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12 – A esquerda latina vai ao cinema


EPÍLOGO: Este é o décimo segundo texto que produzi para o site DVD Magazine e que reproduzo aqui no blog. Este artigo sobre as produções deste ano que tem nos governos de esquerda da América Latina a sua principal temática, assim como os demais artigos que você, caro leitor, poderá ler aqui, devem ser vistos – como sempre – levando em conta a data em que eles foram produzidos e publicados. Sempre que possível acrescentarei atualizações e comentários datados e posteriores, como faço com as críticas dos filmes.

DATA DE PUBLICAÇÃO: 29 de janeiro de 2009.

TÍTULO: Depois de chegar ao poder, a esquerda latina estréia nos cinemas

 

83141165GC083_BFI_52_LondonOliver Stone é um sujeito curioso. Considerado um dos cineastas mais engajados dos Estados Unidos, ele traz no currículo diversos filmes sobre políticos que ajudaram a fazer a história do século 20 e, uma vez ou outra, ele acerta com obras puramente ficcionais. Vencedor de três Oscar’s, ele agora percorre a América Latina para entrevistar os diferentes políticos de esquerda que chegaram ao poder. Depois de falar com os demais presidentes da região, ele chegou até o Brasil no dia 16 para falar com o presidente brasileiro, Luis Inácio Lula da Silva. Nosso governante também será tema de um filme semi-documentário, ou seja, de uma obra de ficção baseada em sua vida e carreira. Lula, o Filho do Brasil, será dirigido por Fábio Barreto.

O último filme de Oliver Stone lançado no mercado foi W – nada mais, nada menos que a “um crônica” sobre a vida e a carreira de George W. Bush, o mais odiado presidente dos Estados Unidos dos últimos tempos – e talvez de todos os tempos. Mas este foi apenas o último dos filmes de Oliver Stone sobre os políticos e/ou a política praticada por seu país natal.


A história de Stone no cinema começou em 1971, com o curta-metragem bastante elogiado Last Year in Viet Nam. Nele, Stone trazia para a superfície a história de um veterano de guerra que vivia em Nova York – mesma premissa que lhe daria depois fama e prêmios com o drama Born on the Fourth of July. Depois do curta, veio a bomba de terror chamada Seizure, detonada por críticos e público. Depois se seguiu mais um curta-metragem, outro filme de terror desprezível (na opinião dos críticos, mais uma vez) e, finalmente, seu primeiro filme “sério”: Salvador.

Desde aquele curta-metragem de 1971, se passaram 15 anos até que Oliver Stone parece ter encontrado o seu próprio “filão” no cinema: os filmes de guerra e com uma levada de crítica política. Salvador conta a história de um jornalista (interpretado por James Woods) que percorre El Salvador durante a ditadura militar que assombrou o país nos anos 1980. Depois se seguiram no currículo do diretor Platoon (produção crítica e premiada sobre os horrores da Guerra do Vietnã);  Born on the Fourth of July; e, em 1991, seu primeiro filme declaradamente político: JFK.

Considerado ousado para a época, o filme narrava uma possível conspiração para o assassinato de um dos mais populares presidentes dos Estados Unidos. Depois dele ainda viriam Nixon, em 1995 e, antes de W., lançado no ano passado, Oliver Stone dirigiu a Comandante, um documentário-entrevista com Fidel Castro. Este foi o primeiro passo do diretor para a América situada abaixo dos Estados Unidos e sua esquerda “revolucionária”. Agora, ele filma uma produção ainda mais ampla nesta direção.

hugochavez2O foco principal de seu novo documentário é a figura polêmica de Hugo Chávez, presidente da Venezuela que tenta, mais uma vez, aprovar no país uma lei que permite a reeleição indefinida de um presidente – certamente ele – pelo povo. Mas mais que mostrar a trajetória de Hugo Chávez e seu “movimento de resistência” esquerdista no mundo, o filme de Oliver Stone quer contar a história da “revolução na América do Sul”, como definiu o próprio diretor.

O tema vende. Nos anos em que vivi em Madrid, na Espanha, todos adoravam falar sobre a revolução esquerdista latina e a esperança que esse movimento dava para os movimentos sociais e para as pessoas que acreditavam em uma outra realidade que não a da selva capitalista mundo afora. Não deixava de ser interessante ouvir tantas pessoas cheias de esperança por algo que elas não tinham nenhuma idéia de como se desenvolvia na prática.

Os europeus e os norte-americanos – mais os primeiros que os segundos – alimentam uma visão romântica sobre o movimento “revolucionário esquerdista e pós-modernos da América Latina”. Mas olhando pelo lado positivo, é quase melhor ouvir piadas e/ou elogios a figuras como Hugo Chávez do que presenciar o “velho método” estadunidense de exterminar os movimentos de esquerda, incentivando ditaduras ao Sul de suas fronteiras.

lula-kirchner-chavez1Mas voltando ao filme de Oliver Stone… depois de viajar com o presidente Hugo Chávez no início deste mês, percorrendo parte da Venezuela com ele – visitando, entre outros lugares, a cidade natal do governante –, o diretor entrevistou a Rafael Correa, presidente do Equador; Raúl Castro, de Cuba; Evo Morales, da Bolívia – que convidou Stone a mastigar a folha da coca; Fernando Lugo, do Paraguai; Cristina Kirchner, da Argentina; e, finalmente, Lula. Segundo Oliver Stone, seu documentário pretende “explicar à América do Norte o que acontece na América do Sul”, retratando o que mudou no cenário local na última década.

Bem conduzido, o filme pode nos ajudar. Mas a idéia de colocar o mais extremista dos governantes latinos como figura-chave nos holofotes me dá um pouco de medo. Quase mais fácil esse filme ser um tiro que sai pela culatra. Literalmente. Vejamos como nosso presidente se sairá na entrevista com o diretor e, depois da edição do filme, neste documentário.

 

  • Dois Filhos de Francisco na versão Lula

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Agora em janeiro vão começar as filmagens de Lula, O Filho do Brasil, cinebiografia do presidente inspirada no livro homônimo da jornalista Denise Paraná lançado em 2003. A autora será também a roteirista do filme dirigido por Fábio Barreto. Segundo Denise Paraná, o filme contará a história de Lula desde o seu nascimento, em 1945, até o ano de 1980, quando ele “nasce como personagem histórico”. Em outras palavras, o filme deixa de lado toda a carreira política de Lula – o que será interessante e, nas mãos de Barreto, deve virar um filme ao estilo de Os Filhos de Francisco. Emocionante e, ao mesmo tempo, querendo incorporar a “alma brasileira” de superação e garra.

No papel de Lula, saiu de cena Tay Lopez (do filme Última Parada 174), no início deste ano, e foi definido para o seu lugar Rui Ricardo Dias – que estréia nos cinemas nesta produção. Segundo a roteirista do filme, um papel fundamental nesta história será a da mãe de Lula, Eurícide Ferreira de Mello (conhecida como Dona Lindu), que será interpretada por Glória Pires. O pai do presidente está a cargo de Milhem Cortaz. Cléo Pires, filha da atriz Glória Pires, interpretará Maria de Lurdes, a primeira esposa de Lula. Achei curiosa essa escolha, afinal, nas entrelinhas, o filme acaba mostrando uma relação literalmente freudiana: Lula casando com uma mulher que lembra completamente a sua mãe. 😉

As filmagens de Lula, O Filho do Brasil estão previstas para começar dia 21 (de janeiro), em Pernambuco. No início do mês foram feitos vários ensaios com atores – momento em que Tay Lopez teria desistido de participar do filme, após passar mal em um dos dias em que o elenco ensaiava. Será um filme emocional, não há dúvidas. Muito mais do que o que Oliver Stone está preparando.

 

  • Outros filmes sobre Lula:

entreatos1Entreatos: o diretor João Moreira Salles filma os bastidores da campanha política que levou Lula à presidência em 2002. Evitando mostrar o Lula 100% político, com largos discursos e ostentando bandeiras, o filme procura enfocar o presidente no que alguns consideram que ele faz melhor: conversando com as pessoas e contando seus causos.

Peões: o mestre dos documentários brasileiro, Eduardo Coutinho, conta a história das pessoas que participaram das greves do ABC em 1979 e 1980, muitas delas então próximas a Lula. Assim, indiretamente, estas pessoas acabam contando parte da história do atual presidente do país, sobre sua condita como líder sindical e como trabalhador.

ATUALIZAÇÃO (6/2/2009): Este texto foi publicado no site DVD Magazine no dia 29 de janeiro, mas eu o havia escrito no dia 19, poucos dias antes de Lula, O Filho do Brasil começar a ser rodado. Então eu deixo registrado aqui que o filme realmente começou a ser filmado no prazo estabelecido. Fábio Barreto e sua equipe iniciaram as filmagens em Caetés, em Pernambuco, cidade natal de Lula. O orçamento do filme está estimado em R$ 12 milhões, e a previsão de estréia nos cinemas é para setembro deste ano.

Só achei muito estranho, até agora, ninguém ter comentado sobre a entrevista de Oliver Stone com Lula… afinal, até o momento, todos os jornais e a assessoria do diretor sempre cuidavam de manter as informações do projeto atualizadas. Menos no que diz respeito a Lula. Estranho, muito estranho…

2 respostas em “12 – A esquerda latina vai ao cinema”

Oi Denise!!

Nossa, que bacana que você chegou até este meu humilde blog. Fico feliz que também tenhas gostado da matéria.

Só que, como deves ter notado, ela não foi específica sobre o filme do Lula… mas poderia ser. Você me daria o prazer de te entrevistar – nem que fosse por e-mail, te enviando perguntas, ou por MSN ou de outra forma? Eu acharia bem interessante ter uma entrevista com a roteirista do filme. Se você aceitar, combinamos por e-mail detalhes para a entrevista. Adoraria escrever mais sobre o filme.

Um abraço e volte sempre!

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