Sempre que uma lenda do cinema estadunidense como Al Pacino, Jack Nicholson ou Robert De Niro estrela alguma produção, o filme chama a atenção de imediato. Ainda que estes veteranos, há algum tempo já, vêm demonstrando bastante irregularidade em seus papéis – alguns, que inclusive, não se entende muito bem porque eles escolheram fazer. Este 88 Minutes me chamou a atenção só pelo fato de Al Pacino ser seu ator principal, além de que se trata de um filme policial – um gênero em que o ator nova-iorquino normalmente se dá bem. Pacino está melhor neste filme do que nos últimos que eu assisti com ele – como S1m0ne ou The Recruit – mas, ainda assim, ele está a léguas de interpretações que o tornaram uma lenda em Hollywood. Ainda que não conte com uma grande interpretação de Pacino, o filme não é totalmente horripilante. Tudo bem que ele exagera em muitas partes mas, ainda assim, consegue prender a atenção como um passatempo regular.
A HISTÓRIA: O psicanalista forense Dr. Jack Gramm (Al Pacino) conseguiu atingir o topo de sua carreira atuando em casos de homicídio conturbados e ao dar aula em uma universidade de Seattle. Sua fama cresceu, contudo, desde que ele se tornou uma peça-chave na condenação do serial killer (assassino em série) Jon Forster (Neal McDonough). Na véspera do criminoso ser morto com uma injeção letal, Gramm é visto em um bar rodeado de alunos comemorando. Ele sai de lá com Sara Pollard (Leah Cairns), com quem passa a noite. Na manhã seguinte, de ressaca, ele é chamado a seu escritório onde fica sabendo, através de um investigador do FBI, que na noite anterior uma aluna sua chamada Dale Morris (Kristina Copeland) foi morta da mesma maneira com que as vítimas de Forster eram assassinadas. Enquanto Forster tenta recorrer da sentença de morte, Gramm recebe uma ameaça de que será morto em 88 minutos, o que lhe faz correr contra o tempo para se salvar e descobrir quem matou a sua ex-aluna.
VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER: aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a 88 Minutes): O desenvolvimento do filme até que não é ruim. Realmente sempre funciona essa idéia de “lutar contra o tempo e uma ameaça de morte”. Dificilmente, por mais estúpido ou incompetente que um roteirista e um diretor possam ser, eles conseguem o feito de não prender a atenção do público com uma história de gato-caçando-o-rato que uma história do tipo propõe.
A questão de 88 Minutes, contudo, é que toda a história é baseada em idéias totalmente inverossímeis. Vejamos: por que a pessoa que quis matar usando o mesmo “modus operandis” do assassino em série prestes a ser executado esperou o dia de sua execução para começar a matar? Porque existe só algumas possibilidades para o assassinato da estudante: 1) O verdadeiro serial killer está a solta e voltou a matar; 2) Existe um imitador do serial killer preso e prestes a ser morto; 3) Algum comparsa do serial killer preso recomeçou a matar para libertá-lo. Mas em qualquer das possibilidades anteriores a pergunta que não quer calar é: Por que esperaram a noitada pré-execução para voltar a matar? Não seria bem mais fácil adiar um processo de execução se tivessem feito isso antes? A resposta está no título do filme: se tivessem matado antes, seria bem mais difícil convencer qualquer platéia de que o nosso “herói” receberia uma ameaça de 88 minutos para ser morto. Ainda que eu, pelo menos, não fui convencida igual. 🙂
Mas ok, vamos supor que teria realmente sentido esperar o Dia D para matarem outra pessoa e adiarem a execução de Jon Forster. Ainda assim, o resto do filme continua um tanto sem lógica. Vejamos (NÃO LEIA SE REALMENTE NÃO VIU AO FILME): se Gramm passou a noite com uma mulher, ele não tem um álibi certeiro para impedir que a polícia e o FBI duvidem dele como pessoa inocente? Afinal, como ele poderia ter matado a Dale Morris enquanto estava com Sara Pollard? Além do mais, se ele fosse um louco assassino, ele teria escolhido justamente o dia da execução do culpado de seu último grande caso para matar duas mulheres em uma mesma madrugada? Um tanto absurdo, não é mesmo? E pensar que, segundo o roteirista Gary Scott Thompson, essa parece ter sido a versão engolida pela polícia e pelo FBI, que passam a duvidar e até a perseguir Gramm.
Além de tudo isso, vão me desculpar os românticos por histórias de perseguição, mas eu sempre fico com uma certa raiva de filmes como este no quesito “enrolar ao máximo para dar um tiro”. Explico: a pessoa culpada por tudo que acontece – todas as mortes, sequestros e armadilhas para atrair Gramm – não teria sido muito mais eficaz dando um tiro nele a qualquer momento ao invés de fazer tudo que fez para conseguir uma simples gravação do Dr. Gramm? Ok, talvez eu esteja pedindo demais para um filme ruim, mas esses detalhes sempre me incomodam. Adiam a morte até o ponto em que ela se torna quase impossível de ocorrer. Pelo jeito todo bandido é meio burro. 🙂
Mas fora estes detalhes do filme – que para alguns pode ser o principal da história -, até que 88 Minutes se apresenta como uma boa diversão. Pelo menos é engraçado ver Al Pacino tentando ser galã novamente. 🙂 E fora isso, a verdade é que o elenco é bacaninha… além dos atores já citados, destaque para Alicia Witt como a estudante e assistente do Dr. Gramm, Kim Cummings – em um papel com muitas nuances e duplas interpretações; Leelee Sobieski como a estudante CDF Lauren Douglas (meio irritante ela, especialmente no final, mas tudo bem); Amy Brenneman como a secretária e braço-direito do Dr. Gramm, Shelly Barnes; e William Forsythe como o agente especial da polícia Frank Parks. Ainda fazem parte do elenco, mas em papéis tão pequenos que podem ser classificados quase como “pontas”, Deborah Kara Unger como Carol Johnson, da universidade onde Gramm dá aula; e Benjamin McKenzie como Mike Stempt, um dos alunos de Gramm.
A direção de Jon Avnet é competente, com bons planos de câmera e um ritmo condizente com a história – exceto por aquela forçada em planos lentos que abre o filme. A trilha sonora de Ed Shearmur também ajuda um bocado a história. E antes que alguém diga que é meio absurda também a “preocupação” do Dr. Gramm em proteger a todos ao seu redor, isso até achei que foi bem explicado no filme, já que ele tem uma história familiar de perda complicada no passado – e bem explorada por quem o está ameaçando agora em um legítimo “terror psicológico”. Também achei que o final, exceto pela característica “super poderosa” da pessoa culpada pelas mortes das mulheres e pela ameaça ao Dr. Gramm, ficou interessante. Especialmente o diálogo de Pacino por telefone…
Enfim, não é um filme totalmente imprestável, mas deve ser visto sem grandes reflexões ou preocupações lógicas. Se for ignorado tudo que é absurdo, até que ele tem um bom ritmo e algumas interpretações bacaninhas… 🙂
NOTA: 5,5.
OBS DE PÉ DE PÁGINA: Sei que é meio cruel dizer isso, mas o cabelo de Pacino e o seu jeito de dançar no bar no início do filme realmente são de dar risada. Mas ele até que não está mal em cena… cumpre seu papel.
O filme teria custado aproximadamente US$ 30 milhões e arrecadou muito menos que o esperado nos Estados Unidos. Até maio deste ano ele tinha conseguido pouco mais de US$ 16,9 milhões nas bilheterias norte-americanas.
88 Minutes também não convenceu críticos ou público. Os usuários do site IMDb deram a nota 6,1 para o filme, enquanto que o site Rotten Tomatoes, com críticas de vários jornalistas e comentaristas selecionadas, publicou 98 críticas negativas e apenas seis negativas – um dos filmes com pior avaliação que eu tenho lembrança.
Realmente algo que incomoda no filme, se formos ser racionais, são os possíveis “suspeitos” das mortes que presenciamos após a produção começar. No fundo, ninguém tinha realmente motivos concretos para fazer o que foi feito – exceto a velha idéia de querer arquitetar um “plano perfeito” o que, cá entre nós, estava longe de ser uma realidade. Para quem gosta de um mínimo de lógica, o filme é ruim. Mas não sei… sempre gosto de ver Al Pacino em cena – mesmo quando ele está “meia-boca”.
Para quem não lembra, o diretor Jon Avnet dirigiu antes a Red Corner (Maré Vermelha), um filme razoável de perseguição e intriga com Richard Gere. Um ano antes, em 1996, ele dirigiu a Up Close & Personal (Íntimo & Pessoal), um filme romântico que juntava no telão a Robert Redford e Michelle Pfeiffer. Depois destes dois filmes, Jon Avnet basicamente dirigiu produções para a TV, até que voltou ao cinema com 88 Minutes. Agora ele está na fase de pós-produção de Righteous Kill, um filme policial em que junta depois de muito tempo em uma mesma produção os “monstros sagrados” Al Pacino e Robert De Niro.
Mas se por um lado Jon Avnet parece estar ressurgindo das “cinzas” depois de 11 anos sem filmar para os cinemas, Al Pacino insiste em se arriscar em projetos arriscados… como a refilmagem do clássico Rififi. Acabo de ver que ele está no projeto e me deu um medo… a chance de que “caguem” (desculpem a expressão) um filme clássico é gigantesca. Por que Hollywood não investe dinheiro em divulgar obras-primas com essa ao invés de refilmá-las e estragar o que era bom?? E depois ele dará vida a Salvador Dali (ai Jesus!!!) no filme Dali & I: The Surreal Story, dirigido por Andrew Niccol e previsto para 2009. Juro que essas produções me dão medo! Alguém já imaginou alguém mais distante de Salvador Dalí que Al Pacino? Bem, até que é possível imaginar… 🙂
O filme é uma produção dos Estados Unidos, da Alemanha e do Canadá.
CONCLUSÃO: Um filme no melhor estilo “caçada-cão-e-gato” com vários suspeitos nada convincentes jogados na trama e que acaba sendo intrigante, ainda que bem difícil de ser “engolido”. O roteiro é ruim, mas os atores estão bem em seus papéis mais ou menos acabados. Al Pacino faz seu papel, sem ser genial mas, pelo menos, sem irritar ou se arrastar em cena. Como entretenimento, pode compensar – mas não gaste seu dinheiro com ele, espere ver de graça na televisão ou na casa de algum amigo. 🙂
9 respostas em “88 Minutes – 88 Minutos”
Olá Ale!!!!!
Só um minuto, esse filme foi lançado no cinema dos Eua esse ano???
Só que está nas locadoras desde o inicio de 2007, e eu me lembro bem porque foi logo que eu comecei a trabalhar. Mais ou menos em Janeiro ou Fevereiro.
Sem falar que esse filme nem foi ao cinema aqui no Brasil, foi lançado direto em DVD. Achei até meio estranho, um filme do calibre do Pacino, não ter ido ao cinema.
Um filme no estilo que eu gosto, descobrir quem é o assassino, bem corrido e talz, mas quando Leelee Sobieski entra em cena fica óbvio.
quem é o assassino??- é óbvio (dã), assim como colocaram a Demi Moore em The Charlie’s Angels – Full Throttle, quem era a vilã da historia só podia ser.
Um filme com cara de A mas com historia B, a nota do filme está mais do que boa.
Só que agora acabei de lembrar, esse filme foi distribuido pela Flashstar, uma empresa que sempre tem esses rolos, de lançar os filmes, antes de ter ido aos cinemas lá fora e até mesmo aqui no Brasil. e outro caso que quase acabou se repetindo recentemente foi o Em Nome do Rei (In the name of the King -A Dungeon Siege Tale) no elenco Jason Statham(carga esplosiva), Leelee Sobieski(a casa de vidro e proprio filme na foto), Ron Perlman(hellboy), Claire Forlani(CSI-Miami),Ray Liotta., entre outros nomes; um filme que estava na gaveta desde o ano passado e ninguem o lançava e que a Flashstar quase acabou o lançando sem ter passado lá fora. Mas acabou sendo descoberto e vai ser lançado em DVD agora em Agosto. E o 88 minutos foi lançado pelo cinema lá fora pela Sony Pictures esse ano(www.sonypictures.com/movies),(acabei de pesquisar, e tambem recebo e-mails da Sony Pictures, fiz um cadastro lá no tempo da Ultraviolet, só para receber newsletter do filme rsrsrsrs).
Bom são rolos da industria do cinema, não dá para entender, um filme q tinha tudo para dar certo ou quase tudo, e simplesmente o queimaram
até mais falei um pouco demais dessa vez né
abraços
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Olá ! Realmente não dá para acreditar que Pacino se meteu num projeto desses, eu fico imaginando o que será que passa pela cabeça das pessoas envolvidas em filmes tipo este 88 minutos.
Abraços!
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Corrigindo…
Claire Forlani (Peyton- a legista) de C.S.I New York e não Miami, estava lendo agora e vi o mega erro.
xau
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Oi Elizeu!!!
Bem-vindo mais uma vez! Desculpa demorar para responder, mas primeiro eu estava de férias (e longe da net), e depois tive muitas coisas para resolver neste começo de setembro.
Bem, mas vamos ao filme… pois sim, 88 Minutos foi lançado nos Estados Unidos este ano, mais precisamente no dia 18 de abril. Estava vendo no IMDb que o Brasil foi o primeiro lugar em que o filme chegou, realmente no ano passado… e foi uma “premiere” de DVD em fevereiro. Depois ele chegou aos cinemas de vários países antes dos Estados Unidos e daqui, na Espanha. Aqui, aliás, ele só foi lançado nos cinemas no dia 30 de abril. Curioso, não?
heheheheheheheheheheheehehe
Tens razão sobre “o vilão” da história ficar óbvio logo de cara. Eu também tinha certeza de quem era… e, convenhamos, que para um filme que quer deixar essa informação “escondida” até o final, é meio xarope saber logo de cara. Ainda que o roteiro dê muitas voltas e tal, mas não nos faz mudar de idéia. 🙂
E o Al Pacino… coitado! Ele já fez muita besteira, né? Entrou em muita cilada e filme ruim. Aliás, esse novo filme dele com o Robert De Niro… huuuummmmm, não sei não, posso estar enganada, mas está me cheirando a furada. hehehehehehe
Pois é… essa história de lançamento de filmes no Brasil é bem estranha (acabei de falar isso em outro comentário). Sei lá, mas acho que o país tem um mercado fantástico para lançamentos, mas muita coisa acaba nunca chegando por aí… o que é uma pena.
Um grande abraço e já sabes… volte sempre!
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Oi Wendell!!!
Primeiramente, seja muito bem-vindo por aqui mais uma vez!!
Pois é… o Pacino viajou “na maionese” ao aceitar esse papel. No fundo, acho que deve ter falado mais alto para ele o ego… tipo pensou: “Puxa, eu fazendo papel de galã, de professor disputado, profissional bem-sucedido, nesta idade? Com certeza!”. Especialmente pela parte de galã, vai. heheheheheheehehehehehe
Mas também vamos convir que não é a primeira vez que ele entra em um projeto furado… lembra de S1m0ne? Huuuuummmm, eita filminho ruim! Ou então mesmo Um Domingo Qualquer… ainda que fosse Oliver Stone, era fraquinho. Sei lá, mas mesmo os “mestres” erram algumas vezes.
E o que pensam as pessoas envolvidas em um projeto como esse? Acho que algo no estilo de “Vamos terminar logo isso para eu ir para casa e desfrutar do dinheiro que estou ganhando para fazer esta bobagem”. heheheheheheehehe
Bem Wendell, volte sempre! E desculpa demorar para responder, mas andei meio enrolada… Um abraço!
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Olá Ale
Ah você estava de férias, ah por isso que você sumiu heheeeehe
Que bom e que ruim que você voltou (ruim pq suas férias acabaram rsrsrsrs)
Mas é isso ai, Al Pacino já era viu.
Entrou em mais uma cilada. ^^
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Oi Elizeu!
Pois nada… eu até estava querendo voltar. Bem, por mim eu me dedicaria apenas ao blog e a pouco mais, mas infelizmente não dá para ser assim. De qualquer forma, estava com saudades de ver filmes e comentá-los por aqui.
Olha, até não acho que o Al Pacino “já era”… um ator do quilate dele sempre pode surpreender e fazer algo muito interessante, se quiser e se achar um bom papel. Agora, que realmente ele se meteu em uma cilada com esse 88 Minutes, ah, isso sim. 😉
Um grande abraço e até breve.
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Esse filme é horrível. Péssimas atuações e um dos roteiros mais toscos que já vi. A direção da um pouco de vergonha alheia. Um filme que da um pouco de dor de barriga de tão ruim.
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Oi Guto!
Concordo contigo, é um filme ruim.
Roteiro sofrível, atuações idem. A direção não faz milagre, com tantas pisadas de bola.
hehehehehehe
Divertido o teu comentário.
Obrigada pela tua visita e pelo teu comentário.
Espero que voltes por aqui mais vezes, inclusive para falar de outros filmes.
Abraços e inté!
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