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Bug – Possuídos


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Um filme forte e cru. O diretor William Friedkin voltou a fazer uma bela peça de cinema com esse Bug – isso para quem, como eu, acha que filmes de suspense/terror podem produzir filmes muito bons, explorando todos os elementos do cinema para provocar medo ou mal-estar. A idéia de perseguição e de loucura já começa na primeira sequência do filme: Agnes White (Ashley Judd, em uma interpretação assustadoramente perfeita) está em um motel de beira de estrada, no fim do mundo, quando um telefone destes antigos e estridentes toca. Ela atende e diz “alô”. Nada. Fala “alô” outra vez, e nada. Desliga e o silêncio domina a cena, por pouco tempo. Logo o mesmo telefone toca e nada. Isso se repete e você pensa: até quando? Mas isso é só o começo, porque a vida de Agnes ficará muito pior. E o diretor William Friedkin conta o crescente de sua sensação de impotência e perseguição psicológica de uma maneira acertada, sem exageros – o que seria fácil, em uma história assim – e com um tom de “naturalidade” ou de crueza que torna Bug um dos filmes de suspense/terror psicológico mais fortes que vi nos últimos tempos. Ok, vi a Hostel e tal, cheio de cenas de cortes, marteladas, tiros e etc., mas a qualidade dos filmes não tem comparação. Até porque todo corte ou violência em Bugs é justificado e ampliado com a tortura psicológica, muito diferente de Hostel.

A HISTÓRIA: Agnes White é uma mulher que vive sozinha em um quarto de motel de beira de estrada em Oklahoma. Ela trabalha como garçonete em um bar de lésbicas, onde trabalha sua única amiga, R.C. (Lynn Collins). Para relaxar, bebe e algumas vezes faz “festinhas” em casa com cocaína e outras drogas. Em uma “festinha” destas é apresentada por R.C. a Peter Evans (Michael Shannon, que tem esse blog! adorei), um tipo que fala pouco e observa muito. O filme começa acompanhando Agnes em uma nova fase de sua vida – ou seria a repetição de uma antiga?: quando começa a receber telefonemas sem identificação – apesar de que ela acredita que seja Jerry Goss (Harry Connick Jr.), seu ex-marido, quem lhe telefona. Pouco tempo depois de começarem os telefonemas, Jerry aparece – depois de sair da prisão. Dizendo não ter lugar para ir, Peter pede para ficar com Agnes, e os dois acabam entrando em uma experiência assustadora quando Peter começa a perceber insetos carnívoros na casa e revela ter sido objeto de experimentos médicos do Exército dos Estados Unidos e que anda sendo perseguido.

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso que há trechos do comentário a seguir que contam partes importantes do filme, por isso sugiro que só continue lendo quem já viu a Bug): O filme não deve agradar a muita gente por várias razões. Para os espíritos mais sensíveis porque é um filme forte, com algumas cenas de violência realmente complicadas. Já para os que gostam do tipo de filme “sangue jorrando na tela”, Bug não vai agradar porque gasta “muito tempo” com a parte psicológica da loucura.

Mas eu, que não sou nem do primeiro e nem do segundo tipo, mas que gosto de filmes que dizem um pouco mais do óbvio, gostei muito de Bug. Só fiquei depois pensando: “joder, que fuerte!”. Mas é isso mesmo. O filme conta uma história que agora mesmo pode estar acontecendo em várias partes do mundo. Ok, talvez não exatamente igual, mas bem parecido. Afinal, quantas vezes você já presenciou ou já ouviu falar de pessoas solitárias que se entregam a uma paixão sem medidas e que, depois, nem os amigos mais próximos reconhecima a pessoa? E digo se entregar a uma paixão podendo ser, essa paixão, tanto um homem, como no caso de Bug, como a uma religião ou a um partido político… ou a um governo. O que for. Mas sei de muitos que perdem a razão e o poder de crítica – e mais, de autocriticar-se – e entram em uma jornada que parece não ter fim.

Pois aqui em Bug acontece o mesmo. Agnes, tão solitária, vê em Peter a figura que necessita para se sentir um pouco mais segura e um pouco menos abandonada. A dependência psicológica dela em relação a ele – tão visível também em tantas mulheres contemporâneas – só vai crescendo com o passar do filme. E os dois, especialmente Peter, são tão convincentes em sua paranóia com os insetos que chegamos mesmo a pensar se não pode ser verdade… só que tanto a mudança da casa até um ponto que beira o absurdo, quanto os comentários de R.C. sobre uma visita de Agnes a um dermatologista fazem com que nossa dúvida tenha fim. A lógica de raciocínio final do casal também esclarece sobre a veracidade ou não de suas teorias e de sua crença.

Mas um dos aspectos que mais gostei no filme, realmente, é o tom cru que ele apresenta. Ashley Judd e Michael Shannon realmente estão incríveis em seus papéis, não duvidando em nenhum momento em mostrar seus corpos ou de se entregar de corpo e alma a esses personagens difíceis. Judd comprova que realmente pode fazer bons papéis, e Shannon coloca o seu nome na lista de boas promessas no circuito comercial dos Estados Unidos.

NOTA: 9.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: O filme se passa, basicamente, no quarto de motel em que vive Agnes. Fora as cenas interiores em este local, a história se desenrola no bar em que Agnes e R.C. trabalham. Depois de ver o filme descobri uma das razões para essa “limita” escolha de cenários: o filme é baseado em uma peça de Tracy Letts que conseguiu um certo sucesso no circuito off-Broadway. E o diretor de teatro é quem assina o roteiro para o cinema também.

A voz rouca que aparece no final do filme, já nos créditos, é a de Chris Cornell… mas antes dele aparecer eu já pensava em outro ícone do que foi chamado “movimento grunge”: Eddie Vedder. Me explico: Pearl Jam, a banda de Eddie Vedder, gravou faz vários anos uma música chamada Bugs. E eu não consegui deixar de lembrar dessa música durante o filme… hehehehehe. “… i got bugs/ i got bugs in my room/ bugs in my bed/ bugs in my ears/ their eggs in my head/ bugs in my pockets/ bugs in my shoes …” e por aí segue. Música perfeita para o filme, não? Pena que não está na trilha sonora. Mas recomendo. Adoro Bugs do Pearl Jam. Ah, para citar… a música está no disco Vitalogy, de 1994.

No iMDb, minha referência principal de filmes na internet – como vocês já devem ter percebido, hehehehehe -, Bug recebe dos internautas apenas a nota 6,5. Acho pouco. Mas entendo, ainda mais levando em conta o que eu disse antes: que o filme não agrada nem a gregos e nem a troianos – ou seja, nem aos que gostam muito de sangue na tela e nem aos que gostam de terror psicológico apenas psicológico, sem sangue. Mas ok, sabemos que nem sempre opinião de público e bilheteria são sinais de qualidade. Tanto que em bilheteria Bug também não foi muito bem… nos Estados Unidos arrecadou pouco mais de US$ 7 milhões… algo muito baixo para os padrões do país. Descontado todo o demais, ao menos a interpretação de Judd e Shannon mereciam uma bilheteria maior.

E aviso aos mais sensíveis: o filme tem várias cenas de violência e de nu.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 20 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing e, atualmente, atuo como professora do curso de Jornalismo da FURB (Universidade Regional de Blumenau).

12 respostas em “Bug – Possuídos”

É um ótimo filme com certeza mas cru demais para o público acostumado com muitos efeitos especiais e desacostumado com o terror mais real de um colapso mental.

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Oi João Pedro!

É verdade, é um filme que não deve mesmo cair no gosto comum, porque não obedece aos parâmetros mais “vendidos” – sangue e mutilações. Mas, cá entre nós, gosto muito mais de um terror psicológico e de um suspense que joga com o que pode ser real do que com o absurdo – ainda que eu veja de tudo e que admita que, algumas vezes, o exagero e o absurdo de alguns filmes do gênero são bem feitos.

Mas realmente gostei desse Bug. Achei que os atores, em especial, estão muito bem. E a direção também, é claro.

Obrigada pela visita. Te espero ver mais vezes por aqui, acompanhando o blog e comentando. Um grande abraço!

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Olá Ale

Nossa prefiro nem comentar esse filme, só vou deixar umas palavras
O PIOR FILME DE ASHLEY JUDD.
nota 3,0 pela consideração que eu tenho pelo diretor William
e espero que ele não tenha acabado com a carreira da Ashley.
Sem mais…

até logo

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Oi Elizeu!!

Nossa, sério mesmo? Você não curtiu o filme?? Hummmm… talvez porque o gênero de terror psicológico não seja nem de perto um dos que você gosta, não é mesmo?

Pois para ser franca – e acho que meu texto deixa isso bem claro -, eu gostei. 🙂
Na verdade, achei um dos melhores filmes recentes do diretor. E gostei muito dos atores também… achei eles ótimos.

Mas enfim, se o filme não te convenceu, não sou eu que vou te convencer. Além do mais, como eu sempre digo, gostos são gostos! heheheheehehehe

Abraços

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Eis um filme verdadeiramente interessante, com atuações convincentes, roteiro excelente, medos sutilmente colocados, pra quem realmente gosta de vivenciar paranóias bem elaboradas – um drama psicológico que pode alçar Ashley a um lugar premiado na Academia.

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Oi Danilo!

Como você bem comentou, eis aqui um filme para os que gostam de “vivenciar” paranóias bem elaboradas. Bug realmente é destes filmes que nos apresenta como a loucura pode chegar e dominar pessoas interessantes sem que elas realmente se dêem conta. Bem interessante.

Só que tenho que discordar de você na parte em que comentas que o filme pode “alçar Ashley a um lugar premiado na Academia”. E discordo não porque eu não ache que ela mereça – porque acho que sua interpretação realmente valeria uma indicação ao Oscar – mas, simplesmente, porque ela perdeu o bonde. Em outras palavras, a atriz perdeu a chance de ser indicada… Bug é um filme de 2006 que até poderia ter recebido alguma indicação no Oscar 2008 – mas como isso não aconteceu, agora ele não poderá ser indicado para a próxima edição do prêmio. Uma pena, realmente.

Obrigada pelo teu comentário e pela tua visita. Seja bem-vindo! Espero que voltes aqui muitas vezes ainda. Um abraço!

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SPOILER

Olha… eu acho que esse filme pode ter dezenas de interpretações, mas para aqueles que interpretarem o filme simples e unicamente pelo lado psicológico irá entender tudo muito mais do que apenas uma dependência física e psicológica entre os personagens. Bug poderia ser uma referência direta, porém muito mais séria e realista, do igualmente ótimo Identidade (Identity, 2003), já que ambos se passam em um motel e com personagens duvidosos. A diferença são as doenças… enquanto Identidade trata das múltiplas personalidades, Bug trata da paranóia dissociativa ou ilusória. A primeira parte do filme é lenta para poder conhecer o histórico de vida da personagem principal para, posteriormente compreender o que se passa na segunda parte do filme. Durante o filme várias mensagens são passadas para a audiência interpretar o filme de diversas formas, a primeira delas acontece logo no início, qnd o personagem de Michael Shannon dialoga com a de Ashley sobre o poder da persuasão e as consequencias que isso traz em pessoas sucetíveis a ela, e é a partir dessa (falsa) informação que muita gente interpreta (erroneamente) o filme, até o momento em que, na segunda parte, é comentado sobre a paranóia dissociativa, e então as coisas passam a ficar muito mais claras e a dúvida sobre a real existência das demais personagens é real ou não. Eu terminei o filme sem uma opinião formada, mas depois de pesquisar a respeito o filme é brilhante tanto pelo roteiro quanto pela sua direção e interpretações porque ele descreve perfeitamente e de forma muito coerente a instalação e o processo de auto destruição da doença. Não é um filme fácil, é um filme que seria muito mais interessante assistí-lo já sabendo do que se trata, porém estragaria os elementos surpresas que ele traz, por isso é interessante assistí-lo novamente depois de compreender exatamente a desordem retratada, pois o filme, além de ser uma excelente obra de arte, é também uma aula de psicologia. Sem dúvida, agora, o considero o melhor thriller psicológico que vi nos últimos anos.

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Olá Junior!!

Você tem razão quando comenta que este filme pode ser entendido de múltiplas formas. Também concordo contigo que seu roteiro é excelente, e que Bug é um dos melhores filmes do gênero em muito tempo.

Achei interessante encarar o filme da forma com que comentas… (SPOILER), ou seja, pensando nas ações da protagonista como manifestações de uma paranóia dissociativa. Faz sentido. Mas fiquei pensando sobre uma das características desta paranóia, que é a de que a pessoa está, a cada momento, assumindo uma nova atividade e deixando outra para trás. Não lembro – mas para ser franca, não assisti ao filme novamente para tirar esta dúvida – de que Agnes ou Peter tenham este costume.

De qualquer forma, acho um filme excelente e que deve ser recomendado.

Junior, obrigada por tua visita. Espero que ela se repita muitas vezes ainda, inclusive para falares de outros filmes.

Um grande abraço e até a próxima!

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Oi steve x10!

Olha, fazendo um esforço, é possível ver algum “paralelo” entre Antichrist e Bug. Mas a ligação é pequena, hein? Fora a questão de uma pessoa ir perdendo a sanidade aos poucos, há pouco em comum.

Antichrist toca em temas como o machismo, o “jogo” de poder entre homens e mulheres que não é abordado por Bug.

Mas enfim, fico feliz que tenhas assistido aos dois filmes. Ambos são muito interessantes.

Obrigada pela tua visita e pelo teu comentário. Espero que voltes por aqui mais vezes.

Abraços e inté!

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