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Barfuss


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Um filme pode começar bem, muito bem. Um plano-sequência perfeitamente filmado e que capta os pés descalços de uma moça – o que, saberemos depois, simboliza sua necessidade por liberdade e revela a estranha realidade vivida por ela até então. Barfuss tem uma direção de fotografia belíssima e uma trilha sonora muito acertada, assim como um casal de protagonistas bastante carismáticos – e belos. Mas… existe um imenso mas nesta história, e ele se chama roteiro. Mas poderia ser confundido também com direção. A verdade é que estes dois últimos elementos tornam uma história que poderia ser inovadora e bacana em algo muito parecido a um videoclipe e/ou uma história romântica exagerada no tom. 

A HISTÓRIA: Leila (Johanna Wokalek) vive em uma instituição para doentes mentais. Tímida e assustada, ela se mantêm calada nas sessões coletivas coordenadas pela médica Blöchinger (Imogen Kogge). Por seu lado, Nick Keller (Til Schweiger) é o típico ovelha negra da família… demitido de todos os empregos nos últimos anos e parecendo sem rumo, ele é empurrado para a vaga de servente na instituição em que Leila está internada. Esta será a sua última oportunidade, deixa claro o assistente social (que lhe atende. Nick se sai muito mal no primeiro dia de trabalho, mas acaba salvando a vida de Leila, que a partir daí passa a seguir o rapaz recentemente demitido.

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Barfuss): O melhor do filme, para mim, é a direção de fotografia de Christof Wahl. Todas as cenas estão embebidas em lentes em tom pastéis e/ou alaranjados, o que torna o filme, ao mesmo tempo, acolhedor e um pouco “envelhecido”. Alguns podem entender como uma “aura irreal” que acompanha a história do iníco até o final – o que eu acho bastante coerente com o roteiro um bocado flutuante. De qualquer forma, para os planos de câmera escolhidos pelo diretor, roteirista e ator Til Schweiger, a direção de fotografia funciona a perfeição.

Aliás, devo admitir que demorou para cair a minha ficha sobre os “cabeças” deste filme. Só agora, ao escrever esta crítica, que reparei que o protagonista bonitão é, também, o diretor e roteirista. Huuuummmmm… Til Schweiger ganhou uns pontos comigo quando eu me dei conta disso. E não porque ele tenha feito um roteiro bacanérrimo. Pelo contrário. O texto escrito por ele, ao lado de Jahn Preuss, Nika von Altenstadt e Stephen Zotnowski é o ponto fraco de Barfuss. E a direção, exceto algumas cenas bastante inspiradas, também não é nada primorosa. Na verdade, o tom “a la videoclipe” do filme é um dos pontos que mais me irritou. Achei a verve pop de Barfuss desnecessária e pobre. A premissa do filme merecia outra levada – e um roteiro poderia ser um pouquino melhor também. Mas a cada dia me convenço mais de que vários roteiristas trabalhando em um mesmo filme, em praticamente todos os casos, resulta em um filme estranho – algumas vezes mal costurado, outras vezes apenas pobre de espírito.

Barfuss é um destes filmes com grande potencial. Tecnicamente bem feito e com uma história que poderia render uma grande produção, ele acaba ficando menor do que o esperado. Fatores que me incomodaram (além dos já citados): algumas “caras e bocas” dos protagonistas, que parecem estar se preocupando mais com o efeito da beleza deles do que com a interpretação. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Um exemplo categórico é a sequencia em que Nick é preso. Os closes dele e de Leila, ambos estampando expressões forçadas, lembra um filme de quinta ou uma propaganda de algum produto qualquer. O roteiro, por sua vez, meio que “descamba” depois que Leila foge do hospício. Quem acreditaria, realmente, que Nick levaria a garota até o casamento do irmão, Viktor (Steffen Wink) com sua ex-namorada, Janine (Alexandra Neldel). Ainda que ele quisesse provocar “ciúme” ou qualquer coisa parecida na ex ou no irmão, para isso ele se valeria de uma garota que ele não conhece e que é desequilibrada? Difícel engolir, não?

(SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Mas mais difícil de aceitar ainda é a “crise” que ele tem na frente de vários executivos e do padrasto, Heinrich Keller (Michael Mendl), e a declaração que ele faz de que os dias que passou com Leila foram os “melhores da sua vida”. Certo. Então ele viveu vários anos com a ex-namorada que agora se casou com Viktor, teve outras mulheres várias e, justamente com a “louquinha-que-não-usa-sapatos” ele vive os melhores dias de sua vida? Detalhe: em uma viagem com cenas muito bonitas, devo admitir, mas que também se mostra bastante desastrosa. Tudo bem de Leila, que nunca tinha tido um namorado e que por 19 anos ficou prisioneira da própria mãe, falar isso, que teve “os melhores dias” de sua vida ao lado de Nick. Mas ele dizer o mesmo? Ah, não, me desculpem românticos de plantão, mas não dá para engolir. E tudo isso fez o filme perder pontos comigo, porque eu acho que ele não precisa dessa “exagerada” no roteiro, nem de um tom pop-videoclípito permanente para convencer. Menos, como quase sempre, teria valido mais.

Mas fora estes detalhes importantes, o filme é bacaninha. Tem um bom ritmo, belas cenas, um casal de protagonistas bastante simpático e um final, para não desmerecer o restante da história, absurdo e exagerado. (SPOILER – não leia, repito, se você ainda não assistiu ao filme). Em que país do mundo as pessoas fazem compras jogando direto no carrinho legumes e demais produtos que precisam ser pesados? Nenhum, né, meus amigos. Pois é… então Til Schweiger ou um dos outros roteiristas achou engraçada a piada do ovo mas, para mim, ela foi apenas idiota. Menos, meus amigos, menos…

NOTA: 7.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: Agora, independente dos vários defeitos que eu apontei neste filme, algo é preciso admitir: os atores ganham o espectador pelo sorriso. Pelo menos eu, que sou apaixonada por sorrisos, fiquei encantada com Til Schweiger e Johanna Wokalek. 

Gostei de duas participações meio que “especiais” nesta produção – ou, em outras palavras, duas pontas de atores importantes no cenário de filmes alemães: Jürgen Vogel interpretando o “chefe” de Nick no manicômio; e Armin Rohde como Penner. Além deles, gostei da interpretação de Nadja Tiller como a mãe de Nick e de Viktor – ainda que, como a maioria dos personagens desta história, ela também se mostrou compreensiva demais, em um tom bastante irreal. Os rapazes devem gostar da provocadora Sarah Sommer, interpretada por Janine Kunze, uma atriz realmente muito bonita – mas “competitiva” demais nesta história.

Anteriormente eu comentei que Barfuss foi escrito por quatro pessoas, incluindo o diretor. Mas um dos roteiristas, Stephen Zotnowski foi quem teve a idéia original do filme – sobre a qual foi construído o roteiro.

Além da direção de fotografia inspirada, o filme se mostra interessante pela trilha sonora assinada por Max Berghaus, Stefan Hansen e Dirk Reichardt. O tom “modernete” do filme fica por conta de nomes como Dido, com sua “Don’t Leave Home”; Madrugada com “Electric”, e Leonard Cohen com a potente canção “Hallelujah”, interpretada por Ray Garvey.

Imagino que o galã e diretor Til Schweiger deve ter sonhado algumas noites com aquela “reviravolta” e correria automobilística protagonizada por ele… 😉

Na sua época – o filme foi lançado em 2005 -, Barfuss recebeu dois prêmios e foi indicado a outros três. Entre os que levou para casa estão um “Bambi” do Bambi Awards para Til Schweiger e o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante para Alexandra Neldel no austríaco Undine Awards.

Os usuários do site IMDb deram a nota 7,2 para o filme. No Rotten Tomatoes existem apenas dois textos para “Barefoot” – título no mercado internacional -, ambos positivos. 

CONCLUSÃO: Um filme bastante absurdo sobre uma garota que ficou isolada do mundo por 19 anos e um rapaz que não se encaixa nos padrões sociais de homem bem-sucedido. Estes dois “patinhos feios” se encontram e vivem situações impossíveis na vida real, mas que rendem algumas cenas muito bonitas e alguma piada interessante. Exagerado no tom, Barfuss vale pelos intérpretes (que, na maior parte do tempo, estão bem), pela direção de fotografia e pela trilha sonora. Mas exageradamente no estilo videoclipe, deve ser visto como tal, ou seja, para passar o tempo com uma historinha bonitinha. Nada demais.

SUGESTÕES DE LEITORES: Ainda na minha “cruzada” por assistir bons filmes alemães, cheguei a Barfuss através da indicação do leitor Leandro Soares. Este filme foi melhor que o anterior, hein? Melhor que Mein Führer… mas ainda está abaixo dos outros títulos alemães que vi recentemente. Ainda assim, gostei de ter visto. Pelas características que eu citei acima. O próximo da lista – e prometo que não vou demorar muito para terminar com ela – será um filme mais antiguinho, de um dos grandes diretores do cinema alemão. Logo mais falo se o homem acertou a mão ou exagerou na dose. Devo assistir ainda, no máximo, nove títulos alemães, e daí vou partir para a lista de filmes que fui deixando para trás (incluindo outras sugestões de leitores). Vários abraços para quem está acompanhando esta saga alemã. 😉

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 20 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing e, atualmente, atuo como professora do curso de Jornalismo da FURB (Universidade Regional de Blumenau).

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