Um filme bobinho mas com algumas sacadas bastante criativas sobre uma fase da vida já bastante explorada pelo cinema. Girl Asleep trata da história de uma garota que está perto de completar 15 anos e que acaba de mudar de cidade e de colégio. Explorando a fantasia e boa parte do estilo dos anos 1970, esta produção fala sobre o amadurecimento e as “pazes” que todos nós deveríamos fazer com a nossa “criança” interior. Bonitinho, criativo, mas apenas mediano.
A HISTÓRIA: Primeiro dia na nova escola. Sentada em um banco e com uniforme escolar, Greta (Bethany Whitmore) está cercada de diferentes tipos de estudantes. Atrás dela passa o time de basquete, que está treinando, e um trio de meninas conversa. Uma menina chega perto de Greta e aponta para o origami que ela tem sobre as pernas, sem falar nada. Greta entrega o origami para ela, e Elliott (Harrison Feldman) se aproxima para puxar conversa. Ele quer ser amigo da aluna nova. Greta deve se adaptar mais uma vez, perto de fazer o aniversário de 15 anos e de ter uma festa surpresa.
VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Girl Asleep): Este filme é todo estiloso. Uma das características fortes da produção é o uso de muitas cores e de uma fotografia marcante, assim como uma visível homenagem para os anos 1970. Guardadas as devidas proporções, Girl Asleep me fez lembrar do excelente Little Miss Sunshine.
Digo guardadas as devidas proporções porque o roteiro de Little Miss Sunshine é bem mais interessante, envolvente e bem acabado, com diversas camadas de leitura, do que este Girl Asleep. O que os dois filmes tem em comum é o estilo muito peculiar do visual das duas produções e uma certa coleção de personagens “estranhos”. Ainda que em Girl Asleep os personagens sejam bem mais simples e caricaturais do que o filme dos diretores Jonathan Dayton e Valerie Faris.
A narrativa de Girl Asleep achei um bocado simplória. Basicamente o filme explora os sentimentos e a visão de uma jovem que está perto de completar 15 anos e que tem ao seu redor uma série de personagens muito característicos. O filme todo, na verdade, parece a lembrança “floreada” de alguém que pensa no seu próprio passado. As cores são mais vibrantes do que na realidade, e mesmo os personagens são bastante “simples”, sem as diversas camadas que normalmente eles teriam.
Ou seja, é como se estivéssemos assistindo às lembranças de Greta de sua própria juventude. Apesar de ser claramente dividido em duas partes, entre a realidade de Greta e o sonho que ela tem embalado por sua imaginação e a caixinha de música que ganhou da mãe, o filme todo parece uma grande fantasia. Se os personagens são “ligeiros”, pouco aprofundados e quase todos caricaturais, a narrativa também é bastante simples. Sabemos por onde a história vai do início até o fim.
Girl Asleep explora uma fase da vida de muitas pessoas que pode ser bastante traumática. Greta é, como tantas outras adolescentes, a garota que vive os desafios de sua idade com o agravante de estar começando em uma nova escola. Então ela deve começar o processo de conhecer pessoas e fazer novos amigos ao mesmo tempo em que “enfrenta” o trio de garotas que se sentem as “maiorais” do pedaço. Em casa, ela tem duas personalidades muito diferentes como pai e mãe.
Enquanto o pai Conrad (Matthew Whittet) é o piadista e o sujeito que está sempre presente e preocupado com Greta e a irmã Genevieve (Imogen Archer), a mãe das garotas, Janet (Amber McMahon) parece estar sofrendo um pouco a crise da meia idade. Ela fica ouriçada com o novo namorado da filha mais velha e também com o novo amigo de Greta. Além disso, Janet e Conrad tentam disfarçar os desentendimentos e discussões, mas Greta está começando a deixar a “idade da inocência” e passa a perceber as entrelinhas do que acontece dentro e fora de casa.
Girl Asleep trata com franqueza e com um pouco de tintas exageradas esta fase de “passagem” da infância para a vida adulta simbolizada no aniversário de 15 anos da protagonista. A maioria já passou por esta fase, então não é difícil ter alguma lembrança engraçada ao ver a história de Greta. A narrativa é simples e curta, e os personagens são um tanto simplórios e/ou caricaturais, mas o estilo do filme é interessante. Na verdade, a sua melhor qualidade.
A diretora Rosemary Myers explora bastante os closes e a câmera próxima dos personagens, assim como trabalha todos os elementos em cena, inclusive explorando os cenários para marcar o tempo da narrativa. Cada imagem que vemos parece ter sido pensado como um quadro, com a câmera fixa em diversos momentos do filme e pouca dinâmica nas filmagens. É como se esta produção tivesse sido feita em uma época em que o cinema não explorasse tanto a “câmera na mão” como hoje em dia.
Os cenários, o figurino e a trilha sonora, principalmente, são elementos importantíssimos para a história. Como eu disse, mais que conteúdo, Girl Asleep tem como o seu forte um estilo bem marcado. É um filme bonitinho, estiloso, mas que carece de um roteiro mais interessante. Talvez interesse mais para o público jovem, adolescente, do que para adultos. Meu problema, talvez, seja ter mais de 15 anos. 😉 Como cinema, ele é tecnicamente bem feito e tem algumas boas sacadas. Mas é só. E é pouco.
NOTA: 7.
OBS DE PÉ DE PÁGINA: Esta produção me pareceu um daqueles filmes de TCC (trabalho de conclusão de curso) de uma faculdade de Cinema. Ou seja, bem feito, mas ainda sem a qualidade de uma obra maturada e pensada para o cinema comercial. Como Girl Asleep não tem personagens ou mesmo uma história muito complexa, achei a duração do filme, de apenas 77 minutos – sim, uma hora e 17 minutos – bastante adequada. Realmente não precisávamos de mais tempo para o que foi apresentado.
Girl Asleep marca a estreia na direção de Rosemary Myers. A diretora já tem uma boa característica técnica, mas certamente ela precisa de um roteiro melhor para mostrar todo o seu potencial. O roteiro desta produção é assinado pelo ator australiano Matthew Whittet, de 42 anos e que interpreta, no filme, o pai da protagonista. Este é o primeiro roteiro assinado por ele, que tem 22 filmes no currículo como ator.
Esta produção está centrada na personagem de Greta, interpretada com muita sensibilidade e carisma pela atriz Bethany Whitmore. Ela é o ponto forte do filme, assim como o conjunto de aspectos técnicos da produção. Do elenco, ainda vale citar o bom trabalho de Harrison Feldman como Elliott, o novo melhor amigo de Greta; Amber McMahon como Janet e a Mulher de Gelo; Matthew Whittet como Conrad e o Homem Abjeto; Imogen Archer como Genevieve, irmã mais velha de Greta; Eamon Farren como Adam, namorado de Genevieve e também Benoit Tremet; Tilda Cobham-Hervey como The Huldra; Maiah Stewardson como Jade, a garota popular e maldosa que lidera o trio composto ainda por Amber, interpretada por Fiona Dawson, e por Sapphire, interpretada por Grace Dawson.
Alguns aspectos técnicos são o ponto forte de Girl Asleep. Entre outros pontos, destaco a direção de fotografia vivaz de Andrew Commis; a trilha sonora deliciosa de Harry Covill; a edição bem feita de Karryn de Cinque; e uma série de elementos fundamental para a história ter a “graça” que ela tem: o design de produção de Jonathon Oxlade; a direção de arte de Erica Brien; os figurinos de Jonathon Oxlade; a maquiagem de Catherine Biggs; e o departamento de arte com oito profissionais.
Girl Asleep teria custado 1,5 milhão de dólares australianos e faturado, nos Estados Unidos, quase US$ 60,3 mil. Não há informações sobre o resultado do filme nas bilheterias de outros países.
Esta produção foi totalmente rodada no Sul da Austrália. E o filme é, também, uma produção 100% australiana.
Girl Asleep ganhou cinco prêmios e foi indicado a outros 10. Entre os que recebeu, destaque para o de Melhor Filme pela escolha do público no Festival de Cinema de Adelaide; o de Melhor Figurino no Prêmio da Academia de Artes do Cinema e da Televisão Australiana; o de Melhor Filme Australiano no Festival Internacional de Cinema de Melbourne; e dois prêmios de Melhor Filme dados pelo Futurewave Youth Jury Award e pelo Grande Prêmio do Júri do Festival Internacional de Cinema de Seattle.
Os usuários do site IMDb deram a nota 6,4 para Girl Asleep, enquanto os críticos que tem os seus textos linkados no Rotten Tomatoes dedicaram 27 críticas positivas e seis negativas para a produção, o que lhe garante uma aprovação de 82% e uma nota média de 6,9.
CONCLUSÃO: Para muitas garotas os 15 anos são um marco da passagem da infância para a vida adulta. Até hoje há quem sonhe com bailes de debutantes, por exemplo – algo tão “atual” quanto a realeza, não é mesmo? Ainda que as expectativas pela chegada dos 15 anos tenham mudado muito com o tempo, alguns aspectos deste período permanecem igual desde sempre, como a “estranheza” com o que a pessoa tinha como certo na vida e com o que está começando a surgir.
É uma época complicada, para muitos, e que tem alguns de seus elementos bem explorados por este filme. Apesar de bem feito e de divertido, Girl Asleep me pareceu um tanto simplório e “mais do mesmo”. Talvez seja um filme mais indicado mesmo para uma “sessão da tarde”, nada além disso.
Uma resposta em “Girl Asleep – O Sonho de Greta”
Eu achei o filme bastante lúdico. A fotografia e todo o estilo do filme me lembrou Wes Anderson: é surreal, estranho e um cotidiano “propositalmente forçado”.
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