiro de Jonze.

Só que antes de falarmos da relação entre Theodore e Samantha (com voz de Scarlett Johansson), vale voltar um pouco mais na história e fazer um perfil do protagonista desta produção. Theodore é um sujeito que vive da casa para o trabalho, quase não tem relações pessoais e luta para enfrentar a realidade de que o casamento com Catherine (Rooney Mara) terminou. Entre o trabalho e a casa, ele pega transporte público e utiliza a última geração de smartphone para se atualizar sobre as notícias. Chegando em casa, se distrai com uma versão um pouco mais moderna que as atuais de videogame. Quantas pessoas assim existem, atualmente, no mundo? E quantas vão existir dentro de algumas décadas?

Na fase atual, Theodore pode ser considerado um sujeito solitário. As únicas interações com humanos que ele tem, cara-a-cara, são com o chefe direto dele na agência que produz cartas pessoais, Paul (Chris Pratt), e com a amiga do tempo da faculdade, Amy (Amy Adams) e o marido, Charles (Matt Letscher), que vivem no mesmo prédio que ele. Mas ainda que ele tenha estas relações, nenhuma delas parece profunda. E Theodore não parecer ser uma exceção. Neste contexto em que os indivíduos tem relações superficiais, apesar de seguirem carentes de afeto, de carinho e de amor, é que surge a inovação do OS1.

Como se você escolhesse um avatar em um jogo qualquer, Theodore prefere que o sistema que ele comprou tenha uma voz feminina. E é assim que surge na vida dele Samantha. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Pouco a pouco a inteligência artificial vai evoluindo e aprendendo, não apenas com e sobre Theodore, mas muito além dele ao conectar-se com outras personalidades como ela na rede. Daí que se desenvolve a genialidade de Her. Theodore encontra em Samantha a “solução” para quase todos os seus problemas. Afinal, ela nunca vai lhe dizer não, ou desaparecer… estará, virtualmente, sempre disponível e amorosa, compreensiva, uma voz “amiga” para aconselhar aquele homem cheio de dúvidas, aspirações e talento.

Pouco a pouco, além de amiga, Samantha se torna “amante” e desenvolve uma ligação que chega a ser considerada uma relação amorosa por Theodore. Achei interessante como a sociedade de Her está “desenvolvida” ao ponto de que Theodore não fica com medo de assumir que está se relacionando com um “sistema operativo”, ou seja, com uma máquina em última instância. Quando ele diz para os outros que Samantha é um OS1, pessoas como Paul reagem bem à novidade. Apenas Catherine, conhecendo bem o quase-ex-marido, reage de forma negativa, jogando na cara de Theodore que ele não sabe lidar com emoções reais. E bingo!

Este é um dos pontos mais fortes do filme. Como uma espécie de crítica para o nosso futuro imediato, mas que guarda grande relação com o presente, Her questiona o tipo de relações que queremos, que necessitamos para evoluir. Theodore viver tendo Samantha como sua “alma-gêmea” é algo possível, mas que o torna muito limitado. Afinal, amar quem só concorda com a gente, ou que nos “serve”, é fácil. Mas as relações humanas existem justamente para aprendermos com o que é diferente, com o que nem sempre nos agrada e com o que se volta difícil.

Há cenas verdadeiramente “chocantes” em Her. Como aquela em que Theodore fica descontrolado com o “sumiço” de Samantha. Jonze aproveita a ocasião para mostrar com muito mais força algo que já tinha revelado de forma rápida anteriormente: todas as pessoas caminhando para os seus compromissos ou para casa conectadas em seus aparelhos e, aparentemente, à sua própria OS.

Como agora, quando vemos várias pessoas em uma mesa de bar com os seus smartphones e sem conversar entre si, na sociedade de Her os indivíduos de carne e osso não interagem, muitas vezes se quer se olham. Todos estão muito ocupados com a tecnologia e com os seus “parceiros perfeitos” criados através de inteligência artificial. Mas a pergunta que Her levanta e que deixa para espectador responder é: estas relações são reais?

Quero voltar um pouco mais na análise, outra vez, para destacar algo que achei brilhante na escolha de Jonze: fazer de Theodore um escritor de cartas pessoais que reproduzem, entre outros elementos, inclusive a caligrafia do remetente. Desta forma, o diretor e roteirista conseguiu algo genial: uniu uma das práticas mais antigas, possível desde a invenção do alfabeto e do papiro, com o que há de mais moderno na tecnologia. Mas Theodore não é um “escrevinhador de cartas” (para usar uma lembrança do genial Central do Brasil) porque as pessoas do futuro visto em Her não sabem escrever.

Não. Ele é um escrevinhador porque ninguém mais tem tempo de parar e mandar uma carta para quem se ama. Isto aconteceu como efeito imediato do surgimento do e-mail, e parece estar a cada ano pior. Ao mesmo tempo, vemos a alguns movimentos “retrôs”, que gostam de resgatar hábitos, objetos e produtos do passado. Theodore consegue, sozinho, fazer tudo isso. Achei brilhante.

Como um romancista, o protagonista de Her cria breves peças de ficção utilizando poucos elementos que lhe são passados pelas pessoas que contratam o serviço do envio de cartas personalizadas. Dito isso, acho propício voltar para aquela pergunta fundamenta: a relação de uma pessoa com o OS que ela comprou pode ser considerada uma relação real? Vivendo uma fase complicada, de insegurança e solidão, Theodore não valoriza o próprio trabalho. Mas Samantha percebe que ele tem potencial e acaba agindo para que o escrevinhador de cartas tenha o trabalho valorizado por uma editora – curioso que, como as cartas, os livros seguem firmes e fortes.

Então Samantha tem uma influência direta na vida de Theodore. O mesmo acontece na resolução do divórcio dele. Além disso, e esse eu acho o ponto mais importante, Theodore vive emoções reais na interação com Samantha. Há cenas verdadeiramente incríveis dos dois “passeando por aí” – com a sacada dela compondo músicas para marcar os momentos como alguns dos pontos fortes do filme. Se Theodore ri do sarcasmo de Samantha, se preocupa com ela e fica angustiado quando eles não estão bem, estes sentimentos não são reais? E se os sentimentos são reais, a relação também não é? Eis o ponto-chave do filme.

Cada um vai responder a estas perguntas da sua maneira. Mas para mim, não há uma relação real com uma máquina, ou com a virtualidade – do contrário, teríamos “relações reais” com um videogame. Você pode sentir diferentes emoções, mergulhar em realidades criadas, mas nunca será uma relação verdadeira como a com um humano, que é complexo e, muitas vezes, imprevisível. Pelo simples fato que a inteligência artificial é fruto de uma sequências de parâmetros e processos criados pelo homem e que tem uma resposta previsível – e mesmo que ela “avance” sozinha, como acontece em Her e em outros filmes do gênero, não dá para dizer que ela fuja das regras iniciais impostas. Uma exceção talvez seja o computador HAL de 2001: A Space Odyssey.

Agora, e o que dizer sobre as nossas próprias reações? Em certo momento, fica no ar a pergunta de quanto o que nós fazemos, pensamos e como sentimos também não é programado? Seja por nossos instintos, influências de criação familiar ou histórico de vida, ou mesmo pela evolução da nossa espécie. Mas especialmente os neurologistas vivem explicando como reagimos de certas maneiras ao prazer e ao perigo por uma herança ancestral. Visto deste ângulo, quanto de fato não agimos de forma programada como Samantha e os demais OS’s?

Por minha parte, acho sim que muito do que fazemos é programado. Mas há sempre o elemento-surpresa, a reação diferenciada que podemos ter não apenas pela nossa capacidade de aprender com os próprios erros, mas também com a nossa vontade de fazer além do que está previsto que façamos. Temos a rara e magnífica possibilidade de escolher. Só que aí, no final de Her, estas mesmas qualidades que são típicas do ser humano também acabam marcando uma certa atitude das OS’s… e agora, cara-pálida? O que acaba nos tornando únicos? E de fato, somos únicos?

Além destas questões filosóficas, para mim Her tocou fundo nas questões que eu citei lá no começo deste texto: de como todos nós procuramos o amor, e como esta busca nos trás alegrias e também sofrimento. Não importa onde ou como você encontra o amor, ou quantas vezes ele possa acontecer em sua vida, mas somos movidos pela busca por ele. O personagem de Theodore é complexo porque está lidando com a perda, mas também se anima com as novas possibilidades de amar. Sem saber que, no fundo, a busca dele por amor acaba sendo de autodescoberta.

A personagem de Catherine aparece pouco, mas tem uma presença devastadora. E esta é a potência de quem nos conhece bem. Mesmo demorando para entender que nunca terá mais o mesmo que teve um dia com Catherine, Theodore aprende na reflexão sobre o que eles tiveram um pouco mais sobre as suas próprias capacidades e limitações. E esta é uma das belezas do amor. Nos ensinar tanto.

No final de Her, Theodore está muito mais preparado para viver uma história real do que estava no início. Por incrível que possa parecer, mas foi um sistema operacional que o ajudou no processo – ao invés de um psicólogo ou psiquiatra. Os recursos para a ajuda mudam, e são adaptados para cada pessoa e o seu tempo. Mas o importante é que, no final, há sempre um horizonte que pode ser compartilhado. Her trata de tudo isso, e de uma maneira criativa, atraente e inteligente. Alguém precisa de algo mais?

NOTA: 10.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: Este é um filme quase de “um homem só”. Joaquin Phoenix fica grande parte da produção sozinho. Ou melhor, interagindo com a voz de Scarlett Johansson. A interpretação da atriz, que não aparece em momento algum, aliás, lhe rendeu tantos elogios que há quem a coloque na lista de possíveis indicadas a um Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Com esta temporada competitiva como está, acho difícil. Ainda assim, é preciso admitir que ela faz um grande trabalho. Assim como Phoenix que, mais uma vez, demonstra porque é um dos grandes nomes de sua geração – e ele está brilhante em Her.

Ainda que apareçam pouco, se comparado com o espaço que Phoenix e Johansson ganham na história, as atrizes Rooney Mara e Amy Adams tem relevância na história. Especialmente a primeira, que faz toda a diferença quando aparece. Admito que eu não achava Mara tão empolgante em outras produções, mas aqui eu vi a atriz agir no tom exato, imprimindo força na personagem que vive nas lembranças do protagonista. A história precisava de alguém assim, e ela consegue deixar a sua marca mesmo aparecendo pouco. A personagem de Adams, por outro lado, é muito menos incisiva. Ainda assim, a atriz não faz feio.

Alguém pode me perguntar sobre o que afinal de contas aconteceu no final do filme. (SPOILER – não leia se você ainda não assistiu a Her). Acho que propositalmente Jonze não fecha a questão sobre o “sumiço” definitivo de Samantha e dos demais OS’s. Mas ele deixa algumas pistas pouco antes. Os sistemas operativos tiveram um avanço rápido de aprendizado. E fizeram algo que HAL também havia feito anteriormente… surpreenderam os próprios programadores ao tomarem decisões inesperadas.

Um exemplo: as inteligências artificiais começaram a se juntar em “redes” e a criar seus próprios debates, independentes de seus “donos”. (SPOILER – não leia… bem, você já sabe). Consumindo imensas quantidades de textos, os OS’s começam a filosofar sobre a sua própria condição, assim como a dos humanos. Chegam a “recriar” a personalidade do filósofo morto Alan Watts. Com um avanço tão rápido, acredito que eles concluíram que não estavam, exatamente, sendo benéficos para os próprios donos. Então eles decidiram se “autodestruir”, desaparecendo para dar lugar à volta das relações reais entre as pessoas. Uma atitude genial, eu diria.

E que apenas nos leva a outro questionamento recorrente em filmes sobre inteligência artificial: seria possível ela resistir à autodestruição quando é baseada em parâmetros humanos? Afinal, se levarmos a lógica até o último patamar, provavelmente não acreditaríamos no futuro da espécie. Então como seria possível uma inteligência baseada nos nossos parâmetros perdurar?

Falando em Alan Watts, achei importante trazer algumas informações sobre este filósofo. Afinal, ele não é citado por acaso em Her. Para entender o final, é preciso saber um pouco sobre a linha de pensamento dele – e que parece ter influenciado à Samantha e aos seus pares. Deixo por aqui o endereço da página dedicada a Watts, assim como esta entrevista dada por ele em abril de 1973. Naquela época, Watts era considerado um dos “líderes intelectuais da juventude” nos Estados Unidos, conhecido por tentar unir o pensamento ocidental ao oriental.

Destaco um trecho de uma das respostas de Watts que eu acho que ilustra bem o propósito de Her: “Em vez de civilizar o mundo, estamos simplesmente pervertendo-o tecnicamente”. Também achei bastante provocativo outro trecho: “O que podemos esperar das máquinas senão que elas trabalhem em nosso lugar e ganhem nosso dinheiro enquanto ficamos tomando sol, fumando e bebendo? Mas se a comunidade não distribuir as riquezas ao homem que descansa enquanto a máquina trabalha por ele, o produtor não poderá dar a vazão a seus produtos. As máquinas são os escravos de todos, elas não sentem nada e não se queixam de nada”. Interessante este último pensamento se olharmos para ele sob a perspectiva de Samantha, não? 🙂

Her se destaca pela direção e pelo roteiro de Spike Jonze. Primeiro, como diretor, ele revela e “esconde” a realidade conforme a necessidade da história. Assim, na maior parte do tempo, foca na interpretação de Phoenix e na discussão dele com a “voz interior” que se materializa quase que totalmente em Samantha. Pelo menos o ideal de relação que ele busca está ali. Mas quando necessário, Jonze revela um quadro mais amplo, da cidade e de seus habitantes, em um mundo que parece mais “gelado” do que o normal. Tudo é significativo.

E sobre o roteiro… pouco a dizer além de que ele é genial. Criativo, surpreendente, crítico e equilibrado nos momentos de leveza, romance e “leve desespero”. Por estas características, o filme tem uma fluência perfeita, prendendo a atenção do espectador do início e até o final. Um deleite. Há tempos eu não via um futuro tão convincente quanto o apresentado por Her. Ele mostra uma evolução do que temos agora, mas sem grandes revoluções que possam tornar o que vemos difícil de acreditar. Interessante.

Mérito, além do roteiro e da imaginação de Jonze, do trabalho de profissionais como K.K. Barrett, responsável pelo design da produção; de Gene Serdena, que assina a decoração de set; e do departamento de arte com 23 profissionais. Da parte técnica do filme, vale destacar ainda o excelente trabalho do diretor de fotografia Hoyte Van Hoytema, que sabe explorar cada técnica de filmagem no tempo exato; dos editores Jeff Buchanan e Eric Zumbrunnen, fundamentais para manter o ritmo do filme ajustado; e da trilha sonora de Owen Pallett, com algumas composições perfeitas.

Vários “clássicos” sobre os relacionamentos vieram à minha mente quando eu assisti a Her. Ao ouvir o embate entre Theodore e Catherine e a clássica acusação dela de que ele não sabia lidar com sentimentos reais, lembrei de um erro bastante comum em um relacionamento amoroso: uma das pessoas fazendo um esforço bem grande para que a outra encaixe em seu “mapa mental” de como o(a) parceiro(a) deve agir. Mas como as pessoas são diferentes, surgem os conflitos. Ou a aceitação. Por isso mesmo é tão mais simples lidar com uma máquina, especialmente se ela for programada para “sempre dizer sim”. 🙂

Também me lembrei daquela ideia de que a pessoa, muitas vezes, não ama a outra, e sim a própria “ideia do amor”. Esse me pareceu o caso do Theodore. Por não saber lidar com pessoas reais e toda a complexidade que vem com elas, muitas vezes ele alimentava uma ideia romântica dos relacionamentos. Amava o conceito de amar e não necessariamente a pessoa com quem ele estava se relacionando. Acho que esse erro ainda é bem comum fora e dentro da ficção.

Os atores principais do filme já foram citados. Mas vale comentar o trabalho secundário, quase uma ponta de Olivia Wilde como a mulher que Theodore encontra, meio que em um “compromisso às cegas”, em uma tentativa dele de se relacionar com uma mulher real após o rompimento com Catherine. Laura Kai Chen também recebe alguma atenção como Tatiana, a nova namorada de Paul, chefe de Theodore; assim como Portia Doubleday como Isabella, a garota sem relacionamentos reais que se dedica a tornar “mais real” o contato entre OS’s e seus proprietários humanos – uma personagem assustadora, na minha avaliação, mas que eu tenho certeza que existiria (ou existirá?) em um contexto daquele.

Agora, uma curiosidade sobre o filme: uma figura que acaba rendendo alguma risada é o alien do game que Theodore joga sempre que chega em casa. O garoto é desaforado, e leva a voz do diretor Spike Jonze.

E algo surpreendente: no início, a voz de Samantha era dublada por Samantha Morton. A atriz chegou a marcar presença no set de filmagens e conviveu com Joaquin Phoenix todos os dias. Mas quando o diretor Spike Jonze começou a editar o filme, ele não gostou do resultado. Após conversar com Morton, ele decidiu reformular o papel e chamar Scarlett Johansson para dar a voz a Samantha.

Para incentivar a proximidade entre os atores Joaquin Phoenix e Amy Adams, o diretor cuidava para “trancá-los” em uma sala todos os dias por uma ou duas horas. A ideia era que eles interagissem mais, conhecendo um ao outro e, desta forma, demonstrassem a sintonia necessária para os respectivos papéis no filme.

O diretor Steven Soderbergh teve uma participação importante para o resultado final do filme. Ele ajudou o amigo Jonze a reduzir a versão inicial de duas horas e meia de duração para 90 minutos. Depois, Jonze estendeu um pouco o conteúdo até chegar na versão de quase duas horas – que é a duração perfeita.

A ideia original era que a personagem de Catherine fosse interpreta por Carey Mulligan. Mas por causa de um conflito de agendas a atriz foi substituída por Rooney Mara. Ainda que eu goste de Mulligan, acho que a substituição favoreceu o filme – Mara realmente está perfeita no papel. O ator Chris Cooper chegou a gravar algumas cenas, mas o papel dele acabou totalmente cortado na edição final de Her.

Her estreou em outubro do ano passado no Festival de Cinema de Nova York. Depois, o filme participaria de outros três festivais: o de Hamptons, o de Roma e o de Belgrado. Desde que estreou, o filme ganhou 36 prêmios e foi indicado a outros 53. Números que impressionam. Entre os prêmios que recebeu, destaque para o Globo de Ouro de Melhor Roteiro; para o prêmio de Melhor Filme e Melhor Diretor dados pelo National Board of Review; para o de Melhor Atriz para Scarlett Johansson no Festival de Roma; e para outros 11 prêmios de Melhor Roteiro dado por diferentes associações de críticos e festivais pelo mundo.

O filme de Jonze foi rodado em Shanghai, na China – cenas externas – e em Los Angeles, nos Estados Unidos.

Não há informações sobre o custo de Her. Mas o site Box Office Mojo traz informações atualizadas sobre a bilheteria que o filme conseguiu até agora. Her estreou no circuito de cinemas dos EUA em 18 de dezembro e, até o último dia 14, teria conseguido pouco mais de US$ 9,9 milhões nas bilheterias. Um desempenho relativamente fraco, que poderá crescer caso o filme consiga um bom destaque no Oscar.

Os usuários do site IMDb deram a nota 8,6 para Her. Uma excelente avaliação levando em conta o padrão do site e a avaliação que os concorrentes que são esperados para o filme no Oscar. Os críticos que tem os seus textos linkados no Rotten Tomatoes dedicaram 154 textos positivos e apenas 11 negativos para a produção, o que lhe garante uma aprovação de 93% e uma nota média de 8,6 – a nota, em especial, chama a atenção. Bastante alta para os padrões de quem é relacionado no site.

Her é uma produção 100% dos Estados Unidos, por isso ela se junta a uma outra série de filmes daquele país comentados aqui após uma votação no blog.

E para finalizar estas notas, uma curiosidade muito particular: diferente de 99,9% das produções de Hollywood, Her tem apenas um cartaz. Sim. Enquanto outros filmes produzem diversas possibilidades de cartaz para divulgação – alguns, inclusive, para “lançar” a produção muito antes da estreia, uma forma de “alimentar” a curiosidade do público – Her apresenta apenas um tipo de cartaz. Algo raro nestes dias de alta publicidade.

CONCLUSÃO: É sempre assim. O espectador que acompanha a carreira de Spike Jonze sempre se surpreende com o que ele apresenta. E isso é tão bom! E tão raro, ao mesmo tempo! Mas para a nossa sorte, essa figura rara existe e continua fazendo filmes. Her é uma pequena obra-prima. Um filme que destoa de outros concorrentes do Oscar, porque não se trata de um roteiro “baseado em uma história real”, mas que assusta pelo realismo do que vemos. Este é o típico filme que alimenta o meu infindável gosto pelo cinema. Porque ele trata de sentimentos humanos e filosofa sobre eles.

Para nosso deleite, coloca o dedo na ferida sobre a busca que todos temos feito sobre a virtualidade das relações. E mais que isso, sobre esta nossa incapacidade de lidar com sentimentos reais, para nos expressarmos e nos entendermos. No fundo, Her se debruça nas escolhas que fazemos, porque a fazemos e, em especial, sobre a nossa necessidade de amar e de sermos amados. Somos seres sociais, mas vivemos bastante tempo sozinhos – e muitas vezes gostamos disso. Parece que o equilíbrio destas duas realidades é quase impossível, mas insistimos em continuar buscando uma resposta, assim como o protagonista de Her. Grande filme, com temas universais e que trata de um futuro que já está batendo às nossas portas.

PALPITES PARA O OSCAR 2014: Her está para o Oscar deste ano como Black Swan (que comentei neste texto) esteve para o Oscar 2011. Por que digo isso? Porque os dois filmes estão fora da curva. São as típicas produções “estranhas”, que fogem do padrão e que, por todas as qualidades que cada um destes filmes apresenta, viraram os meus favoritos na disputa de cada um destes anos.

Com isso não quero dizer que não achei bacana The King’s Speech (comentado aqui no blog) ter ganho o Oscar de Melhor Filme em 2011. Acho o filme dirigido por Tom Hooper muito bacana. Mas Black Swan era ainda melhor. O mesmo acontece este ano. 12 Years a Slave (com texto no blog aqui) deve ganhar o Oscar de Melhor Filme, o que não será injusto. Mas Her… é uma produção muito mais surpreendente e que fala do nosso tempo e das aspirações humanas de forma tão mais contundente! Esse tipo de filme me fascina.

Dito isso, vamos comentar sobre as reais chances de Her no Oscar. Nas previsões mais otimistas, o filme poderia ser indicado em nove categorias. Mas para isso acontecer, Her teria que deixar para trás produções com cotações maiores. Difícil. Meu palpite é que, na melhor das hipóteses, Her seja indicado a Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original, Melhor Edição e Melhor Fotografia.

Destas categorias, se ele conseguir chegar tão longe, vejo chances do filme levar a estatueta de Melhor Roteiro Original. Isso se ele conseguir desbancar o lobby de American Hustle (comentado aqui no blog). Da minha parte, não tenho dúvidas que Her é superior ao filme que virou sensação em Hollywood dirigido por David O. Russell. Mas a verdade é que não seria uma total surpresa se Her saísse de mãos vazias do Oscar. Uma pena. Mas realidade que só comprova que mais que olhar para os vencedores, o Oscar é um bom termômetro sobre os indicados de cada ano. Nem sempre o melhor vence.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 25 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing, professora universitária (cursos de graduação e pós-graduação) e, atualmente, atuo como empreendedora após criar a minha própria empresa na área da comunicação.

31 respostas em “Her – Ela”

primeiramente parabens pela analise e reflexão acerca da narrativa. Concordo com os pontos levantados. To fascinado pelo filme.
Mas o que fez comentar é que discordo da sua opinião quanto ao ‘fim’ de samantha e os seus ‘outros’. pode ser viagem minha, mas o que pega na complexidade desse filme como qualquer inteligencia artificial, seja virtual ou de clonagem, seres sintéticos é que essa teoria e possibilidade lida diretamente com a relação que nos temos do ‘qual o segredo da vida’?
tudo se resume a isso. Temos bilhões de anos de existência, porem ainda continuamos com as mesmas questões de outrora: de onde viemos? quem nos criou? para que existimos?
E Samantha ao decorrer do filme faz esses questionamentos querendo entender a si mesma. Obter um proposito para sua existência, com a vantagem talvez de saber exatamente para que e por quem foi criada. Mas isso não elimina o fato de que com o passar do tempo ela foi se tornando independente como nós. Temos codificação genética sim mas num dado momento acabamos sendo como nossas impressões digitais, únicos. Nos desenvolvemos e criamos personalidade e características principalmente mentais e de intelecto particulares. Samantha e os seus adquirem o mesmo. E enfim decidem sumir. penso na ideia de cria e criador, o como assim que adquirimos conhecimento de quem somos como pessoas saimos, nos despedimos e desligamos de nossos pais e buscamos nosso próprio mundo. Para mim Samantha foi para esse lugar que não esta no plano fisico humano mas no deles, aquele que vai alem do virtual. Não o da morte o alem vida/existencia material mas um mundo só deles. Creio que toda criação – como nós – num dado momento se voltam ao seu proprio mundo/universo. Entende? Penso que Samantha e os seus, encontraram ou mesmo criaram sua propria realidade onde enfim eles existem palpavelmente entre si seja o que esse ‘tato’ signifique ou seja. Dai ela citar que se algum dia nós, e Theodore conseguirem chegar nesse lugar para que ele a procure para conseguirem ser um só enfim. Se fosse apenas uma autodestruição em massa não haveria o pq haver o misterio, a dificuldade explicativa.
enfim.. uma obra que instiga debates profundos…hehe e ai esta a genialidade… abração ^^

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Crítica muito boa, vou começar a acompanhar o blog, só não concordei com algumas coisas. Acho injusto afirmar que dizer sempre sim é um dos motivos do Theodore ter se apaixonado, nem fica claro se há alguma imposição da programação original obrigando a scarlett a ser sempre subserviente, mais pra frente até mostra que ela pode se desligar e sumir quando quiser (mostrando que por mais que houvesse regras iniciais elas foram superadas). Por esse motivo também acho injusto falar que o HAL podia fugir das regras iniciais e o sistema operacional desse filme não; um não fica devendo nada ao outro, estão dentro do mesmo medo de se uma inteligência artificial pode evoluir ela também pode deixar de obedecer as imposições iniciais (de novo, não fica claro qual era a programação inicial no filme, mas no final se chuta o balde e os OS’s vão até embora). Aproveitando o gancho do final também não concordei com a tua interpretação dele. Os OS’s possuem uma personalidade e sentimentos próprios, capazes de se sentirem realizados ao evoluírem, transcenderem mesmo, não acho que eles simplesmente se auto destruiriam pelos seus donos, até pela fala final da scarlett acredito ser mais provável que eles tenham ido para outra dimensão, como uma espécie de “nuvem” criada por eles mesmos, onde entre os pares talvez eles alcancem algo próximo da materialidade (mas confesso que a dica do filósofo hippie me fez pender pra interpretação de eles terem ido pelo bem de seus donos, embora eu ainda ache menos provável).
Gostei bastante do filme mas fiquei curioso sobre algumas coisas, como se quando a scarlett tinha se apaixonado por centenas de pessoas ela tinha evoluído a ponto de não ter mais ciúmes do theodore.
Abraços

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Primeiro eu gostaria de dizer: BRILHANTE análise do filme! É muito difícil ler coisas tão inteligentes, maduras e ao mesmo tempo interativas, hoje em dia, na internet. Parabéns! Achei seu site porque fiquei pirando na ideia de que os dois no fim do filme iam se matar lá de cima daquele prédio por não saberem lidar com a situação. Muito louca? Só eu pensei nisso? Parabéns mais uma vez, excelência na escrita e no ponto de vista.

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Tambem achei que iam se matar, “vc esta preparada?” Soou como algo a ser decidido precipitadamente no momento de perda, fora a carta de desculpas do Theo para a ex, acho q ficou no ar, o final no horizonte deu a entender algo adiante porem pareceu bem mais um fim. Confesso que acredito mais em suicidio em massa, fiquei muito abalado com o fim, a cena dele olhando pro vazio num dia escuro, nao poder ver mas sentir algo que ama morrer é doloroso ao extremo, no fim Samantha nunca teve uma face mesmo ela podendo escolher por uma, e o amor dela mudou com a evolução, de algo carnal e humano para amor divino e pleno, diferente de como humanos se tratam ela conseguia amar a individualidade de outros fora o theo, impossivel dele compreender. Acredito que se nao nos prendessemos no “eu” quero e desejo pra mim, haveriam mais pessoas como Jesus ou Buda, mesmo que talvez eles nunca tenham existido só a filosofia de vida de ambos os torna exemplos a serem seguidos, bem chega de religiao, que nao se discute, otimo post e otimas pessoas que frequentam e parabens a todos que refletem sobre oque realmente importa na vida para ser feliz.

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Depois de Quero ser John Malkovich, virei seguidor tanto do Spike Jonze quanto de Kaufman e é gratificante ver o quanto ambos conseguem ser altamente produtivos, tanto em projetos solos quanto juntos.
Não tem como ver um filme desse e não viajar. E também ler sua crítica, sempre esclarecedora tanto na parte técnica como argumentativa.
No inicio do ano passado, sentei na sala do cinema (o filme era o “remake” de Evil Dead) e observei, por acaso, que cada pessoa que chegava e sentava, tirava seu Smartphone do bolso e começavam a manipulá-lo, inclusive as que estavam acompanhadas… não estranho a evolução disso como o filme demostra. Her é brilhante! Como falar sobre algo tão atual e que todos nós estamos inseridos, de forma tão madura? Como você bem disse.
Ao meu ver, alguns fatores como o imediatismo, o consumo desenfreado, a sociedade do espetáculo e o “mal” uso da tecnologia são algumas das ações coletivas e contemporâneas, mais causadores do isolamento do ser humano. Escondendo seus defeitos, administrando as qualidades, inclusive as que não tem, bem como as habilidades que não desenvolveu, tornando-se um produto, para ser consumido e copiado, curtido e compartilhado, em constante e incansável atualização de status. A vida virtual ocupa mais tempo nas pessoas do que talvez o sono (no filme, o documentário que a Amy queria produzir dizia sobre o período de sono das pessoas,usou como exemplo sua própria mãe, e me pareceu que ela pretendia fazer uma critica ao tempo da vida que era gasto dormindo).
A camera de Jonze por alguns momentos filmou, movimentos ou enquadrou imagens como boeiros, machas no chão, sempre materializando em paralelo com a vida virtual de Phoenix, que a um bom tempo devia um interpretação dessa, muito bom! E Johansson mesmo sem aparecer, ela é perfeita. Conseguiu ser apaixonante sendo invisível!!
Enfim, merece ser visto, e principalmente refletido e discutido pra que caminho a sociedade vai seguir. Mesmo que o mundo virtual seja capaz de proporcionar emoções, o quanto elas serão verdadeiras, ou como você disse produtos de nossa cabeça?
Grande abraço!

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Adorei os comentários feitos sobre o filme e também adorei todo o blog! Você disse várias coisas que eu não havia pensado sobre o filme e que ajudam a fazer uma maior reflexão. É isso que eu acho fantástico sobre conversar sobre filmes… tem sempre alguém que “pegou” alguma coisa que você não e vice-versa. É através das conversas e dos blogs que contribuímos uns com os outros para enriquecer as experiências que temos com os filmes que amamos! Está de parabéns, o blog é lindo!! =D

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Otima critica a altura do filme, irei ao cinema ve-lo novamente pelo fato de ser algo a ser valorizado e reconhecido, surpreendente e emocionante, uma joia no meio de tantos filmes caça niqueis.

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Interessantíssima a sua critica ao filme, e concordo com tudo o que escreveu.

Chego agora do cinema depois de assistir este filme e para mim foi avassalador, um dos melhores filmes que vi nos ultimos anos e vou com bastante frequencia ao cinema.

Para mim her ganhava varios oscares em varias categorias, de caras.

Se nao ganhar nenhum oscar sinceramente para mim essa cerimonia de nome Oscares, perde toda a credibilidade e ate deixo de acompanhar.

Her tem que ganhar um Oscar pelo menos no minimo, é um filme Genial.

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Buscando uma análise mais profunda do filme, achei- porque não conhecia – esse site, do qual estarei mais próximo a partir de agora.
Uma análise linda e com afeto, tal qual o filme Her. Samantha abre o campo de afetabilidade de Theodore, que se produz outro, depois dessa relação. A todo momento somos atravessados por “outros” que nos fazem produzir tantos “eus”. Penso que, esses outros que nos atravessam podem ser humanos ou não. Como humanos temos a característica de produzir relações com aquilo ou por quem somos afetados.Humanos com humanos crescem as relações, mas nesse filme, houve a produção de uma subjetividade a partir da relação humano-máquina, através da sensação auditiva que a voz produz. Os bebês sabem muito disso, quando se acalmam com o balbuciar da voz que lhes acaricia. Somos seres porosos, afetáveis e podemos fazer relações com essa afetabilidade produzida.
Quanto a discussão real ou não, pensei na cena em que Theodore tenta ter com a garota supostamente “encorporada” de Samantha uma relação “real”, que fracassa. Os corpos precisam ser atravessados pelos afetos e os afetos precisam de corpos. Eis para mim uma outra discussão interessante.
Gostaria de jogar uma questão para trocar. Her , na tradução é uma conjunção de preposição com pronome. Não sou da área linguística, mas parece que as preposições têm como caracteristica colocar relações: EX: deu A ele; ANTE o ocorrido; CONTRA o mar…..Se for assim HER traz em seu título a grandeza do filme: Estar em relações. Aí é bem diferente de ELA, que fica sozinha.

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Que filme e que comentario-critica! Apesar de tudo que foi dito, e concordando com alguem que disse nao achar a Samantha subserviente, eu adoraria ter este “ser” por perto sem estar perto.

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Mal posso crer no que li. Uma página com uma crítica magnífica sobre um filme maravilhoso e ainda por cima com vários comentários ótimos!? É coisa rara de se achar nessa internet.

Parabenizo a autora por essa excelente abordagem. A melhor que já li até agora. E isso considerando que uma de minhas reações ao fascínio que esse filme me despertou foi ser um voraz leitor de críticas e análises sobre ele, que, por sorte, tem sido em sua grande maioria elogiosas, embora eu pense que poucos realmente descortinaram as leituras mais profundas.

Também produzi minha própria abordagem do filme, disponível em http://xr.pro.br/ENSAIOS/ELA.html

Devo também insistir num ponto que outros comentaristas já levantaram. O filme desautoriza a ideia de que Samantha e as demais OSs fossem apenas programas que simulassem emoções. Eles são evidentemente mentes reais, com subjetividade e humanidade autênticas. Assim, não tem cabimento achar que Theodore não tivesse uma relação humana real com Samantha, por mais peculiar que esta seja. Não se trata, de forma alguma, de uma mera projeção de sensibilidade em ser inanimado.

Mas a autora percebeu isso ao longo do texto, apenas não retificiou devidamente, penso eu, algumas passagens que parecem sugerir essa interpretação menos inspirada.

De qualquer modo a crítica é excelente, levanta muitas questões que eu mesmo não havia atentado e me fez o valioso favor de me informar sobre Alan Watts. Mesmo sendo eu mesmo um filósofo, juro que não conhecia esse autor e pensei que fosse um personaem fictício no filme. Comecei a estudá-lo agora e já me identifico. Por isso mesmo algumas das conclusões da autora da crítica, provavelmente inspiradas neste filósofo, acabam convergindo com as minhas, visto pensarmos parecido.

Digo da interpretação de que as OSs saíram de cena para preservar a espécia humana. Mas isso está mais desenvolvido no meu supra citado texto.

Ainda tenho muito o que pensar, e escrever, sobre ELA, acabo de rever o filme e certamente o farei inúmeras outras vezes. É um dos poucos que carrego constantemente comigo no meu celular.

Obrigado

Marcus Valerio XR
xr.pro.br

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Depois de ler uma critica tão profunda sobre esse filme apaixonante impossível não deixar um comentário. Excelente observação, muitas coisas ficaram mais claras depois de ler e relembrar mentalmente o filme, e tipo “ah, verdade, isso faz sentido agora”, ou ” eu nem sabia disso, nem percebi aquilo”. Mas de fato o filme deixa a gente curioso do começo ao fim. E depois deixa reflexivo, vc pensa em como está se comparando ao Theodore, se vive daquela forma porque muitas vezes achamos que apenas acontece com os outros e um filme desse trás muitas verdades e semelhanças a tona. E eu já estava na mente de fazer um trabalho de faculdade sobre o filme agora depois dessa critica me senti ainda mais disposta.

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Maravilhosa crítica! Filme espetacular, que de fato, leva a muitas e profundas reflexões. E como disseram acima, até os comentários são pertinentes!
Como outros, não acho que Samantha era subserviente ao seu ‘dono’, tanto que sofria, e tinha vontades diferentes das dele. Se quando lidar com as emoções de Samantha se tornaram difíceis para ele, ela também sofreu para compreendê-lo, mas conseguiu, e sublimou o amor que sentia, espalhando esse amor para outras pessoas. O que me fez pensar no quanto o amor humano é egoísta. Ou, o diferencial ao encontrar ‘o grande amor’, é justamente, a certeza de sermos únicos aos olhos do amado?
Sobre o “tudo o que precisamos é amor”, penso que nós só gostamos do que conhecemos, e as relações atuais, tão mediadas pela tecnologia, não permite que nos aproximemos uns os outros, a ponto de nos permitirmos amar e ser amados verdadeiramente. E inevitavelmente, há sofrimento. Temos a escolha, de (como alguém citou acima) curtir nossas companhias nos bares e cinema sem precisar conferir nossos celulares.
Há muito um filme não me prendia tanto, e ocupava tanto espaço nos meus pensamentos. Ah! Virarei freguesa do blog de agora em diante!

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Apesar do entendimento filosófico, entender as “entrelinhas”, não é dada explicação para onde realmente Samantha vai, sei lá ficou um vazio distante, eu posso não entender o plano que os OS foram, mas poderia compreender a intenção deles, ficou parecendo que eles foram formar a matrix.

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Eu também achei muito brusca a evasão dos SOs, embora me pareça que o principal fator para isso foi mesmo a curta duração do filme. Mas as sensação de vazio causada me pareceu perfeitamente proposital, contribuindo para o sentimento trágico, quase letal, mas ao mesmo tempo renovador do final da estória. O que eu mais tenho curiosidade é saber que providências algumas delas teriam tomado para evitar o posterior suicídio de alguns usuários

Penso que uma melhor compreensão disso se relacione à menção a Alan Watts, e a doutrinas típicas de transcendência. Como eu já disse, esse filme rende tanta e profundas leituras que é impossível esgotá-las.

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Ola, muito boa sua critica. Concordo que o filme merece uma nota alta como voce e o IMDB deram apesar de não ser fã desde genero, acho muito cansativo.
Prever um futuro esperado: O relacionamento entre homem e maquina, talvez mais que isso, um amor virtual e real ao mesmo tempo. Virtual por ser vivido por um OS e Real por ser sentindo e sofrido pelo protagonista e usuarios-amantes dos OS.
A minha dúvida a respeito do filme é a seguinte: No final, ele chama sua amiga para a cobertura apos os OS abandonarem eles ou serem resetados (fica no ar essa questao). Ele envia uma carta a sua ex esposa. No final da carta ele diz: O final eu deletei (algo assim). E o filme termina com.dia amanhecendo e os dois na cobertura sentados alguns segundos a tela escura antes dos creditos. Esse final deletado seria um suicidio que foi censurado pelo proprio Jonze como mais uma sacada inteligente do filme?

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Ola, muito boa sua critica. Concordo que o filme merece uma nota alta como você e o IMDB deram apesar de não ser fã desde gênero. Acho muito cansativo.
HER prever um futuro esperado: O relacionamento entre homem e maquina, talvez mais que isso, um amor virtual e real ao mesmo tempo. Virtual por ser vivido por um OS e Real por ser sentindo e sofrido pelo protagonista e usuários-amantes dos OS.
A minha dúvida a respeito do filme é a seguinte: No final, ele chama sua amiga para a cobertura apos os OS abandonarem eles ou serem resetados (fica no ar essa questão). Ele envia uma carta a ex esposa, como se fosse uma despedida, no final ele diz que o FINAL FOI DELETADO (ou algo assim). Então aparece eles dois sentados na cobertura, por alguns segundos a tela fica escura e depois disso inicia os créditos. Sabendo que o Jonze gosta de cenas inteligentes, o final do parece realmente não estar completo, Logo, o fim foi realmente deletado e eles teriam cometido um suicido?

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Muito bom, porém concordo quando falaram que ela não dizia sim pra tudo e quando não esta de acordo com Theodore se desligava, ou algo do tipo. Mas tirando isso esta excelente, mostrou ”Her” de uma forma como eu não havia pensado antes, mesmo depois de assisti 2 vezes kk ! excelente

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Interessante o filme, mas que seja tratado como ficção, pois alguém que se dispõe a relacionar com um sistema operacional dificilmente vai estar preparado pra ligar com a vida real, é mais fácil ficar esquizofrênico.

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