Sei que estou meio atrasada com esse comentário, mas na verdade estou atrasada com vários filmes. Então isso não chega a ser uma novidade. hehehehehehehe. De qualquer forma, pelo menos eu vi Lions for Lambs e o comento agora, ainda que todos já tenham feito isso (ou quase todos). Interessante que meio que sem querer assisti esse filme depois de ver Redacted e In The Valley of Elah, outras duas produções que tratam a Guerra do Iraque de diferentes maneiras. Eu sabia que Lions for Lambs tratava da guerra, mas não sabia nada mais. Não sabia, por exemplo, que Robert Redford estava na direção, além de atuar no filme e de figurar no cartaz do mesmo. Para ser franca, o filme me surpreendeu enquanto uma salada mista. Achei ele bem arrastado a maior parte do tempo e um pouco perdido em seu discurso – ainda que, depois que ele termine, você começa a juntar as peças. Ainda assim, fiquei meio incomodada com a escolha de um professor, uma jornalista e um político como “estandartes” do discurso, como figuras que inspiram e manipulam os demais “cordeiros” da sociedade. Volto a falar mais a respeito em seguida.
A HISTÓRIA: O filme começa com o senador Jasper Irving (Tom Cruise) analisando os últimos números das pesquisas de opinião pública sobre a Guerra do Iraque e os últimos informes a respeito antes de receber em seu gabinete a jornalista Janine Roth (Meryl Streep). Enquanto ele discursa para ela sobre uma “nova” política norte-americana de ação no Afeganistão, com o uso de pequenas células de soldados em ataques “estratégicos”, o professor Stephen Malley (Robert Redford) tenta convencer o seu Todd Hayes (Andrew Garfield) a se comprometer com os estudos, porque vê nele um grande potencial. Os discursos políticos de Jasper Irving e de Stephen Malley se desenvolvem enquanto os soldados Ernest Rodriguez (Michael Peña) e Arian Finch (Derek Luke), ex-discípulos de Malley, enfrentam o inimigo em uma operação que faz parte da estratégia da qual Irving está comentando.
VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que parte do texto à seguir conta trechos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Lions for Lambs): Inicialmente o filme parece uma seqüência de discursos sem fim, em um confronto “indireto” entre o político interesseiro interpretado por Tom Cruise e o professor idealista de Robert Redford. Depois, se percebe que os soldados que estão prestes a morrer no território inimigo fazem parte de uma mesma rede de relações e são, sem querer, o elo entre os discursos tão diferentes do político e do professor. Ainda que o filme dirigido por Robert Redford vá se explicando conforme passa o tempo, os discursos que recheiam o tempo na tela acabam sendo cansativos. Ok, já entendemos que o senador Jasper Irving realmente quer manipular a jornalista que tem a sua frente e que está bem treinado em dissimular o que sente para tornar o seu discurso convincente. Também percebemos que ele realmente defende uma postura até o final, ainda que os fatos possam comprovar outras verdades, porque ele está em uma posição de poder que não lhe permite (e nem ele tem o interesse) voltar atrás. Se percebemos isso muito rápido, porque insistir tanto tempo em seu discurso? Na verdade ele me cansou um pouco. Assim como o discurso idealista e “filosófico” (enquanto tenta ser inspirador) do professor Stephen Malley. Na verdade ele, que se diz um verdadeiro “identificador de talentos”, não sabe exatamente o que faz ali, sendo chamado de “doc” e sendo mestre de alunos como Todd, Ernest ou Arian. Ele pensa que faz diferença para eles mas, no fundo, como mostra Todd, não faz. Ou até consegue fazer um pouco de diferença, mas até onde ele pode atuar sozinho? Pelo menos ele não perdeu as suas convicções, é verdade. Ainda assim, seu debate com o aluno também me cansou. E o caminho que Ernest e Arian seguem, na verdade, também não me convenceu. Mas tudo bem.
As cenas dos soldados largados nas montanhas do Afeganistão acabam sendo muito confusas e, até um certo ponto, também muito longas. O diretor tenta “fazer render” a angústia daqueles soldados enquanto busca ampliar as suas histórias – ainda assim, amplia pouco – para tornar o restante do filme mais “humano” ou dramático mas, na verdade, não consegue muito esse resultado. Para mim, já era esperado o que ocorre com eles e achei desnecessário toda aquela prolongada em seus dramas e a “cena derradeira” deles.
Para mim a atriz Meryl Streep é a que consegue o melhor resultado entre os três “monstros” em cena – ou os três medalhões que figuram no cartaz e nos créditos principais do filme. Todo o jogo de cena que ela faz com o senador e a sua desilusão crescente com o seu trabalho e com o discurso que tentam lhe vender é o melhor do filme. Tom Cruise também está bem no papel do típico político “bonitão” que sabe como agradar o eleitorado e as jornalistas (mulheres realmente), manipulando o discurso com jargões com os quais os republicanos gostam tanto. Ele está bem, mas não faz nada excepcional – qualquer ator poderia estar em seu lugar.
Entendi que o roteirista Matthew Michael Carnahan tentou fazer um filme crítico de maneira criativa, mostrando os diversos discursos que tentam se passar por verdade competindo entre si, mas ainda assim fico incomodada com o fato de colocar o debate sobre o tema Guerra do Iraque nas mãos de um “mestre”, um político e uma jornalista. Por que só na mão deles? E os demais não tem responsabilidade? Faltou talvez colocar a Igreja na arena também. Ok que todos tem responsabilidades no processo, mas achei um pouco confuso esse discurso de “leões e cordeiros”. O professor tenta fazer o aluno enxergar que o fato dele não querer se envolver ou se misturar com o lixo não lhe tira a responsabilidade, pelo contrário, porque ele acaba sendo “massa de manobra” e acaba sendo utilizado da mesma forma. Nisso ele tem razão. Mas não são apenas os políticos e os jornalistas que utilizam as pessoas, isso está claro.
Ainda assim, é importante ter filmes feitos por “medalhões” como estes que tentem tocar nestes temas, ainda que o resultado tenha ficado um pouco cansativo e confuso. Acredito que simplificar um pouco os discursos teria feito um favor a história.
NOTA: 6,5.
OBS DE PÉ DE PÁGINA: Além dos atores já citados, destaco a participação de Peter Berg como o coronel Falco e Kevin Dunn como Howard, o editor de Janine Roth.
Só dou a nota 6,5 para o filme porque acho importante que pessoas como Robert Redford e Cia. se envolvam em projetos que tentam fazer uma crítica a algo de errado que está acontecendo, mas na verdade acho que o filme até poderia ganhar menos. Uma das coisas que mais me incomodou no filme é que, na verdade, ele não diz ao que veio… no fundo, não faz uma grande crítica a um lado e nem a outro. E os cartazes do filme também ajudam a confundir, colocando os personagens do professor, da jornalista e do político no mesmo plano. Isso quer dizer que os educadores, os jornalistas e os políticos são igualmente culpados? No cartaz francês, por exemplo, publicaram as frases “Por quais valores você vive? Por quais valores você está disposto a morrer?” abaixo da foto dos três “medalhões” e sobre a cena dos soldados prestes a ser fuzilados. Então será que os valores que o professor, a jornalista e o político defendem são os certos? Quem está certo ou errado na história? Acho que o filme pode servir para justificar tanto um lado quanto outro da questão, o que acho um problema. Afinal, não era para ele ser crítico? O que parece é que os dois “opositores” do discurso, o professor e o político, estão certos… afinal, eles lutam por defender os valores em que acreditam. E será que apenas lutar por algo já nos torna corretos? Será que apenas lutar com convicção torna o que fazemos justificável? Não acredito nisso, de verdade.
Um aspecto interessante do filme, pelo menos para mim, é a crítica que ele faz para a cobertura da imprensa dos Estados Unidos sobre a Guerra do Iraque e sobre as “pílulas” que o governo vende a respeito do terrorismo e dos “inimigos” do país. Afinal, eles compraram toda uma versão que, como bem diz a personagem de Meryl Streep, sabia-se que era mentirosa mas, ainda assim, a compraram. E a postura de seu editor, que diz que ela não conseguirá dizer o que pensa, é realista – afinal, alguém acredita em imprensa livre realmente? Não, ela não existe. Pelo menos não entre os grandes meios.
O filme teria custado aproximadamente US$ 35 milhões – imagino que gastos especialmente com os salários dos “medalhões” e com alguma cena de guerra, já que o restante é praticamente passado em dois gabinetes – e conseguiu faturar, em pouco mais de três semanas, pouco mais de US$ 14, 7 milhões nos Estados Unidos. Não está de todo mal, na minha opinião, já que se trata de um filme com uma temática pouco interessante para o grande público.
No Brasil o filme estreou no dia 9 de novembro de 2007. Até o final do ano, ele havia estreado em todos os principais países do mundo, exceto pelo Japão, onde irá estrear apenas em 19 de abril de 2008.
Os usuários do site IMDb conferiram a nota 6,2 para o filme, enquanto que os críticos que tem textos linkados no Rotten Tomatoes publicaram 44 críticas positivas e 118 negativas.
Fui atrás de mais informação sobre o roteirista e descobri que ele escreveu também The Kingdom – na minha opinião um pouco melhor que Lions for Lambs, mas não pelo roteiro, também simplista e algumas vezes cheio de “buracos”, mas mais pelas atuações do elenco. Atualmente ele está escrevendo o roteiro de State of Play, baseada em uma minissérie da televisão inglesa BBC e que terá a direção de Kevin Macdonald (de The Last King of Scotland). No elenco de State of Play estariam Russell Crowe, Edward Norton, Jason Bateman, Robin Wright Penn e Helen Mirren (o “estariam” é porque o filme está em pré-produção e alguns dos nomes não estão confirmados). Esperamos que desta vez o roteirista faça um trabalhozinho melhor.
Lions for Lambs é o primeiro trabalho de Robert Redford como diretor desde The Legend of Bagger Vance (ou Lendas da Vida, um filme interessante, ainda que sem grande “inovação”, com Will Smith, Matt Damon e Charlize Theron), de 2000. Ele ficou sete anos sem filmar. Antes deste filme, ele dirigiu a The Horse Whisperer (O Encantador de Cavalos), filme que, eu admito, gostei – e que é de 1998. Redford voltou à direção, parece, para dar a sua contribuição no discurso anti-guerra mas, infelizmente, não conseguiu um bom resultado.
CONCLUSÃO: Filme que tenta criticar a Guerra do Iraque e os diversos discursos que competem a favor e contra a sua legitimização mas que, no fim das contas, acaba sendo cansativo e um pouco “perdido” com seus propósitos. Para mim, tem mais discursos vazios do que acertos de roteiro. Vale apenas pela interpretação de Meryl Streep – que, ainda assim, não está no melhor de sua carreira. Cansativo.
2 respostas em “Lions for Lambs – Leões e Cordeiros”
Olá Alessandra, tudo bem?
Nossa, eu não assisti nenhum dos três filmes citados, e olha que eu tenho Lion for Lambs e Redacted no meu HD e só não vi por puro receio de ser ruim, mas devido à sua crítica vou dar uma chance para o novo do De Palma. Hehehe.
Eu tenho que admitir que tenho um novo favorito, temporariamente, para o prêmio de melhor filme no Golden Globe e no Oscar; No Country for Old Men. O filme simplesmente é fantástico. Os diálogos são os mais bem elaborados que eu vi em anos, e o Javier Barden está maravilhoso no papel do Anton Chigurh.
A narrativa, os personagens, a história, enfim, tudo funciona perfeitamente. Até o desfecho do personagem do Josh Brolin é um dos mais bem bolados em tempos, fugindo do óbvio e mostrando, claramente, a mensagem-objetivo dos Coen, a qual é que do jeito que está, o mal nunca irá parar e sempre vencerá.
Javier Barden para ator coadjuvante será que vai? Eu acho que pra melhor filme e diretor ele tem chances sólidas, mesmo com o tanto de violência espalhada na tela.
Para fechar a temporada de filmes “premiáveis” só falta There Will be Blood, pois já tive a oportunidade de assistir No Country, Atonement, American Gangster, Eastern Promises, e já tenho em meu HD o elogiadíssimo The Great Debaters, o novo do Denzel Washginton. Na verdade também está faltando assistir o Into The Wild.
Por fim, a temporada de 2007 irá deixar saudades, não? Foi um ótimo ano em matéria cinematográfica. Um dos melhores em anos, pra falar a verdade.
Por falar nisso, porque você não faz uma lista com o seu Top 10 filmes de 2007?
Sem mais por agora, Inté!
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Olá Osmar!
Tudo certo. Só com muito frio nestas terras de Espanha. hehehehehe. Mas ok, vou me acostumar outra vez – complicado depois de passar pelo calor do Brasil, mas tudo bem. A tudo a gente se acostuma, não é? Ou a quase tudo, pelo menos. Temperatura é algo que sim. hehehehehehehe
Olha, eu sempre sou da opinião que se tem que assistir de tudo… filmes bons e ruins. Claro que tem horas que a gente quer mesmo ver algo bom, mas o ruim é quase inevitável. E é bacana assistir de tudo para ter critério e “pesos e medidas”, não é mesmo? Pois eu digo que deves ver os dois, Lions for Lambs e Redacted e depois comentar aqui, concordando ou discordando de mim.
Olha, eu já fiz a crítica do No Country for Old Men… e volto a dizer: American Gangster ainda continua sendo o meu favorito. Nenhum filme, até agora, tirou o meu voto para ele como melhor filme, direção, ator e roteiro adaptado. Mas que o Javier Bardem merece o Oscar como coadjuvante, ah isso ele merece. E deve levar, eu acho. Mas admito que no quesito roteiro eu fico na dúvida… o trabalho dos irmãos Cohen também merecia ganhar… como o de American Gangster. Aí já fico em cima do muro. Ainda assim, insisto no meu voto… acho realmente American Gangster mais filme que No Country for Old Men, ainda que este segundo seja muito, mas muito bom realmente.
Eu ainda tenho que ver alguns filmes que ainda estão cotados para o Oscar… There Will Be Blood, The Great Debaters, Into The Wild, Elizabeth: The Golden Age, Across the Universe, Charlie Wilson´s War, Juno, Sweeney Todd, La Vie en Rose, The Savages, Walk Hard, I´m Not There (admito que ainda não vi esse filme, o que é uma falha total no meu currículo, hehehehehe), The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford (outro falho), The Diving Bell And The Butterfly, Persepolis, Caution, The Kite Runner, enfim… minha lista é grande… e isso porque eu nem falei de todos os filmes estrangeiros que estão na pré-lista do Oscar e que eu ainda não vi. Aí o negócio fica ainda mais complicado. Eita vida difícil de quem tenta ver o máximo possível antes dessa farsa de premiação. hehehehehehe
Agora, realmente, 2007 foi um grande ano para o cinema. Tivemos muitos e muitos filmes de qualidade, como há algum tempo não se via. O que é maravilhoso. Que 2008 venha assim ou ainda melhor! Agora, um Top 10… não me arrisco não. Eu sofreria muito para conseguir fazer uma lista assim. hehehehehehehe. Deixa que os outros fazem.
Um grande abraço, Osmar, e volte sempre! Gosto muito de trocar idéias contigo. Obrigada e inté
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