Um filme bastante violento, com um bocado de pancadaria e recheado de palavrões. Mile 22 segue a nova linha de encarar a espionagem no mundo “pós-moderno”, em que FBI, CIA, antiga-KGB e afins não se comportam mais como antigamente. Francamente? Homeland, a série de TV, trata disso de uma forma mais interessante. Mile 22 começa até que bem, com uma operação interessante de uma força especial dos Estados Unidos, mas, depois, o filme cai em um jogo previsível. Algumas cenas de luta, especialmente do ator Iko Uwais, chamam a atenção. Também é interessante ver à pessoas como Lauren Cohan e Ronda Rousey em cena. Mas isso é tudo. Apenas mediano.
A HISTÓRIA: Um carro trafega calmamente em uma rua residencial. Algumas pessoas caminham enquanto um grupo de crianças brinca. Logo depois de parar, Rook (Billy Smith) pergunta para Alice (Lauren Cohan) se eles estão no endereço certo. Ela acha que não, porque diz que no e-mail falaram em uma casa branca, e aquela residência é azul. Enquanto ela pede para Rook ver no e-mail em que o endereço era citado, ele comenta que é mais fácil eles tocarem a campainha e perguntarem. Enquanto isso, nos fundos, James Silva (Mark Wahlberg) lidera uma equipe que vai invadir o local. Essa ação, que não resulta exatamente exitosa, terá ainda diversos desdobramentos.
VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Mile 22): Assisti à esta produção há algumas semanas já. Quem acompanha a página do blog no Facebook sabe a razão de eu não ter publicado este texto antes. Fiquei algumas semanas sem computador em casa, e aí não consegui terminar a crítica que comecei lá atrás.
Como estou com outros três filmes para falar na sequência, vou resgatar aquela intenção de um tempo atrás de falar menos das produções, beleza? Serei bem objetiva, portanto, com este Mile 22. A introdução e a conclusão deste texto já falam tudo que eu gostaria. 😉 Mile 22 entra em uma onda mais recente de análise dos movimentos de espionagem e contraespionagem que seguem válidos no mundo.
A queda de braço entre as principais potências econômicas e militares mundiais não é feita apenas no plano dos embaixadores, tratados comerciais e das reuniões de OTAN e ONU. Muito da geopolítica mundial ocorre em outro plano, com ações “embaixo do pano” envolvendo agentes de diversas siglas e com diferentes métodos. Isso não é ficção, mas o que de fato segue acontecendo no mundo enquanto escrevo estas linhas (e você as lê).
O tema espionagem já rendeu diversos filmes e séries interessantes e continuará rendendo. Como comentei antes, Homeland, para mim, é o expoente máximo desse tipo de produção. Primeiro, porque a série tem diversas camadas de leitura e se revela bastante complexa. Depois, porque tem excelentes atores em cena e uma busca por profundidade na apresentação dos personagens principais.
Feita esta introdução sobre o tema de Mile 22, vamos ao que interessa. Ao filme. 😉 Mile 22 começa bem, com um bairro comum e aparentemente “inocente” onde, na verdade, tanto os moradores de uma residência quanto o “casal” (que não é casal, na verdade) de visitantes são, na verdade, outras pessoas. Aquele início nos apresenta uma ideia interessante: o perigo pode estar morando ao lado.
Ataques terroristas nos Estados Unidos e em outros países nos mostram muito bem isso. Pessoas comuns, aparentemente, um belo dia se mostram extremistas e assassinos. Sob esta aura de medo e de incerteza é que Mile 22 se sustenta. Filmes no estilo James Bond já exploraram muito bem essa “licença para matar” que o protagonista desta produção gosta de pedir e de utilizar.
O que dá o tom para este filme é justamente aquela missão inicial. James Silva pede permissão para liquidar os inimigos, inclusive um jovem que estava ferido e desarmado. Essas ações serão determinantes para o restante da trama. A operação que a equipe faz é para achar uma certa quantidade de césio que está “perdida” e que poderá ser utilizada para um ataque em um – ou mais de um – centro urbano nos Estados Unidos.
A operação fracassa, ao menos inicialmente, no sentido de achar o césio. James Silva cobra Alice Kerr sobre qual teria sido a fonte dela de informação de que naquela casa eles encontrariam o césio. Ela disse que a fonte era segura, que se tratava de um policial que queria ajudar a desbaratar células terroristas. O tempo passa e um belo dia Li Noor (Iko Uwais) se prepara para uma missão. Ele queima a foto da filha e se concentra para começar a sua própria operação.
Li Noor dirige rapidamente até a embaixada americana na Indonésia e diz que tem o segredo da localização do césio. Essa informação está em um HD criptografado. Ele só passará a senha se os Estados Unidos lhe tirarem do país em segurança. Em seguida, o governo da Indonésia inicia uma ação de combate a essa tentativa de Li Noor receber asilo e ser tirado do país. Começa então o jogo de “gato e rato” entre os americanos e os seus inimigos.
Resumindo o filme desta maneira, não é difícil de perceber que a parte mais interessante da produção é a inicial, não é mesmo? Porque o restante, a história de “eu vou falar a senha do HD só depois que eu sair do país” e da perseguição por 22 milhas (cerca de 35 quilômetros) é bastante previsível, convenhamos. Depois daquela introdução da história, o “miolo” do filme acaba sendo os diferentes tipos de ataques e de confrontos envolvendo os indonésios e os americanos.
Em todo esse “miolo” da produção, as sequências acabam ficando um bocado repetitivas e cansativas. Quem acaba se destacando é o ator Iko Uwais que, junto com os seus dublês (acredito que ele deve ter tido alguns), protagonizou as cenas mais interessantes de lutas. Fora isso, temos a um protagonista e os seus atores “satélites” com personagens pouco desenvolvidos. E isso é tudo.
No final, descobrimos que uma pessoa pode não ser apenas agente duplo, mas agente triplo. (SPOILER – não leia se você ainda não assistiu ao filme). Aparentemente, o responsável pela contra-espionagem da Indonésia, Axel (Sam Medina), tinha muito medo do que Li Noor poderia contar sobre as operações do país – o que não deixa de ser um pouco um mistério, como Li Noor poderia saber tanto sendo apenas um “policial”. Mas, quem realmente estava por trás das ações de Noor eram os russos.
Sempre são eles, não é mesmo? Até essa saída acabou sendo um tanto óbvia. Mas nesse ponto Mile 22 me fez pensar. Realmente os russos devem se achar os defensores dos interesses globais ao trabalhar para que uma única nação (os Estados Unidos) não se sobreponha sozinha na geopolítica mundial. Por um lado, eles tem razão. Não é bom que país algum se sinta dono realmente de todas as cartas e dados dispostos em uma mesa.
Assim, Mile 22 é um filme que começa bem mas que, depois, cai em um lugar-comum, em uma trama previsível e com várias sequências de tiroteio e de lutas um bocado repetitivas. Bem realizado, o filme não chega a ser um desastre, mas também está muito longe de ser lembrado como uma referência do gênero. Pode ser considerado mediano, e olha lá.
NOTA: 6.
OBS DE PÉ DE PÁGINA: Peter Berg é um belo diretor. Faz um trabalho competente em Mile 22. Mas o que prejudica o filme mesmo é o roteiro fraquinho de Lea Carpenter, que se baseia na história de Graham Roland e dela mesma. O tema em si sempre será interessante, mas falta ao trabalho de Carpenter um pouco mais de desenvolvimento dos personagens e algumas pitadas de interesse espalhadas no meio da trama além de uma infindável perseguição e pancadaria.
Admito que gostei, em especial, de ver à atriz Lauren Cohan, mais conhecida por seu trabalho em The Walking Dead, em outro papel de protagonismo fora da série. Ela é uma boa atriz e poderá se dar bem além do seriado que ainda está no ar – e um tanto “perdido”, ao meu ver. Ela só não brilha mais no filme porque faltou para ela um roteiro melhor para trabalhar.
Além de Lauren Cohan, o destaque da produção é Iko Uwais. O ator tem o melhor papel e o melhor desempenho em cena. Está melhor que o verborrágico e um bocado confuso personagem de Mark Wahlberg – esse, apenas mediano. Também vale citar o bom trabalho – ainda que pequeno – da lutadora Ronda Rousey e de John Malkovich, ambos como parte da equipe de James Silva.
Em papéis menores e desempenhos mornos estão ainda Carlo Alban, Natasha Goubskaya, Sam Medina, Billy Smith, Emily Skeggs, entre outros que tem papel tão pouco significante que eu nem consegui localizar que ator interpreta qual papel. 😉
Entre os aspectos técnicos do filme, vale destacar a direção de fotografia de Jacques Jouffret; a edição de Melissa Lawson Cheung e de Colby Parker Jr.; a trilha sonora de Jeff Russo; o design de produção de Andrew Menzies; a direção de arte de Alex McCarroll e María Fernanda Muñoz; a decoração de set de Natalie Pope; os figurinos de Virginia Johnson; os efeitos visuais e o excelente trabalho do departamento de som – cada aspecto deste contando com dezenas de profissionais.
Mile 22 estreou no dia 16 de agosto de 2018 na Grécia, em Israel e em Cingapura. No Brasil, o filme estreou no dia 20 de setembro do mesmo ano. Em algum dia após a estreia por aqui que eu o assisti no cinema.
O final do filme dá a entender que ele poderá ter uma sequência. Durante o CinemaCon, em março de 2017, Mark Wahlberg e o diretor Peter Berg comentaram que pretendem fazer uma trilogia Mile 22. Espero que melhorem bastante o roteiro nos próximos ou que desistam da ideia.
Outra curiosidade sobre esta produção: apesar de parte da história se passar na Ásia, as cenas daquela região foram filmadas realmente na Colômbia. A razão para isso foi uma melhor segurança do elenco e da equipe técnica. Curioso, porque não faz muito tempo que filmes ambientados na Colômbia eram filmados no México pela mesma razão.
Os usuários do site IMDb deram a nota 6,1 para esta produção, enquanto que os críticos que tem os seus textos linkados no Rotten Tomatoes dedicaram 120 críticas negativas e 39 positivas para o filme – o que lhe dá uma aprovação de apenas 39% e uma nota média de 4,2. No site Metacritic, Mile 22 registra o “metascore” 38, fruto de 15 críticas negativas, 13 medianas e oito positivas.
Segundo o site Box Office Mojo, Mile 22 teria custado US$ 50 milhões e faturado, apenas nos Estados Unidos, US$ 36,1 milhões. Nos outros mercados em que o filme estreou, ele faturou outros US$ 23,8 milhões. Ou seja, na soma, Mile 22 teria feito cerca de US$ 59,9 milhões. O resultado ruim – não pagou os custos de distribuição e divulgação – poderá fazer Berg e Wahlberg rever as continuações do filme.
Mile 22 é uma produção 100% dos Estados Unidos. Por isso, esse filme passa a integrar uma lista de produções que atendem a uma votação feita aqui no blog e que pediam filmes deste país.
CONCLUSÃO: Um filme bem dirigido, com algumas cenas de ação – especialmente de luta – muito bem planejadas, Mile 22 só não consegue surpreender. Ok, no início, até ele consegue nos instigar com cenas rápidas e envolventes. Mas depois… caímos em uma perseguição que chega ao auge do maçante em tiroteios que parecem sem fim em um prédio residencial. Para contar o que conta, essa produção poderia ter 20 minutos a menos sem maiores problemas. Apesar de um pouco cansativo, é um filme que apresenta bons atores em personagens rasos. Você viveria sem esse filme tranquilamente mas, para um dia qualquer, pode ser um bom entretenimento. Tudo vai depender do seu gosto, evidentemente. Mas há filmes bem melhores no mercado, inclusive nesse gênero.
Uma resposta em “Mile 22 – 22 Milhas”
Filmes com muitos palavras não cai no gosto de famílias conservadoras, desvaloriza todo o filme…
Não sei se é a tradução do Brasil..mas deixa a desejar..
Ensinamos em casa nos filhos e família serem respeitosos e educados, aí se deparamos com os filmes modernos com tantos palavrões e sena de sexo..
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