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Fire of Love – Vulcões: A Tragédia de Katia e Maurice Krafft


Eis um filme para apaixonados por vulcões. Pois sim. Como peça de cinema, não vejo tanto interesse nesse documentário. Fire of Love conta a história de um casal de vulcanólogos dedicados, apaixonados pela área do conhecimento para a qual eles se dedicaram e um pelo outro, bastante midiáticos e que foram homenageados com essa produção. Sim, o filme é bem editado, tem uma bela pesquisa de acervo, mas deve interessar a um público bastante específico. Para o grande público, pode ser apenas chato.

A HISTÓRIA

Em uma paisagem branca, começa a surgir um veículo. Depois, vemos o jipe mais de perto. Em seguida, vemos como o veículo atola na parte do gelo que derreteu. Maurice Krafft sai do jipe 4×4, pega uma pá no porta-malas e começa a tirar a neve de debaixo de um dos pneus. Depois, vemos o veículo em outro ponto, com o vento forte e gélido revelando o contexto no qual Maurice e sua esposa, Katia Krafft, estão. Maurice sai andando na frente do veículo, com uma lanterna, indicando por onde eles devem seguir. Depois de um tempo, eles alcançam o alvo: um local com resquícios de uma erupção vulcânica. Este é apenas um dos cenários e uma das dezenas, talvez centenas de aventuras que esse casal vivenciou na vida.

VOLTANDO À CRÍTICA

(SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Fire of Love): Então, minha gente, não tenho muito para escrever sobre esse filme. Sou franca em dizer. Fire of Love é um filme sobre um casal apaixonado por uma área de conhecimento muito específica, por um estilo de vida bem diferente, pela ciência, essencialmente, e um pelo outro. É isso.

A produção, apesar de bem conduzida e de ter um começo promissor, especialmente por começar com aquele recurso já bastante utilizado e até um pouco batido de primeiro apresentar os momentos finais dos protagonistas para depois retomar a narrativa para o passado, iniciando a história então linear a partir do momento em que Katia e Maurice se conheceram – ou para a versões sobre esse encontro -, tem muitas e muitas sequências de vulcões em erupção… diversas sequências interessantes para quem ama o tema, mas pouco atrativas para os demais.

Francamente, achei o filme chato. Apesar da diretora Sara Dosa fazer um bom trabalho narrativo, e tenho certeza que ela deveria ser mais que fascinada pela história desse casal de vulcanólogos, achei a história muito arrastada, com um certo esforço exagerado para tornar o material mais poético do que ele é, de fato, com muito foco na intimidade dos protagonistas e pouco enfoque nas descobertas que eles fizeram.

Essencialmente, pelo que essa história nos conta, Katia e Maurice eram dois apaixonados por vulcões que viviam viajando atrás das próximas erupções. O foco deles era estudar e explicar para o grande público – e para os tomadores de decisão, especialmente, os governantes – como os vulcões funcionavam e, com isso, como Maurice recomenda, “na dúvida, evacuem”. Ou seja, na dúvida, tirem as pessoas de perto de um vulcão que pode criar uma tragédia em questão de segundos.

Sem dúvida, eles tiveram uma vida interessante. E com significado. Viveram diversas aventuras e conseguiram realmente salvar muitas vidas com seus filmes. Mas isso tudo rende um documentário arrebatador, inesquecível, imperdível? Francamente, acho que não. Sim, esse filme será perfeito e tudo isso que eu mencionei para os fãs do casal de vulcanólogos. Não tenho dúvidas sobre isso.

Os fãs dos Krafft, sem dúvidas, vão achar Fire of Love simplesmente perfeito. Quem estuda e/ou aprecia vulcões, vai achar o filme interessante – mas talvez sinta falta de ter mais detalhes sobre a obra e as descobertas do casal. Para os demais – e eu me encaixo nesse último grupo, admito -, acho difícil Fire of Love apresentar-se com uma obra tão interessante assim.

Como eu disse antes, é um filme totalmente focado na história dos protagonistas. Procura contar a história de amor dos dois, com bastante foco nas cenas de bastidores dos filmes deles e em imagens de “bastidores”, do dia a dia do casal. Interessante, em especial, para quem acompanhou a trajetória dos Krafft. Para quem quer saber mais sobre vulcões, o filme deixa um pouco a desejar.

Sim, o roteiro de Sara Dosa, escrito juntamente com Erin Casper, Jocelyne Chaput e Shane Boris, busca trazer alguns conceitos básicos desta área. Ouvimos, logo no início do filme, Maurice explicar o conceito de vulcanólogos: “são pessoas que estudam vulcões ativos”. Ele também fala que não conhece outro casal de vulcanólogo. No início, um repórter afirma que Katia e Maurice são “provavelmente” o casal que mais “observou vulcões ativos no mundo”. Bacana. Como eu disse, o começo do filme é interessante e instigante.

Até quando a produção explora como Katia e Maurice se conheceram, acho que o ritmo é adequado e a história apresenta uma boa dose de atratividade. Depois, ela perde bastante o ritmo, e especialmente as sequências longas de inúmeras atividades vulcânicas sem grandes explicações sobre o que estamos vendo, torna o filme arrastado e pouco (ou nada, em alguns momentos) contextualizado. Pena.

Katia e Maurice ficaram juntos 19 anos, antes de morrerem vítimas de uma erupção vulcânica em 1991. Fire of Love conta a história desse casal, em um elogiável esforço da diretora Sara Dosa em escavar fundo nos arquivos dos Krafft para trazer novidade e cenas inéditas do trabalho e da intimidade deles neste documentário.

Bacana a homenagem, mas, para o meu gosto, falta conteúdo nesta produção. Roteiro e edição poderiam ter conversado melhor em diversos momentos. Especialmente ao trazer, quem sabe com depoimentos ou, caso a diretora quisesse seguir “purista”, utilizando apenas imagens de arquivo do casal de homenageados, trechos de entrevistas ou dos filmes deles em que ficasse melhor “amarrado” e contextualizado o que vemos em cena. Teríamos, assim, uma dimensão um pouco melhor da importância deles e aprenderíamos um pouco mais sobre os vulcões.

Como está estruturado, Fire of Love é uma grande homenagem e só. Ele não nos apresenta nenhuma narrativa recheada de novidades. Histórias de amor, conhecemos várias. Inclusive em outras áreas do campo científico – para não desviar muito do foco do trabalho dos Krafft. Mas a essência do trabalho deles fica de fora desta produção – com raras e esparsas exceções. Assim, Fire of Love não apresenta uma história envolvente ou cheia de novidades como poderia. Perde o público.

Apesar de tudo isso, acho louvável o trabalho de pesquisa e a homenagem que Sara Dosa faz com esta produção. Não é de se jogar fora, claro. Mas também não recomendaria como um documentário que precisa ser assistido. Daria para evitar essa produção sem maiores problemas.

NOTA

6,7.

OBS DE PÉ DE PÁGINA

Gente, o tempo passou muito rápido. Assisti esse filme há semanas, mas só hoje consegui concluir esse texto. Não vou mentir que parte da “culpa” é do próprio filme. Não fiquei motivada para escrever sobre ele depois de conferir o trabalho de Sara Dosa. Respeito e entendo o que ela quis nos apresentar, mas gostaria de ter gasto o meu tempo com outra produção. Faz parte. Esperava mais, especialmente pelo fato de Fire of Love ter conquistado uma vaga entre os indicados ao Oscar.

A diretora e roteirista, juntamente com seus três parceiros no roteiro, conseguiram apresentar um filme delicado, claramente com a proposta de homenagem, e que busca ser um tanto “poético” ou lírico em diversos momentos. No geral, eles apresentam alguns bons momentos de texto, mas em outras partes achei a produção um tanto “forçada”, especialmente nessa busca por ser poética mas sem aquele talento todo para isso. Acho que se a diretora e roteirista tivesse escolhido um caminho mais “básico”, teria sido melhor. Algumas vezes o “feijão com arroz” funciona melhor do que alguém que quer fazer um prato gourmet sem ter tanto talento pra isso.

Conforme o roteiro de Fire of Love, Katia e Maurice Krafft deixaram “amostras, palavras, centenas de horas de gravações, milhares de fotos e milhões de perguntas” quando partiram. Além de darem muitas entrevistas e lançarem filmes sobre vulcões, o casal publicou livros a respeito das pesquisas que eles fizeram. O mundo está mais preparado, hoje, para lidar com os vulcões, também por causa deles – e de outros pesquisadores da área.

O roteiro de Fire of Love acerta em alguns momentos, como comentei, com sua busca por uma homenagem mais sensível e poética, mas em outros momentos o filme pesa a mão nesse quesito. Vejo o roteiro como um dos pontos frágeis da produção – como eu disse antes, ele poderia caprichar mais nos dados e em informações para trazer mais contextualização para essa história. No fim, parece mais um filme de homenagem recheado de cenas pessoais feitos por alguém da família para ser visto no aniversário de morte do casal. Nada muito além disso.

O ponto forte do filme, talvez, por causa da pesquisa feita pela diretora nos acervos dos Krafft, seja a edição. Ainda assim, acho que a produção tem muita sequências longas de atividades vulcânicas. Sem um texto bom de apoio para essas sequências, essas escolhas de edição acabam jogando contra a narrativa, que fica muito lenta e um tanto chata.

Em um filme como este, claro que a trilha sonora é um ponto de destaque. Considero que Nicolas Godin faz um bom trabalho nesse sentido. A edição é mérito da dupla Erin Casper e Jocelyne Chaput.

Fire of Love estreou em janeiro de 2022 no Festival de Cinema de Sundance. Depois, até abril de 2023, o filme participou de outros 42 festivais e mostras de cinema em diversos países. Entre os festivais que o filme participou, vale destacar eventos como os de Seattle, Sydney, Jerusalém, Nova Zelândia, Melbourne, Beijing, Zurique e Taipei.

Em sua trajetória por tantos festivais, Fire of Love colecionou 32 prêmios e foi indicados a outros 67. Entre os prêmios que recebeu, destaque para o Satellite Awards de Melhor Filme Documentário; para o de Melhor Direção de Documentário para Sara Dosa conferido pelo Directors Guild of America; para o de Melhor Documentário Americano no Festival de Cinema de Sundance; e para o prêmio de Melhor Documentário do Golden Tomato Awards, conferido pelo site Rotten Tomatoes.

Fire of Love foi indicado ao Oscar e ao BAFTA, mas perdeu esses prêmios, dois dos mais importantes do cinema mundial, para Navalny (com crítica neste link). Dos filme indicados para o Oscar 2023 na categoria Melhor Documentário, achei esse o menos interessante até o momento. Claro, ainda faltam dois da lista, para zerar os que chegaram até a reta final da premiação, mas acho que vou dar um tempo do Oscar por enquanto – ou, ao menos, dos documentários.

Os usuários do site IMDb deram a nota 7,6 para Fire of Love, enquanto que os críticos que tem seus textos linkados no Rotten Tomatoes dedicaram 171 críticas positivas e quatro negativas para a produção, o que garante para o filme o nível de aprovação de 98% e a nota média 8,3. O site Metacritic apresenta o “metascore” 83 para Fire of Love, fruto de 35 críticas positivas e de três medianas. Além disso, o site apresenta o selo “Metacritic Must-see” para o filme.

Fire of Love é uma coprodução dos Estados Unidos com o Canadá. Segundo o site Box Office Mojo, Fire of Love arrecadou cerca de US$ 1,7 milhão nos cinemas em que ele estreou pelo mundo. Ou seja, um filme com pouco impacto na bilheteria e que reverberou muito mais entre os críticos.

Com todo o respeito, como sempre, às opiniões divergentes, de quem gostou muito desse filme, mas não vejo a hora de ver uma produção que volte a fazer os meus olhos brilharem. Quero – e preciso muito – de um filme daqueles que marcam a gente por um longo tempo. Meio que estou cansada de filmes medianos. Talvez por isso ando meio “desmotivada” até para manter o blog mais ativo. Então, espero, ter sorte daqui por diante, até para atualizar esse espaço com maior frequência. 😉

CONCLUSÃO

Um filme bem construído, com muitas imagens de arquivo interessantes, com a edição sendo um ponto de destaque. Mas isso faz de Fire of Love uma grande produção? Acho um filme interessante para quem ama o tema dos vulcões e a história de um casal de pesquisadores que dedicou sua vida para estudar essa área e alertar os países sobre o risco destas forças da natureza. Mas isso é tudo. Francamente? Acho que temos filmes melhores, mais instigantes e interessantes nos quais investir nosso tempo. Mediano. Para mim, uma surpresa ter chegado à lista de finalistas do Oscar.

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Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 25 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing, professora universitária (cursos de graduação e pós-graduação) e, atualmente, atuo como empreendedora após criar a minha própria empresa na área da comunicação.

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