Antes de mais nada, eu quero admitir algo: não assisti a esse filme da melhor maneira possível. Ou, pelo menos, da forma recomendada. Quando soube que Indiana Jones voltaria aos cinemas, fiquei empolgada. Sempre gostei do herói. Mas não me empolguei o suficiente para sair correndo até o cinema mais próximo quando o filme estreou. Sendo assim, fui assistir a Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull semana passada, no vôo entre Madrid e Rio de Janeiro – na minha volta para o Brasil. A verdade é que gostei do filme por alguns detalhes e sacadas, mas fiquei com uma impressão um tanto forte na mente e no coração de fã do herói durante a maior parte do filme: desperdiçaram o personagem. Ou, como alguns andaram dizendo por aí, parece que a época do arqueólogo aventureiro passou. Talvez. Pessoalmente, acho que faltou mesmo um roteiro melhor – porque Harrison Ford continua muito bem no papel, mesmo aos 66 anos de idade.
A HISTÓRIA: Um comboio do Exército dos Estados Unidos chega a uma base militar isolada. O ano é de 1957. Proibidos de entrar, eles matam a todos que encontram pela frente. O grupo, na verdade, é de soviéticos. Eles trazem em seus carros, sequestrados, o arqueólogo e professor Indiana Jones (Harrison Ford) e seu amigo George McHale – conhecido apenas por Mac (o londrino Ray Winstone). Liderados pela super-agente Dra. Irina Spalko (a australiana Cate Blanchett), o grupo busca um artefato encontrado no deserto e que foi mantido trancado a sete chaves pelos americanos. Depois de ajudar os russos a encontrarem o que eles buscavam, Indy e Mac conseguem fugir. Livre, Indy passa a ser vigiado pelo FBI e, de volta a Universidade Marshall, onde leciona, descobre que seu histórico em ajudar o governo dos Estados Unidos foi posto em dúvida. Depois que o reitor Dean Charles Stanforth (Jim Broadbent) lhe comunica que ele será afastado de seu trabalho por algum tempo, aparece na vida de Indy o jovem Mutt Williams (Shia LaBeouf). Ele busca ajuda para resgatar o professor Harold Oxley, ou apenas Ox (John Hurt), mentor de Indy e de Mutt. Neste ponto começa a aventura de Indy – de seus amigos e dos soviéticos – atrás da Caveira de Cristal.
VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull): Algo interessante do filme foi mexer com dois temas historicamente importantes na trajetória dos Estados Unidos: a Guerra Fria e o Caso Roswell. Curioso o roteiro de David Koepp – baseado na história de George Lucas e Jeff Nathanson – tocar nestes dois temas. Afinal, desde que Indiana Jones foi criado, esta foi a primeira vez em que o herói foi envolvido diretamente em questões “norte-americanas”. Mas fora este lado curioso, o roteiro se mostrou fraco em relação a pelo menos dois dos três filmes anteriores. Algo que não surpreende totalmente em se tratando de Koepp, responsável por roteiros interessantes como os do primeiro Homem-Aranha e de O Quarto do Pânico, assim como por desastres como Olhos de Serpente e A Guerra dos Mundos.
Vou comentar inicialmente o que eu gostei no filme. Achei interessante o resgate de personagens como Marion Ravenwood (Karen Allen) – realmente a melhor das “indygirls” até hoje – e do Professor Oxley (que, virtualmente, parecia estar morto). Por outro lado, achei um desperdício o tratamento que deram para o personagem de Mac – que virou apenas um grande mercenário, sem demonstrar nenhuma característica dúbia ou de complexidade.
Gostei também da entrada em cena de Mutt. Mas apenas sua entrada em cena. Explico: ele aparecendo com todo aquele “capote”, inspiradíssimo em James Dean e Marlon Brando, reflete muito aquela época – quando haviam sido lançados, recentemente, filmes como Juventude Transviada (Rebel Withouth a Cause, de 1955, com James Dean) e principalmente O Selvagem (The Wild One, de 1953, com Brando). Engraçada e curiosa a sua caracterização, assim como a sua vontade de enfrentar os perigos – como Indy quando era jovem, mas com menos ousadia. (SPOILER – não leia se não assistiu ao filme ainda). Só não achei necessário, realmente, “forçar a barra” fazendo com que Mutt fosse o filho de Indy. Não que o herói não pudesse ter um filho, mas todo o discurso dele de que Marion seria a sua mulher “inesquecível” e tal pareceu bem forçada. Para mim esse filho caiu de pára-quedas… e fiquei pensando: seria uma jogada dos produtores para logo lançar uma sequência de história do “filho de Indy”? Se for, lamentável.
Como antes nos filmes da grife Indiana Jones, neste filme o diretor Steven Spielberg e os demais envolvidos mesclam ação com cenas de humor. Existem algumas sequências realmente muito boas, como a perseguição – e duelo de espadas – nas selvas do Peru. Spielberg continua fazendo bons filmes de ação, ainda que nesta produção tenha faltado, realmente, um texto melhor. O sempre competente e talentoso diretor de fotografia polonês Janusz Kaminski faz novamente um ótimo trabalho – especialmente nas complicadas cenas noturnas. John Williams levanta a adrenalina dos fãs com uma trilha sonora matematicamente calculada. Tecnicamente o filme realmente faz sentido.
Depois de falar dos pontos positivos, vamos aos negativos. Não gostei, como disse antes, de boa parte do roteiro. Acho que ele cai, volta e meia, em lugares-comum, em fórmulas fáceis para resolver problemas previsíveis. Exemplos: as lutas de Indy com o russo Dovchenko (Igor Jijikine) chegam a cansar, assim como boa parte das “ameças” da Dra. Irina Spalko. Aliás, neste filme faltaram realmente vilões melhor caracterizados – sem eles, o filme ficou basicamente “família feliz” by Indiana Jones. Legal ver o herói em ação, especialmente ao explorar o caminho para a tão cobiçada Caveira de Cristal de Akator, mas faltou um pouco mais de “tempero” nesta história. Os vilões russos, por exemplo, são o cúmulo do estereótipo. Dra. Irina que, teoricamente, busca a todo custo o poder que a Caveira de Cristal poderia lhe dar no quesito “leitura de mentes” e de domínio mental da Humanidade, mostra pouca – ou nenhuma – capacidade paranormal (que o roteiro insinua que ela teria). No final, ela e seu comandado Dovchenko não parecem intimidar muito a ninguém.
Também não gostei muito do artefato visado neste filme. Vejamos: na primeira produção da grife Indiana Jones o nosso herói buscava a Arca da Aliança; na segunda, as pedras Sankara; e na terceira, nada mais, nada menos que o Santo Graal. Todos fundamentados na História e, em maior ou menor grau, em “poderes” conquistados por figuras importantes na trajetória humana. Ok. (SPOILER – não continue lendo se você não assistiu a Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull). Só que neste novo filme o artefato não tem apenas uma trajetória de interesse histórico – ainda que esteja localizado na emblemática e perdida “cidade de ouro” – mas possui, sobretudo, um carácter sobrenatural (ou, neste caso, mais especificamente, extraterrestre). Achei, para ser franca, uma grande forçada de barra. Não entro na discussão do Caso Roswell e da influência de extraterrestres na evolução humana – defendida por alguns -, mas achei que desta vez os responsáveis pela história perderam o Norte. Até parece que Indiana Jones precisa de desafios além-Terra, como muitos dos heróis de HQs que passaram a dominar as bilheterias nos últimos anos. Acho desnecessário esse tipo de manobra – não seria interessante nosso Indy continuar como nos velhos tempos, sendo aventureiro, determinado e cínico sob medida?
A verdade é que há muitos anos se especulava a volta da parceria Steven Spielberg, George Lucas e Harrison Ford. Talvez a expectativa desta espera, tantos boatos e a vontade dos fãs em ver a Indy em ação novamente tenha prejudicado o efeito do novo filme. No fundo, eu esperava mais. Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal acaba sendo apenas mais um entretenimento, com algumas várias pérolas distribuídas aqui e ali para os fãs (leia-se referências aos filmes anteriores) e nada mais. Pouco para um aventureiro que tinha marcado os anos 80 com filmes bem ritmados e cheios de novidades técnicas e narrativas. A sensação, mesmo com extraterrestres no meio da história – e um bocado de efeitos especiais – é que a saga de Indy ficou para trás, na nostalgia dos fãs.
NOTA: 6,5.
OBS DE PÉ DE PÁGINA: A nota acima, claro está, leva em conta o quanto eu gosto do personagem. Se fosse avaliar apenas o filme, especialmente o roteiro e a direção – que achei, ambas, um pouco “preguiçosas” -, sem levar em conta o que veio antes na trajetória do personagem, possivelmente a nota seria ainda menor. Um 6, provavelmente.
Como já era de se esperar, o filme foi um sucesso nas bilheterias. Apenas nos Estados Unidos ele faturou pouco mais de US$ 317 milhões. Na Inglaterra ele teve um desempenho relativamente baixo: 39,7 milhões de libras esterlinas. No Brasil o filme acumulou, até o dia 29 de junho, uma bilheteria de R$ 21,3 milhões. Ainda que os valores parecem altos, na verdade não foram tanto assim.
Vejamos: o filme custou aproximadamente US$ 185 milhões. Ou seja, a bilheteria nos Estados Unidos não chegou a dobrar o valor dos custos. O filme que lançou Indy nos cinemas, Os Caçadores da Arca Perdida, de 1981, teria custado US$ 18 milhões e faturado US$ 230,3 milhões. Uma bela diferença, não é mesmo? O segundo filme do herói, Indiana Jones e o Templo da Perdição, de 1984, custou US$ 28 milhões e faturou apenas nos States algo como US$ 175 milhões. E o último da “trilogia” – que agora já não é mais trilogia -, Indiana Jones e a Última Cruzada, de 1989, teria custado US$ 48 milhões e faturado, apenas em solo estadunidense, algo como US$ 197 milhões.
Claro que quanto mais se gasta em um filme, menor será o lucro. Mas, ainda custando muito, o último Indiana Jones faturou pouco comparado com outras produções milhonárias. Este ano, por exemplo, Batman – O Cavaleiro das Trevas, que teria custado os mesmos US$ 185 milhões de Indiana Jones, faturou até outubro nos Estados Unidos pouco mais de US$ 527,3 milhões. Duzentos e tantos milhões mais que o filme de Indiana – o que possibilitaria custear um outro filme do mesmo porte. A diferença não é pequena. Homem de Ferro, que custou pouco menos (aproximadamente US$ 140 milhões) faturou um pouco mais: US$ 318,2 milhões. Para um estreante no cinema, Homem de Ferro se saiu melhor que a “lenda” Indiana Jones. Se eu fosse da equipe do filme, estaria chateada. 🙂
Na questão de notas, o filme de Indy também não foi muito bem. Os usuários do site IMDb conferiram a nota 6,9 para o filme, enquanto que os críticos que tem textos publicados no site Rotten Tomatoes dedicaram 184 críticas positivas e 57 negativas para o filme – acho que desta vez estou mais “do lado” do povão que dos críticos. 😉
Lendo a respeito do novo Indiana Jones, encontrei uma entrevista em que George Lucas comenta que pensa em produzir um quinto filme do herói… e que o verdadeiro protagonista seria Mutt. Pois sim… meu medo de que eles quisessem transformar o garoto no “herdeiro” do herói – que, obviamente, só pode ser interpretado por Harrison Ford – para novos filmes se confirmou. Que pena! Pelo visto realmente querem aposentar Indy.
Ainda que o filme deixe a impressão que o tempo de Indiana Jones passou, eu não sou partidária dessa idéia. Assim como não passou o tempo de James Bond – o personagem em quem George Lucas se inspirou para criar Indy. O que falta é realmente mentes criativas e um pouco mais de ousadia para trazer estes personagens ao cinema com histórias interessantes.
Em se tratando de prêmios, Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull foi indicado até agora a seis deles, ganhando até agora apenas o de melhor ator em filmes de ação/aventura para o jovem Shia LaBeouf na escolha do público do Teen Choice Awards.
CONCLUSÃO: A volta tão esperada do professor e arqueólogo aventureiro Indiana Jones demorou 19 anos para acontecer e acabou, depois de tanto tempo de espera, sendo apenas mais um filme de entretenimento. O roteiro deixa a desejar – e até a direção de Steven Spielberg se mostra pouco inventiva. Existem bons momentos no filme, uma ou outra perseguição bacana e várias referências aos filmes anteriores. Mas isso é tudo. Como passatempo, ok. Mas é uma pena que o filme não honre a trajetória do personagem – para mim, acaba sendo o mais fraco dos quatro filmes lançados com Indy até agora.
2 respostas em “Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull – Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal”
Dessa vez serei breve! hehehe
Achei que ainda é Indiana Jones. Envelhecido, mas é. Tem suas cenas engraçadas e cenas à lá “Indy”. Mas não foi a mesma coisa. Acho que o ponto fraco foi o roteiro, mesmo. Porque os atores estavam bons. Achei uma pena que “mataram” o pai dele.
Enfim, valeu como entretenimento, não mais do que isso.
Obs: Até o mês passado eu nunca tinha ouvido falar em Shia LaBeouf. (eu não assisti Transformers). Agora, eu assisti na mesma semana, quase na seqüência Indiana Jones, Disturbia (tv à cabo) e Holes (Corujão, na Globo) e tudo isso sem querer! hahaha Acho que o menino tá ascendendo, ein? ahhaah
CurtirCurtir
Oi Isa!!
Que ótimo “ver” você por aqui mais uma vez. E não te preocupe sobre o tamanho dos comentários, viu? Até porque eu não me importo com o tamanho dos meus textos… hehehehehehehehe
Pois então… ainda é Indiana Jones, nisso tens razão. Claro que o filme tem momentos muito bons, sacadas interessantes – especialmente quando eles bricam com o “ícone” Indiana Jones -, mas no geral, achei o roteiro menos interessante do que filmes anteriores.
Harrison Ford impressiona pela energia e pelo entusiasmo em sua interpretação. Aos 66 anos ele mostra que realmente pode fazer “de um tudo”. 🙂
E admito: também não escutei muito sobre o Shia LaBeouf… diferente de você, não assisti a Transformers, nem Disturbia, nem Holes… Apenas a I, Robot, Constantine e A Guide to Recognizing Your Saints. A verdade é que estou um pouco desatualizada com o novo “queridinho” da América. Mas logo mais assistirei esse novo filme dele: Eagle Eye. Daí comento sobre o menino novamente…
Um grande beijo e até a próxima!
CurtirCurtir