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Dune: Part Two – Duna: Parte 2


Exploração, resistência, busca e controle pelo poder, mobilização através da fé. Todos esses elementos poderiam resumir uma parte importante da história da Humanidade, mas eles também resumem esse Dune: Part Two. Um filme um pouco mais longo do que deveria, que poderia também terminar a história em suas duas horas e meia sem termos que esperar a parte três, mas que certamente entra na lista das grandes produções do ano. Vai ser muito indicado ao Oscar 2025, com certeza. Tem muitas qualidades para isso.

A HISTÓRIA

Começa com a citação “O poder sobre a especiaria é o poder sobre tudo”. Em seguida, ouvimos a voz da Princesa Irulan (Florence Pugh) falando para o Diário Imperial, citando que o ano é 10191, e que aquele é o seu terceiro comentário. Enquanto homens incendiam cadáveres empilhados, Irulan afirma que a batalha por Arrakis “pegou todo mundo de surpresa”. Ela afirma que não houve testemunhas e que a operação Harkonnen foi executada durante a noite, sem aviso ou declaração de guerra. Pela manhã, ela segue, os Atreides não existiam mais. “Todos morreram na escuridão”, Irulan afirma. Em seguida, vemos ela jogando com o pai. Irulan comenta que ele não disse nada sobre isso tudo que aconteceu. E que o pai dela, o imperador (Christopher Walken), desde então não foi mais o mesmo, e nem ela.

Irulan comenta que para ela é difícil aceitar a “inércia” do pai, porque ela sabe que o imperador amava o duque Leto Atreides como a um filho. Em seguida, Irulan admite que o pai sempre foi guiado pela sede de poder. E que os Harkonnen, mais uma vez, fizeram o trabalho sujo por ele. Enquanto ouvimos esses comentários, vemos Beast Rabban (Dave Bautista) sendo “coroado” pelo Barão Harkonnen (Stellan Skarsgard), frente a um exército gigantesco. Irulan finaliza sua narração dizendo que nas sombras de Arrakis existem muitos segredos, mas que o mais sombrio de todos pode permanecer: o fim da casa Atreides.

VOLTANDO À CRÍTICA

(SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes de Dune: Part Two, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu ao filme): Interessante essa produção começar com a Princesa Irulan relembrando sobre a carnificina provocada pelos Harkonnen, pela matança causada por cobiça e pelo controle da especiaria, e ela comentar que talvez o segredo mais sombrio de Arrakis, que seria a morte de quase todos os Atreides, talvez se prolongar e perdurar. Porque é justamente esse segredo que cai por terra após os acontecimentos mostrados por esse filme.

Ainda assim, como aprendemos com a história da própria Humanidade, crimes de guerra, chacinas e mortes injustas nem sempre são vistas desta forma por todos. Muito pelo contrário. Como acontece na vida real, em Dune também o que interessa mais é o desejo de poder e de controle de cada nação e de seus líderes. Então, no fim das contas, a injustiça feita contra os Atreides vem à tona sim, não fica escondida, mas nem por isso a vida do “herói” Paul (Timothée Chalamet) se torna mais fácil.

Bem, minha gente, a exemplo de Dune (com crítica neste link), eu demorei um pouco para assistir a esse filme. Sei que ele estreou há meses atrás. Mas diferente do capítulo 1 desta trama, desta vez eu demorei um pouco menos para assistir ao filme – o delay foi menor. E a razão para eu encarar Dune: Part Two agora, devo admitir, é uma só: o Oscar 2025.

Pois sim, minha gente, já estou de olho no próximo Oscar. Por que? Bem, como ficou evidente para quem me acompanha neste espaço, eu estou cada vez com menos tempo para assistir a filmes, então eu preciso ser bem objetiva nas minhas escolhas. Como daqui até o Oscar eu devo ter um certo limite de tempo para ver a filmes, prefiro já ir encarando as produções que estão bem cotadas para a premiação máxima do cinema de Hollywood.

Algo que eu tenho certeza, desde já, é que Dune: Part Two será muitas vezes indicado ao Oscar 2025. E com razão. O filme é um verdadeiro espetáculo e uma aula de cinema quando analisamos os aspectos técnicos da produção. A direção de fotografia é primorosa, deslumbrante, exemplar. Toda a arquitetura sonora da produção, dos efeitos sonoros e até a trilha sonora, também é algo de outro mundo, de primeiríssima linha. A maquiagem, como já aconteceu no primeiro Duna, também é outro destaque, assim como os efeitos visuais e especiais. Enfim, toda essa parte técnica é o grande trunfo da produção.

Com isso eu quero dizer que Dune: Part Two se resume apenas aos aspectos técnicos? Bem, não exatamente. Mas sim, posso falar sem sombra de dúvida, que toda a questão visual, de construção daquele mundo imaginário, assim como o contexto sonoro da produção é o que o filme tem de melhor. Mas para além disso, o que esta produção nos apresenta? A história, por óbvio, é uma evolução do que vimos no primeiro capítulo da saga. Encontramos Paul e sua mãe Jessica (Rebecca Ferguson), grávida, em sua busca por sobrevivência e vingança – ou, para os maiores fãs da dupla, justiça.

Eles são ajudados por Chani (Zendaya), Stilgar (Javier Bardem) e companhia. A jornada deles, contudo, não é apenas de sobrevivência no deserto, mas também de retaliação. Eles querem fazer os Harkonnen sofrer na ânsia por exploração da especiaria, cobiça essa que motivou toda a sequência de produções. Para ser franca, e vale comentar isso logo de cara, eu não sabia que Dune teria três partes. Achei, honestamente, que o filme terminaria nesta parte dois. Mas não, teremos ainda mais uma produção pela frente.

Pessoalmente, acho isso um exagero. Com bastante facilidade o diretor e roteirista Denis Villeneuve poderia transformar toda a saga de Paul Atreides e companhia em duas produções. Essa história poderia sim ser concluída neste Dune: Part Two. Mas não. E por que? Ora, por óbvio, porque a saga está indo muito bem nas bilheterias. Então porque ter um lucro maravilhoso e gigantesco com dois filmes se você pode fazer isso por três vezes? Claro que o interesse financeiro fala mais alto.

Da minha parte, admito que fiquei um pouco frustrada por isso. Já acho que esperamos demais para ver essa continuação, e fiquei decepcionada por ver que teremos que esperar ainda mais para ver a conclusão da saga. Mas ok. Não era necessário, mas dá para entender a lógica comercial por trás dessa decisão.

Com isso, devo dizer também que Dune: Part Two tem uma narrativa linear, muitas vezes bem previsível, um tanto longa demais e que tem alguns lugares-comuns um tanto decepcionantes – ao menos para quem já assistiu a diversos filmes do gênero. (SPOILER – não leia… bem, você já sabe). Sabemos, claro, que Paul está em sua jornada de autoconhecimento e de afirmação, além de busca por justiça – ou vingança. Essa segunda parte da trilogia é justamente para mostrar essa jornada do herói. Quem ficou com gostinho de “quero mais” no filme anterior, achando que Chani teria mais protagonismo a partir da segunda parte da trilogia, acaba se frustrando um pouco com esse filme.

No fim das contas, ela é apenas a garota que apoia o herói e que o acompanha pela jornada, um pouco desconfiada com o fanatismo religioso que começa a se formar ao redor do rapaz pelo qual ela se encantou, mas, basicamente, isso. Pouco, não? Eu achei. Esperava mais da personagem – que ok, pode se revelar um pouco mais interessante na última parte da trilogia, mas que se esvaziou nessa segunda parte.

Além disso, o que temos de mais forte neste filme é realmente como o roteiro de Denis Villeneuve e Jon Spaihts, desenvolvido a partir do livro de Frank Herbert, trabalha a questão da profecia, de como uma “guerra santa” se desenha, e, claro, como a cobiça e a busca pelo poder ditam grande parte das decisões de muita gente nesta história. Essas são as partes mais interessantes e diferentes da produção, quando pensamos neste segundo capítulo e no primeiro.

Nesse filme, entendemos melhor as motivações das seguidoras da doutrina Bene Gesserit, da qual Jessica, a Princesa Irulan, Lady Margot Fenring (Léa Seydoux), a Reverenda Mãe Mohiam (Charlotte Rampling) e tantas outras fazem parte. (SPOILER – não leia… bem, você já sabe). No fundo, e isso fica claro nesta segunda parte, a Reverenda Mãe escolheu os Harkonnen no lugar dos Atreides porque ela considerava que eles eram mais facilmente manipuláveis, e o que interessa, no fim das contas, é manipular quem está no poder para, de fato, ditar as regras e os rumos do império.

O controle e o poder são os prêmios que devem ser alcançados. A liderança da ordem Bene Gesserit trabalha para isso. O imperador, os Harkonnen, todos são peças no tabuleiro. Mas Paul Atreides quer vingança, quer expor o que foi feito com seu pai e sua família. O povo de Arrakis, por sua vez, quer seguir sobrevivendo e, para isso, eles tentam sempre resistir e atacar os exploradores. As pessoas naquele planeta vivem na pobreza e passando dificuldade como, tantos povos na história da Humanidade, eles também tiveram seus territórios invadidos para terem suas riquezas roubadas – alguém fez aí um paralelo com Brasil e outros países da América do Sul, especialmente?

Enquanto Paul faz sua jornada, ele questiona a mãe e a doutrina Bene Gesserit por eles terem incutido nas pessoas de Arrakis uma crença que ele considera mentirosa – algum paralelo com as missões jesuítas? Enfim, as crenças e valores dos nativos não foram escutados ou preservados, foi incutida uma “fé” alheia a Arrakis e que promete a salvação através de um messias. E Paul fica indignado quando percebe que a mãe quer fazer todos crerem que ele é o messias.

Bem, toda essa trajetória e esse contexto são a parte interessante do filme. Mas, novamente, acho que isso tudo, juntando com o que vimos na primeira parte e com o que podemos presumir que vai acontecer na terceira parte, poderia ter rendido apenas dois filmes. E já estaria de bom tamanho. Agora, nem tudo parece realmente interessante nessa produção. Algo que me incomodou, mais que a história não ter um desfecho e por ser um pouco mais longa do que deveria, é o mega, ultra, gigante lugar-comum de Paul precisar de um “super vilão” para contrapor a ele mais uma vez… gente, por que esses filmes sempre precisam do herói lutando de um lado e do mega vilão do outro?

Sei lá, acho isso mais do que batido. Acho muito chato, devo dizer. Ok se não tivéssemos Star Wars e tantas outras produções do gênero, mas já passamos por tudo isso e ainda vemos o que vemos com Dune: Part Two. Bueno, o mega vilão da vez é Feyd-Rautha (Austin Butler), que se mostra manipulável, previsível, mas com requintes de psicopata. Óbvio que teremos algumas lutas de batalha dele antes do “grand finale” do confronto com Paul. Enfim, mais do mesmo. Para mim, chato.

Então, diante de tudo que comentei, temos aqui um filme bacana, muito bem construído, ao menos em seus aspectos técnicos, com uma história que tem partes interessantes e que tem partes ultra meta previsíveis, que poderia ser um pouco mais curto, sem prejuízo para a história e que, sobretudo, poderia ter uma conclusão. Mas, como experiência de cinema, por óbvio, Dune: Part Two vale o ingresso – ou as pouco mais de duas horas e meia da sua vida para terminar de assisti-lo. É o melhor filme do ano. Duvido. Não vi a outras produções que vão concorrer ao Oscar, mas acho muito difícil essa ser melhor.

Ela tem tudo para ser a melhor enquanto espetáculo visual e auditivo, mas deixa a desejar na história, no roteiro, que é o coração e o cérebro de todos os filmes. Mas, para quem estiver de olho no Oscar, como eu, não dá para evitar. Tem que passar por Dune: Part Two. Como eu disse, é uma bela peça de entretenimento. Mas nada que vá marcar tua vida para sempre. Dificilmente será um filme que você vai indicar para alguém daqui 10 anos. Nos resta saber sobre a última parte da trilogia, se será mais marcante que essa – tem tudo para ser. Teremos que esperar mais um bom tempo para saber – a previsão para Dune: Messiah chegar aos cinemas é dezembro de 2026.

NOTA

9.

OBS DE PÉ DE PÁGINA

Algo que eu queria comentar sobre um dos aspectos mais interessantes de Dune: Part Two e que não citei anteriormente tem a ver com a questão da “profecia” e do “messias”. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Interessante como mesmo o “herói” da trilogia também se “deixa levar” por sua busca por vingança e, porque não dizer, poder. No início, ele fica indignado que a mãe está alimentando a fé das pessoas na ideia de que ele seria o messias. Mas, depois, pouco a pouco, ele mesmo vai alimentando essa crença pouco a pouco, tudo para que ele consiga concretizar esses planos. Nesse sentido, ele realmente é melhor do que aqueles que ele diz combater – especialmente a doutrina Bene Gesserit? No fundo, ele, como todos os homens que buscam o que podem se credenciar ao poder, se utilizam de todas as armas para conseguir o que querem. Mesmo que isso signifique explorar pessoas desfavorecidas e utilizar a fé delas para atingir seus objetivos. Acredito que o terceiro capítulo desta saga deixará isso ainda mais claro, como diferentes “lados” da moeda, no fundo, podem se parecer bastante.

Como eu disse antes, a minha principal motivação para assistir a Dune: Part Two agora é porque este filme já é apontado como um dos favoritos para o Oscar 2025. E como eu não terei muito tempo para ver filmes daqui, novembro de 2024, até a entrega do próximo Oscar, que será no início de março de 2025, eu já quis garantir desde já a experiência de ter assistido a uma das produções que mais receberá indicações desta vez.

Os principais sites que projetam as indicações e as chances dos filmes no prêmio máximo da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood apontam que Dune: Part Two pode ser indicado entre oito e 10 vezes no Oscar 2025. Segundo a maioria desses sites, ele deve concorrer nas categorias de Melhor Filme, Melhor Design de Produção, Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Edição, Melhor Maquiagem e Cabelo, Melhor Som, Melhores Efeitos Visuais. Há quem aponte que o filme pode emplacar ainda nas categorias Melhor Diretor (Denis Villeneuve) e Melhor Roteiro Adaptado. A conferir.

Claro que é cedo para opinar sobre chances do filme aqui e ali, até porque eu preciso ainda ver aos concorrentes e termos avançado na lista de indicados, mas eu apostaria em Dune: Part Two ganhando em várias categorias técnicas. Uma bolsa de apostas já aponta ele como favorito nas categorias Melhor Maquiagem e Cabelo, Melhor Design de Produção, Melhor Som e Melhores Efeitos Visuais. Seriam quatro estatuetas entre oito ou 10 possíveis. Nada mal.

Como os aspectos técnicos da produção merecem, de fato, aplausos, vale citar alguns dos nomes envolvidos nestes pontos e que merecem nossa atenção. Para começar, vou destacar a excelente direção de fotografia de Greig Fraser, assim como a trilha sonora geralmente bem acima da média e especial de Hans Zimmer. Precisamos bater palmas também para o design de produção de Patrice Vermette e para os figurinos de uma mestre nesta arte, Jacqueline West.

Outros nomes e aspectos que merecem ser citados: a edição de Joe Walker; a direção de arte que envolveu 10 profissionais, incluindo os diretores de arte Andrew Ackland-Snow, Frédéric Berthiaume-Gabbino, Karim Kheir, Félix Larivière-Charron e Philippe Lord; a decoração de set de Zsuzsanna Sipos e Shane Vieau; a maquiagem realizada por uma equipe de 59 profissionais; o departamento de arte que mobilizou 107 profissionais; o departamento de som que contou com o trabalho de 69 profissionais; os efeitos especiais realizados por 56 profissionais; os efeitos visuais, que mobilizaram o número espantoso de centenas de profissionais – eu parei de contar no 300, para ser franca. A lista é gigantesca e parece que tem representantes de quase todas as partes do mundo. Por baixo, acredito que apenas este aspecto do filme deve ter envolvido cerca de 600 profissionais. Seiscentos! Impressionante.

Alguém deve estar se perguntando o porquê de eu não ter falado, até agora, sobre o trabalho do diretor ou do elenco. Pois bem, chegou a hora de falar sobre isso. 😉 Não comentei antes porque achei o trabalho de todos muito bom, coerente, mas assim, vamos dizer, nada extraordinário. Eles cumprem o que a gente esperava. Afinal, já tínhamos visto a Dune e sabíamos um pouco o que esperar desse novo filme. Todos são competentes em sua função, é claro, mas nada demais. Acho que Denis Villeneuve faz em Dune: Part Two um belo trabalho de direção com tudo aquilo que já sabemos que ele sabe fazer. Ao mesmo tempo que ele valoriza muito o trabalho dos atores, ele também sabe explorar como poucos a construção visual do universo de Dune. Isso tudo com a baita equipe que ele tem a sua disposição, é claro. Mas ele entende muito do ofício de diretor e nos entrega mais um belo filme da saga. Não achei essa produção tão impactante quanto a anterior, porque a novidade já tinha sido vencida pelo episódio um. Aqui, temos um avanço na técnica, no visual e no som, claro, mas sem novidades. Preciso ver a o trabalho dos colegas de Villeneuve nesta temporada para saber se, de fato, ele chegará a ser indicado ao Oscar. Para mim, faria sentido, ao mesmo tempo que eu espero por um pouco mais de inventividade de um diretor do que eu acho que ele apresentou aqui.

Sobre o elenco, bem, sabemos que Dune: Part Two tem um grupo de grandes atores à frente da produção. Timothée Chalamet está ótimo como Paul Atreides, em uma evidente evolução de seu personagem – como pede uma saga como esta. Acho o trabalho dele sempre impecável, com muitos nuances e com uma entrega que é coerente com o que cada um de seus personagens e seus diferentes momentos exigem. Em Dune: Part Two ele novamente faz esse tipo de entrega. Chalamet tem talento e tem carisma, que é o que precisamos para alguém que assume um papel como este – de herói, mas de um herói um tanto dúbio.

Além de Chalamet, por óbvio, temos como destaque nesta produção o trabalho da atriz Zendaya, que interpreta a Chani, uma guerreira que resiste no planeta explorado pelos invasores e que acaba tendo um papel de coadjuvante maior que poderíamos esperar nesta nova produção. Eu, ao menos, esperava que ela tivesse um papel de maior destaque. Só que não. Ela é bem, mas bem coadjuvante mesmo. Fica totalmente eclipsada pelo papel de Paul. Uma pena para os fãs dela e para a história, eu diria. Mais destaque do que ela, a meu ver, tem a atriz Rebecca Ferguson, que interpreta Jessica, mãe do protagonista. Nesta produção, até para explicar toda a “construção” do messias, ela ganha uma relevância maior do que poderíamos imaginar inicialmente. E considero que a atriz se sai muito bem neste papel. A exemplo de Chalamet, ela também sabe segurar sua personagem com todas suas nuances e contradições. Faz um belo trabalho. De destaque maior que Zendaya, ouso dizer.

Outros nomes que merecem ser citados porque têm papéis de relevância na história, apesar de serem coadjuvantes, são Javier Bardem como Stilgar, um dos líderes da resistência do povo de Arrakis, ele faz um belo trabalho, condizente, sem exageros, tem muitos minutos em cena e acaba sendo quase um “padrinho”, protetor e ao mesmo tempo “fiel” de Paul – afinal, ele acredita na “profecia”; Josh Brolin aparece depois da primeira metade do filme como Gurney Halleck, sobrevivente do massacre feito pelos Harkonnen e aliado de Paul, assim que ele surge, logo vira o braço direito do rapaz em busca de vingança. Esses são os principais aliados do protagonista.

Do outro lado do rio, entre os “inimigos do herói”, temos que destacar nomes como Austin Butler como Feyd-Rautha, o arqui-inimigo da vez de Paul, aquele que deve confrontar o herói como um “inimigo temido”, feroz, quase um psicopata… Butler faz um bom trabalho, mas o problema mesmo é que seu personagem é super raso, o que não é culpa do ator; depois temos novamente Dave Bautista como Beast Rabban, aquele líder dos Harkonnen malvadão que acaba não sendo malvado o suficiente quando Paul e Cia. começam a fazer seu contra-ataque; e Stellan Skarsgard repete o papel do Barão Harkonnen, uma figura temida, estranha, um dos destaques da maquiagem, mas que apesar de tanto desfarce, nos deixa ver o bom trabalho do ator.

Depois temos os atores no time “intermediário”, que igualmente são confrontados por Paul e Cia., mas que não estão no campo do inimigo de forma tão declarada – pelo menos não até quase o final: Florence Pugh muito bem como a Princesa Irulan – a atriz tem uma presença de tela e um magnetismo que faz com que ela roube a cena toda vez que aparece, o que nos dá vontade de ver o que virá na parte final da trama, no capítulo três desta saga, porque ela deve ter um destaque maior na história então; Christopher Walken em um papel micro, mas importante por sua presença em cena, como o Imperador questionado e ameçado; Léa Seydoux em uma super ponta, um papel pequeno, mas com uma presença marcante, como Lady Margot Fehring, discípula das Bene Gesserit enviada para testar e para conseguir um certo “legado” de Feyd-Rautha; Charlotte Rampling mais uma vez muito bem como a Reverenda Mãe Mohiam, apesar de ter pouco tempo em tela.

Temos outros personagens e atores que fazem bem seus papéis, ainda que de forma restrita, com pouco tempo em tela e em breves aparições, mas nada tão relevante que merece ser citado. No geral, considero que os efeitos visuais e especiais, assim como a direção de fotografia e o som desse filme tem maior protagonismo do que grande parte do elenco, que acaba sendo bastante coadjuvante.

Dune: Part Two teve sua première no Auditório Nacional do México no dia 6 de fevereiro de 2024. Claro, a exibição foi feita para convidados. A segunda première do filme foi realizada no dia 15 de fevereiro em Londres, também para convidados. Nos cinemas, o filme estreou nos últimos três dias de fevereiro em vários países, inclusive no Brasil.

Até o momento, quando escrevo essa crítica, em novembro de 2024, Dune: Part Two recebeu seis prêmios e foi indicado a outros 32. Por ser um filme descaradamente do mainstream, Dune: Part Two não participou de festivais de cinema, no geral, e, por isso, até agora, não tem nenhum prêmio expressivo. Também é preciso dizer que a temporada dos prêmios principais da indústria de cinema americana ainda não aconteceram, então veremos ainda ele concorrendo em premiações mais fortes e concorridas.

Os prêmios que o filme recebeu, até o momento, foram o de Melhor Fantasia Aventura e Melhor Trilha Sonora no Golden Trailer Awards; o de Filme de Língua Estrangeira de Qualidade do Ano no Weibo Awards Cerimony (realizado na China); e os de Melhor Filme, Melhor Diretor para Denis Villeneuve e Melhor Ator Coadjuvante para Austin Butler no Astra Midseason Movie Awards (premiação da The Hollywood Creative Alliance).

Agora, vale citar algumas curiosidades sobre Dune: Part Two. A maquiagem utilizada por Stellan Skarsgard demorava 8 horas para ser aplicada – sim, minha gente, 8 horas! – e 2 horas para ser retirada em cada dia de filmagem com o ator. Nestes dias, Stellan não bebia nenhum líquido e tomava um medicamento para evitar que ele tivesse que ir para o banheiro porque ele não poderia fazer isso com todo aquele “aparato” colocado sobre o corpo… impressionante.

O diretor de fotografia Greig Fraser deu a ideia de filmar a sequência em Giedi Prime, o planeta natal dos Harkonnen, com câmeras infravermelhas para que fosse possível, assim, dar à pele uma textura translúcida.

A língua utilizada pelos Fremen é chamada de Chakobsa nos livros que originaram os filmes. Ela deriva do árabe, mas contém algumas partes do francês, do grego, romano e eslavo, além de alterações do hebraico e do sânscrito.

A sequência da cavalgada do verme de areia levou 44 dias para ser filmada e foi rodada em um set gigantesco.

Filmado no meio do deserto da Jordânia, Dune: Part Two fez com que a equipe da produção tivesse que construir 29 quilômetros de novas estradas para que eles conseguissem transportar todo o equipamento necessário para as filmagens e estabelecer o acampamento base.

Em outubro, ou seja, no mês passado, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood barrou a trilha sonora de Hans Zimmer para que ela pudesse se credenciar ao Oscar. Isso porque, segundo a Academia, a trilha de Dune: Part Two teria muitos “motivos musicais” de Dune, ou seja, segundo a Academia, ela não atingiria a exigência de pelo menos 80% de suas composições serem originais. Pena. Porque é uma baita trilha sonora.

(SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). A atriz Anya Taylor-Joy faz uma breve participação em Dune: Part Two como Alia, a irmã mais nova de Paul. Ela aparece em uma das visões de Paul sobre possibilidades para o futuro. Interessante que nos livros Alia nasce durante o período de dois anos em que Paul e Jessica passam abrigados pelos Fremen, mas no filme Dune: Part Two ela não chega a nascer, apenas aparece na barriga da mãe e “conversando” com ela – ou melhor, ouvindo o que acontece no “mundo exterior”. No livro, depois que ela nasce, ela logo revela ter uma mente de adulto, mesmo sendo uma criança, porque Jessica tomou a Água da Vida enquanto ela estava em sua barriga. Outra mudança em relação aos livros é que é Alia quem mata o Barão Harkonnen quando ela tinha quatro anos de idade. No filme, quem faz isso é Paul. Interessante que a participação de Anya Taylor-Joy foi gravada em segredo e só foi revelada quando o filme estreou.

Os usuários do site IMDb deram a nota 8,5 para esta produção, uma nota bem alta para os padrões do site. Enquanto isso, os críticos que tem os seus textos linkados no site Rotten Tomatoes dedicaram 68 críticas positivas e 10 negativas para a produção, o que garante um nível de aprovação de 87% e uma nota média de 7,5 para Dune: Part Two. Ou seja, os críticos foram menos entusiásticos com este filme do que a maioria do público, parece. No site Metacritic, Dune: Part Two aparece com o “metascore” 79, fruto de 54 críticas positivas, sete medianas e uma negativa.

Dune: Part Two é uma coprodução dos Estados Unidos com o Canadá, os Emirados Árabes Unidos, a Hungria, a Itália, a Nova Zelândia, a Jordânia e a Gâmbia. Que mistura curiosa!

Esta produção teria custado cerca de US$ 190 milhões e faturado, a nível global, US$ 714,4 milhões – sendo US$ 282,1 milhões apenas nos mercados dos Estados Unidos e do Canadá. Segundo o site Box Office Mojo, depois do mercado norte-americano, os países que deram a maior fatia de bilheteria para Dune: Part Two foram o Reino Unido, onde o filme conseguiu US$ 49,4 milhões nas bilheterias; a Alemanha, onde o filme atingiu a marca de US$ 40 milhões; e a França, onde ele fez US$ 31,4 milhões. Com o ótimo resultado comercial que o filme conseguiu, o estúdio já encomendou a continuação de Dune para Denis Villeneuve.

CONCLUSÃO

Como na primeira parte da trilogia de Dune, esse novo capítulo revela-se uma aula de cinema quando analisamos os aspectos técnicos da produção. Dune: Part Two é um filme que tem no visual e na parte sonora duas de suas fortalezas. Ele é bem construído nestes aspectos, assim como tem uma narrativa envolvente. Apesar disso, a produção carece de um pouco mais de inventividade, caindo em lugares-comuns bastante previsíveis. Frustra também sabermos que teremos que esperar mais tempo para a conclusão da história, com apenas parte da trajetória do protagonista e de seu grupo tendo sido percorrida. Vai ganhar diversos prêmios no Oscar e em outras premiações, é uma saga de ficção científica interessante e bem realizada, mas poderia ter sido resumido em menos capítulos se os produtores não estivessem de olho só no sucesso comercial da saga. Merece ser visto, pelo espetáculo que apresenta, mas não é uma produção ou uma saga inevitáveis.

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Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 25 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing, professora universitária (cursos de graduação e pós-graduação) e, atualmente, atuo como empreendedora após criar a minha própria empresa na área da comunicação.

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