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The Great Wall – A Grande Muralha


Volta e meia Hollywood resolve gastar centenas de milhões de dólares em uma grande produção com “requintes” históricos. Certo que muita gente se interessa pelo cinema essencialmente pelos efeitos visuais e especiais que ele pode nos apresentar, mas um pouco de história para “rechear” o tempo gasto na sala escura não é má ideia, não é mesmo? Pois bem, é justamente história ao menos razoável que falta para The Great Wall. O filme é mais que previsível, ele dá sono.

A HISTÓRIA: Começa mostrando a Terra do espaço e afirma que a Grande Muralha foi, durante séculos, considerada uma das grandes maravilhas do mundo. A câmera lentamente se aproxima da gigantesca construção e aparecem mais informações sobre ela. A Muralha da China tem 5,5 mil milhas (cerca de 8,85 mil quilômetros) de extensão e demorou pouco mais de 1.700 anos para ser construída. A razão para a sua construção foi a China proteger-se de inúmeros perigos, alguns conhecidos, outros são lendas. A história contada neste filme é de uma destas lendas.

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a The Great Wall): Eu tinha curiosidade de assistir a este filme. Primeiro, porque eu gosto de filmes de ação, e achei que este poderia ter uma boa história por trás. Afinal, filmes de ação com um toque histórico sempre são interessantes. Depois porque eu achei ele um dos mais atrativos em cartaz no cinema atualmente e, terceiro, porque fiquei curiosa de ver a um fracasso comentado no Oscar.

Verdade que fui na sessão do cinema deste filme em 3D um tanto cansada. Mas pensei: “Bem, por ser um filme de ação, talvez ele tire o meu sono e me deixe bem desperta”. Ledo engano. A história super manjada no início e, principalmente, a perda de ritmo do filme da metade para a frente me deram mais sono do que qualquer outra coisa. Infelizmente o roteiro do trio Carlo Bernard, Doug Miro e Tony Gilroy, que trabalharam sobre a história original de Max Brooks, Edward Zwick e Marshall Herskovitz é muito fraco.

Entendo os produtores deste filme em colocar um astro mundialmente conhecido como Matt Damon como protagonista da produção. Afinal, o rosto dele ocupando grande parte do cartaz atrai um público considerável em diversos países. Mas, francamente, talvez The Great Wall funcionasse melhor se tivesse um elenco 100% chinês e, quem sabe, até um estilo um pouco mais “original” e de “raiz” do que o filme que nos apresentaram, muito preocupado com a audiência e pouco com a qualidade.

Para começar, vamos combinar que é um bocado manjado e forçado aquele começo do filme. Um grupo de “mercenários” foge de um grupo bem maior de maneira quase milagrosa. Depois, os “heróis” William (Matt Damon) e Tovar (Pedro Pascal) sobrevivem ao ataque de uma “figura não humana” novamente por milagre e, no dia seguinte, voltam a ser perseguidos pelo mesmo bando. Um tanto inverossímil isso, não? Pois bem, logo William e Tovar dão de cara com a Muralha da China. São tomados como prisioneiros pouco antes de um ataque esperado há 60 anos pelo Exército chinês acontecer.

O restante da história, depois desta introdução forçada, é bastante manjado. O Exército chinês com suas diferentes subdivisões enfrenta o inimigo com a ajuda dos “novos heróis” do pedaço, os “estrangeiros”. Mais do que simplesmente buscar sobrevida, William se mostra uma espécie de “cavaleiro da Távola Redonda”, defendendo a “mocinha” comandante Lin Mae (Tian Jing) que, evidentemente, não precisava da proteção dele. O roteiro dá uma forçada no personagem de William, fazendo dele quase um super-herói e o tornando “o queridinho” de Lin Mae de forma difícil de acreditar.

Em resumo, depois que os estrangeiros entram na jogada da guerra dos chineses contra os algozes alienígenas que aparecem de 60 em 60 anos – outro argumento forçado – eles viram os salvadores da pátria. Difícil acreditar que nenhum daqueles chineses que se prepararam há tanto tempo não tivessem a mesma capacidade de William de resolver tudo. Então The Great Wall decide trilhar o caminho besta e já conhecido do “herói bonitinho que salva a pátria” ao invés de contar uma história de lenda chinesa.

O desenrolar da história acaba sendo bem óbvio, com uma vitória dos chineses em uma primeira batalha e o retorno do inimigo depois para tentar reverter o jogo. Os alienígenas conseguem entrar na cidade, e a resolução do conflito é ainda mais forçado. Em resumo, o roteiro de The Great Wall é mais que fraco, previsível e forçado. Ele consegue a proeza de fazer um filme de ação ser monótono e dar sono. Mas outros elementos desta produção funcionam muito bem.

O que pode valer o seu tempo, mas eu recomendo que você espere para ver o filme em casa – não há necessidade de gastar com um ingresso no cinema -, são algumas cenas de ação, de luta e de batalha. Destaco, em especial, as cenas que envolvem a parceria de William e Tovar contra os alienígenas sobre uma das torres da muralha na primeira batalha e as cenas interessantes das chinesas que se lançam com cordas para enfrentar o inimigo na parte externa da muralha. São sequências realmente muito bacanas.

O 3D não vale muito a pena, exceto por algumas flechadas e alguns machados jogados contra os inimigos. Nada demais. Matt Damon se sai bem em diversos momentos, mas em outros ele parece estar em cena totalmente sem vontade. A interpretação dele é bem irregular. Os outros atores, especialmente os chineses, estão bem.

O diretor chinês Yimou Zhang faz um trabalho regular, mas o roteiro não lhe ajuda. Além disso, ele faz um trabalho previsível, sem grandes inovações de uso de câmera ou outros recursos. Talvez se ele tivesse mais liberdade criativa, poderia ter feito algo melhor. Em resumo, um filme bem feito tecnicamente, mas com roteiro ruim e interpretações ok, mas sem destaque nesta categoria.

NOTA: 6.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: O filme só recebeu a nota acima por causa de suas qualidades técnicas. Vale destacar, especialmente, a direção de fotografia de Stuart Dryburgh e Xiaoding Zhao; o design de produção de John Myhre; os belos figurinos de Mayes C. Rubeo; o trabalho do departamento de arte com 32 profissionais; o trabalho dos 19 profissionais envolvidos nos efeitos especiais; o resultado do trabalho do inacreditável time de 397 profissionais envolvidos com os efeitos visuais; a trilha sonora de Ramin Djawadi e a edição de Mary Jo Markey e de Craig Wood.

Impressionante o quanto este filme gastou com efeitos visuais. Certamente grande parte do orçamento da produção foi para pagar os quase 400 profissionais envolvidos com esta parte da produção. Por falar em custos, The Great Wall custou cerca de US$ 150 milhões. Quantos filmes independentes ou de orçamento mediano poderiam ser feitos com este orçamento? Incrível. Nos Estados Unidos o filme não foi bem nas bilheterias. Faturou quase US$ 38,7 milhões. Pouco para um filme que custou US$ 150 milhões. A sorte da produção é que no restante do mundo o filme não foi mal, faturou pouco mais de US$ 269,8 milhões. Ou seja, no acumulado, está com pouco mais de US$ 308,5 milhões. Não será um retumbante fracasso, mas também não pode ser chamado de sucesso.

Além dos atores já citados, vale comentar o trabalho razoável do veterano Willem Dafoe como Ballard, o “mercenário prisioneiro” veterano da produção; Andy Lau como o estrategista Wang; Hanyu Zhang como o general Shao; Kenny Lin como o comandante Chen; Eddie Pen como o comandante Wu; Xuan Huang como o comandante Deng; Ryan Zheng como Shen, que acaba sendo protegido por William; Karry Wang como o imperador “bobalhão”; Pilou Asbaek como Bouchard e Numan Acar como Najid, mercenários que morrem logo no início da produção.

Mais até do que Matt Damon, chama a atenção neste filme a interpretação do chileno Pedro Pascal. Conhecido pelas séries Narcos e Game of Thrones, esse é um dos papéis de maior destaque dele no cinema dos Estados Unidos recentemente. Tem boas chances de decolar a partir de agora.

Este filme é uma coprodução da China e dos Estados Unidos.

Os usuários do site IMDb deram a nota 6,3 para The Great Wall, enquanto os críticos que tem os seus textos linkados no Rotten Tomatoes dedicaram 116 críticas negativas e 62 positivas para a produção, o que lhe garante uma aprovação de 35% e uma nota média de 4,9. Devo admitir que concordo com as duas médias, tanto do IMDb quanto do Rotten Tomatoes. O filme poderia ganhar menos que o 6 que eu dei para ele, mas resolvi dar uma nota razoável para ele especialmente pelos efeitos visuais.

CONCLUSÃO: Roteiro não é apenas mais um elemento de um filme. Para mim, é parte central de uma grande produção. Então é chover no molhado dizer que a falta de um roteiro razoável, ao menos, é o principal problema de The Great Wall. Mas não é o único. Matt Damon se esforça para ser um herói na história, mas nem ele convence muito.

O que salva o filme e é por isso que eu dei a nota acima para ele são os efeitos especiais e alguma sequências de ação realmente muito boas. Pena que elas são poucas, levando em conta todo o tempo do filme. Ou seja, pense bem em investir o seu tempo nesta produção. Não achei o 3D tão fantástico, então talvez você possa esperar para fazer uma “sessão da tarde” com ele em casa.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 20 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing e, atualmente, atuo como professora do curso de Jornalismo da FURB (Universidade Regional de Blumenau).

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