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Curtas de Ficção Indicados ao Oscar 2016 – Avaliação


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Olá meus caros leitores e leitoras.

Sigo na missão do Oscar 2016. Desta vez resolvi comentar a todos os curtas que estão concorrendo à uma estatueta. Acho esta categoria tão importante quanto qualquer outra, apesar dela ser menos comentada – inclusive aqui no blog. Como a premiação já será feita amanhã, vale ainda hoje conhecer um pouco mais sobre os indicados nestas categorias.

Lembrando que apesar da dificuldade de encontrarmos os curtas indicados ao Oscar para assistir, vale a pena ficar de olho nos festivais pelo país e na internet para quando estas produções estiverem “liberadas”. Todo diretor que se preze um dia já fez um curta. Há muitas produções de qualidade neste formato. Vejamos os indicados na categoria Melhor Curta de Ficção:

 

1. Ave Maria

O trailer é instigante. Vemos a um grupo de freiras em voto de silêncio que acabam sendo surpreendidas por um acidente de carro de uma família. Sem dúvida alguma dá vontade de ver ao curta de 15 minutos inteiro para saber o que acontece na sequência.

Dirigido pelo israelense Basil Khalil, este curta tem roteiro assinado por Khalil e Daniel Yáñez Khalil. A sinopse do curta é a seguinte: “A rotina silenciosa de cinco freiras que vivem no deserto da Cisjordânia é interrompida por uma família de colonos israelitas que se acidenta em frente ao convento justamente quando o Sabá está começando. A família quer voltar para casa logo, mas a lei do Sabá proíbe que os israelenses utilizem o telefone. Por sua vez, as freiras estão com o voto de silêncio. Para sair daquela situação, eles devem procurar juntos uma alternativa nada ortodoxa”.

Lendo a sinopse e na própria descrição do curta ele está classificado como comédia. O trailer confirma essa impressão. Mas, sem dúvida, o filme utiliza a comédia para falar sobre diálogo inter-religioso, sobre fé e convivência social. Coproduzido pela Palestina, pela França e pela Alemanha, este curta já é a sétima produzida dirigida pelo jovem Basil Khalil, de 35 anos. No currículo ele já tem um documentário para cinema, dois documentários para a TV, um outro curta, um curta de documentário para a TV e o episódio de uma série de TV de documentários.

Até agora Ave Maria ganhou quatro prêmios e foi indicado a outros 12 – incluindo a indicação para o Oscar. O curta está na dianteira na bolsa de apostas para a categoria, mas no site IMDb ele tem apenas a avaliação 6,6. Confira o trailer do curta:

 

 

2. Day One

Vários filmes tem abordado a questão do Afeganistão – inclusive uma das produções indicadas este ano ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira. O curta Day One parece abordar a questão sob um ângulo até então não explorado: o de uma mulher envolvida no conflito e na tensão diária do país.

Segundo a sinopse do curta, Day One é “inspirado em uma história verdadeira de uma mulher afegã-americana que após sair de um divórcio se junta ao Exército dos EUA como intérprete. No primeiro dia de trabalho dela no Afeganistão, a unidade que ela integra investiga uma casa remota que seria de um fabricante de bombas. Quando a mulher do fabricante de bombas entra em trabalho de parto, a intérprete recém-chegada deve deixar o trabalho como militar de lado para fazer o parto”.

Tanto o trailer quanto a sinopse me parecem um pouco “sentimentalóides”, ou não? Ainda que eu tenha achado a premissa diferente, especialmente por abordar uma mulher naquela zona de conflito mas em uma posição privilegiada, me pareceu que o curta é um tanto dramático demais. De fato Day One se classifica como um curta dramático e de guerra.

Produzido 100% nos Estados Unidos, Day One é dirigido por Henry Hughes, um estreante na direção e no roteiro segundo o site IMDb. O curta tem 25 minutos de duração e recebeu, até agora, quatro prêmios. Como o próprio site oficial do filme comenta, a protagonista deste curta passa por situações em que as questões de gênero e religiosas acabam tendo uma importância grande.

Interessante ler o depoimento do diretor no site oficial do curta. Há uma foto dele de 2009, quando ele serviu ao Exército no Afeganistão, e ao seu lado uma intérprete. O curta é baseado na história dela. Hughes chama a sua ex-colega de Exército de “musa”. Nas bolsas de apostas Day One aparece na penúltima posição. Os usuários do site IMDb deram a nota 6,8 para o curta. Me chamou a atenção o elenco envolvido no projeto. Há pelo menos dois atores conhecidinhos no grupo: Layla Alizada (conhecida por séries de TV) e Navid Negahban (de muitos filmes, como American Sniper, Brothers e The Stoning of Soraya M.). Confira o trailer de Day One aqui:

 

 

3. Everything Will Be Okay

Este curta coproduzido pela Alemanha e pela Áustria é, claramente, um drama sobre as dificuldades da vida após o divórcio – tanto pela ótica de um pai quanto de sua filha. O trailer do curta deixa o espectador tenso imaginando o desdobramento dos fatos. Com 30 minutos de duração, Everything Will Be Okay é dirigido por Patrick Vollrath, um diretor que aos 30 anos já contabiliza sete curtas no currículo – incluindo este novo filme.

Originalmente intitulado como Alles Wird Gut, este curta tem a seguinte sinopse: “Um pai divorciado pega a sua filha de oito anos de idade, Lea, para eles passarem o final de semana juntos. Cada segundo do final de semana parece ser bonito, mas depois de um tempo Lea começa a sentir que tem algo de errado. A partir daí eles começam a experimentar uma viagem fatídica”.

Eu não sei o que se vende melhor, se o trailer ou a sinopse. hehehehehehe. Se por um lado eles despertam a curiosidade, por outro me pareceram não ter a força necessária para realmente fazer alguém ir atrás do curta. O filme é estrelado pelo veterano ator austríaco Simon Schwarz. Ele faz uma dobradinha com a jovem Julia Pointner.

Até o momento Everything Will Be Okay ganhou 18 prêmios e foi indicado a outros sete – incluindo nas indicações o Oscar. Na bolsa de apostas esta produção aparece em último lugar. No site do diretor há uma lista bem maior de prêmios do que a citada pelo IMDb. Por falar em IMDb, os usuários do site deram a nota 7,6 para este curta. Confira o trailer de Everything Will Be Okay aqui:

 

 

4. Shok

Outro país estreando nas indicações ao Oscar: Kosovo. O país, que lutou tanto para ser independente e que conseguiu ser reconhecido por metade dos países da ONU como tal a partir de 2008, chega pela primeira vez ao prêmio máximo da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood com o curta Shok, coproduzido pelo Reino Unido.

Para a nossa alegria o curta, que é bem forte, está disponível na íntegra no link abaixo. Antes de falar sobre ele após ter tido a sorte de assisti-lo, vou repassar o que os produtores divulgaram como sendo a sinopse de Shok: “A amizade de dois meninos é testada até os seus limite enquanto eles lutam pela sobrevivência durante a guerra de Kosovo”.

Vale contextualizar e relembrar um pouco a história de Kosovo. Depois de fazer parte dos impérios romano, bizantino, búlgaro, sérvio e otomano, no século passado Kosovo passou para as mãos do Reino da Sérvia, do império italiano e da Iugoslávia. Os problemas no território começaram em 1912, quando apesar do país ter a maioria da população de origem albanesa – 95% da população, aproximadamente -, ele passou a ser integrado pela Sérvia e não pelo principado da Albânia.

Apesar de rebeliões albanesas em dois períodos, o país se tornou parte da Sérvia até que entre 1941 e 1944 ele passou a ser anexado à Albânia durante a ocupação italiana. Após ser reintegrado à Iugoslávia, o território se tornou autônomo, ainda que integrado à república Sérvia.

Em 1991 o país declarou a independência, mas houve uma resistência forte do regime de Slobodan Milosevic e os conflitos internos começaram, até que em 1999 a OTAN atacou a Iugoslávia dando início a Guerra de Kosovo. Enquanto a OTAN atacava alvos iugoslavos, as guerrilhas albanesas se digladiavam com as forças sérvias. Por causa disso foram formados grandes contingentes de refugiados – algo que é mostrado em Shok.

Feita esta ponderação, um rápido comentário sobre o curta dirigido por Jamie Donoughue e que tem 21 minutos de duração. A história é bem construída e vai direto ao que interessa. Primeiro, apresenta com naturalidade e uma certa rapidez a grande amizade entre Oki (Andi Bajgora) e Petrit (Lum Veseli). Depois, esperando que o espectador lembre do que eu comentei acima sobre Kosovo, o diretor logo mostra o risco da proximidade dos soldados. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao curta). No final, o curta mostra que a guerra é cruel, desumana, e faz muita gente perder seus melhores amigos – não importa se eles são adultos ou crianças.

Acho que o Shok é muito competente na narrativa da história que ele quer contar. Mérito da direção e do roteiro de Donoughue que, antes, dirigiu a apenas um longa e codirigiu a um curta. Trabalham muito bem também os atores envolvidos no projeto, especialmente os garotos que dão a vida a Oki e Petrit.

Na bolsa de apostas para o Oscar, Shok aparece em segundo lugar – apenas atrás de Ave Maria. De acordo com o site IMDb, Shok recebeu, até o momento, 11 prêmios. Os usuários do site, aliás, conferiram a nota 8,5 para este curta. Achei uma boa avaliação. Eu ficaria entre 8,5 e 9. Confira o curta na íntegra por aqui – no idioma original e com legendas em espanhol:

 

 

5. Stutterer

Fechando a lista de indicados na categoria Melhor Curta de Ficção temos Stutterer, produção do Reino Unido com roteiro e direção de Benjamin Cleary. Os produtores divulgam a sinopse do curta desta forma: “Um tipógrafo solitário tem um discurso cruel de impedimento mas, ao mesmo tempo, uma voz interior eloquente lhe motiva a enfrentar o seu maior medo”.

Para a nossa sorte, a exemplo do representante de Kosovo, Stutterer está disponível integralmente na internet. Depois de assistir ao curta de 12 minutos, farei alguns comentários sobre ele. Para começar, o filme de Cleary tem muitas características ao mesmo tempo. No início, ele parece um filme um tanto angustiante, um tanto previsível. Até que ele nos apresenta uma sacada ótima.

A angústia está no protagonista, um jovem tipógrafo boa pinta que tem problemas sérios de comunicação. O próprio pensamento dele é repetitivo e um tanto desordenado. A fala, então… complicadíssima – para não dizer impossível. Por isso mesmo ele aprendeu a língua dos sinais e muitas vezes “foge” de se comunicar através dela. E justamente por causa disso o filme tem uma virada bonitinha e fofa no final.

No início, Stutterer parecia um filme muito singelo. Sobre a angustiante realidade de diversas pessoas que não conseguem se encaixar muito bem em uma sociedade com excesso de discursos. No final, ele ganha pontos pela “virada” do diretor, que deixa uma mensagem de esperança – todos, afinal, podem ser felizes. Ainda assim, perto de Shok, sem dúvida este filme é menor e corre por fora na disputa.

Além da boa sacada do diretor, que tem um roteiro bem inteligente e uma narrativa condizente com o seu texto, Stutterer tem a qualidade de ter um bom ator em cena. Gostei de Matthew Needham como Greenwood. Além dele, aparecem no curta Chloe Pirrie como Ellie e Eric Richard como o pai de Greenwood. Este é o terceiro roteiro de Benjamin Cleary e a estreia na direção dele. Sem dúvida alguma é um nome a ser acompanhado. Ele tem estilo.

Segundo o canal do diretor no Vimeo, Stutterer já ganhou 11 prêmios em diferentes festivais pelo mundo. Na bolsa de apostas sobre o Oscar o filme aparece em terceiro lugar entre os favoritos. Os usuários do site IMDb deram a nota 7,7 para a produção. Eu daria uma nota um pouco maior, talvez um 8 ou um 8,5. Confira neste link o curta na íntegra – com o idioma original em inglês:

 

 

PALPITES PARA O OSCAR 2016: Dois dos cinco filmes indicados na categoria Melhor Curta de Ficção estão disponíveis integralmente na internet para serem vistos antes da premiação. Isso é um presente. Mas o paraíso seria termos os cinco, não é mesmo? Tendo assistido aos curtas Shok e Stutterer na íntegra e apenas ao trailer dos outros três, posso comentar que realmente parece que a decisão ficará entre Ave Maria e Shok.

Ainda que Day One, Everything Will Be Okay e Stutterer tenham as suas qualidades, acho que eles não tem a força de Shok ou a criatividade de Ave Maria para conquistar uma estatueta dourada. Independente do resultado, mais uma vez o Oscar mostra abertura para produções com propostas muito diferentes e nos ajuda a conhecer novos diretores de diferentes partes do mundo. Isso, por si só, já é bacana.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 20 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing e, atualmente, atuo como professora do curso de Jornalismo da FURB (Universidade Regional de Blumenau).

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