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A Mighty Heart – O Preço da Coragem


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Eu não lembrava da morte do jornalista Daniel Pearl. Ele foi morto em 2002, depois do atentado ao World Trade Center que mudou o mundo. No Brasil, como disse esse artigo, o fato foi menos noticiado mas, como não poderia ser diferente, nos Estados Unidos as fotos do jornalista sob a mira de uma arma de palestinos e demais detalhes do seu sequestro ganharam dezenas de reportagens e capas. Fiquei sabendo melhor agora, depois de ver ao filme A Mighty Heart. Não sabia da história, mas tinha me atraído a informação de que Angelina Jolie estava envolvida em um projeto sobre a vida de um jornalista no Oriente Médio.

A HISTÓRIA: Acompanhamos a vida dos jornalistas Daniel Pearl (Dan Futterman) e Mariane Pearl (Angelina Jolie) pouco antes dele desaparecer. Inicialmente a mulher dele, Mariane, grávida de seis meses, lhe declara como desaparecido. Pouco depois se descobre que ele foi seqüestrado. Então começa a luta dela para descobrir o paradeiro dele e esconder o fato dele ser judeu. Daniel Pearl era correspondente do Wall Street Journal e havia produzido uma série de matérias sobre os homens envolvidos com a al-Qaeda e demais movimentos extremistas quando desapareceu na cidade de Karachi. Se envolvem no trabalho de busca do jornalista o governo norte-americano e o paquistanês.

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – parte do texto a seguir tem comentários que contam parte do filme, por isso recomendo que continue lendo só quem já assistiu a A Mighty Heart): O filme é muito bem conduzido pelo diretor inglês Michael Winterbottom. Eu assisti a história sem saber, na verdade, que Daniel Pearl morria nas mãos de seus sequestradores. Claro que a história pode ser considerada uma mistura de drama, suspense e ação se você não sabe que ele morreu. Se você já sabia disso, o suspense cai por terra. Mas, ainda assim, com a direção competente de Winterbottom e o roteiro idem de John Orloff o filme abriga algumas idéias interessantes. Por exemplo: é interessante ver como a polícia local do Paquistão reage ao desaparecimento do jornalista e as técnicas que apreende para tentar encontrá-lo. Claro que o filme, baseado no livro de Mariane, deve “suavizar” algumas torturas e passagens da história. Mas ainda assim é interessante ver como é difícil pensar em uma investigação desse tipo em um sistema de sociedade como aquela.

A verdade é que exceto por Jolie e Futterman o elenco de A Mighty Heart é formado por “desconhecidos”. E desconhecidos muito bons. Um exemplo é o trabalho da atriz inglesa Archie Panjabi como a jornalista e amiga do casal Pearl Asra Nomani. Muito bom também o ator que faz o policial que encabeça as investigações – o indiano Irrfan Khan.

Apesar das qualidades do filme, algumas partes do roteiro mais confundem que explicam. Afinal, não ficou de todo claro quem sabia que Daniel Pearl era judeu. A passagem que assistimos em que Mariane lembra do marido confirmando que é judeu não sabemos até que ponto é verdade ou é a imaginação de uma mulher que buscas razões para o desaparecimento do marido. Afinal, sempre que pode – e inclusive para o policial que investiga o caso – ela diz que ninguém sabia que o marido era judeu.

A morte do jornalista chocou o mundo pela brutalidade do feito. Alguns acreditam que ele foi morto – como tantos outros jornalistas depois – pelo seu trabalho de investigação contra nomes importantes ligados a atos terroristas, outros já defendem a idéia que ele foi morto essencialmente por ser judeu. O fato é que as versões iniciais dos sequestradores de que ele teria ligação com a CIA ou com o Mossad (o serviço secreto israelense, citado no filme mas pouco explicado também) não se sustentam.

Como filme é uma história interessante. Especialmente por mostrar um pouco mais a realidade palestina. Mas, no mais, ousa pouco. Não mostra, por exemplo, um pouco dos abusos do governo norte-americano com os presos da base de Guantanamo – algo que foi bem explorado pela mídia depois – e um dos pontos de exigência dos sequestradores. O filme, como a maioria do gênero, defende apenas um lado da moeda. Não que o sequestro e a morte de um jornalista como esse possa ser defendida mas, sem dúvida, tem sua lógica de fundamentação, ainda que seja absurda.

NOTA: 8.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: Não deixa de ser estranho ver a Angelina Jolie com olhos castanhos escuros e cabelo idem. Ainda mais se lembramos dela loira em Gone in Sixty Seconds.

Procurando mais informações sobre a morte de Daniel Pearl, soube que Mariane processou a al-Qaeda e a outras organizações radicais pelo seqüestro, tortura e assassinato de seu marido. Hummm… processar essas organizações com a finalidade de que “elas não façam o mesmo”? Sinistro, não? Afinal, alguém acredita que uma organização terrorista com ideologia política-religiosa vai deixar de cometer atos criminosos porque terá que pagar uma pequena fortuna para a viúva de um jornalista? Acho que não. E até que ponto ela não está usando a mídia provocada pelo filme para conseguir o que quer? Sei lá, sempre fico em dúvida com essas “causas”. Até que ponto não é se aproveitar de uma situação? Ou todas as pessoas que perderam algum filho ou parente para a violência urbana no Brasil não mereceriam uma indenização? Sei lá, acho complicado esse tipo de processo.

Interessante e recomendado esse perfil do jornalista Daniel Pearl. Muito forte a notícia também que o homem que diz ter sido o autor do atentado ao World Trade Center diz também que decapitou o jornalista pessoalmente. Se for verdade, ele é o maior vilão ainda vivo.

E um comentário já visando Oscar: não acho que a intepretação de Angelina Jolie esteja para tanto, como para uma indicação para o prêmio ou algo do gênero. Ainda assim, pelo cartaz do filme e pela mídia que foi feita sobre sua interpretação, não dúvido que o lobby não chegue ao ponto de conseguir indicá-la.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 20 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing e, atualmente, atuo como professora do curso de Jornalismo da FURB (Universidade Regional de Blumenau).

4 respostas em “A Mighty Heart – O Preço da Coragem”

Concordo com seu comentário, apenas gostaria de acrescentar que existe mais um ator bastante conhecido no filme, trata-se de Will Patton que na trama interpreta Randall Bennett. Patton já participou de muitos filmes de considerável sucesso como Armagedon e 60 segundos (remake).

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Olá Wesley!

Antes de mais nada, obrigada pela tua visita e pelo teu comentário.

De fato, boa lembrança a do Will Patton. Ele é um ótimo ator, infelizmente nem sempre lembrado por bons papéis recentes, mas que merece ser citado por aqui sim.

Faz tempo que eu assisti a este filme, mas ele está mais atual do que nunca. A história vale ser vista.

Obrigada, mais uma vez, pela tua colaboração. Espero que voltes por aqui mais vezes. Abraços e até a próxima!

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Oi, Alessandra! Tudo bom?

tanto o fato real quanto o filme me passaram desapercebido durante um bom tempo.
O interesse em assistí-lo surgiu depois que vi o meio documentário e meio ficção The Road to Guantanamo do próprio Michael Winterbottom, que é outro filmaço, infelizmente mais um baseado em histórias reais tão tristes e comoventes.
Em A Mighty Heart eu já tinha conhecimento do final trágico, e foi ai que vi o potencial do filme e seu mérito foi em me manter de certa forma otimista e esperançoso acompanhando a busca e os esforços daqueles, em interpretações ótimas e convincentes como você mencionou, tentavam resgatar o Daniel Pearl com vida e prender seus sequestradores. Destaco a atuação da Jolie, no papel da esposa de Daniel, onde na maior parte da história ela demonstra uma lucidez e uma calma controlada, parecia que além de preparar a si própria pro inevitável, ela fazia o mesmo conosco, e quando desaba com toda esperança que carregava ao receber a triste notícia, fica difícil não cair junto.

É bacana em vir aqui e ver se tem, e sempre tem, o filme que assisti e gostei na maioria das vezes, e poder trocar essas idéias.

Grande Abraço!

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Olá Marcus!

Tudo certo sim, e contigo?

Bacana que você encontrou este filme e gostou dele. Anotei essa tua dica do documentário. Estou com saudade de assistir a um filme do gênero. Tenho outros na lista, mas vou assisti-lo assim que possível.

De fato, Angelina Jolie está muito convincente e, concordo contigo, ela consegue muita empatia com o público. Fiquei sabendo mais desta história através e após este filme.

Fico contente também que você sempre encontra por aqui algum filme que tenhas assistido e que tenhas gostado. Vamos seguir nesta troca de ideias. Estou colocando os recados em dia com atraso, mas pretendo tornar o espaço entre mensagens e respostas mais próximo.

Um grande abraço e até a próxima!

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