Os programas musicais proliferaram nos últimos anos, e alguns demonstraram ser um verdadeiro deleite para quem gosta da boa música. Um dos talentos revelado por um destes programas, o Britains’s Got Talent, virou febre no Reino Unido e ganhou notoriedade. A história deste talento, Paul Potts, é contada no filme One Chance. A produção segue o humor inglês clássico e garante boas risadas. Envolvente, o filme é um bom passatempo.
A HISTÓRIA: Um grupo de garotos canta no coral da Igreja. Um deles se sobressai no gogó muito mais que os outros. Ele se dedica tanto que acaba desmaiando. Ao entrar no hospital, com nove anos de idade, Paul Pott (Christopher Bull aos 9, Ewan Austin aos 14, James Corden na vida adulta) parece ter rompido um tímpano. Acompanhando o menino, os pais dele, Yvonne (Julie Walters) e Roland (Colm Meaney).
A história começa em Port Talbot, cidade de Wales, em 1985. As vistas da cidade mostram como lá predomina o trabalho em fábricas. Na narração, Paul conta que sempre quis cantar, e que a mãe lhe dizia que ele tinha voz para a ópera. Mas logo no início fica claro que ele vive sofrendo bullying (perseguição de um bando de valentões da escola). Ainda assim, ele segue o sonho e chega muito mais longe que o esperado.
VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso só recomendo que continue a ler quem já assistiu a One Chance): Há pessoas que são “zoadas” a vida inteira. E mesmo assim, não desistem dos próprios sonhos. Esta é a parte bonita e que inspira deste filme.
Afinal, One Chance mostra claramente como o protagonista Paul Pott foi zoado a vida inteira – seja pelo nome, parecido com o do carrasco do Camboja, Pol Pot, seja por ele sempre ser gordinho ou, e principalmente, porque ele era o “estranho” que gostava de cantar ópera.
Mas o bacana do filme é que ele mostra como Paul Pott venceu todo o preconceito, dentro e fora de casa – o pai dele, Roland, teve dificuldade em aceitar aquele filho “estranho” -, e seguiu o próprio sonho. E como essa obstinação nunca é simples, ele passou por uma série de dificuldades no caminho. Sem inovar na história, até porque ela é quase um “conto de fadas” de um ganhador de um programa musical, o filme ganha o espectador pelo humor.
O roteiro de Justin Zackham destila o melhor estilo do humor inglês, com tiradas ótimas e muito humor atualmente considerado “politicamente incorreto”. Para os ingleses não é problema tirar sarro de aspectos físicos das pessoas – incluindo gordinhos – e nem dos estereótipos. O filme dirigido por David Frankel funciona por causa disso e também pelo trabalho dos atores, com destaque para o carisma e a sintonia dos protagonistas – James Corden e Alexandra Roach.
A linha narrativa de One Chance é clássica e linear, começando com Paul ainda criança e já soltando a voz no coral da Igreja, e acompanhando ele um pouco mais crescido, e ainda sendo perseguido, até chegar à vida adulta. Inevitável não lembrar de Billy Elliot assistindo a esta nova produção.
O filme de Stephen Daldry mergulha na história de um garoto que foi zoado, repreendido e que teve que enfrentar diversas barreiras para seguir a vocação e o sonho de fazer balé. O mesmo acontece com o protagonista de One Chance em relação à música erudita. Bacana ver a mais uma produção que segue a boa linha do filme de Daldry.
Desta forma, e sendo breve porque estou com pouco tempo para escrever esta crítica, posso afirmar que One Chance é um filme sem inovação, que segue a narrativa linear clássica, mas que tem graça pela narrativa com humor inglês e pelo talento dos intérpretes. E para quem gosta de música ou de programas de TV que valorizam este tipo de talento, esta produção tem um interesse especial, porque há uma boa trilha sonora durante todo o filme. Vale a pena.
NOTA: 9 8,7.
OBS DE PÉ DE PÁGINA: Caros leitores, vocês já devem ter percebido que o meu tempo ficou mais escasso. Mas quero ver se a partir desta próxima semana eu consigo deixar esta página mais atualizada. Este filme, assisti há duas semanas, mas só agora consegui escrever este texto rápido sobre ele. Veremos se da próxima vez sobra mais tempo. Obrigada para você que segue me visitando por aqui.
Os usuários do site IMDb deram a nota 6,7 para One Chance. Uma boa avaliação, levando em conta a média do site. Os críticos que tem os textos linkados no Rotten Tomatoes dedicaram 23 textos positivos e 11 negativos para a produção – garantindo aprovação de 68% e nota média de 5,5.
Quem não acompanhou a trajetória do Paul Potts original mas, como eu, ficou curioso(a) para saber como o “original” se apresentou no início do programa, neste vídeo no YouTube é possível matar a curiosidade. E neste outro link do site os finalistas do programa e o anúncio do vencedor. 🙂
Em outro momento falo dos destaques da ficha técnica da produção. Até mais! Agora consegui um tempinho, então vou falar sobre os aspectos técnicos do filme que me chamaram a atenção. Como dito anteriormente, a principal qualidade do filme é o humor inglês do roteiro de Justin Zackham. Esta característica chama mais a atenção que a direção de David Frankel, já que o realizador não ousa na linguagem em momento algum – diferente de outros nomes do cinema inglês que tem inovado na narrativa nos últimos anos.
Mesmo sem ousar, um acerto de Frankel é aproximar a câmera sempre dos atores. É assim que os intérpretes ganham destaque com entregas convincentes – especialmente o inglês James Corden, que está perto de completar 36 anos – no próximo dia 22 – e que tem 47 trabalhos no currículo como ator. Um nome a ser acompanhado e que vale ser visto em outras produções. Corden está bem acompanhado na produção, tendo como “pais” na trama os veteranos Julie Walters e Colm Meaney e a interessante Alexandra Roach, com 20 trabalhos no currículo.
Da parte técnica do filme, gostei da direção de fotografia de Florian Ballhaus, que sabe diferenciar bem os tempos narrativos da produção utilizando lentes diferenciadas e também, junto com o diretor Frankel, valoriza alguns dos belos cenários pelos quais a trama passa – especialmente Veneza.
Importante também a condução da trilha sonora de Theodore Shapiro, assim como a edição de Wendy Greene Bricmont.
One Chance estreou em setembro de 2013 no Festival Internacional de Cinema de Toronto. Depois, o filme passaria ainda por outros sete festivais. Nesta trajetória ele recebeu um prêmio e foi indicado a outros quatro – incluindo o Globo de Ouro de Melhor Canção Original para Jack Antonoff e Taylor Swift pela música Sweeter than Fiction. O único prêmio que ele recebeu foi o dado pela audiência para David Frankel no Festival Internacional de Cinema de Chicago.
Do elenco de apoio, merece uma menção a atriz Valeria Bilello como Alessandra, com quem Paul faz um dueto em Veneza; e Mackenzie Crook como Braddon, o melhor amigo do protagonista e chefe dele na loja que vende celulares. Stanley Townsend se esforça como Luciano Pavarotti, ídolo supremo de Paul, mas a versão acaba ficando caricatura demais.
One Chance foi rodado quase totalmente no Reino Unido – em locais como Londres, Wales e Surrey -, mas teve algumas sequências produzidas também em Veneza.
Na trilha sonora, peças clássicas de Wolfgang Amadeus Mozart, Giacomo Puccini, Ruggero Leoncavallo, Frederick Chopin e Giuseppe Verdi. Mas predomina, sem dúvida, entre estes compositores, o trabalho de Puccini.
CONCLUSÃO: O cinema inglês normalmente vale o ingresso pelo estilo do roteiro e do humor típico daquela cultura. One Chance confirma a regra. O filme rende algumas boas risadas, ainda que a maioria delas seja bem previsível. Mas o roteiro e os atores principais conseguem envolver bem o espectador em uma história que lembra muito outro filme: Billy Elliot. Enquanto no filme de Stephen Daldry o nosso “herói inusitado” era um garoto que queria fazer balé a qualquer custo, aqui o “peixinho fora do aquário” e/ou pária social é um rapaz gordinho que quer cantar ópera. Os dois filmes são envolventes, contagiam e dão bom exemplo do prêmio que pode vir com a obstinação e o talento. Divertido.