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Crossing Over – Território Restrito


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Não é sempre que alguém tenta fazer um filme corajoso sobre o tema da imigração nos Estados Unidos. A realidade é que não é nada comum encontrar uma equipe de Hollywood que queira abordar o assunto dos estrangeiros que buscam o “sonho americano” sem sucesso. Especialmente depois do ataque terrorista ao World Trade Center. Por esse motivo foi tão surpreendente (e gratificante) assistir a Crossing Over, um filme bem escrito, dirigido e que, de quebra, conta com um elenco de respeito. Incluindo o astro Harrison Ford, a sempre concorrida Ashley Judd e a brasileira Alice Braga que, ainda que não fale mais que um par de frase no filme, acaba sendo uma peça-chave na trajetória do protagonista – e na simbologia do roteiro. Uma produção rara para os padrões de Hollywood, destas que tentam reafirmar o lado “politicamente correto” daquela que pretende continuar sendo a indústria do cinema mais vendida mundo afora. Crossing Over não é perfeito, contudo. E isso fica evidente na chuva de críticas negativas que ele tem recebido – elas não são gratuitas, ainda que um pouco exageradas.

A HISTÓRIA: Diferentes etnias de imigrantes são retratadas pelo filme, incluindo muçulmanos, asiáticos, latinos, turcos, judeus e uma australiana em busca de sucesso como modelo e/ou atriz. De uma maneira ou de outra, os distintos estrangeiros acabam se cruzando pelo filme, a maioria deles passa pelo caminho do agente da imigração Max Brogan (Harrison Ford). Veterano na busca e prisão de imigrantes ilegais, Brogan parece destoar de seus companheiros de farda no quesito de importar-se com as histórias das pessoas flagradas ilegalmente no país. Tanto que ele passa o filme todo atrás de Mireya Sanchez (Alice Braga), uma mexicana que é presa deixando um filho para trás. Paralela a história de Brogan, acompanhamos os problemas familiares de outro agente da imigração, Hamid Baraheri (Cliff Curtis); o envolvimento antiético e corrupto de Cole Frankel (Ray Liotta), casado com a advogada Denise (Ashley Judd), com a modelo e atriz Claire Shepard (Alice Eve). Ela, por sua vez, briga por conseguir ficar nos Estados Unidos da mesma forma que o namorado, o músico/professor judeu Gavin Kossef (Jim Sturgess).

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Crossing Over): O maior atrativo deste filme, para mim, desde o início, foi o nome da atriz Alice Braga. Não é todos os dias que uma jovem intérprete brasileira aparece nos créditos principais de um filme estrelado por Harrison Ford, Ray Liotta e Ashley Judd. E devo dizer que pelo tanto que ela aparece na tela, ela mereceu muito mais publicidade do que o propriamente merecido. Não que ele não esteja bem em cena. Não se trata disso. Mas é que ela aparece menos de dois minutos em um filme que dura 113 minutos! Se ela não estivesse com a moral em alta em Hollywood, seu nome talvez aparecesse apenas nos créditos finais da produção. Mas não é isso que acontece.

Alice Braga – como o sobrenome sugere, ela é sobrinha da atriz Sonia Braga – comprova seu bom momento em Hollywood ao ter, com esta superponta em Crossing Over, conseguido estampar seu nome em sexto lugar nos créditos do filme. Ela fica atrás apenas de Harrison Ford, Ray Liotta, Ashley Judd, Jim Sturgess e Cliff Curtis. Fora os três primeiros, conhecidos mundialmente, Sturgess merece destaque depois de ter virado um dos sonhos de consumo da meninada por suas interpretações em Across the Universe e em 21; e Curtis é o segundo personagem masculino com maior evidência na história. Alice Braga, ainda que tenha falado bem suas frases em espanhol, aparece pouco no filme para ter conseguido figurar em sexto lugar nos créditos. Isso só se justifica pela evidência que ela está tendo em Hollywood, algo confirmado pela revista Forbes, que a colocou (como eu já comentei antes aqui) na lista dos atores mais relevantes da indústria cinematográfica hollywoodiana atualmente.

O curioso é que Alice Braga aparece nos créditos, por exemplo, à frente de Alice Eve, Justin Chon e Summer Bishil, três atores que assumem uma posição muito mais importante para a história – e que aparecem mais em cena – do que a Mireya Sanchez da brasileira. Mas, vejam bem, não estou reclamando da evidência de Alice Braga. Pelo contrário. Acho que ela merece e que esse feito precisa ser comemorado. Agora é esperar para conferí-la nos filmes Repossession Mambo, com Jude Law e Forest Whitaker no elenco, e Eleven Minutes, com Mickey Rourke e Vincent Cassel.

Nossa, até parece que esse texto é SÓ sobre a Alice Braga. Bem, levando em conta que eu assisti o filme especialmente para vê-la, até que se justifica. 😉 Mas vamos lá… falemos de Crossing Over. A exemplo do anteriormente comentado por aqui Trade, este filme estrelado por Harrison Ford e escrito e dirigido pelo sulafricano Wayne Kramer me surpreendeu por suas partes ousadas. Especialmente na relação antiética e corrupta de Cole Frankel com a jovem Claire Shepard (a competente – temos que ficar de olho nela – Alice Eve). Não é nada comum um roteiro de Hollywood mostrar que existe um lado “podre” nos departamentos de imigração dos Estados Unidos. Impressionante a forma com que a aspirante a atriz acaba se transformando em prostituta na mão deste sujeito que tem um “certo poder” – como tantos outros – em um escritório de Los Angeles. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Só achei desnecessário e um tanto forçado quando o roteiro de Kramer sugere que Frankel abandonaria a mulher e o plano de ter filhos para ficar com uma garota que mal conhecia – uma “aliviada” na conduta do personagem que poderia ter sido evitada, ainda que tenha rendido boas frases em um diálogo de confronto com a personagem de Claire.

Outra história que merece destaque é a da família de Talisma Jahangir (a também promissora Summer Bishil, revelada em Nothing is Private). Ainda que o tema dos abusos do governo dos Estados Unidos contra os árabes, muçulmanos e demais imigrantes “suspeitos do Oriente Médio” depois do 11 de Setembro tenha sido abordado recentemente – por filmes como o também comentado por aqui Rendition -, nunca é demais mostrar como uma simples tarefa de escola pode render um ato de segregação e discriminação dos mais duros. Como na época das ditaduras latinas – e de outros países comunistas -, a sensação que estas pessoas devem ter é de estarem sendo vigiadas por um “regime policial” a todo instante. Muito bem conduzida a história da adolescente que acaba, sem querer, separando a família de forma arbitrária. Summer Bishil é a responsável por alguns dos momentos – poucos, diga-se – mais emocionantes do filme.

Falando em emoções… Crossing Over talvez tenha nascido, na mente de Wayne Kramer, como um filme para emocionar. Talvez. Mas na prática ele atua mais como uma história para chocar e provocar revolta, incômodo, do que emoção. É um filme com um forte discurso político, disso não há dúvida. Com tantos personagens participando desta história, fica impossível adentrar mais no caráter humano dos personagens e de suas vivências e exclusões. Uma pena. Algumas das histórias contadas, para o meu gosto, estão sobrando no filme. Como a da família de Hamid Baraheri (Cliff Curtis)… para que, cargas d’água, inserir um “suspense” criminoso na história? Entramos no jogo de “Quem matou Zahra Baraheri (a bela Melody Khazae)?” de graça… talvez a intenção do roteirista/diretor fosse a de jogar mais tintas na questão das “diferenças culturais” que compõe a mestiçagem estadunidense. Mas o resultado é que a história apenas tira o foco do que seria o eixo central do filme. O personagem de Yong Kim (Justin Chon) e sua família era suficiente para mostrar os imigrantes que “dificilmente” se enquadram nos Estados Unidos.

A intenção dos realizadores deste filme, contudo, parece ter sido das melhores. A idéia é boa e a direção também. O roteiro, apenas, merecia alguns ajustes. Alguns cortes aqui, uma ou outra aprofundada nos personagens ali, e talvez o filme seria perfeito. Conta a seu favor uma direção de fotografia precisa e atenta de Jim Whitaker e, principalmente, um belo trabalho do compositor Mark Isham em um trilha sonora que, algumas vezes, conduz o filme mais do que o roteiro de Kramer.

Mas apesar do excesso de personagens e da trama policial que sobra lá pelas tantas no filme, algo as pessoas tem que admitir: o final de Crossing Over é um dos mais simbólicos que vimos nos últimos tempos. (SPOILER – realmente não leia se você ainda não assistiu ao filme). Max Brogan chega à casa dos pais de Mireya Sanchez e, sem dizer uma única palavra, entrega para a mãe da garota morta a carteira que foi encontrada com ela na fronteira do México com os Estados Unidos. Com esta cena, Kramer nos remete ao simbolismo dos oficiais do Exército que vão à casa das famílias dos militares mortos em guerra para lhes informar, pessoalmente, que seu filho ou filha morreu em combate, como um herói. A cena seguinte, em que Brogan explica o que aconteceu com Mireya – mas não podemos ouví-lo – no quarto da família, apenas reforça o simbolismo deste final. As palavras dele sobram. O que vale é a força da cena que coloca, no mesmo nível, o heroísmo e o absurdo de mortes como a de uma imigrante ilegal e a de um militar norte-americano. Descontados os problemas do filme, para mim, este final torna válido todo o restante.

NOTA: 9,5 9.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: Tenho certeza que ninguém vai concordar com a nota que eu dei para este filme. Mas não tem problema. Acho que justifiquei bem a minha avaliação com o parágrafo final da crítica. Ainda assim, admito: o filme é longo demais e tem algumas partes bastante arrastadas, com uma ou outra história que poderia ter sido cortada ou, pelo menos, resumida. Ainda assim, o final compensa (adoro me repetir!).

O diretor sulafricano Wayne Kramer tem 44 anos e poucos filmes no currículo – comparado a outros profissionais do ramo e de sua geração. Antes de Crossing Over, ele dirigiu a três filmes e a um curta-metragem (que tem o mesmo nome e, ao que tudo indica, serviu de ensaio para este Crossing Over). Não lembro de ter assistido a nenhum de seus filmes anteriores, mas vale a pena mencionar que os três conseguiram uma nota maior que 7 na avaliação dos usuários do site IMDb – não é todo mundo que pode se orgulhar disso, mesmo os grandes nomes de Hollywood.

E falando no site IMDb, por ali o filme Crossing Over mereceu apenas a nota 6,7. Algo muito bom, se comparado com a chuva de críticas negativas registradas em outro site de referência, o Rotten Tomatoes. Neste último, Crossing Over foi alvo de 70 críticas negativas e apenas nove positivas, o que lhe garante uma aprovação de apenas 11%. Uma das piores que eu vi nos últimos tempos. Acho que não é para tanto.

O filme também foi mal – ok, péssimo – nas bilheterias. Nos Estados Unidos, onde ele estreou em março, ele arrecadou pífios US$ 454 mil (atenção, mil e não milhões) até o dia 19 de abril. O que me surpreendeu, ao buscar mais informações, é que esta produção, que leva a assinatura dos poderosos produtores executivos Bob e Harvey Weinstein – eles não precisam ser apresentados, não é mesmo? – tenha estreado em apenas nove salas de cinema nos Estados Unidos e tenha chegado, ao máximo, a 42 cinemas. Isto é nada para os padrões de Hollywood. Estranho, muito estranho. Parece que resolveram matar o filme depois que ele ficou pronto.

Buscando um pouco mais de informações, descobri algo que pode justificar a conduta kamikaze dos Weinstein: eles teriam se desentendido com o diretor, Wayne Kramer, que pretendia deixar o filme com 140 minutos de duração. Depois de ter sido ameaçado por Bob e Harvey, que disseram que poderiam lançar o filme apenas em DVD, ignorando os cinemas, o diretor resolveu diminuir a duração de Crossing Over – que ficou então com 113 minutos. Dizem as más línguas que, na verdade, o corte final no filme foi feito diretamente por Harvey Weinstein e pelo produtor Frank Marshall. Ou seja: eles passaram como verdadeiros tratores nesta história. Segundo o site Hollywood Elsewhere, depois dos produtores fazerem sua própria edição do filme, ela teria sido reprovada por Harrison Ford que, por sua vez, fez a sua própria versão de Crossing Over – e que foi reprovada por Weinstein. Nossa, que rolo! Mas ele ainda não terminou…

Outro problema enfrentado pelo filme foi a exclusão de um pequeno papel que seria feito por Sean Penn. O ator exigiu que as cenas em que ele aparecia no filme fosse eliminadas. Existem duas versões para isto ter ocorrido: a primeira é de que Penn não concordou com a maneira com que os personagens árabes/iranianos foram mostrados pelo filme; a segunda é de que ele viu o seu personagem se tornar tão secundário para a trama, depois de vários cortes feitos na edição, que resolveu ser excluído de uma vez por todas. O fato é que isso só contribuiu para a aura de “projeto maldito” e, claro, para atrair menos atenção para o filme – afinal, Sean Penn acaba de ganhar um Oscar. Segundo o site Hollywood Elsewhere, Penn não gostou de nenhuma das versões finais do filme e, sem ter seus pedidos de mudança atendidos, resolveu ficar de fora da produção.

Se a saída de Penn ocorreu desta maneira, realmente, fica cada vez mais evidente o poder que os astros estão assumindo em Hollywood. Afinal, como um ator pode exigir que um filme seja mudado depois de ter aceitado fazer parte dele? (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Certamente estava no roteiro do filme, desde o princípio, o episódio do assassinato motivado por “honra” da personagem de Zahra Baraheri, não é mesmo? Ainda que eu concorde que este crime tenha sido desnecessário, como pode um ator assinar um contrato, contracenar em um filme e, depois, resolver mudá-lo? Entendo a posição de Penn, mas fico admirada com o poder que ele e outros astros – como Harrison Ford – conseguiram atingir em Hollywood. Isso comprova que, nem sempre, um diretor e roteirista são os autores de suas obras – parece que cada vez menos. Também me pareceu um bocado exagerado o “pulso-firme” do Sr. Weinstein – que acabou, por sua conta e risco, prejudicando um projeto no qual investiu vários milhões de dólares. Ele deve estar podendo queimar dinheiro. Uma pena para a atriz Alice Braga, que acabou recebendo menos atenção do que poderia – se o filme não tivesse passado pelos problemas que passou.

Algo que o filme retrata – SPOILER – é a idéia de que, atualmente, as pessoas estão preparadas para fazer de tudo para conseguir uma melhor oportunidade na vida. Isso pode ser visto em qualquer país considerado desenvolvido ou que, pelo menos, atingiu uma melhor “qualidade de vida” média para seus habitantes. Seja nos Estados Unidos, na Espanha ou no Japão, muitas pessoas de diferentes etnias, credos e origens acabam convivendo juntas e “disputando” espaço em busca de melhores condições de vida. Esse é o tema central do filme, mais do que qualquer idéia de patriotismo estadunidense. Desde o judeu que se lembra de ter essa origem apenas para conseguir um visto de trabalho até o pai muçulmano que decide ver a família dividida para conseguir ficar no país em que acredita que terá melhores condições de vida, todos buscam o mesmo.

CONCLUSÂO: Um filme polêmico em muitos e variados sentidos. Primeiro, pela temática, ao abordar distintos aspectos do “problema” da imigração nos Estados Unidos. Depois, pelos embates deflagrados nos bastidores, entre os produtores do filme, seu diretor e astros – incluindo o pedido de exclusão de cena do ator Sean Penn. Apesar de todas as polêmicas e de alguns problemas de roteiro, acredito que é um filme que merece ser visto. Especialmente porque ele está ajudando a atriz brasileira Alice Braga a assumir, cada vez mais, uma posição de interesse no cenário hollywoodiano. Bem dirigido, Crossing Over é um filme que mexe com os sentimentos de pessoas que viveram, de uma forma direta ou indireta, o problema da xenofobia e da divergência de interesses em um mundo cada vez mais competitivo. Pena que essa competição parece ter afetado o filme – um exemplo de como Hollywood pode ser uma verdadeira fogueira das vaidades.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 20 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing e, atualmente, atuo como professora do curso de Jornalismo da FURB (Universidade Regional de Blumenau).

8 respostas em “Crossing Over – Território Restrito”

oi Ale, a dois dias vi esse filme, especialmente pela presença da maravilhosa Ashley Judd e claro, tambem de Alice Braga, embora esperasse mais de ambas na trama, coisa que não vi.

Também curto muito filmes que envolvem essa temática e acabei me lembando novamente de “THE VISITOR”, ou o próprio “Frosen” também merecidamente citados aqui no seu blog. Concordo com você que em Território restrito, a emoção não foi o carro chefe. Eu ficaria com os discursos e as explícitas cenas no estilo “a vida como ela é”, narrando até que ponto as pessoas chegam para atingir seus objetivos e para conseguir um mínimo de estabilidade nesse mundo.

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Oi Mangabeira!!

Nossa, que coincidência! Quer dizer que por pouco não assistimos no mesmo dia a este filme? Curioso.

Também gosto muito da Ashley Judd, mas concordo contigo que ela aparece muito pouco no filme. E a Alice Braga mesmo… coitada. Dois minutos na trama inteira… mas valeu ter aparecido. Melhor que nada. 😉

Como você, sempre me interessa o tema da imigração e dos estrangeiros que buscam melhores condições de vida em um país que não é o seu. Esse assunto é importantíssimo, hoje mais do que antes. E admito que o fato de ter vivido isso também faz com que eu me sensibilize com o assunto. Mas não sei… Crossing Over não chegou a me convencer. Acho que comparado a outros filmes do gênero – inclusive os dois que vc cita -, ele fica abaixo do esperado.

Bom te ver por aqui! Um abração e até logo mais…

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Repetindo o que disse em outro site , não me conformo o quanto pegam leve com a onipresente mídia racista americana, FACISTA! é a palavra que resume esse filme, é só um festival de humilhações de imigrantes e seus países,”devidamente justificados” pela trama que tem, uma aprendiz de mulher bomba(muçulmana), um aprendiz de assaltante(oriental), uma mulher morta pela família “extrangeira” por ser liberal e americana demais(muçulmanos II), e por aí vai, todos os defeitos dos imigrantes são culturais e os defeitos do dos americanos são falhas pessoais, mais uma lição de xenofobia pra o mundo ver! americanos(q nunca tiveram uma mulher no comando) ensinando sua moral pra os “machistas estrangeiros”, com direito a “peninha” dos pobres estrangeiros que não poderão viver no seu “paraíso”.

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Olá Guilherme!!

Antes de mais nada, sinta-se muito bem-vindo por aqui. Este blog foi criado, entre outra razões, justamente para esta troca de idéias sobre filmes e o cinema em geral.

Olha, respeito a tua opinião, mas tenho que discordar dela. Não achei Crossing Over fascista, como você o classificou. Acho que existe uma GRANDE diferença entre fazeres um filme que discute alguns temas e uma produção que defenda determinadas idéias e comportamentos.

Na época de Hitler, por exemplo, o cinema foi utilizado de forma estratégica para defender e justificar algumas idéias, como a “supremacia” da raça branca. As técnicas e o discurso utilizados na época realmente defendiam este conceito. Mas Crossing Over, se parares para analisar a sua narrativa, a linha condutora que vai do início até o final do filme, não pretende justificar os abusos que são feitos contra as diferentes etnias de imigrantes. Você pode perceber isso pelo fato de que muitos dos culpados pelo que acontece de errado acabam sendo punidos. Mas não todos, é verdade.

Em duas situações, pelo menos, os “vilões” não recebem nenhum tipo de castigo. Isso ocorre com os responsáveis pelo que acontece com as personagens de Alice Braga e Talisma Jahangir, por exemplo. Mas daí vem outra crítica do filme – na minha visão: de que é muito mais fácil punir indivíduos do que instituições. Ou seja: quando se trata do policial ou do agente de imigração criminosos, conseguimos uma punição mais evidente. Mas quando estamos tratando de uma política pública de discriminação ou de exclusão, esta punição ou mudança de conduta se torna mais complicada e difícil de resolver. Isso é fato. E acontece não apenas nos Estados Unidos – no Brasil, na Espanha e em tantos outros lugares também. O fisiologismo, a burocracia e algumas outra “pragas” que o sistema criou são realmente tristes de resolver.

Mas voltando ao que eu falava ali encima… gostei do filme porque ele coloca o dedo na ferida. Mostra – e questiona – o que sabemos que acontece cotidianamente nos Estados Unidos. Não acho que isso seja uma posição fascista, pelo contrário… acho que quando colocas temas e situações como esta em evidência é que consegues criar debate (como o nosso), fazer as pessoas pensarem e questionarem uma situação existente.

E antes de terminar, um comentário sobre os “defeitos culturais” que comentaste: em Crossing Over, assim como algumas características culturais dos imigrantes retratados, acredito que ficam evidentes no roteiro várias características dos estadunidenses. Uma delas é a do ufanismo e da resistência aos “diferentes”, a estas pessoas que vem de outros países com seus inevitáveis traços culturais. E não acho que isso é justificado pelo filme, mas evidenciado para que as pessoas possam questionar estas características.

Bem, Guilherme, esta é a minha opinião, mas entendo que penses diferente. De qualquer forma, não alimente nenhum ódio ou resistência aos Estados Unidos em geral. Como em qualquer outro país, por ali vivem pessoas ignorantes, racistas, xenófobas e tudo o mais, mas tenho a impressão que a maioria daquela grande nação é feita por pessoas que não são nada disso. Sinceramente, nunca vive nos Estados Unidos, mas penso que um país formado por tantas etnias, raças e culturas, deve ter essa mestiçagem refletida de alguma forma benéfica entre a maioria de seus habitantes. E odiar um país inteiro, colocar todos “no mesmo saco”, nunca é algo inteligente. Afinal, com essa atitude, estamos repetindo o que condenamos, como é o preconceito contra um coletivo inteiro de pessoas.

Um grande abraço, Guilherme! Espero receber mais visitas e comentários teus no futuro. Volte sempre!

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O filme foi muito criticado, mas traz realmente coisas que não se vê habitualmente no cinema americano. É um pouco desigual, tem muitos personagens e tramas paralelas, e evolui com uma lentidão que nem sempre parece apropriada (também a história do assassinato da irmã muçulmana do policial parceiro de Ford parece enxertada como uma tentativa de criar um certo clima de “thriller” que destoa do resto). Mas há dignidade no projeto, e achei boa a interpretação de Ford, com sua aura de veterano já suficiente para garantir o interesse de qualquer filme, mesmo com um certo ar cansado – que não fica inadequado para seu personagem nesse filme. Ele é muito bom, sempre.Alice Braga aparece pouco. A garota australiana que precisa ceder ao mais patético que degenerado funcionário da Imigração é de fato boa atriz e a história é a mais convincente do conjunto. No geral, um filme bem apreciável, mas não memorável.

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Olá francisco!!

Olha, concordo com absolutamente tudo que você comentou. Incluindo o teu argumento de que Ford dá um caldo para o filme com sua “aura de veterano”. Até o seu ar cansado cai como uma luva para o projeto. Tens razão.

Agora, não sei se o funcionário da imigração é mais patético que degenerado… de fato, ele se aproveita de sua condição para explorar sexualmente a garota – e ela deve ter sido mais uma de uma lista considerável. Ok, ele é medíocre, meio patético mesmo, mas acho que ele ganha como crápula.

Gostei dos teus comentários. Espero que voltes por aqui muitas vezes ainda, inclusive para falar de outros filmes… seja muito bem-vindo!

Um grande abraço!

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