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Emilia Pérez


Algo que temos que dizer sobre esse filme é que ele tem um roteiro surpreendente. Talvez esse seja um dos principais trunfos de Emilia Pérez, por muitos apontados como o filme favorito para emplacar diversas indicações no Oscar 2025 e o principal concorrente do brasileiro Ainda Estou Aqui (com crítica neste link) na sempre disputada categoria Melhor Filme Internacional. Então, estamos falando de filmes muito, mas muito diferentes mesmo. Ambos interessantes, com muitas qualidades. Mas eu sou bem mais Ainda Estou Aqui. Apenas uma sugestão antes de você seguir: se você ainda não assistiu a esse filme, procure não ler nada a respeito antes. Será melhor assim.

A HISTÓRIA

Ainda nos créditos iniciais, uma música começa a ganhar corpo. Em seguida, ela toma conta de tudo. A canção fala sobre “subindo ao céu, caindo no abismo, pairando sobre o limbo”, até que vemos a três mariachis, símbolos da cultura mexicana, com seus “sombreros” iluminados. Os “cantantes” dão lugar a cenas da cidade, e a música entra em uma lista de itens de compra. Através de um autofalante, a intenção de comprar diversos itens ganha forma em um veículo que adquire os objetos sem uso. A advogada Rita Moro Castro (Zoe Saldana) vê o veículo passando devagar pelas ruas através de uma janela. É noite, e ela respira fundo antes de retomar o trabalho. Vemos fotos de um feminicídio e Rita trabalhando no rascunho da peça de defesa. Ela será uma peça fundamental na história que iremos acompanhar.

VOLTANDO À CRÍTICA

(SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Emilia Pérez): Como eu comentei no início dessa crítica, quanto menos você souber sobre essa produção antes de assisti-la, melhor. Porque um dos trunfos do roteiro de Emilia Pérez é ele ser surpreendente em diversos momentos. Há muitas reviravoltas na história, e ser surpreendido(a) por cada uma delas é algo importante para a narrativa e para a impressão que o filme nos deixa no final.

Tendo dito e ressaltado isso mais uma vez, vou comentar sobre essa produção. Emilia Pérez é um filme interessante porque, primeiro, ele trata sobre temas muito atuais e relevantes. Temas esses, universais. Mas, ao mesmo tempo, esse filme só se explica em sua integralidade porque a história em grande parte do tempo está ambientada no México e os personagens principais têm origem naquele país.

Eu estive no México uma vez, em uma viagem que começou a trabalho e que terminou a lazer. Tive um pouco de contato, portanto, com aquela cultura fascinante, muito rica e, ao mesmo tempo, cheia de problemas. E um dos problemas centrais do México – como de outros países latinos – é que uma das bases daquela cultura é o machismo. As mulheres, muitas vezes, podem ser brilhantes, fantásticas em suas áreas de atuação, mas elas nunca terão o protagonismo dos colegas homens – mesmo eles não sendo tão bons quanto elas. Sem contar que a vida das mulheres parece “valer menos” – conhecemos bem esse tipo de realidade.

Pois bem, é nesse cenário em que Emilia Pérez começa. Logo de cara somos apresentados à advogada Rita Moro Castro, que está cansada de fazer o trabalho duro e de ficar sempre “nas sombras”. Que está farta de, por causa da busca por uma carreira e por dinheiro, defender a escroques da sociedade – especialmente homicidas de mulheres. Tudo isso é jogado de forma muito interessante na nossa cara logo no início do filme.

Foi um pouco surpreendente, ao menos para mim, que esse filme seja um tipo de musical moderno. Certamente fazer de Emilia Pérez um musical não era uma escolha óbvio. Para nada. Inicialmente, fiquei pensando se não era um pouco forçado colocar algumas sequências musicais no meio da narrativa. Se não seria um exagero do diretor Jacques Audiard para agradar à geração – ou os adeptos – do TikTok. Mas a verdade é que não.

Conforme a narrativa vai se desenvolvendo e vamos nos aprofundando na história, fica muito claro que diversos sentimentos, desabafos e contextualizações da história não se resolveriam de outra forma. Não conseguiríamos o mesmo efeito e a mesma manifestação dos personagens se eles extravasassem o que precisavam botar para fora através de diálogo, por exemplo. Então sim, as sequências musicais se justificam e, muitas vezes, se apresentam como uma grande sacada dos roteiristas. Além disso, claro, não podemos ignorar o fascínios das pessoas por vídeos com coreografias… então o filme acaba jogando, de forma inteligente, com sequências que fazem muito sentido na produção e atual conjuntura das redes sociais e de seus usuários.

Um dos maiores trunfos de Emilia Pérez, sem dúvida alguma, é o roteiro escrito pelo diretor Jacques Audiard, que contou com a colaboração de Thomas Bidegain, Léa Mysius e Nicolas Levicchi. O trabalho deles foi baseado no livro de Boris Razon. Mas, ao mesmo tempo em que o roteiro é um dos pontos fortes do filme, ele também é o que prejudica a produção na reta final, em especial – mas um pouco antes também. Falaremos sobre isso logo mais.

Mas voltemos à história que o filme nos apresenta. Então tudo começa com a história de Rita Moro Castro. Uma advogada que deve enfrentar uma série de preconceitos para tentar construir uma carreira. Ela sofre por ser mulher, sobretudo, e também por ser preta. Tem a pressão social óbvia para mulheres bonitas e jovens como ela – “quando você vai casar e ter filhos”, sim, tem gente que ainda questiona isso – e tem a pressão natural de quem gosta de sua carreira para fazer sucesso. Pressão própria e pressão alheia, de colegas – que não percebem que mesmo sendo talentosa, ela dificilmente conseguirá fazer carreira em um escritório próprio devido à cor da sua pele.

Existem temas mais atuais do que esses? Atuais e, ao mesmo tempo, atemporais. Então sim, logo de cara temos uma personagem interessantíssima e que nos leva pela mão para discutir esses assuntos. Mas logo entramos em outra seara igualmente importante. Rita Moro Castro recebe uma ligação misteriosa que a convida para um encontro em um local público, mas não muito visado.

(SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Algo muito forte no México e em outros países da América Latina é a briga violenta e os crimes cometidos por narcotraficantes. Podemos dizer que temos em diversos locais daquele país e do nosso continente uma verdadeira onda de crimes e de chacinas, em muitas ocasiões. Então não são raras as cenas que vemos em Emilia Pérez, como o sequestro de Rita Moro Castro por um chefão de um destes grupos de narcotraficantes.

Para esses chefes de grupos, o que não falta nunca é dinheiro. Muito dinheiro. Recursos que Rita Moro Castro nunca veria em sua vida como advogada – ou em qualquer outra profissão lícita. Pois bem, ela é sequestrada e levada até a presença de Manitas Del Monte (Karla Sofía Gascón), chefe de um cartel que acaba de arrasar um grupo inimigo que disputava, com ele, a liderança no mercado das drogas sintéticas. Além disso, a própria Rita Moro Castro comenta, ele apoiou vários políticos no ano anterior e teve, com esses nomes, diversas vitórias nas urnas.

Depois de ser sequestrada e de ficar cara a cara com esse chefão do narcotráfico, Rita Moro Castro quer saber como ela pode “ajudá-lo”. Ele diz que se ele responder essa questão, já significa que ela está dentro e que não poderá voltar atrás depois. E aí vem a primeira grande surpresa e reviravolta do filme. (SPOILER – não leia se você não assistiu ainda a essa produção). E que sacada genial! Aquele chefão do crime, tão temido por matar qualquer um que atrapalhe seus planos, aparentemente cruel e muito sagaz, quer mudar de sexo, finalmente tornar-se mulher – algo que ele sente que é desde sempre. Ou seja, ele quer passar por uma transição de gênero e, depois disso, sumir. Começar uma nova vida.

Interessante que ele não é apenas um cara misterioso, muito sério e de estilo brutal, ainda que “calmo”. Ele também é casado, tem esposa, Jessi (Selena Gomez) e dois filhos, Angel (quando criança, interpretado por Théo Guarin e, na adolescência, por Gaël Murguia-Fur) e Diego (interpretado por Lucas Varoclier na infância e por Tirso Pietriga na segunda fase da história). Ou seja, ele quer viver o que sempre desejou sem contar sobre os planos para a família. A ideia é renascer.

Até aí, tudo certo. Uma história interessante e com uma reviravolta marcante. Afinal, ninguém esperaria que um chefão do narcotráfico iria fazer uma transição de gênero não apenas para escapar da vida do crime, até porque isso não parecia lhe incomodar tanto, mas sim porque ele realmente se sentia uma mulher desde sempre. Interessante e provocador, derrubando diversos estereótipos que existem por aí. Afinal, qualquer pessoa pode sentir que seu gênero não coincide com sua verdadeira identidade. Ela não precisa ter uma determinada profissão ou ter certas características óbvias para isso. No caso, um chefão do crime sonha com o dia em que poderá se ver como sempre se sentiu, uma mulher. E busca por isso.

Mas por que Manitas Del Monte não envolve a família nesse processo? Bem, isso poderíamos discutir em um texto próprio – e envolvendo especialistas de diferentes áreas que poderiam nos ajudar a explicar o ponto de vista do personagem. Eu, tentando arriscar aqui uma conclusão a partir do que vemos durante o filme. Manitas Del Monte não quer que ninguém saiba sobre sua decisão. Ele não quer ser rastreado, depois de tornar-se uma mulher. Deseja sumir. É muito mais fácil fazer isso sozinho do que com mais três pessoas, certo? Mas, para além disso, acredito que ele não ache que a esposa, Jessi, e seus filhos vão aceitar a mudança. Ele tem dúvidas sobre isso e prefere não se arriscar.

Após fazer a transição de gênero, Manitas Del Monte forja a própria morte. Ora, ele poderia fazer o mesmo com a esposa e os dois filhos. Poderia, por exemplo, ter simulado um acidente de avião – ou melhor, ter provocado um acidente de avião em que um homem, uma mulher e duas crianças com as características deles morreriam. Então viabilizar o disfarce não seria algo tão difícil. Mas para ele, que na verdade sempre foi Emilia Pérez, a mulher que dá nome para esta produção, acho que o temor maior seria da reação da esposa e dos filhos. Ela sempre sentiu-se invisível, não reconhecida pelos demais. E nada mais atual. Novamente.

Temos aqui, portanto, temas que são muito locais, fortes no México, mas que também reverberam mundo afora. Em quase todas as sociedades – ou seriam em todas? – as pessoas ainda tem muita dificuldade de entender alguém que nasce com um gênero mas não se sente bem ou mesmo legitimamente pertencente a aquele gênero. A pessoa quer passar por uma transição para finalmente sentir-se inteira, sentir-se de forma visual e física como sempre se sentiu internamente. Esse desejo e a resistência de muitas pessoas em entender essa necessidade são universais, assim como a violência e o preconceito contra mulheres e, ainda mais, mulheres pretas.

Pois bem, então temos, até aqui, um filme muito inteligente, envolvente e com um texto muito bem escrito sobre todas essas questões. Mas a história de Emilia Pérez não termina aí. Quatro anos depois de tornar-se Emilia Pérez, a protagonista desta história aparece em cena em Londres, onde Rita Moro Castro está em uma confraternização com colegas. Não sei vocês, mas eu demorei muito menos tempo que nossa amiga advogada para perceber quem era aquela mulher belíssima que começou a puxar conversa com ela na mesa. Quando ela finalmente se dá conta, a interação entre elas é uma das sequências mais incríveis do filme.

Emilia Pérez tem diversos momentos marcantes, na verdade. Jacques Audiard nos dá uma aula de direção do início ao fim. Ele sabe conduzir as cenas muito bem, valorizando o trabalho de cada pessoa do elenco, caprichando nas coreografias, nas cenas em diversos ambientes e com as linhas de seu roteiro. Belíssimo trabalho. Só que daí, justamente naquele encontro entre os nomes principais da produção em Londres temos o que, a meu ver, é a primeira “derrapada” do roteiro.

Emilia Pérez, com dinheiro transbordante mesmo após mudar de vida – afinal, ela tinha herdado todos aqueles recursos sem fim de sua trajetória anterior como “chefe do crime” -, decide procurar Rita Moro Castro para fazer uma nova guinada em sua trajetória. Faz sentido parte do que ela procura. Com muita saudade de sua família, mais especificamente dos filhos, que ela diz que não consegue mais manter longe do seu dia a dia, Emilia pede para Rita ajudá-la a levá-los para o México. Sério mesmo? Que decisão horrível!

Ela poderia levar a família dela para qualquer parte do mundo. Se ela não gostava do frio e da tranquilidade da Suíça, para onde mandou Jessi e os filhos após forjar a própria morte, poderia ter escolhido qualquer outro lugar. Caso quisesse manter-se em um clima mais quente e retornar para seu idioma materno, poderia ter vindo para outro país da América Latina, mas sem se expor aos riscos de voltar para a nação de origem, onde poderia ser reconhecida por qualquer um.

Sim, ela mudou bastante. Sua transição foi ótima. Mas, ainda assim, convenhamos, ela era conhecida por muita gente e poderia ser reconhecida por várias pessoas. Para que voltar justamente para o local onde ela poderia ser reconhecida, exposta e assassinada? Enfim, para mim, não faz muito sentido. Mas, claro, para a história havia uma razão de ser desta escolha. Apenas voltando para o México a protagonista desta história poderia empreender um caminho de redenção.

Além de resgatar o convívio com os filhos – algo que Emilia poderia fazer na Suíça com muito mais segurança e menor mudança para eles, mas ok -, ela consegue, retornando para o México, repensar alguns passos que deu anteriormente. Ao ver o sofrimento de uma mãe que procurava pelo filho desaparecido, possivelmente uma das milhares de vítimas do narcotráfico, Emilia cria uma ONG que busca responder à dúvida dos familiares de desaparecidos.

Daí sim, o filme entra em uma questão importante mas, ao mesmo tempo, surreal. Claro que é importante a produção colocar em cena a questão dos desaparecidos mexicanos, pessoas que “sumiram” por causa das disputas entre os cartéis e que deixaram seus familiares sem resposta. A dor da dúvida, da falta de respostas, é quase impossível de ser dimensionada ou suportada – que o diga o nosso brilhante Ainda Estou Aqui (comentado neste link). Mas as pessoas tocam em frente, apesar da dor, da indignação e da revolta.

Ao abordar essa questão, Emilia Pérez traz outro assunto importante à tona. Ok, sobre isso não há discussão. Mas vamos convir que a escolha da protagonista desta história chega a beirar o surreal. Ora, ela criar uma ONG com esse propósito no país em que ela anteriormente era um dos nomes mais conhecidos? Para buscar as respostas que as famílias dos desaparecidos desejam, Emilia e Rita, sua braço direito nesta investida, buscam informações entre traficantes e integrantes de cartéis. Além disso, Emilia dá entrevistas, aparece na TV e promove eventos para arrecadar fundos para a ONG. Quer exposição maior? Qual era a chance de, aparecendo tanto, ela não ser reconhecida e denunciada? Ou, até, morta por um antigo rival?

Enfim, escolhas interessantes, claro, que dão novo dinamismo para o filme, para a história, mas que, na prática, fazem pouco sentido. Ok, os filmes nem sempre precisam fazer sentido – até porque as escolhas das pessoas, na vida real, também muitas vezes não fazem sentido. Certo. Dá para entender e dar um desconto. Então, até aqui, Emilia Pérez nos apresenta vários temas importantes e levanta alguns debates igualmente relevantes. Sem contar as reviravoltas na história.

Mas então, começa a ganhar maior evidência uma personagem até então bastante secundária: Jessi. Novamente uma mulher que ganha espaço na trama, seja por suas escolhas, seja por seus momentos de desabafo cantando. Se observarmos bem, Emilia Pérez é uma produção centrada em três mulheres. Cada uma delas bastante julgadas – ou com potencial para serem julgadas – por nossas sociedades machistas, patriarcais e cheias de preconceito. Jessi é a menos interessante das personagens, mas por tentar amar, após, em teoria, perder o marido, certamente ela também seria julgada – inclusive pela própria Emilia, em uma cena de confronto que chega a arrepiar e na qual é inacreditável que Jessi não tenha feito a identificação óbvia. Uma forçada de barra na narrativa, a meu ver.

Mas é que tudo precisa nos levar para o “grand finale”, não é mesmo? Ainda que ele não faça muito sentido – e que tenha algumas forçadas de barra para chegarmos no ponto em que chegamos. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Primeiro, para mim não faz muito sentido aquele ciúme e controle todo de Emilia sobre Jessi. Ela poderia ter lidado com a situação de forma muito melhor.

Já que, aparentemente, Emilia está muito mais “soft” do que na fase Manitas, ela poderia ter tentado o diálogo com Jessi, oferecido vantagens financeiras e etc. e, talvez, até ter dado abrigo para seu “novo” (antigo) namorado, Gustavo Brun (Edgar Ramírez). Mas, claro, ao saber que já era traída ainda quando vivia com Jessi como Manitas, esse orgulho ferido parece ter falado mais alto e Emilia não quis o caminho do diálogo ou da negociação.

Faz sentido, afinal, estamos falando de uma mexicana, com “sangue latino”, tradicionalmente conhecido por ser quente e “apaixonado” – se, até aqui, o filme tentava quebrar alguns estereótipos ou, ao menos, questioná-los, nesse aspecto ele reafirma um ponto de vista bem estereotipado. Então ok, o orgulho de Emilia não deixa que ela procure uma saída negociada ou até mesmo comprar Jessi. Mas ela teria outras saídas para o problema certo?

(SPOILER – não leia… bem, você já sabe). A mais óbvia de todas seria eliminar Gustavo. Algo que Manitas faria sem pensar duas vezes. Emilia até esboça uma reação, mas ao invés de matar Gustavo, o que era a coisa óbvia a ser feita, naquele contexto e pensando na reação virulenta que ela teve ao saber do que Jessi pretendia fazer, Emilia manda seus capangas apenas surrar o desafeto. Ora, por óbvio, isso não iria terminar bem. Daí temos o final que temos… que, para mim, foi decepcionante. Uma mulher tão fantástica quanto Emilia ter aquele fim… chega a beirar o inacreditável.

Primeiro que alguém como ela, com o passado e o conhecimento que ela tinha do crime, não ter uma segurança melhor? Difícil de acreditar. Então ok, Emilia está vulnerável o suficiente para ser facilmente sequestrada. Daí, após isso acontecer, ela não ter um grupo melhor equipado e preparado para fazer seu resgate? Novamente, difícil de acreditar. E, por fim, apenas no cativeiro a bendita Jessi teve que ter a verdade esfregada na cara para se dar conta de quem era Emilia? E ter a reação que teve, provocando um acidente falta daqueles?

Honestamente, que final frustrante! Mas ok, muitos podem alegar que essa produção tinha que ter um final trágico e “apaixonado” para fazer sentido. Afinal, esse é um filme muito latino, não é mesmo? Muito mexicano. E como a canção de um El Mariachi, precisávamos de dor, de perda, de paixão mortífera até o final. Bueno, ao mesmo tempo que toda essa forma de pensar faz sentido, para mim, não faz.

Ou Emilia Pérez, o filme, é uma produção que reinventa e recicla alguns conceitos e estereótipos, ou ela é mais do mesmo. Então um filme que vinha tão bem, subvertendo várias questões até boa parte da trama, abraçar algumas ideias difíceis de explicar do meio para a frente e, sobretudo, na reta final, esvazia um bocado da proposta inovadora de seus realizadores. Eu achei frustrante.

Ainda assim, por várias ideias interessantes que o filme trabalha, pelas questões que ele levanta, pelas ótimas interpretações das duas atrizes de maior destaque da trama e pela direção de Jacques Audiard, bato palmas para essa produção e dou a nota abaixo. Mas não escapo da crítica de um filme que começou tão bem e que seguiu assim por uma boa parte do tempo, acaba tornando-se um bocado frustrante no final. Pelo simples fato de algumas escolhas da protagonista não fazerem sentido.

Certo, alguém poderia dizer que ela ficou muito mais “soft” depois da transição de gênero e que por isso ela não mandou matar seu desafeto. Mas então ela poderia ter feito escolhas bem melhores, não? Além daquelas que eu já citei, de “negociar” ou propor algo financeiramente muito melhor para Jessi, caso ela não tivesse impedido a saída da ex-mulher de casa, ela poderia ter agido para sequestrar os filhos e levá-los com ela para qualquer outra parte do mundo. Seria muito mais simples e inteligente do que fazer o que ela acabou fazendo.

E para alguém tão inteligente quanto ela, pelo menos é o que concluímos durante o restante da trama, não faria nenhum sentido apenas dar uma surra no desafeto e deixá-lo vivo para que ele pudesse se vingar. O mesmo relacionado a Jessi. Enfim, acho que forçaram uma barra para terem um “final trágico” ao gosto das canções de Mariachi mas que, para o contexto geral da trama e da personagem principal, não casa. Uma pena, porque o filme vinha muito bem. Como eu disse, ao mesmo tempo que o roteiro é um dos pontos fortes da produção, também é seu aspecto mais frágil e falho no final.

Sei que Emilia Pérez fascinou a muita gente – e continua fascinando. De fato, o filme tem muitas qualidades. Mas impossível pensar nele como o principal concorrente de Ainda Estou Aqui no Oscar. Sem ser nada bairrista, mas considero o filme brasileiro muito melhor acabado, do primeiro ao último minuto, do que Emilia Pérez. Ambos tem ótimas direções, elenco e roteiro, mas Ainda Estou Aqui se mantém perfeito até o final. O mesmo não podemos dizer sobre seu principal concorrente no Oscar.

NOTA

9,3.

OBS DE PÉ DE PÁGINA

Como comentei nas minhas duas últimas críticas aqui no blog, entrei na temporada do Oscar 2025. Como estou com tempo reduzido para assistir a filmes, preciso me antecipar a esse movimento e buscar, no tempo que eu tenho, assistir ao máximo de filmes que tem grandes chances no próximo prêmio máximo da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.

Depois de assistir a Dune: Part Two (com crítica por aqui), filme que deve receber várias indicações no Oscar 2025, principalmente nas categorias mais técnicas em disputa, corri para ver ao brasileiro Ainda Estou Aqui. Precisava ver ao nosso grande candidato deste ano, nos cinemas, porque eu sabia que realmente temos uma produção diferenciada para nos representar nesse ano. Bem, após fazer isso, era inevitável eu focar em Emilia Pérez. Por uma razão muito simples: diversas bolsas de apostas e especialistas do mercado afirmam que a produção francesa dirigida por Jacques Audiard será o grande concorrente do Brasil na briga pela estatueta dourada na sempre interessante e disputada categoria de Melhor Filme Internacional.

Há quem aposte que Emilia Pérez pode ser indicado em 11 categorias do Oscar 2025. A saber: Melhor Filme; Melhor Diretor para Jacques Audiard; Melhor Atriz para Karla Sofía Gascón; Melhor Atriz Coadjuvante para Zoe Saldana; Melhor Roteiro Adaptado; Melhor Fotografia; Melhor Edição; Melhor Trilha Sonora; duas indicações em Melhor Canção Original; Melhor Som; e Melhor Filme Internacional. Ora, eu nem preciso dizer que, caso se confirmar essa previsão dos apostadores e o filme tiver 12 indicações em 11 categorias do Oscar, Ainda Estou Aqui não terá chance alguma para ganhar a estatueta dourada em Melhor Filme Internacional, não é mesmo?

E isso, como sempre quando falamos do Oscar ou de outras premiações de cinema, não terá nada a ver com qualidade ou com a classificação de que Emilia Pérez é melhor filme que Ainda Estou Aqui. As duas produções são muito, mas muito diferentes uma da outra. Tem propostas muito diversas, surpreendem e emocionam de forma distinta. Como sempre, vamos concordar em discordar sobre as premiações. Assim de simples.

Bem, então considerando que Emilia Pérez realmente vai conseguir emplacar essas indicações em tantas categorias, em quais disputas a produção é considerada favorita? O filme lidera as bolsas de apostas para ganhar nas categorias Melhor Atriz Coadjuvante para Zoe Saldana; Melhor Canção Original para “El Mal”; e Melhor Filme Internacional.

Bem, devo concordar com as duas primeiras estatuetas. Claro, ainda preciso ver ao trabalho dos outros concorrentes nessas categorias, mas devo dizer que, para mim, Zoe Saldana é o grande nome de Emilia Pérez. A atriz está simplesmente fantástica. Faz aqui um dos grandes trabalhos de sua carreira. Para mim, ela está perfeita em cada cena e se sai especialmente bem nas sequências musicais. Me surpreendeu positivamente. Sim, eu já achava ela uma boa atriz, mas aqui ela entrega mais do que o que estamos habituados. Depois, achei as canções do filme excelentes. Uma melhor que a outra. Então Emilia Pérez ganhar nessa categoria faria muito sentido – e seria bacana, para variar, termos uma canção em espanhol e não em inglês ganhando a disputa.

Agora, por óbvio, não considero Emilia Pérez o melhor filme na categoria das produções de fora dos Estados Unidos. Ainda Estou Aqui me parece muito melhor acabado, perfeito nos detalhes e no conjunto da obra. Mas, sabe como é, nem sempre o melhor filme vence.

Comentado sobre a questão Oscar, que é sempre interessante de ser acompanhado, mas que nunca deve ser o nosso principal critério para assistir ou não a um filme, vamos falar um pouco mais sobre Emilia Pérez. Um dos pontos fortes da produção é o trabalho do diretor francês Jacques Audiard, um cineasta com uma filmografia muito interessante e que há tempos nos mostra um trabalho diferenciado. Audiard tem 17 produções no currículo como diretor, sendo 10 delas longas feitos para o cinema, três vídeos musicais, um curta, dois vídeos e uma série de TV. Entre os filmes do diretor que eu assisti e que comentei aqui no blog, listo Un Prophète (com crítica por aqui) e De Rouille et d’Os (com texto neste link). Dois filmes bem acima da média.

Audiard coleciona, até o momento, nada menos do que 76 prêmios, incluindo dois prêmios BAFTA (o Oscar do cinema britânico), além de ter sido indicado a outros 98 prêmios. Números incríveis de um diretor que merece ser acompanhado de perto. A direção dele em Emilia Pérez é, mais uma vez, uma aula de cinema. Audiard nos apresenta uma direção muito dinâmica, sem perder nunca do centro de sua atenção o trabalho dos atores. Ao mesmo tempo, ele nos lembra sempre sobre o país e a cultura na qual a história se desenvolve, ou seja, ele valoriza cada atuação, colocando os atores em evidência, mas também abre o quadro sempre que necessário para nos mostrar a cidade e sua gente. As cenas da parte musical da trama são especialmente impecáveis, bastante dinâmicas e que valorizam a essência de cada canção. Trabalho impecável.

Um outro trabalho impecável nesta produção é o da atriz Zoe Saldana. Ela está perfeita, totalmente entregue à personagem de Rita Moro Castro, do primeiro até o último minuto. Ela nos convence em cada cena e nos emociona em muitos momentos. Muito difícil não se colocar no lugar dela e não entender toda sua complexidade e humanidade. Zoe Saldana nos entrega uma performance digna de muitos prêmios – e, ao meu ver, pelo menos até prova em contrário, também do Oscar. Com nada menos que 74 trabalhos no currículo como atriz, caso Zoe Saldana ganhe o Oscar, será sua maior conquista até o momento. Ela tem 29 prêmios no currículo, mas ainda nenhum Oscar.

O outro destaque em termos de atuação deste filme é, sem dúvida alguma, Karla Sofía Gascón. Que mulher formidável. Belíssima, ela nos deixa de queixo caído cada vez que aparece em cena. Achei ela muito bonita e, para além de sua beleza, muito, muito talentosa. Tanto quando ela ainda vive o cirúrgico e um pouco intimidador Manitas Del Monte, que fala apenas o estritamente necessário em cada cena, apesar de protagonizar uma das canções mais bonitas e emocionantes do filme, quanto no momento em que ela aparece em cena como Emilia Pérez. Cada minuto em tela dela é algo deslumbrante. E a atriz nos convence, a exemplo de Zoe Saldana, em cada minuto. Não há dúvidas na sua interpretação. Ela não hesita. Está perfeita também.

Apesar de ser belíssima e muito talentosa, quando penso em Karla Sofía Gascón com sua interpretação como protagonista deste filme e comparo seu trabalho com Fernanda Torres em Ainda Estou Aqui, acho ambos trabalhos excelentes, mas a entrega de Fernanda Torres está um pouco acima em termos de sutileza e de emoção. É mais fácil parecer imponente com uma personagem com duplicidade de manifestações, como é o caso do trabalho de Karla, e também em um filme mais visceral, como Emilia Pérez. Mas, para mim, Fernanda Torres faz uma entrega muito mais complexa, sutil e arrebatadora. Enfim, em uma disputa direta entre elas, se fosse possível, a estatueta eu daria para Fernanda.

Mas as bolsas de apostas sobre o Oscar 2025 apontam para outra direção. As principais concorrentes de Karla Sofía Gascón na categoria de Melhor Atriz são Mikey Madison, atriz de Anora; e Angelina Jolie, por seu trabalho em Maria. Correndo por fora estaria Nicole Kidman, atriz de Babygirl. A quinta vaga da categoria é que estaria mais aberta, e nela poderiam entrar, segundo as bolsas de apostas, um dos seguintes nomes (na ordem da preferência dos apostadores até agora): Marianne Jean-Baptiste (Hard Truths), Cynthia Erivo (Wicked), Demi Moore (The Substance), Saoirse Ronan (The Outrun), Fernanda Torres (Ainda Estou Aqui) e Amy Adams (Nightbitch).

Caso ganhar a estatueta dourada de Melhor Atriz do Oscar, Karla Sofía Gascón será a primeira mulher que passou por uma transição de gênero a vencer nessa categoria do prêmio da Academia. Ela já fez história ao se tornar a primeira mulher trans a ganhar um prêmio como atriz no prestigiado e badalado Festival de Cinema de Cannes neste ano – quando ela e Zoe Saldana, Selena Gomez e Adriana Paz venceram na categoria Melhor Elenco. Ela começou a carreira atuando com sua identidade antiga, como Carlos Gastón, até que aos 46 anos de idade ela fez sua transição de gênero e passou a atuar como Karla Sofía Gascón. Para quem quer conhecer mais sobre a história dessa atriz espanhola que fez boa parte de sua carreira no México, recomendo este texto de Miguel Vicencio publicado pela Vogue México e América Latina. Bem interessante.

Então, para resumir, claro que eu torço por Fernanda Torres conseguir entrar naquela quinta vaga da disputa como Melhor Atriz. Mas como a atriz brasileira tem poucas chances de levar a estatueta, ainda preciso ver ao trabalho das principais concorrentes na disputa, mas acho que não seria injusto Karla Sofía Gascón ganhar. Ao menos, sairia premiada uma atriz realmente talentosa, que fez um bom trabalho e que, além de tudo isso, ainda marcaria a história do Oscar e do cinema. Veremos.

Enquanto o trabalho de Zoe Saldana, para mim, é muito difícil de ser batido por alguém, o prêmio de Karla Sofía Gascón não é tão óbvio. Para mim, as duas atrizes é que roubam a cena nesta produção e são a alma e o coração do filme. Mas, além delas, temos muitos minutos de tela – especialmente na parte final da produção – para Selena Gomez. A atriz faz um bom trabalho, ainda que, para mim, ao menos, algumas vezes achei um tanto irritante a forma carregada no inglês com a qual ela fala suas linhas em espanhol.

Claro, a atriz é americana, etc e tal, mas realmente ela não poderia ter se preparado melhor para conseguir ter umas falas menos “truncadas” em espanhol? Claro que os fãs dela vão achar o contrário e vão alegar que o espanhol cheio de sotaque de Selena se justificam por seu papel, de uma americana que quer voltar para casa e que está no México apenas porque casou e etc. Ok, sim, o sotaque dela carregadíssimo é justificado pela personagem, mas, ainda assim, achei a interpretação dela a mais forçada e menos coerente entre as três mulheres que mais têm relevância na história.

Com quase a mesma importância que o papel de Selena Gomez tem para a história, temos a atriz Adriana Paz, que interpreta a Epifanía, uma viúva do tráfico que acaba se interessando e se apaixonando pela protagonista desta história. Essa atriz experiente do México faz um trabalho importante no filme e nos apresenta uma atuação interessante, carregada de legitimidade e que, por isso, nos convence do início ao fim. Não senti o mesmo no papel de Selena Gomez, que achei um tanto exagerado em muitos momentos. As duas atrizes tem mais ou menos a mesma relevância como coadjuvantes e fazem boas entregas, mas nada assim de grande destaque.

Esse é um filme de mulheres e, por consequência, os papéis de maior relevância e de destaque são das atrizes já citadas. Ainda assim, há alguns atores que fazem papéis secundários e que tem a sua importância durante a narrativa. Eles fazem bons trabalhos, mas sem nenhum grande destaque. Ainda assim, vale citá-los. São eles: Edgar Ramírez como Gustavo Brun, o novo e ao mesmo tempo antigo namorado de Jessi; Mark Ivanir faz um papel secundário bem interessante e um tanto controverso como o Dr. Wasserman, o médico que apresenta certo preconceito no início mas que, depois, aceita o trabalho proposto por Rita; e Eduardo Aladro faz quase uma ponta como Berlinger, o advogado estrela que se beneficia do talento de Rita no início do filme e aparece depois no jantar para arrecadar fundos da ONG de Emilia.

Além deles, tem as crianças que interpretam os filhos de Emilia. Eles fazem um trabalho interessante, condizente com seus personagens, com algumas cenas bem marcantes – especialmente aquela do “reconhecimento” no quarto, passados alguns anos após Emilia ter embarcado em uma nova vida e após “resgatar” os filhos do exílio.

Entre os aspectos técnicos do filme, a direção de Jacques Audiard é um ponto a se destacar. O roteiro, como comentei antes, começa muito bem mas, lá pelas tantas, enfraquece e tem pontos que podem ser bastante debatidos ou até questionados por não fazerem muito sentido. Ainda assim, Jacques Audiard faz um bom trabalho no roteiro, com o apoio e a colaboração de Thomas Bidegain, Léa Mysius e Nicolas Livecchi, que tiveram o livro de Boris Razon como inspiração.

Outros aspectos técnicos do filme que merecem ser comentados é a excelente direção de fotografia de Paul Guilhaume; a ótima edição de Juliette Welfling; a trilha sonora de Camille Clément Ducol; os figurinos e a direção de arte de Virginie Montel (interessante uma mesma profissional ser responsável por essas duas áreas, o que não é muito comum); o design de produção de Emmanuelle Duplay; a decoração de set de Sandra Castello, Cécile Deleu, Emmanuelle Duplay (mais uma polivalente) e Sandrine Jarron; o Departamento de Maquiagem que envolveu 13 profissionais e o Departamento de Música que envolveu outros 23 profissionais. Esses são alguns dos aspectos técnicos do filme que merecem ser destacados.

Emilia Pérez estreou no dia 18 de maio de 2024 no Festival de Cinema de Cannes. Depois, até janeiro de 2025, o filme faria uma longa jornada para participar de outros 32 festivais e mostras de cinema em diversos países pelo mundo. Essa trajetória tem previsão de terminar em janeiro de 2025 no Festival Internacional de Cinema de Palm Springs, nos Estados Unidos. Na internet, na Netflix, o filme estreou nos mercados do Japão, do México e dos Estados Unidos no dia 13 de novembro.

Em sua trajetória, até o momento, Emilia Pérez ganhou 27 prêmios e foi indicado a outros 33. Entre os prêmios que recebeu, destaque para o Prêmio do Júri no Festival de Cinema de Cannes, onde a produção ganhou, ainda, os prêmios de Melhor Elenco e o Cannes Soundtrack Award, o prêmio de Melhor Compositores para Camille e Clément Ducol; e para os prêmios de Melhor Filme no FIPRESCI Prize e Melhor Filme pelo Prêmio da Audiência do Festival de Cinema de Estocolmo.

Agora, vale citar algumas curiosidades sobre essa produção. Nos eventos de divulgação de Emilia Pérez, a atriz Selena Gomez disse em várias entrevistas que não é fluente em espanhol e que não ficou feliz com o espanhol que ela apresentou nesse filme. Bem, ela falou algo um tanto óbvio. Mas se ela mesma pensa isso, que é o que eu comentei antes também, que ótimo. Tomara que os fãs dela admitam o mesmo. Porque realmente ela poderia ter estudado um pouco mais para fazer um trabalho melhor nesse quesito nesta produção. Descontado isso, ela faz um trabalho ok. Nada de super destaque, mas dá conta do recado.

Esse é o primeiro longa que Karla Sofía Gascón estrelou após fazer sua transição de gênero. Antes, ela tinha feito apenas duas séries de TV como Karla: Rebelde, em 2022, e Harina, entre 2022 e 2023. Todos os outros trabalhos dela feitos anteriormente ainda eram como Carlos Gascón, que iniciou sua carreira em 1995 e atuou até 2016.

Esse é o primeiro filme de Jacques Audiard que tem o espanhol como seu idioma principal – há falas em inglês na produção. Os outros filmes do diretor eram falados todos em francês, sua língua materna.

Os usuários do site IMDb deram a nota 6,9 para esta produção, enquanto que os críticos que tem os seus textos linkados no site Rotten Tomatoes dedicaram 40 textos positivos e 12 negativos para Emilia Pérez, o que garante para o filme um nível de aprovação de 77% e uma nota média de 6,8. Tanto público quanto crítica, me parecem, estão menos empolgados com esta produção do que os apostadores e especialistas do Oscar. Um outro termômetro é o site Metacritic, que apresenta o “metascore” 71 para este filme, fruto de 35 críticas positivas, 14 medianas e quatro negativas.

De acordo com o site Box Office Mojo, Emilia Pérez arrecadou cerca de US$ 8,5 milhões nos cinemas. Ok que o filme estreou em poucos mercados até agora. Cerca de US$ 8,1 milhões que a produção arrecadou foi apenas nos cinemas franceses. Segundo o site IMDb, o filme teria custado 25 milhões de euros. Ou seja, ele tem um longo caminho pela frente ainda para começar a dar lucro… por enquanto, está no vermelho.

Emilia Pérez é uma coprodução da França e da Bélgica. Apesar disso, o filme é o representante da França, que é da onde se origina a maior parte da produção, no próximo Oscar.

Ah sim, e sobre a importância do tema narcotráfico para o México, tenho um texto para recomendar a leitura. Achei muito bom esse conteúdo assinado por Jéssica Petrovna e publicado em março desse ano pelo portal Terra. Impressionante como o narcotráfico transformou diversas cidades e regiões mexicanas nos lugares com o maior número de assassinatos no mundo.

CONCLUSÃO

Um filme surpreendente, com um ótimo roteiro – pelo menos até chegarmos perto da reta final – e com atuações dignas de prêmios. Emilia Pérez nos conta uma história que, ao mesmo tempo, fala muito sobre a cultura original na qual a parte principal da trama bebe, que é a cultura mexicana, como também trata sobre temas universais. Questões muito atuais estão misturadas nesse caldeirão de ideias e de provocações que fazem parte do filme dirigido pelo acima da média diretor Jacques Audiard. Mas, apesar de suas várias qualidades, Emilia Pérez decepciona um pouco no final. Claro que a conclusão da trama faz sentido e se explica. Ainda assim, para uma produção que nos apresentou tantas ideias interessantes, aquele final nos parece abaixo do esperado e do que vimos em grande parte do filme. Uma produção interessante, que merece ser vista e ter seus temas debatidos, mas que não é a melhor da temporada.

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Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 25 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing, professora universitária (cursos de graduação e pós-graduação) e, atualmente, atuo como empreendedora após criar a minha própria empresa na área da comunicação.

6 replies on “Emilia Pérez”

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