Só quem nunca amou não teve o coração partido. Essa frase poderia fazer parte de um poema qualquer ou de uma música romântica. Mas acho que ela resume uma parte da alma deste instigante, envolvente e interessante Cha Cha Real Smooth. O filme trata de alguns temas conhecidos, como a passagem da juventude para a vida adulta, assim como aborda frustrações amorosas, o primeiro amor, as decisões importantes da vida, a inclusão de autistas na sociedade e algumas outras questões relevantes nesta linha. Apesar dos temas serem conhecidos, eles são apresentados neste filme com uma roupagem interessante, além de contar com ótimos atores.
A HISTÓRIA
Música animada, um garoto embasbacado e uma animadora de festa. Andrew (Javien Mercado) tem 12 anos e, no meio da festa, chama a mãe (Leslie Mann) para revelar que está apaixonado. O alvo de sua paixão é Bella (Kelly O’Sullivan), a garota que está comandando a festa. Na saída do local, Andrew se declara para Bella e leva o primeiro fora da vida. Dez anos depois, ele (agora interpretado por Cooper Raiff) está em outra festa, desta vez com os amigos e a namorada Maya (Amara Pedroso). Em breve ela vai viajar para Barcelona e ele terá que achar seu próprio caminho na vida adulta após a conclusão da fase universitária.
VOLTANDO À CRÍTICA
(SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes de Cha Cha Real Smooth, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu ao filme): O que mais me chamou a atenção nesse filme, além do carisma dos protagonistas, foi como esta produção é divertida e leve, bem embalada por um trilha sonora neste estilo, ao mesmo tempo em que o roteiro não perde a oportunidade para trabalhar temas sérios e necessários.
Como costumo fazer, eu não tinha lido nada sobre Cha Cha Real Smooth antes de assistir ao filme. Como eu cheguei nele? Passados os filmes que considerei “obrigatórios” do último Oscar – tarefa que terminei só agora, muitos meses depois do que eu gostaria -, passei a focar em algumas listas de algumas das principais publicações e sites que cobrem o cinema para fazer a minha própria lista de alguns dos “melhores filmes” de 2022.
Pois bem, foi assim que identifiquei e encarei esse Cha Cha Real Smooth. Alguns filmes que eu vou comentar aqui no blog a partir de agora também foram “descobertos” através dessa “garimpagem”. Pois bem, como costumo fazer, não li nada sobre o filme antes de assisti-lo. Assim, admito, só fui me tocar que o roteiro e a direção são assinados pelo protagonista desta produção quando fui ver os créditos do filme para escrever esta crítica.
Por que comecei falando sobre isso por aqui? Porque Cooper Raiff é o nome desse filme, não apenas pelo ótimo trabalho que faz como protagonista da história mas, principalmente, por causa das características de seu trabalho como roteirista e diretor.
Raiff tem um estilo próprio na escrita, buscando por um tom original e por uma jovialidade que são típicos de sua idade e de sua realidade – ele tem 25 anos de idade, é natural de Dallas, no Texas, e tem na bagagem uma experiência interessante no teatro. Guardada as devidas proporções, o texto dele neste filme me lembrou um pouco o estilo da roteirista Diablo Cody, revelada pelo filme Juno.
O que eles têm em comum? Uma linguagem mais moderna, que não tem medo de abordar problemas naturais da juventude e da vida adulta com franqueza e uma certa acidez – mais ela que ele neste último quesito. As semelhanças terminam por aí. Enquanto Cody é mais irônica, Raiff é mais cuidadoso – apesar de trabalhar com frequência e bem com o humor também.
Para mim, o ponto alto de Cha Cha Real Smooth é o roteiro de Raiff e o trabalho dele como ator, assim como o trabalho de Dakota Johnson como Domino, a mãe de meia idade de uma jovem autista, Lola (Vanessa Burghardt). Aliás, Vanessa também está muito bem em seu papel.
Chama a atenção como Raiff nos apresenta um protagonista que, ao mesmo tempo, se parece com tantos outros jovens que já vimos no cinema que passam por diversos dilemas e “maus bocados” após concluir a universidade e buscar “seu lugar no mundo” e, em paralelo, este mesmo protagonista nos apresenta um olhar diferenciado sobre diversos temas importantes – e muito atuais, que dialogam muito com a galera de 20 e poucos anos ou menos dos nossos dias.
Vou falar sobre estes dois aspectos que se destacam nesta produção. Por um lado, questões “requentadas”, lugares-comuns e situações já bem exploradas por outros filmes. Por outro lado, a inserção de algumas questões e um olhar diferenciado para temas que não são tão usuais.
Vamos começar pelos assuntos que Cha Cha Real Smooth resgata. A história começa com o protagonista deste filme “levando um fora”. Ele teve o “coração partido” pela primeira vez no início da história, mas desconfiamos que aquela não será a última vez… então Cha Cha Real Smooth aborda esta questão clássica das histórias de amor que nem sempre dão certo e dos encontros e desencontros da vida amorosa das pessoas. Ok, já vimos váaaaaaarios filmes nessa linha.
Mas em Cha Cha Real Smooth temos um protagonista que não se ilude muito nesta questão. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme ainda). Em certo momento do filme, ele comenta com Domino que as pessoas tem diversas “metades da laranja”, e brinca que ela deve ter umas quatro metades espalhadas pelo mundo, enquanto ele tem bem mais.
Primeiro ponto para Raiff e seu roteiro. Afinal, ele não cai na cilada de diversos outros filmes que abordam esse assunto, no estilo “romântico”, que colocam um protagonista atrás do seu “único e verdadeiro amor”. Quem já viveu um pouquinho sabe que, de fato, existem vários “grandes amores” para cada pessoa na vida. Algumas vezes, as pessoas encontram essas “metades da laranja” e, outras vezes, esses encontros nunca acontecem. E aí as paixões vão e vem… como acontece com Andrew.
Este olhar do protagonista e do roteirista para uma forma de amor mais “fluída” e sem tanto idealismo ou extremismo, sem seguir aquela crença que “cada um só tem uma tampa pra sua panela”, já mostra uma visão um pouco diferenciada deste filme em relação a outras várias produções do gênero. Este é um primeiro ponto de como Cha Cha Real Smooth aborda um tema desgastado com um pouco de “novo olhar”.
Outra questão já bastante vista em diversos outros filmes e que Cha Cha Real Smooth explora em sua essência é a boa e velha “passagem para a vida adulta”. Não por acaso vemos o protagonista como adolescente, com 12 anos, no início da história e, depois, o roteiro “pula” 10 anos para a frente na sua história. Neste segundo momento, acompanhamos Andrew na fase em que ele está terminando a faculdade e começando a buscar por seu “lugar no mundo”. Tema clássico do cinema, vamos convir.
Pois bem. O que Cooper Raiff fez com este tema clássico? Procurou “atualizá-lo”, trazer os questionamentos sobre essa passagem para a vida adulta para o que acontece nos Estados Unidos – e em diversos outros países mundo afora – em 2022. Assim, temos toda uma geração de jovens formados na universidade que não sabem exatamente que caminho seguir. Muitos deles, a exemplo de Andrew, tem que trabalhar em empregos que pagam pouco – como lanchonetes – e não conseguem ver muitas perspectivas de desenvolvimento ou de crescimento pela frente.
A pergunta de “o que você fazer depois da faculdade” está presente em diversos momentos deste filme. Ela é feita pela então namorada do protagonista e, de forma direta ou indireta, por seus familiares e amigos. Todos do entorno dele, ao mesmo com a mesma idade, estão procurando saber o que irão fazer após concluírem esta fase de suas vidas. Essa pergunta é muito frequente entre os jovens de lá e daqui. Muitos deles, como Andrew, querendo mais do que um emprego que apenas lhes dê algum dinheiro para pagar algumas de suas contas…
Temos, portanto, até aqui, dois temas frequentes do cinema revisitados. Mas, para além destes assuntos, temos outras questões introduzidas por Raiff que trazem alguma novidade para este Cha Cha Real Smooth. Para começar, o filme aborda muito bem vários temas relacionados com questões psiquiátricas.
(SPOILER – não leia… bem, você já sabe). A questão mais evidente está presente na inserção da autista Lola em seu entorno – escolar, de amigos e do círculo religioso. Mas temos ainda questões como a bipolaridade da mãe do protagonista e a depressão de Domino. Não é todo dia que vemos um filme tratar de diversos assuntos psiquiátricos de forma tão objetiva e natural, mostrando a vida das pessoas que passam por estas questões sem pesar a mão na análise de suas questões.
Andrew é um personagem diferenciado. Conforme conhecemos a história do protagonista, percebemos que ele tem um olhar diferenciado e cuidadoso para todos ao redor por causa de sua história pessoal. (SPOILER – não leia se você ainda não assistiu ao filme). Em uma das cenas mais bonitas do filme, Andrew agradece a mãe por tudo que eles tiveram e pela mãe que ela sempre se esforçou em ser. O olhar diferenciado dele para Lola, Domino e para outras pessoas certamente passa pelo aprendizado que ele teve em casa, com a mãe, que teve altos e baixos também por sua condições de bipolaridade.
Todas as pessoas que convivem com uma pessoa com algum distúrbio psiquiátrico aprendem a ter um olhar mais cuidadoso para a dor e as dificuldades que podem fazer parte da vida de qualquer pessoa. Isso parece estar muito presente neste Cha Cha Real Smooth. Domino é uma mulher super atraente, quase magnética, mas Andrew não tem um olhar de conquista para ela desde o início. Antes, ele tem muito carinho e cuidado com ela e sua filha. Esse olhar, não muito comum entre diversos homens tempos atrás, parece estar mais presente nas novas gerações.
Segundo alguns filósofos como Byung-Chul Han, o século XXI é caracterizado como um século de patologias neuronais – ele cita, em Sociedade do Cansaço, doenças como depressão, transtorno de déficit de atenção com síndrome de hiperatividade (TDAH), transtorno de personalidade limítrofe (TPL) e a Síndrome de Burnout como exemplos da “paisagem patológica” desta era.
Pois bem, se estamos cada vez mais cercados por pessoas com estas “patologias”, nas palavras de Byung-Chul Han, também nos parece muito mais usual e menos “alheio” ou “estranho” um outro nível de cuidado e de interesse por estas e outras condições psiquiátricas. Assim, este Cha Cha Real Smooth acaba sendo muito atual. Fala dos nossos tempos a partir de uma perspectiva interessante que envolve questões amorosas, inserção das pessoas em suas comunidades, aceitação (ou a falta dela) e certa dose de sofrimento – visto em Domino e, um pouco menos, em Lola.
O interessante do roteiro de Raiff é que ele não doura a pílula e nem torna todas estas questões “pesadas” demais. Ele trata tudo com uma naturalidade que faz muito mais sentido para o que parece ser a realidade da maior parte das novas gerações do que da galera que faz parte de gerações mais antigas – e que tinha mais dificuldade para tratar de temas psiquiátricos. Este é o frescor desta produção, que aborda temas importantes de forma muito natural, sem “discursos”, ao mesmo tempo em que atualiza temáticas conhecidas do cinema.
O roteiro deste filme busca equilibrar bem o humor com o romance, questões sociais e familiares, tudo frequentemente embalado com música e dança. Em diversos momentos do filme me lembrei da Cristina Yang de Grey’s Anatomy lidando com alguns problemas graves, ao lado da amiga Meredith Grey, tendo como “única saída” dançar com toda a força. A mensagem de que dançar pode ajudar com muitos problemas está intrínseca neste Cha Cha Real Smooth.
Para além das leituras meio óbvias sobre esta produção, teve algo que o filme me fez pensar depois que os créditos terminaram. Verdade que a atriz Dakota Johnson é carismática, belíssima e muito sedutora. A forma como Raiff apresenta Domino nesta produção faz com que ela seja praticamente “irresistível” na sua história. Mas, descontada essa construção e perspectiva do diretor/roteirista/personagem, percebi algo que se repete nessa história e que chama a atenção.
(SPOILER – não leia… bem, você já sabe). Andrew tem um perfil que identificamos conforme a história se desenvolve. Aos 12 anos, ele se interessa por uma mulher bem mais velha – algo muitas vezes visto como “natural” entre os adolescentes. Mas, dez anos depois, novamente ele vai se interessar por uma mulher mais velha – Domino. A postura dele com ela é de muito cuidado. Parece que ele sempre está buscando proteger mãe e filha – Domino e Lola.
Isso é fofo e muito bacana, sem dúvidas. Quem dera que mais homens tivessem esse cuidado e esse olhar. Mas… fiquei pensando aqui no contexto vivenciado por Andrew. A mãe dele, por ser bipolar, não teria, indiretamente, criado no filho esta necessidade de estar sempre “cuidando” de alguém? Isso não é ruim, claro. Melhor cuidar do que desprezar ou maltratar. Mas é importante sempre estarmos atentos a esses “padrões de comportamento” motivados não por uma crença ou por um impulso próprio e sim por uma “dependência emocional” que pode vir dos nossos pais e que pode ser simplesmente repetido e projetado em outras relações.
Como em tudo na vida, o importante é tomarmos consciência sobre os padrões de comportamento, sobre as “fórmulas” que seguimos e as crenças que temos, até para ver o que faz sentido ou não em seguir, perdurar ou mudar. Sei que o papo é complexo, mas Cha Cha Real Smooth me fez refletir sobre estas questões. Esse ponto, assim como os outros que comentei antes, apenas demonstram como esse filme tem diversos diferenciais e merece ser visto.
O único “porém” desta produção e que me incomodou um pouco é que Andrew parece um pouco “irreal”. Não que seja impossível encontrarmos pessoas como ele por aí, mas acho que é como encontrar uma agulha em um palheiro. Ainda mais por perceber que o protagonista foi pensado pelo roteirista e diretor, me parece que a pílula foi um pouco dourada. Temos em cena o homem ideal, que sabe escutar, olhar com atenção, cuidar de quem está próximo – até se anulando um pouco no processo. Acho bonito, ainda mais em um filme, mas me pareceu um pouco “fantasioso” demais.
Esse ponto, assim como o resgate de alguns lugares-comuns demais, envolvendo questões como as “aulas para o primeiro beijo” dadas por Andrew para o irmão mais novo, David (Evan Assante) ou um personagem pouco desenvolvido do noivo de Domino, Joseph (Raúl Castillo), um pouco estereotipado com o “cara com dinheiro e fortão”, me incomodaram um pouco. Nada demais, é claro. Considero que as qualidades desta produção são maiores do que seus pequenos “deslizes”.
Outro ponto muito interessante do filme é como ele aborda a personagem de Domino. (SPOILER – não leia… bem, você já sabe). Como ela e Andrew fazem parte de uma comunidade de judeus – mas poderiam estar inseridos em outros grupos igualmente “tradicionais” ou “conservadores” que daria no mesmo -, Domino é vista com desconfiança pelas outras mães. Afinal, ela é linda e, aparentemente, tem uma índole mais livre e aberta do que as demais. No final do filme, sabemos que ela engravidou muito jovem e foi abandonada pelo pai da filha.
Por tudo isso, ela deixou de viver muitas coisas. Não teve a liberdade que Andrew tem – já que ele tem 22 anos e não é pai ou casado. Como muitas mulheres – mesmo as que não querem admitir -, Domino gostaria de ter desfrutado mais da própria liberdade, ter feito escolhas com maior tranquilidade… nem por isso, ela se queixa da filha ou da maternidade. Pelo contrário. Essa complexidade é algo interessante na personagem e na história porque ela fala de muitas mulheres de hoje e de sempre.
O final da produção é interessante porque mostra algo muito real: que as pessoas podem ser felizes, na maior parte do tempo, de diversas formas diferentes. Não existe apenas uma fórmula, ou uma forma. (SPOILER). O encontro final entre Domino e Andrew deixa no ar aquela ideia de que “em outro contexto, eles poderiam ficar juntos”. Pode ser que sim. Como tantas outras histórias, que não se realizam ou não prosseguem por diversos fatores e pelo momento de cada pessoa. Faz parte. Filme interessante, com boas ideias e bem conduzido, no geral.
NOTA
9.
OBS DE PÉ DE PÁGINA
Gente, não posso finalizar essa crítica sem dizer algo que fiquei pensando por grande parte do filme: como o personagem de Andrew é fofo! Sei que existem homens como ele no mundo, mas eles são tão raros… ao menos eu não tive a felicidade de encontrar muitos deles pela frente.
Tanto o personagem foi muito bem construído, fazendo com que todos se encantem por ele, quanto o trabalho de Cooper Raiff na atuação faz com que todos se apaixonem por Andrew. O personagem apenas demonstra, por A+B, que homens com humor, que não se importam de serem um pouco “bobos” e que gostam de dançar realmente são diferenciados. 😉
Cha Cha Real Smooth revela um frescor muito interessante. O filme apresenta leveza, humor, como falei antes, mostrando que a vida é complicada mas também cheia de bons momentos. Não é todo dia que vemos um filme que trata sobre isso de forma singela e franca.
Como comentei antes, o roteiro de Cooper Raiff é um dos pontos altos da produção. Ao mesmo tempo, é justamente no roteiro, especialmente na construção de alguns personagens e na escolha por alguns lugares-comuns, que o filme também dá algumas derrapadas.
Na direção, considero que Raiff se sai muito bem, valorizando, sobretudo, o trabalho dos atores, colocando as câmeras sempre muito próxima deles, especialmente nas trocas e nos diálogos, em um filme que escolhe apostar bastante nessas interações. Em outros momentos, o filme valoriza o entorno, especialmente as festas de bar mitzvah, as casas de Andrew e Domino e os ambientes de trabalho do protagonista. Tudo isso faz com que o público se aproxime de Andrew e de sua história, facilitando o envolvimento com o que Raiff quer nos contar.
Acho que Cooper Raiff faz um belo trabalho como ator. Envolvente, carismático, ele realmente demonstra em cada cena o que o personagem deveria repassar. Outro nome de destaque na produção é o de Dakota Johnson. Para mim, ela está impecável. Além de bela e sedutora, a atriz apresenta carisma e representa muito bem a complexidade de sua personagem. Não assisti a muitos filmes com ela, mas gostei do que eu vi nesta produção.
Entre os personagens secundários, destaque para a ótima Leslie Mann como a mãe de Andrew; Vanessa Burghardt muito bem como a jovem autista e superinteressante Lola; Evan Assante como David, irmão mais novo de Andrew e que, vejam que curioso, também tem 12 anos de idade na segunda fase desta produção; e Brad Garrett bem como Greg, padrasto de Andrew. Destes personagens, o que sofre um pouco mais com o estereótipo do “cara tradicional e meio sem graça que eu não entendo como está com a minha mãe” é o vivenciado por Brad.
Falando em personagens que sofrem um pouco por serem menos desenvolvidos na história, está Joseph, interpretado por Raúl Castillo, noivo de Domino. Ele aparece pouco na história, basicamente para “rivalizar” com o protagonista. Apesar disso, considero que Raúl Castillo faz seu trabalho bem.
Outros personagens secundários e que aparecem menos ainda mas que merecem ser citados porque fazem um bom trabalho em cena – apesar da pouca profundidade do roteiro escrito para eles: Colton Osorio como Rodrigo, um dos melhores amigos de David; Amara Pedroso como Maya, que na fase adulta aparece como a nova namorada de Andrew – ela aparece muito pouco no filme; Odeya Rush como Macy, colega do tempo do colegial de Andrew, garota cobiçada naquela época e que volta a se relacionar com ele quando Andrew volta para a cidade; Javien Mercado em uma ponta como o Andrew fofo aos 12 anos de idade; Brooklyn Ramirez como Margaret, a garota de quem David gosta; e Kelly O’Sullivan como Bella, a primeira “paixão” do protagonista.
Ao consultar os nomes dos atores que fazem parte do elenco de Cha Cha Real Smooth, reparei em um detalhe: o que foi feito do pai do Andrew? Ele, que é interpretado por Chris Newman, aparece na fase inicial da produção quando Andrew e a mãe estão indo para casa de carro. Mas, depois, não sabemos mais nada dele. Ele nem é citado no roteiro. Não sabemos se ele morreu, se ele se separou da mãe dos meninos e nem temos certeza se Andrew e David são filhos dele ou se David é filho do segundo casamento da mãe de Andrew. Não é uma obrigação o filme explicar tudo isso, mas não chega a ser estranho ele “desaparecer” sem maiores explicações? Eu acho estranho não termos nem uma ou duas linhas do roteiro tratando sobre ele…
Sobre os aspectos técnicos da produção, um destaque especial para a trilha sonora, escolhida e capitaneada por Este Haim e Christopher Stracey. Vale citar ainda a direção de fotografia de Cristina Dunlap; a edição de Henry Hayes; o design de produção de Celine Diano; a direção de arte de Brittany Ingram; a decoração de set de Thomas F. Kelly e Barbie Pastorik; e os figurinos de Michelle Thompson.
Cha Cha Real Smooth estreou em janeiro de 2022 no Festival de Cinema de Sundance. Até junho, o filme participaria, ainda, de outros 12 festivais, a maioria nos Estados Unidos. No dia 17 de junho a produção estreou na internet – o filme foi comprado pela AppleTV+ por US$ 15 milhões.
Vale citar um par de curiosidades sobre esta produção. Cha Cha Real Smooth foi filmado, essencialmente, na cidade de Pittsburgh, na Pensilvânia.
O título do filme, Cha Cha Real Smooth, faz referência à música Cha Cha Slide, de Willie Perry Jr., mais conhecido como DJ Casper. Segundo nota da produção, essa música, lançada pela primeira vez no ano 2000, virou referência nos eventos de dança em grupo ou em linha, sendo tocada com frequência em recepções de casamento, danças escolares, festas de 15 anos e bar mitzvahs – este último, parte do enredo desta produção.
Por falar em bar mitzvah, fui pesquisar um pouco a respeito, já que esta cerimônia não faz parte da minha cultura. Para quem ficou interessado(a) no assunto, esse texto da Superinteressante pode ser uma boa introdução. Nisso, descobri que o filme, na verdade, também trata do bat mitzvah, que é a celebração judaica de passagem para meninas.
Até o momento, Cha Cha Real Smooth ganhou dois prêmios e foi indicado a outros cinco. Os prêmios que o filme recebeu foram o de Melhor Filme Americano dado pela audiência do Festival de Cinema de Sundance e o de “Diretor para ser Visto” para Cooper Raiff conferido pelo Festival Internacional de Cinema de Palm Springs.
Aliás, vale falar sobre o diretor Cooper Raiff. Como comentei antes, Raiff tem 25 anos e nasceu em Dallas. Como diretor, ele estreou em 2018 com o filme Madeline & Cooper, um média-metragem com 56 minutos de duração. Dois anos depois ele dirigiu Shithouse, seu primeiro longa.
Interessante que, a exemplo de Cha Cha Real Smooth, nestes outros dois filmes ele também atuou como roteirista, diretor e protagonista das histórias. Agora, ele está trabalhando na pré-produção do longa The Trashers, o primeiro no qual ele aparece apenas como diretor, tendo roteiro assinado por Adam R. Perlman, conhecido pelo roteiro de diversas séries, como The Newsroom, The Good Wife e Billions, e com Cooper Hoffman e David Harbour em papéis de destaque. Vale acompanhar Raiff de perto.
Os usuários do site IMDb deram a nota 7,3 para esta produção, enquanto que os críticos que tem os seus textos linkados no Rotten Tomatoes dedicaram 184 críticas positivas e 31 negativas para o filme – o que lhe garante um nível de aprovação de 86% e uma nota média de 7,7.
O site Metacritic apresenta o “metascore” 69 para Cha Cha Real Smooth, fruto de 33 críticas positivas, cinco medianas e quatro negativas.
Algo é fato: esse filme vai fazer você sorrir em vários momentos. Claro que não dá para ser muito exigente com a história. Mas se você se deixar levar pelo que Raiff apresenta, certamente você vai se divertir, sorrir, sentir-se emocionado(a) e atraído(a) pelos protagonistas. Isso tudo demonstra que Raiff faz um trabalho competente.
Cha Cha Real Smooth é um filme 100% dos Estados Unidos.
CONCLUSÃO
Um filme envolvente, que nos conduz por caminhos relativamente conhecidos, mas sempre guardando algum “frescor” no seu interior. Cha Cha Real Smooth tem ótimos atores e personagens, o que torna a história bem fácil de ser digerida. O foco principal da produção é o amor, vivenciado em mais de uma esfera, assim como as diversas descobertas que vamos tendo ao longo da vida e a constatação que diferentes estágios de uma trajetória significam “pesos” diferentes nas costas e nas decisões das pessoas. Com um roteiro leve, com interpretações apaixonantes, Cha Cha Real Smooth trata de temas interessante e importantes sem ser chato ou pesado demais. Pelo contrário. Filme diferenciado por causa disso – e da música e da dança, elementos fundamentais nesta história.