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Dallas Buyers Club – Clube de Compras Dallas


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Faltam heróis no nosso tempo. E talvez essa constatação seja tão verdadeira porque as pessoas acham que para ser herói é preciso ter um bocado de santidade ou mesmo uma capacidade rara entre os mortais. Algum “superpoder” quem sabe? E a verdade é que para ser um herói basta agir como tal ao menos uma vez na vida. Mas a história do indivíduo, até ali, pode ter sido recheada de tropeços e de atos covardes – por que não? Dallas Buyers Club nos conta uma destas histórias surpreendentes. Porque a redenção pode ser conquistada por caminhos bem tortos.

A HISTÓRIA: Um cavaleiro de rodeio desfila com a bandeira dos Estados Unidos. Assistindo a mais uma competição de rodeio, Ron Woodroof (Matthew McConaughey) se diverte com duas mulheres. Enquanto ele “manda ver” forte em uma delas, presencia simultaneamente a queda de um cavaleiro, que é acertado pelo boi. Ron para, e parece ouvir um zunido forte. Corta. Sobre um jornal que nos informa a data, 25 de julho de 1985, Ron organiza mais uma roda de apostas. Enquanto arrecada US$ 20 de cada homem interessado em ganhar dinheiro, ele critica o ator Rock Hudson, que está em um hospital de Paris com Aids segundo os jornais. Para Ron, todas as pessoas que tem a doença são uns “chupadores de pau” que merecem se ferrar. Ele fica com o dinheiro, US$ 640, e pede para o amigo T.J. (Kevin Rankin) segurar os oito segundos necessários sobre a montaria. Ele não consegue, e Ron tenta fugir. Mal sabe ele que em breve as tentativas de fuga vão terminar.

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso só recomendo que continue a ler quem já assistiu a Dallas Buyers Club): Estou certa que muita gente vai achar o “fim da picada” o texto que inicia este post. Afinal, como eu posso considerar um herói um sujeito como Ron Woodroof? Oras, meus caros, temos que nos desfazer daquela ideia de que para ser herói é preciso ser quase perfeito. Ou ter algum superpoder. Para fazer diferença de verdade e salvar, inclusive, a vida de uma ou mais pessoas, basta ter a oportunidade e agarrá-la com unhas e dentes.

O protagonista deste filme é um escroque. Um sujeito que deve despertar desprezo, no início. Afinal, ele é preconceituoso – especialmente a respeito de homossexuais – e, aparentemente, leva uma vida de exageros e sem nenhum propósito. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Até que ele tem o choque de descobrir que tem o HIV. Inicialmente, ele fica enfurecido. Afinal, como o médico Dr. Sevard (Denis O’Hare) pode estar dizendo uma barbaridade destas? Para Ron, só tem HIV e desenvolve a Aids quem é homossexual. E ele é muito “macho”, como todos os homens que circulam em rodeios e vivem desprezando quem não coça o saco e cospe no chão. E junto com o diagnóstico “absurdo” da Aids, ele recebe o prognóstico de que deve viver apenas mais 30 dias.

Não demora muito para ele despertar da própria ignorância. Ron primeiro mergulha na rotina que ele conhece bem: muita bebida e cocaína. Acompanhado de T.J., ele também se diverte com duas mulheres – mas sem transar desta vez. Na sequência, ele pesquisa tudo o que pode na biblioteca de Dallas, uma das maiores cidades do Texas – repleta de caras como ele. Descobre, assim, que o HIV é transmitido de diversas maneiras – além do sexo, por drogas injetáveis, por exemplo. Ao ver que uma das principais formas de contágio é o sexo sem proteção, ele lembra de uma garota com quem transou sem qualquer proteção há algum tempo. E ela tinha, no braço, diversas “picadas” de drogas injetáveis.

Bingo! Sozinho ele se dá conta que o Dr. Sevard não estava falando besteira. Daí ele decide procurar ajuda. Volta para o hospital e, ao não encontrar o Dr. Sevard, cede em falar com a Dra. Eve Saks (Jennifer Garner). Mesmo que ela acompanhou o caso dele desde o princípio, Ron claramente tem dificuldades em confiar em uma médica. Machista por excelência. Quando a encontra, diz que quer o AZT. Ron pesquisou a respeito e viu que esta droga tinha começado a ser testada pela companhia Avinex para o tratamento de doentes da Aids.

Como qualquer pessoa desesperada – ou você faria diferente se não tivesse o remédio à venda nas farmácias ou com distribuição gratuita nos hospitais/postos de saúde? -, Ron diz que tem dinheiro e que pode pagar pelo AZT. Daí começamos a mergulhar, junto com o protagonista de Dallas Buyers Club, na lógica angustiante que cerca a indústria farmacêutica e da saúde. Acredito que a maioria sabe que os novos remédios são testados por um longo tempo antes de começarem a serem vendidos e/ou distribuídos. Agora, uma coisa é saber disso, outra bem diferente é ver a angústia de quem precisa de um tratamento e nem é encaixado nos grupos de testes. E mesmo que for encaixado, sabe que pode estar recebendo o placebo (sem efeito prático) e não o medicamente propriamente dito.

Matthew McConaughey dá um show desde o princípio. Ele convence como poucos quando recebe o diagnóstico dos doutores, mas vai mantendo aquela postura e fascinando o espectador conforme a história se desenrola. Não é apenas possível acreditar na interpretação dele. Algumas vezes, ele parece ser o próprio personagem. Incrível. E há quem vá lembrar de Tom Hanks no clássico sobre a Aids Philadelphia. De fato, os dois atores emagreceram muito e surpreenderam a todos pela magreza e entrega aos respectivos papéis. Só que as comparações terminam por aí.

Antes de seguir falando do filme, quero comentar mais sobre McConaughey. O papel dele em Dallas Buyers Club é muito, mas muito mais complicado que o de Hanks em Philadelphia. Para começar, porque o Andrew Beckett de Hanks era um sujeito sensível, “boa gente”, advogado gay que acaba sendo injustiçado porque tem uma doença contagiosa e sem cura, enquanto Ron Woodroof é um sujeito grotesco, preconceituoso, machista, que vive entre o trabalho como eletricista e a gandaia de mulheres, bebidas, cocaína, sexo e rodeios. Beckett era o modelo de personagem que emociona pela delicadeza e cria unanimidade por ser uma vítima. Woodroof começa como anti-herói, avança como oportunista e nos dá algumas boas lições sem ser uma aposta óbvia de “boa gente”.

Enquanto o personagem de Philadelphia começava e terminava a trajetória como exemplo, o protagonista de Dallas Buyers Club talvez termine de contar a própria luta dividindo opiniões. Da minha parte, prefiro o realismo e a complexidade do personagem de McCounaughey – ainda que as duas histórias tenham sido baseadas em fatos reais. Mas voltemos ao filme…

Evidentemente que Ron não consegue comprar AZT. Medicamento de uso controlado e que estava sendo testado, ele tinha uma chegada restrita às pessoas – entrava no grupo de tratamento apenas os pacientes que não estivessem com grandes chances de morrer em pouco tempo, como aparentemente era o caso de Ron. Só que a partir daí que Dallas Buyers Club começa a ficar interessante – e o que diferencia esta produção de outras sobre o tema da Aids.

Pensamos que apenas no Brasil existe o famoso “jeitinho” para quase tudo. Que somos os reis do suborno, da corrupção, e por aí vai. Mas não são poucos os filmes feitos nos Estados Unidos que mostram que existe “jeitinho” para quase tudo em praticamente todas as partes. Nesta produção que começa em meados dos anos 1980, fala mais alto quem tem dinheiro. E é desta forma que ele consegue o AZT com um enfermeiro do hospital que aprecia muito o dinheiro “por baixo dos panos”. Sem qualquer orientação, Ron toma o medicamento sem mudar a rotina – ou seja, em superdoses engolidas entre uma carreira e outra de cocaína e muitas bebidas.

Até o dia em que o hospital começa a trancar o medicamento e Ron fica sem a compra ilegal. A saída dada pelo enfermeiro é o nome de um médico que tem o AZT no México. Depois de passar mal – e ele esta prestes a completar um mês do diagnóstico – ele é atendido no hospital e conhece a Rayon (Jared Leto em um dos melhores desempenhos de sua carreira). Ron só dá patadas nele. Mas pouco a pouco ele também começa a sofrer preconceito – afinal, os “amigos” e conhecidos dele ficam sabendo que Ron está doente e, como ele, pensam que isso aconteceu porque ele é um “maldito gay”. A ignorância impera.

Chegando no México – por puro milagre -, Ron encontra o Dr. Vass (Griffin Dunne), que lhe dá dicas valiosas de como sobreviver. Para começar, ele deve mudar radicalmente os hábitos de vida. Obcecado por continuar vivo – e quem não estaria? -, Ron abraça a causa. E ao mesmo tempo que procura viver o máximo possível, ele vê naquelas restrições aos medicamentos para tratar a Aids nos EUA como uma grande oportunidade de fazer dinheiro. Eis mais um ponto fundamental para o roteiro de Craig Borten e Melisa Wallack ser tão interessante.

Afinal, os elementos fundamentais nesta produção – e parece que em praticamente todos os lugares – são a vida e o dinheiro. Muitas pessoas que se descobriram estarem condenadas pela Aids não tinham acesso a tratamento. E sempre que algo é restrito, surge um mercado ilegal para tentar suprir aquela demanda. Foi assim com o álcool, quando foi instituída a Lei Seca nos EUA, e será assim sempre que a lógica da demanda não for atendida – este assunto renderia um longo debate.

Dr. Vass explica como a cocaína e o AZT estavam deixando Ron mais suscetível às doenças. Ou seja, ao invés de ajudá-lo, o AZT estava complicando ainda mais a situação do protagonista. E isto, evidentemente, não acontecia apenas com ele. Com efeitos colaterais devastadores, o AZT no início – e mesmo depois – acabava com muitas pessoas que estavam tentando um tratamento para a Aids. Segundo o Dr. Vass, o AZT só era bom para quem estava vendendo o medicamento – e aí entra outra parte importante do filme, a indústria farmacêutica e a FDA (US Food and Drug Administration), responsável por aprovar alimentos e medicamentos para a comercialização nos EUA.

Dallas Buyers Club ganha muitos pontos em discutir as relações discutíveis entre a poderosa indústria farmacêutica e os braços governamentais que definem o que pode ou não ser utilizado pelo povo para combater doenças. O poder e os interesses da indústria farmacêutica já tinham sido explorados pelo ótimo The Constant Gardener. Mas aqui entra em cena outro elemento que é a “caça às bruxas” que o FDA faz não apenas contra Ron, mas contra qualquer indivíduo que tentasse distribuir medicamentos não aprovados no país.

O argumento deles pode parecer óbvio: não é possível permitir a venda de medicamentos por pessoas não autorizadas, especialmente se estes remédios não tiverem a sua eficácia comprovada. Certo. Mas e como outros países permitem outros medicamentos, para os mesmos fins, afirmando que eles são eficazes? A verdade é que a Medicina está em permanente evolução e o que é válido hoje, para alguns, pode ser visto como prejudicial pelos mesmos tempos depois. Na época, e o filme sugere isso, as Indústrias Avinex pareciam bem próximas da FDA – e quem não nos garante que não houvesse suborno para deixar apenas aquele medicamento como permitido?

Quando encontra o médico Vass, Ron descobre que no lugar do AZT será muito mais eficaz a adoção de um coquetel de vitaminas, do zinco mineral, de aloe e ácidos graxos essenciais (chamados popularmente de ômegas) para fortalecer o sistema imunológico. Junto com esta receita, ele recebe o DDC, um antiviral ao estilo do AZT, mas muito menos tóxico. Quando procura a Dra. Eve no hospital, o próprio Ron tinha perguntado sobre o DDC, que estava sendo usado na França. Mais um exemplo que nem sempre o departamento responsável por nos dizer o que é mais saudável e permitido – no caso o FDA – está jogando a nosso favor. E isso ficará comprovado depois.

A partir daí que Ron começa a virar um homem de negócios. Ele passa a importar para os EUA medicamentos similares ao AZT, mas melhores que ele, e se inicia uma batalha no melhor estilo do jogo “gato-e-rato” com a FDA. Sem dúvida estes bastidores do início do tratamento da Aids nos EUA e em outros países é uma das melhores sacadas do roteiro de Dallas Buyers Club. Eu desconhecia completamente esta saga e seus desdobramento e, por isso, o filme me surpreendeu positivamente.

Além disso, claro, há todo o lado humano da produção. Algo que os roteiristas não esqueceram. Não existe um milagre para Ron. Homem inteligente, apesar de escroto, ele percebe que pode ser favorecido pelos contatos de Rayon. Os dois se aproximam e começam quase uma sociedade – ainda que a parte de Rayon nunca tenha passado dos 20%. Proibido de vender os medicamentos nos EUA, Ron forma um dos vários clubes para o tratamento da Aids que surgiram naqueles tempos. A ideia é genial.

Vejamos: se eu não posso vender um remédio para você, vou criar um clube no qual você me paga uma mensalidade. Por participar deste grupo, entre outras coisas, você recebe o medicamento para tratar a Aids – o que não configura uma venda direta. Ainda assim, a FDA persegue Ron porque ele está importante medicamentos proibidos. Evidente. E daí chegamos na solução derradeira para a história – e o que transformou Ron em um herói porque ele, como outros, abriu o precedente para quem quisesse buscar outro tipo de tratamento menos tóxico.

Daí que volto para a questão humana do filme. Ron não vira um herói clássico, daqueles que se sacrifica por alguém ou por uma causa. Pelo menos não de forma clara e/ou despretensiosa. Não. Inicialmente, ele está pensando apenas em sobreviver. Depois, em ganhar dinheiro – vendo que poderia faturar alto com aqueles medicamentos menos tóxicos e proibidos. Só que pouco a pouco ele vai convivendo com diferentes tipos de pessoa e percebe algo que apenas a vida é capaz de ensinar, com o tempo: de que somos todos iguais.

Não importa a cor da pele, com quem você se deita – ou se você não faz isso, suas preferências, crenças ou formato do corpo. No fim das contas, somos feitos de pele, osso, células e mortalidade. Aos poucos Ron vai percebendo isso e consegue ver além do dinheiro. Ele se preocupa para valer com Rayon. E através dele, com muitas outras pessoas com quem ele nem mesmo convive. Para chegar neste ponto, ele não precisou trilhar uma vida de quase santidade. Tudo que ele precisou foi romper os próprios preconceitos e repensar o que ele acreditava saber. Transformou-se em uma pessoa menos presa às coisas materiais e se ligou muito mais ao semelhante dele – seja esta pessoa o Rayon ou a Dra. Eve.

Se isto não é uma redenção de arrepiar e uma história de um herói comum que, quando pôde, soube fazer a diferença, não sei o que pode ser. Para mim, que esperava muito menos deste filme, Dallas Buyers Club foi uma produção de encher os olhos e para inspirar. Fiquei muito na dúvida se deveria dar a nota máxima para este filme… inicialmente, daria. Mas como ainda tenho outras produções para ver para o Oscar, e acho que algo mais pode me parecer superior a este filme, darei a nota abaixo. Mas, dependendo, ela pode ser revista – para baixo ou para cima. De qualquer forma, recomendo Dallas Buyers Club. Grande história, ótimos atores e belo “conjunto da obra”.

NOTA: 9,9 9,7.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: Quem acompanha o blog com alguma frequência deve ter estranhado eu não ter falado da direção de Jean-Marc Vallée antes. Normalmente eu comento o trabalho do diretor logo no início. Desta vez, contudo, não fiz isso por uma razão muito simples: Vallée faz um bom trabalho, mas nada que seja marcante para o filme. Em outras palavras, o trabalho do diretor acaba um pouco eclipsado pelo ótimo roteiro da dupla Borten e Wallack e pelo trabalho do elenco.

Só que já era hora de falar de Vallée, que persegue um estilo “naturalista”, semi-documental para contar esta história. No mesmo estilo de Wendy and Lucy, Frozen River, Winter’s Bone e tantos outros filmes recentes que foram feitos nos EUA. Para o filme ser bom como ele é, Vallée executa bem o próprio trabalho. Mas diferente de outros diretores, ele não imprime a própria marca. Por isso não destaquei o trabalho dele antes.

O ator Matthew McCounaughey teve os melhores anos de sua carreira em 2012 e 2013. Nunca o vi tão bem quanto nos lançamentos destes dois anos, quando ele resolveu dar uma guinada na carreira e assumiu papéis com desafios bem maiores do que o que estávamos acostumados a ver ele fazendo. Assisti e comentei aqui no blog The Paperboy, Mud e Magic Mike, todos lançados em 2012. Agora, além de Dallas Buyers Club, falta assistir ao desempenho dele em The Wolf of Wall Street. De qualquer forma, agora ficou muito mais interessante de assisti-lo em cena. Na minha avaliação, ele está simplesmente soberbo em Dallas Buyers Club.

Evidente que um dos esforços que chamou a atenção neste filme foi o quanto Matthew McConaughey emagreceu para interpretar a Ron Woodroof. Segundo as notas de produção, o ator perdeu “47 pounds”, o equivalente a pouco mais de 21 quilos. Para comparar, quando fez o papel principal de Philadelphia, Tom Hanks teria emagrecido “26 pounds” (algo perto de 12 quilos). Outro que se dedicou muito em Dallas Buyers Club foi Jared Leto. O ator teria perdido “30 pounds” (pouco mais de 13,5 quilos) para fazer o papel de Rayon.

Aliás, como eu comentei antes, talvez este seja o papel da carreira de Leto até aqui. O ator está ótimo, ao ponto de eu demorar um bocado de tempo para reconhecê-lo. A impressão que tanto ele quanto McConaughey nos passa é que eles mergulharam com afinco na história e vivência dos personagens, a ponto de “desaparecerem” por trás das próprias interpretações. Os dois estão ótimos, mas com um destaque especial para McConaughey.

Falando nos atores, até Jennifer Garner, que normalmente acho meio “sem graça” nos filmes, está bem em Dallas Buyers Club. Mais um indicativo de que o diretor soube envolver bem a equipe que deu a cara para bater com esta produção. Agora, só achei que eles poderiam ter escolhidos atores um pouco mais diferentes para os papéis de T.J., amigo de Ron, e Tucker, policial e amigo também do protagonista. Digo isso porque cheguei a confundir algumas vezes Kevin Rankin e Steve Zahn com aqueles bigodes… 🙂

Quase todos os nomes relevantes para a história já foram citados. Mas vale comentar ainda o bom trabalho de Dallas Roberts como o advogado David Wayne, que é quem está sempre representando Ron contra a FDA; e Deneen Tyler como Denise, que muitas vezes vira o braço direito do protagonista na administração do clube.

Da parte técnica do filme, merece destaque a competente edição de Martin Pensa e Jean-Marc Vallée; o design de produção de John Paino; a decoração de set de Robert Covelman e a direção de arte de Javiera Varas. Estes três últimos elementos foram fundamentais para transportar o espectador para os anos 1980, ajudando a ambientar a história. Também gostei da maquiagem da equipe com sete profissionais liderados por Robin Mathews. Também gostei da muito pontual trilha sonora – quase uma intervenção sonora, hehehehehe – de Alexandra Stréliski.

De acordo com as notas da produção, Dallas Buyers Club sofreu com o baixo orçamento. O filme, rodado em 25 dias, não contou com iluminação especial e foi todo feito com uma câmera de mão que fazia takes com até 15 minutos de duração. Uau! Mais um motivo, ao saber disso, para admirar o trabalho de Jean-Marc Vallée. É preciso ser bom para conseguir fazer o que ele fez com tão pouco dinheiro.

Para cortar ainda mais os custos e reduzir o tempo de filmagens, o diretor abriu mão dos ensaios e trabalhou apenas com o material rodado naqueles 25 dias – os atores não tiveram que refazer qualquer cena ou gravar novos áudios na pós-produção.

Dallas Buyers Club passou por um longo processo para ser filmado. E só conseguiu sair do papel porque o ator Matthew McConaughey entrou como um dos produtores. Antes, outros nomes tentaram tirar o projeto da gaveta. Entre eles, a dupla Brad Pitt e Marc Forster e também Ryan Gosling e Craig Gillespie. Nos anos 1980, Dennis Hopper quis dirigir o filme, tendo Woody Harrelson como protagonista, mas eles não conseguiram a verba necessária para colocar o projeto de pé.

Agora, uma curiosidade interessante sobre a produção. Jared Leto quis levar tão a sério o personagem que no período de filmagens – naqueles 25 dias citados -, ele não saiu da “pele” de Rayon. Exemplo: certa vez ele chegou a sair para fazer compras caracterizado como o personagem – e não com a roupa que Rayon vai “visitar” o pai, com certeza.

Apesar da história toda ser desenvolvida, basicamente, em Dallas, esta produção foi totalmente rodada em Nova Orleans.

Falando no baixo orçamento da produção, Dallas Buyers Club teria custado cerca de US$ 5,5 milhões. Uma miséria para os padrões de Hollywood. Nos Estados Unidos o filme conseguiu pouco mais de US$ 16,4 milhões até ontem, dia 9 de janeiro.

Dallas Buyers Club estreou em setembro de 2013 no Festival de Toronto. Depois, o filme passaria por outros três festivais – incluindo o de San Sebastián. Até o momento, o filme conseguiu a admirável marca de 34 prêmios e de outras 28 indicações. Entre os prêmios que está buscando estão dois Globos de Ouro: o de Melhor Ator para Matthew McConaughey e o de Melhor Ator Coadjuvante para Jared Leto. Quem leva vantagem nos prêmios, até o momento, é o ator Jared Leto: ele recebeu 15 prêmios pelo trabalho como Rayon. Pouco atrás vem Matthew McCounaughey, que recebeu oito prêmios pelo trabalho como Ron Woodroof.

Os usuários do site IMDb deram a nota 8 para Dallas Buyers Club. Uma boa avaliação – apenas para comparar, o “mega” sucesso Gravity tem apenas três décimos a mais. Os críticos que tem os seus textos linkados no Rotten Tomatoes dedicaram 160 textos positivos (!!) e apenas 13 negativos para Dallas Buyers Club, o que garante uma aprovação de 92% e uma nota média de 7,7 para o filme.

Por ser uma produção 100% dos Estados Unidos, este filme entra na lista de produções avaliadas aqui no blog e que satisfazem uma votação feita aqui no blog – que escolheu os EUA como um dos países para render uma série de textos por aqui.

CONCLUSÃO: Vários filmes de Hollywood e de outras latitudes já trataram sobre o tema da Aids. E agora, que estamos cada vez mais próximos de uma cura definitiva para a doença, alguns podem achar que não é mais tempo de falar do assunto. Pois Dallas Buyers Club surpreende com uma história que ainda não foi contada. Revela, com um roteiro de tirar o chapéu, como funciona a máfia da poderosa indústria farmacêutica no mundo. E de como pessoas comuns tiveram que driblar diversos interesses e restrições para tentar um tratamento melhor do que inicialmente lhes prometiam. Mais que isso, Dallas Buyers Club nos ensina como a redenção pode ser buscada por qualquer um, e que não é preciso ser um santo para tomar atitudes heroicas.

Este filme consolida uma guinada na carreira importante do ator Matthew McConaughey. Ele está brilhante nesta produção – a ponto de poder ser comparado com Tom Hanks quando ele ganhou um Oscar por Philadelphia. Mas diferente de Hanks, McConaughey encara um papel controverso, de um sujeito que era um escroque e que acabou dando uma guinada corajosa na própria vida. Para mim, este filme foi uma surpresa. Uma produção bem redonda, com uma história pouco contada e belas interpretações. Não é um conto de fadas, mas tem muito a ver com a vida real das pessoas. Fascinante e uma das boas surpresas desta temporada.

PALPITES PARA O OSCAR 2014: Tenho acompanhado a alguns dos melhores nomes da crítica nos EUA para saber sobre as bolsas de apostas para a maior premiação do cinema daquele país – e mundial – neste ano. E na lista de dois destes nomes, Anne Thompson e Peter Knegt, Dallas Buyers Club sempre aparece em várias categorias.

Francamente, acredito que o filme possa ser indicado a cinco prêmios: Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Original e Melhor Edição. Sendo otimista – até porque estou na torcida para que ele fique bem na disputa. Mas pessoas como Thompson e Knegt tem menos confiança em Dallas Buyers Club. Normalmente o filme aparece com chances reais de aparecer apenas nas listas de Melhor Ator e Melhor Ator Coadjuvante. Ele até está nos palpites para Melhor Filme, mas bem depois de outros candidatos. Logo veremos.

Dos filmes que vi até agora – e tenho muitos para ver ainda, inclusive alguns dos cotados mais fortes -, Dallas Buyers Club foi o que mais me surpreendeu (provavelmente junto com Captain Phillips). A história me pareceu mais interessante que outros favoritos como 12 Years a Slave e Gravity. Acho, desta forma, que ele deveria estar entre os 10 indicados como Melhor Filme no Oscar. E que Matthew McConaughey e Jared Leto devem ser indicados, ainda que este ano esteja muito disputado para atores – especialmente na categoria principal.

Também vejo como bastante justa a indicação do roteiro – ainda que esta categoria seja mais complicada de fazer um prognóstico porque são apenas cinco que chegam a ser indicados e ainda preciso assistir a vários outros com Roteiro Original. Edição seria um “plus” na lista de indicações. Reais chances de ganhar? Talvez em Melhor Ator Coadjuvante, já que McConaughey tem uma tarefa complicada ao concorrer com Chiwetel Ejiofor (12 Years a Slave) e Tom Hanks (Captain Phillips). Saberemos quem de fato chegará a uma indicação em menos de uma semana, no próximo dia 16.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 20 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing e, atualmente, atuo como professora do curso de Jornalismo da FURB (Universidade Regional de Blumenau).

10 respostas em “Dallas Buyers Club – Clube de Compras Dallas”

Sobre o mesmo tema do filme, há um documentário excelente chamado “United in Anger” do diretor Jim Hubbard que conta a história do Act Up, grupo de militantes que lutava por um melhor tratamento médico e farmacêutico para os portadores do vírus HIV nos EUA. O documentário aborda os interesses políticos envolvidos, a FDA e as diversas manifestações populares em prol da causa. Vale muito o tempo gasto.

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Muito bom saber mais sobre a produção através da sua crítica! E também concordo quanto ao McConaughey, tem feito filmes muito bons, e com ótimas performances. Dos que você mencionou só não vi Magic Mike.
Fico feliz em ver um filme recente, sobre uma historia da década de 80, época que ficou marcada pela epidemia do vírus HIV.
A pouco tempo atrás conversava sobre a ausência do tema DST nas novas gerações, principalmente a AIDS, por que eu sou de uma geração que viu muita gente morrer por causa de suas complicações, e por conta disso tivemos acesso a informação e aos métodos de sua preocação de forma intensa, mas vejo que as novas gerações não, o controle aparente do vírus nos infectados e consequentemente a redução das mortes, vimos o assunto ter sua importancia reduzida nos meios de comunicação, inclusive no cinema. E o filme além de resgatar bem o período, revelou, o que você também mencionou, quanto as relações de mercado/ interesse das industrias farmacêuticas quanto ao tratamento dos infectados, valorizando ainda mais a luta dessas pessoas que lutavam pra continuar vivas, encabeçados por Ron e Rayon.
Um filme triste, em uma época que a humanidade foi pega de “surpresa” por uma epidemia de um vírus mortal, e que precisou principalmente combatê-lo através da discução de valores, moralidade, costumes, sexualidade, etc…

Grande abraço!

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[…] Quando Renée Zellweger subiu ao palco para receber o Globo de Ouro como Melhor Atriz – Drama nesta ano, fiquei impressionada com a sua magreza. No filme, claro, ela está magra também. Mas ao ler sobre Judy Garland e saber sobre o peso que ela tinha quando morreu… faltou para Renée um trabalho ainda mais pesado de caracterização. Ao estilo de Christian Bale em The Machinist ou de Matthew McConaughey em Dallas Buyers Club (com crítica neste link). […]

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