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Risttuules – In the Crosswind – Na Ventania


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Esqueça as imagens em movimento. O fundamental em Risttuules é o movimento nas imagens. Essa consideração parece estranha para um filme, mas o diferencial desta produção está em tratar grande parte da trama como uma espécie de “aprofundamento” de imagens estáticas, em fotografias históricas. A direção de fotografia e a estética deste filme são elementos fundamentais para a história. Além disso, Risttuules parte de uma leitura bastante humana e particular de um extermínio menos conhecido, o feito pelos russos. Importante, artístico e altamente indicado.

A HISTÓRIA: Som de vento forte, seguido de um texto que introduz a história. Na noite do dia 14 de junho de 1941, mais de 40 mil inocentes foram deportados da Estônia, Letônia e Lituânia. O objetivo da operação secreta, ordenada pelo ditador russo Stalin, era a limpeza étnica dos povos nativos dos Países Bálticos. Entre estes milhares de deportados pela invasão russa estava Erna Tamm, cujas cartas da Sibéria inspiraram a história contada no filme. Na sequência, começamos a mergulhar na narrativa de Erna Tamm (Laura Peterson) em cartas que ela escreveu para o marido, Heldur (Tarmo Song).

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Risttuules): Fiquei muito surpresa com esta produção. Não apenas a temática do filme é importante, mas especialmente a forma com que esta história é contada torna a produção especial. Recentemente comentei por aqui o ganhador do Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira deste ano e vencedor de diversos outros prêmios, o elogiadíssimo e muito interessante Saul Fia.

Aquele filme, assim como este, trata do Holocausto. Mas o extermínio de Saul Fia é aquele conhecido por qualquer estudante mundo afora. O Holocausto nazista, tão debatido e tratado em diversas produções, é o tema de Saul Fia. Risttuules, por outro lado, fala de um outro Holocausto, bem menos conhecido e abordado no cinema e fora dele, que é o extermínio de milhões de pessoas pelo regime de Stálin com o gulag. Achei esta matéria da Superinteressante que ajuda a dimensionar aquele absurdo histórico até hoje pouco abordado.

Então, por um lado, Saul Fia tinha como principal desafio contar uma história bem conhecida e debatida de forma diferente. Como comento na crítica sobre o filme, o diretor László Nemes consegue fazer isso com maestria, usando também uma técnica diferenciada que imprime um novo ponto de vista para a história e uma narrativa angustiante. O diretor Martti Helde, que também é o roteirista de Risttuules – ele assina o texto junto com Liis Nimik – tinha a seu favor o pouco conhecimento da maioria das pessoas sobre o Holocausto comunista.

Então a novidade da história de Risttuules, naturalmente, já é um atrativo da produção. Mas isso não basta para Helde que, a exemplo de Nemes, mas de forma muito diferente e muito mais artística, nos apresenta também uma técnica muito interessante nesta produção. Enquanto em Saul Fia a câmara quase sempre colada no protagonista e a movimentação constante, muitas vezes embalada mais pelo som do que pela imagem clara do que está acontecendo, provoca aflição no espectador, em Risttuules o diretor subverte a própria lógica do cinema.

Saul Fia é câmera em movimento quase o tempo inteiro. Cinema puro. Risttuules é cinema mas, principalmente, uma reflexão sobre o movimento e a cena estática. Um filme muito mais artístico, que sabe valorizar e dar significo para as imagens com movimento e, principalmente, mergulhar na significação de fotografias vistas em perspectiva e profundidade.

(SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). É muito interessante acompanhar a narrativa imaginada por Helde. Antes de Erna, Heldur e Eliide virarem prisioneiros dos russos, existe movimento nas cenas, o que representa a vida. Depois que eles são levados de casa e durante todo o tempo em que a família fica separada e vira prisioneira, a narrativa é da câmera (em última análise, o olhar do espectador) “flutuando” entre as cenas estáticas – é como se aquelas imagens estivessem congeladas, paradas no tempo e sem vida.

O efeito, ao menos para mim, foi impressionante. Ao mesmo tempo que você faz essa análise que eu comentei pouco a pouco, nas primeiras sequências em que vemos a câmera “caminhando” por atores e atrizes paralisados em cenas estáticas – mas com pequenas variações conforme a ação vai se desenrolando – nos imaginamos “mergulhando” em fotos históricas. Lembrei de tantas imagens de guerra, migração e conflito que eu já vi e pelo qual grandes grupos já passaram, muitas delas em preto e branco, como este filme, e me imaginei tendo a chance de mergulhar naquelas fotografias e ver de perto rostos, emoções, gestos e agressões.

Impressionante como a fotografia preto e branco, especialmente com aquele deslizar da câmera de Helde com o trabalho do diretor de fotografia Erik Põllumaa, nos leva pelas mãos como se estivéssemos vendo as cenas reais do que aconteceu. Nos sentimos praticamente em um documentário. Grande trabalho da equipe envolvida neste projeto, com uma entrega impressionante dos atores e um olhar fundamental do diretor e do diretor de fotografia. Certo que a inovação técnica aqui pode ser menos “revolucionária” que a feita por Nemes em Saul Fia, mas igualmente me impressionou o trabalho visual e a técnica dos realizadores de Risttuules.

Curioso que apesar de grande parte da história estar focada naquele jogo de deslizar de câmera entre imagens estáticas, a forma com que a lente captura as ações congeladas, a expressão dos atores e a dinâmica das cenas, em certo momento focando um detalhe, em outro imergindo em outro ângulo, torna a narrativa sempre fluída. Muito interessante. Não lembro de ter visto outro filme em que a técnica de filmagem e a ruptura do padrão cinematográfico fosse tão significativas.

Mas além da parte técnica, achei interessante como o roteiro de Helde e Nimik são fidedignos ao material original. Toda a narrativa da produção reproduz as cartas da protagonista, escritas por ela para o marido que ela não sabia se um dia iria reencontrar. Através do que ela nos conta, sabemos como era o campo de trabalho em que ela viveu e de que forma ela perdeu a filha única do casal. No final, além das cartas de Erna, temos a carta que Heldur escreveu para ela.

Fora estas cartas, o filme “adiciona” apenas o texto de introdução e o que conclui a história – e que ajuda o espectador menos avisado a compreender o contexto histórico e os efeitos do holocausto comunista – e alguns áudios que reproduzem comunicados históricos da época. Graças a essa escolha dos roteiristas, Risttuules é um filme conciso, direto, que não “floreia” nenhum acontecimento. O roteiro apenas reforça aquela ideia que o espectador pode ter de que esta produção é quase um documentário. Uma forma muito diferenciada, sem dúvida, de dramatizar e reavivar fatos históricos.

Fiquei arrepiada com esta produção. Achei ela muito honesta na forma com que a narrativa é contada e, analisando pela parte técnica, considero um filme bastante inovador. Além de valorizar o cinema, Risttuules homenageia a fotografia. A exemplo de Saul Fia, nesta produção os sons também são fundamentais – e, mais do que no filme de Nemes, aqui joga um papel-chave a trilha sonora.

Tudo funciona muito bem neste filme, com cada detalhe pensando, me parece, à exaustão. Grande trabalho técnico e também grande trabalho dos atores. Para o meu gosto, este filme é muito mais inovador do que qualquer um dos trabalhos recentes e premiados de Alejandro González Iñarritu. Para citar apenas um exemplo. Pena que jamais o Oscar premiaria m filme como este – afinal, ele é “artístico” demais para o gosto da maioria, e isso foge do foco da maioria das premiações do “cinemão”.

Risttuules, desta forma, acerta não apenas na narrativa, sem floreios ou penduricalhos, mas principalmente na técnica, apresentando um trabalho complexo de câmera sempre em movimento em imagens “estáticas” que exige, sem dúvida, um grande trabalho de preparo de cada detalhe e da equipe envolvida. Em pouquíssimas cenas é possível ver algum ator ou atriz piscando em cenas estáticas – eu vi isso em apenas duas ocasiões.

E os detalhes sutis, especialmente em ambientes fechados, de pequenas mudanças de cena após a câmera deslizar pelos personagens, só revela o trabalho minucioso e criativo de Martti Helde. Marcante e muito indicado, destas produções que vamos lembrar por muito tempo. Faltou pouco para a produção não ser perfeita – apesar de curto, com cerca de 1h20 de duração, achei que o filme tem algumas cenas um tanto repetitivas. A escolha de manter o roteiro focado apenas nas cartas dos personagens também não ajuda a aprofundar no cotidiano deles, deixando lacunas importantes na história. Pequenos detalhes que não fazem o filme perder o seu impacto ou inovação.

NOTA: 9,8.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: Eis um filme que precisa ser descoberto. E isso não é a coisa mais simples de acontecer. Primeiro porque Risttuules tem toda a “cara de festival”, ou seja, é uma destas produções que apenas os amantes mesmo do cinema provavelmente vão encontrar. Depois que é uma produção com uma narrativa que foge totalmente do padrão “filme de ação e/ou de heróis”, estas produções tão em alta ultimamente e “arrasa-quarteirão”. Quem não viu muitos filmes até hoje e nem se dá ao prazer de ver algo diferenciado dificilmente vai “aguentar” Risttuules. O que é uma pena, porque é importante “pensar fora da caixa” também em relação ao cinema.

Francamente, acho este filme muito recomendado não apenas para quem gosta de cinema, mas especialmente para quem admira e ama a fotografia. Que filme impressionante neste sentido! O jogo de sombra e luz das distintas cenas, o que é a essência das imagens (fotografia e cinema em suas origens), joga um papel fundamental nesta produção. Um verdadeiro deleite para quem gosta de admirar a arte apreciada com os olhos.

Os atores envolvidos neste projeto são fantásticos. A maioria não “interpreta” os seus papéis como estamos acostumados. Mas a expressão que eles ostentam, assim como as suas “ações imóveis”, são de arrepiar. Poucos nomes estão listados nos créditos do filme. Por isso vou citar apenas os que aparecem na lista, apesar de fazer a observação de que todos os envolvidos fazem um trabalho marcante.

Palmas especiais, pois, para a protagonista vivida por Laura Peterson, assim como para Tarmo Song, que interpreta a Heldur. Eles vivem uma linda e diferenciada história de amor. Os outros nomes que podem ser ressaltados são de Mirt Preegel como Eliide, filha do casal; Ingrid Isotamm, que interpreta Hermiine, uma das melhores amigas de Erna no campo de trabalhos forçados; e de Einar Hillep, como o chefe do campo de Kolhkoz.

Da parte técnica do filme, um dos pontos fortes e mais diferenciados da produção, os elogios principais vão para o diretor Martti Helde, que imaginou esta produção desta forma. Impressionante a visão diferenciada dele. Grande trabalho orquestrando cada cena e imaginando elas em detalhes e no conjunto da obra. Bravo, bravíssimo!!!

Depois, merece aplausos especiais o diretor de fotografia Erik Põllumaa, em um trabalho dinâmico e muito preciso em cada cena. A equipe de apoio do diretor também foi fundamental, com nove nomes envolvidos na segunda unidade de direção e como assistentes de direção. Também foram fundamentais na realização de Risttuules os 33 profissionais envolvidos com o departamento de câmera e elétrico. Eles é que executaram a visão do diretor e do diretor de fotografia, sustentando as câmeras e cuidando para que as imagens fossem captadas como deveriam. Trabalho de tirar o chapéu.

Agora que me dei conta de que eu fiquei tão fascinada pela técnica e pela narrativa de Risttuules que comentei pouco sobre a história. Bem, ainda há tempo para isso. 😉 (SPOILER – não leia se você ainda não assistiu ao filme). Este filme foca a história particular de uma família para contar o drama que milhares viveram durante o gulag. Assim como em tantas obras literárias e histórias cinematográficas, partimos do particular para contar sobre o coletivo. Além de falar do holocausto comunista, esta produção é uma grande história de amor. Ela fala como uma pessoa pode viver de memórias boas enquanto luta para sobreviver apesar da morte da filha e da distância do marido que ela não sabe se está vivo ou como está. Com o passar do tempo, as pessoas se adaptam às piores situações mas, ainda assim, os dias bons e anteriores ao holocausto não saem da cabeça. Estas memórias é que dão o suporte para todo o inaceitável, para todos os abusos e violências. Este filme também trata de liberdade e da defesa de um lar, mesmo quando tudo parece nos tirar estes direitos. Uma história realmente impressionante, especialmente por não ser nada óbvia.

Da parte técnica do filme, eu ainda quero destacar o excelente trabalho de edição de Liis Nimik e de Tanel Toomsalu; a trilha sonora de Pärt Uusberg; o design de produção de Reet Brandt; os figurinos de Anna-Liisa Liiver; o departamento de arte de Pille-Maris Arro e Kristjan Suits; eo departamento de som com cinco profissionais que fazem um trabalho fantástico e fundamental e que são coordenados por diretor de som Janne Laine.

Risttuules estreou em março de 2014 na Estônia. Em outubro do mesmo ano o filme estreou no primeiro festival, o Festival de Cinema de Warsaw. Depois, o filme participaria, ainda, de outros nove festivais de cinema. Nesta trajetória a produção conquistou nove prêmios e foi indicado a outros seis. Entre os que recebeu, destaque para o prêmio de Melhor Filme pela escolha do público no Festival de Cinema de Göteborg; o Special Artistic Achievement no Festival de Cinema de Thessaloniki; o Prêmio Ecumênico do Júri do Festival Internacional de Cinema de Warsaw; e o prêmio de Melhor Novo Diretor para Martti Helde no Festival Internacional de Cinema de Beijing.

Aliás, vale comentar: Risttuules é o primeiro longa dirigido por Martti Helde. Aos 28 anos – o diretor completa 29 no dia 23 de agosto -, Helde dirigiu dois curtas antes deste filme e, depois de lançar Risttuules, lançou outro curta e está, atualmente, na pré-produção de outro longa-metragem. Eis um realizador que merece ser acompanhado.

Produção 100% estoniana, Risttuules foi rodado na estação de trem Kabala, na cidade de Viru-Kabala, e no Centro de Treinamento Tapa Army, na cidade de Tapa, onde é “simulado” o campo de trabalhos forçados na Sibéria. As duas cidades ficam na Estônia, país que faz fronteira com a Rússia e a Finlândia e que tem cerca de 1,36 milhão de habitantes. Até 1721 o país pertencia à Suécia, mas naquele ano ele passou para o império russo. Aqui estão as informações principais sobre este pequeno país que faz parte da Comunidade Europeia.

Os usuários do site IMDb deram a nota 7,8 para Risttuules. Uma bela avaliação se levarmos em conta o padrão de notas do site. Merecido.

CONCLUSÃO: Um dos filmes mais inovadores na técnica narrativa que eu vi nos últimos tempos. Verdade que recentemente eu comentei Saul Fia, que também é inovador, mas este Risttuules acaba sendo até mais ousado na técnica. Saul Fia é mais profundo na história e na reflexão, mas fiquei encantada com o caráter artístico deste Risttuules. Curioso também assisti-lo depois de me debruçar sobre um filme inovador de um século atrás. O cinema é, sempre foi e continua sendo uma grande escola. Risttuules contribui com as suas colheradas de arte e de inovação neste sentido. Vale ser visto, mas com paciência e sabendo que ele foge bastante da ideia que normalmente se espera do desenvolvimento de um filme. Mas se arrisque, porque vale muito a experiência.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 20 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing e, atualmente, atuo como professora do curso de Jornalismo da FURB (Universidade Regional de Blumenau).

Uma resposta em “Risttuules – In the Crosswind – Na Ventania”

Embora o uso técnico das atuações estáticas não seja uma novidade no cinema, concordo que sua utilização combinada com uma mixagem de som aliada com uma trilha sonora trouxe muitos aspectos de inovação.

A minha grande duvida a respeito deste filme, porém, é (e sempre é em filmes que contam ou recontam a historia) em saber até que ponto ele foi fiel aos fatos. Contar ou até mesmo recontar a historia do holocausto nazista é, do ponto de vista ideológico, muito mais fácil. Não há duvidas e, portanto, existe um consenso sobre o que aconteceu e em que dimensões se sucederam as barbáries nazista. Não há falsificações históricas. Não há, digamos, disputa ideológica em defesa de uma legado nazista. Todo mundo sabe e de certa forma compreende que o nazismo foi um mal para humanidade.

Já o mesmo não acontece com o comunismo. Só o fato de não se ter quase nenhuma abordagem sobre este assunto já é o suficiente para me soar o alarme. Por que existem milhares de leituras e releituras sobre o holocausto nazista e quase nenhuma sobre o comunista? O que há de diferença entre os dois? Isto é verdade? Essas são pergunta que ficaram em minha mente depois da projeção.

Com toda certeza Risttuules é um filme artístico, belíssimo, poético e que transmite em seus propósitos senso de honestidade. Acontece que as vezes podemos ser muito honestos em contar uma historia enviesadas de inverdades. Veja, não estou querendo dizer que o filme é mentiroso. Não. A minha preocupação é de que sua historia não seja bem a verdade, entende?

Logo depois que terminei de assistir ao filme fui fazer uma busca na internet para me inteirar mais sobre o assunto, saber o que poderia ou não ser verdade. E para minha surpresa não encontrei quase nada. E o que encontrei não são de fontes confiáveis.

Portanto, apesar de ter adorado ao filme e com toda certeza recomenda-lo, saio com a sensação de não saber o que poderia ou não ser realmente verdade.

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