EPÍLOGO: Este é o nono texto que produzi para o site DVD Magazine e que reproduzo aqui no blog. Este artigo sobre a “aposentadoria” como ator do astro Clint Eastwood, assim como os demais artigos que você, caro leitor, poderá ler aqui, devem ser vistos – como sempre – levando em conta a data em que eles foram produzidos e publicados. Sempre que possível acrescentarei atualizações e comentários datados e posteriores, como faço com as críticas dos filmes.
DATA DE PUBLICAÇÃO: 2 de dezembro de 2008.
TÍTULO: A Retirada de Clint Eastwood (ainda que parcial)
O mundo realmente dá voltas. O ator que hoje aparece na telona com poucos recursos e que interpreta, filme após filme, quase o mesmo papel, pode se revelar, com o tempo, um intérprete fantástico ou, mais que isso, um contador de histórias de primeira linha. Quem poderia dizer há 40 anos que Clint Eastwood, aquele ator de faroestes de Sergio Leone, se tornaria um grande diretor de cinema? E para os que preferem Eastwood atrás das câmeras, esta semana o jornal inglês Daily Express publicou uma declaração do ator/diretor: seu papel em Gran Torino será o último de sua carreira.
O homem amadureceu e, utilizando a velha e batida analogia com os vinhos, quanto mais o tempo ia passando, melhor ele ficava. Acredito que não existam dúvidas de que o ator Clint Eastwood de Fuga de Alcatraz (Escape from Alcatraz, de 1970) é melhor que Joe, Monco o Blondie, seus personagens nos filmes de Sergio Leone. Assim como o agente secreto Frank Horrigan interpretado por ele em Na Linha de Fogo (In the Line of Fire, de 1993), seu último trabalho sendo dirigido por outra pessoa que não ele próprio, é léguas melhor que o Tommy Nowak do filme Cadillac Cor-de-Rosa (Pink Cadillac, de 1989). Sim, o “durão” de filmes clásicos de western foi capaz de estrelar um filme chamado Pink Cadillac. 😉
O curioso de Clint Eastwood é que ele começou a “aventura” de dirigir filmes cedo, nos idos dos anos 1970. Mas seus principais filmes surgiram 20 anos depois. A estréia atrás das câmeras foi com o documentário curta-metragem The Beguiled – The Storyteller, de 1971, que nada mais era do que uma entrevista com o diretor Don Siegel, responsável por dirigir Eastwood no filme O Estranho Que Nós Amamos (The Beguiled, do mesmo ano).
O primeiro longa-metragem com a batuta de Clint Eastwood veio ainda em 1971: Perversa Paixão (Play Misty for Me). Naquelas alturas, Eastwood tinha 16 anos de experiência como ator, o que lhe rendeu aparecer na telona e na TV em 23 produções – fora algumas séries. Depois de entrar em papéis ruins, ele tinha se tornado conhecido pelos faroestes criados por Sergio Leone e pelo papel de Walt Coogan no filme Meu Nome é Coogan (Coogan`s Bluff). Para muitos críticos a estréia dele na direção foi muito boa porque ele conseguiu imprimir em todo o filme um constante clima de tensão.
Como acontece com todos os atores que acabam se aventurando na direção, Eastwood conseguiu independência e mais versatilidade na nova função. De Perversa Paixão até o último filme, Gran Torino, em fase de pós-produção, ele dirigiu 29 filmes e um curta-metragem. Em sete destes longa-metragens Clint Eastwood não trabalhou como ator. As décadas em que ele trabalhou mais como diretor foram os anos 1990 e 2000 (ambas com oito filmes cada uma, até agora), justamente quando ele lançou as suas melhores pérolas. Mas a primeira obra-prima dele como diretor veio antes: Bird, de 1988, uma “cinebiografia” do mestre do jazz Charlie “Bird” Parker. (Confira os principais filmes na carreira do diretor no fim desta materia).
E agora ele anuncia que vai deixar de atuar. Uma perda significativa para os amantes do cinema – ainda que, para nossa sorte, aos 78 anos de idade, o homem parece não querer parar de fazer filmes. Ele anuncia que está encerrando a carreira como ator com o papel de Walt Kowalski, um veterano da Guerra da Coréia preconceituoso que acaba se vendo forçado a conviver e se aproximar de um vizinho asiático por causa de um Gran Torino ano 1972.
O próprio diretor confessou que o personagem é “ofensivo e potencialmente controverso” e acredita que esta é a idade certa para viver um “racista de verdade”. Mas, como já era de se esperar, o filme não expõe apenas um veterano de guerra “nojento” e que provocará ódio e repulsa. Ele projeta, assim como Menina de Ouro (Million Dollar Baby) – o filme anterior em que Eatwood apareceu em cena –, uma mensagem de redenção. Seu último papel como ator traz, assim, um elemento a mais para o importante legado de Eastwood ao cinema.
E falando em legado, é interessante olhar para o mais novo projeto do diretor Eastwood: The Human Factor, previsto para ser lançado em 2009. Atualmente o filme está na fase de pré-produção, mas já sabemos sobre do que se trata e alguns dos nomes envolvidos no projeto. Baseado no livro de John Carlin, o roteirista Anthony Peckham preparou o texto da cinebiografia de parte da vida de Nelson Mandela – que será vivido pelo fantástico Morgan Freeman.
O novo projeto de Eastwood se foca no Campeonato Internacional de Rugby promovido por Mandela e o jogador de rugby François Pienaar (interpretado por Matt Damon) para unir brancos e negros na África do Sul – evento esse que se tornou importante na queda do apartheid naquele país. Mais um filme ousado do homem que, como poucos, soube se reinventar em Hollywood.
Guia dos melhores filmes de Clint Eastwood (segundo os usuários do site IMDb):
Como ator:
- Década de 50 – nenhum filme ganhou uma nota acima de 7
- Década de 60 – Por Um Punhado de Dólares (Per un Pugno di Dollari); Por Uns Dólares a MaisTrês Homens em Conflito (Il Buono, Il Bruto, Il Cattivo); The Magnificent Stranger; Desafio das Águas (Where Eagles Dare)
Década de 70 – Os Guerreiros Pilantras (Kelly’s Heroes), O Estranho Que Nós Amamos (The Beguiled), Perversa Paixão (Play Misty for Me), Perseguidor Implacável (Dirty Harry), O Estranho Sem Nome (High Plains Drifter), Magnum 44 (Magnum Force), Josey Wales – O Fora-da-Lei (The Outlaw Josey Wales), Fuga de Alcatraz (Escape From Alcatraz)
- Década de 80 – O Cavaleiro Solitário (Pale Rider)
- Década de 90 – Os Imperdoáveis (Unforgiven), Na Linha de Fogo (In The Line of Fire), O Mundo PerfeitoAs Pontes de Madison (The Bridges of Madison County)
- Anos 2000 – Menina de Ouro (Million Dollar Baby)
Como diretor:
- Década de 70 – Perversa Paixão (Play Misty for Me), O Estranho Sem Nome (High Plains Drifter), Josey Wales – O Fora-da-Lei (The Outlaw Josey Wales)
- Década de 80 – O Cavaleiro Solitário (Pale Rider), Bird
- Década e 90 – Os Imperdoáveis (Unforgiven), O Mundo Perfeito (A Perfect World), As Pontes de Madison
Anos 2000 – Sobre Meninos e Lobos (Mystic River), Menina de Ouro (Millon Dollar Baby), A Conquista da Honra (Flags of Our Fathers), Cartas de Iwo Jima (Letters from Iwo Jima), Changeling
Curiosidades da carreira de Clint Eastwood:
- Quem diria que o mesmo ator que participou do filme Tarantula, de 1955 – que, como o nome sugere, conta a história de uma aranha gigante assassina –, seria capaz um dia de ganhar um Oscar ou algum prêmio na vida. Clint Eastwood foi capaz.
- Falando em Oscar, o ator e diretor recebeu, até hoje, 103 prêmios, incluindo quatro cobiçadas estatuetas douradas da Academia de Ciências e Artes de Hollywood. Dois prêmios ele levou para casa como diretor e dois como produtor dos filmes oscarizados: Unforgiven, de 1992, que ressuscitou e recriou o gênero western; e Million Dollar Baby, de 2004, que trouxe nova beleza e complexidade para o boxe e as relações entre pessoas solitárias.
- Até participar do filme Lafayette Escadrille, em 1958, dirigido por William A. Wellman, Clint Eastwood havia participado em pontas em sete longa-metragens – em nenhum deles o seu nome sequer é citado nos créditos.
- O primeiríssimo papel de Eastwood no cinema foi o de um técnico de laboratório no péssimo filme de terror Revenge of the Creature, de 1955, dirigido por Jack Arnold.
- Antes de começar a carreira como ator, Clint Eastwood trabalhou em diversas profissões, entre elas a de atendente de posto de gasolina, bombeiro e tocando piano em um bar de Oakland.
- Ele chegou a ser convocado pelo Exército, em 1950, mas depois de sofrer um grave acidente de avião, acabou sendo liberado de participar da Guerra da Coréia – que, por ironia, acaba sendo o mote de seu último papel como ator.
A chamada “trilogia de westerns-spaghetti” que fez com Sergio Leone é o que lhe projetou a carreira. Por ironia, ele precisou sair de Hollywood e filmar na Itália para conseguir algum reconhecimento e reais oportunidades na carreira em seu país.
- Clint Eastwood nasceu no último dia de maio de 1930 em São Francisco, na Califórnia.
3 respostas em “9 – A Retirada de Clint Eastwood (ainda que parcial)”
Sou fã incondicional deste grande ator/diretor, gostaria de poder assistir a mais filmes dele da série Dirty Harry e também de filmes faroeste, êle é simplesmnte maravilhoso, inigualável, eterno um magnifico mestre em todos filmes que trabalha.
CurtirCurtir
Olá Jorge!!
Realmente, o Clint Eastwood é um mestre, um ator/diretor que fez uma carreira magnífica, de permanente evolução. Um exemplo a ser seguido.
Também gostaria de rever sua trajetória como ator e diretor, desde os primeiros trabalhos, passando pelos faroestes e Dirty Harry. Quem sabe um dia eu consigo fazer isso?
Obrigada por teu comentário e por tua visita. Espero que ambos se repitam muitas vezes ainda.
Um abraço!
CurtirCurtir
Esse rosto de pedra rústica; palavras mastigadas e duras; uma presença extraordinária; uma paixão em cada cena: esse Clint sempre foi extraordinário!
CurtirCurtir