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Revenge – Vingança


Um filme que começa com estilo, com algumas qualidades técnicas de destaque e com um requinte quase de filme “de arte”. Até que Revenge descamba para um declarado estilo de “filme trash”. Sim, amigos e amigas! Há tempos eu não assistia a um filme tão trash, para dizer a verdade. Se você gosta do estilo, essa pode ser uma boa opção de passatempo. Agora, se você busca algo mais “denso” no cinema, passe longe. Especialmente indicado para quem gosta de profusão de sangue, daquelas cenas com detalhes macabros e para quem não se importa com produções que apresentem pouca lógica.

A HISTÓRIA: Deserto. Um helicóptero se aproxima. Através de uma lente espelhada de um óculos de sol, vemos a paisagem. O helicóptero para em uma casa. Um homem desce do helicóptero, seguido de uma bela garota com um pirulito. Richard (Kevin Janssens) agradece ao piloto, que diz que está à disposição e entrega um “presente” para o cliente – uma droga altamente alucinógena. Richard logo fica com Jen (Matilda Anna Ingrid Lutz). Mais tarde, ele fala por telefone com a esposa. Em breve, a chegada de dois amigos de Richard, Stan (Vincent Colombe) e Dimitri (Guillaume Bouchède), vai mudar a rotina e a relação do casal.

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Revenge): Vocês devem estar pensando: “Uau,  mas só agora a Alessandra vai falar desse filme? Pois sim. Sei que demorei muito. Assisti a Revenge em junho, ainda, antes das minhas férias de 15 dias e de um monte de outros fatos. Mas como tenho que colocar as minhas publicações em dia para então voltar ao cinema, e quero muito voltar a ver filmes em breve, bóra lá falar desse filme mesmo com atraso! 😉

Então, nem vou precisar escrever muito sobre Revenge, eu acho. Um bom resumo eu dei acima, no primeiro parágrafo. Achei esse filme bem estiloso e interessante no início. Ainda que a história, convenhamos, não tinha nada de muito inovador desde o início. Os protagonista são lindos e sarados. Dois jovens em uma casa isolada, meio que “no meio do nada”, e em uma pausa do cotidiano um tanto idílica. Não demora muito para entendermos que Jen é a amante do protagonista e que eles estão ali para fazer muito sexo e nada mais.

Quer dizer, também não demora muito para começarmos a pensar que algo acontecerá por ali. O filme não será apenas uma grande curtição dos sarados com um belo desfile de corpos na nossa frente. E realmente logo a realidade “idílica” do casal muda com a chegada dos “parças” de Richard. Logo que eles aparecem armados, pensamos que nada muito bom pode sair dali. E quando o filme começa a avançar para a sua “virada” é que as coisas começam a ficar complicadas.

(SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Primeiro, um dos amigos do protagonista tem que ser realmente muito sem noção por achar que vai estuprar a amante do amigo e que tudo vai continuar igual, que tudo vai acabar bem, não é mesmo? E não me venham dizer que o cara não pode “se controlar” porque isso é balela. Sempre vou defender que as pessoas tem sim escolha e que elas são muito bem responsáveis pelos seus atos. Aí o idiota vai lá, estupra a menina e ela, acuada, só pensa em ir para casa.

Claro que, para conseguir o que quer, ela meio que “ameaça” o amante. Coloquei entre aspas mesmo porque evidentemente ela estava acuada, desesperada e muito machucada e não ia cumprir a ameaça coisa alguma. Nesse momento, Jen descobre que Richard consegue ser pior que os amigos. E aí que o filme vira, com eles perseguindo a garota e querendo se livrar dela. Até aí, aparentemente, tudo “bem” – ou, ao menos, dá para acreditar na narrativa da diretora e roteirista Coralie Fargeat, que estreia nos longas com esse filme – antes ela tinha feito apenas dois curtas e uma minissérie de TV.

Os furos do roteiro e/ou exageros começam a partir desse momento do filme. (SPOILER – não leia… bem, você já sabe). Convenhamos que era quase impossível para alguém ser empalado como Jen foi e ainda sobreviver. Afinal, ela não foi apenas atravessada por um galho de uma árvore seca. Mas lembrem da altura da qual ela caiu ali. De boas, não tinha como alguém sobreviver àquela queda e aquele tipo de ferimento. Mas beleza, Fargeat quer nos contar uma história de “girl power” e de mulher extra porreta, então vamos deixar ela nos levar pela mão nessa seara.

Jen sobrevive a algo impossível, a meu ver. Beleza. Daí ela consegue sair do tal tronco colocando fogo na árvore… ok. Improvável, mas beleza. Mas a narrativa improvável e que exige a nossa boa vontade em acreditar apenas está começando… Ela também caminho horrores – basta ver o quanto os perseguidores dela tem que seguir motorizados para então chegar no rio em que ela teria “desaparecido” – e sangrando, mas consegue ter uma dianteira meio difícil de acreditar em relação aos perseguidores.

Como os amigos de Richard – e ele próprio – são bem burros em relação à perseguir uma garota moribunda, ela consegue se livrar de Dimitri com alguns requintes de crueldade – e com direito a close da morte para quem curte um horror explícito. Depois, Richard perde a cabeça com Stan e os dois, ignorando o manual dos filmes de terror, voltam a se separar para encontrar a incansável Jen – impressionante o que essa mulher caminha sangrando!

E aí vem outro furo do roteiro. Jen toma a droga porreta que Richard tinha dado para ela guardar e que torna as pessoas ao mesmo tempo resistentes à dor e “viajandonas” (suscetíveis a delírios). E o que ela faz? Utiliza uma lata de cerveja aberta e aquecida para “fechar” o corte que ela tem no abdômen e que furou ela da parte da frente até as costas. E aí o tal furo. Ora, ela só consegue “fechar” o furo na parte da frente do corpo. Mas, depois, vemos em algumas cenas que ela está com a parte das costas também fechada “perfeitamente”. Como isso? Só por mágica, aparentemente.

Se quisermos ser criativos para responder a essa pergunta, podemos dizer que ela teve a parte de trás do ferimento fechada quando ela colocou fogo na árvore em que ela foi empalada. Mas, convenhamos, isso é ser muito generoso com a história de Fargeat, não é verdade? Ok, filmes de terror/horror nem sempre precisam ser suuuuper lógicos. Quem curte o gênero até já espera vários furos e exageros no roteiro. Mas um pouco mais de cuidado com os detalhes não faria mal para esse filme.

Bueno, a partir daí, a história não apresenta mais nenhuma novidade. A super Jen consegue matar Stan – em uma perseguição de “gato e rato” um bocado atabalhoada, devo dizer – e, depois, procura se vingar de Richard. Na reta final do filme, temos literalmente alguns baldes de sangue falso espalhados em cena. Um verdadeiro deleite para quem curte o gênero – ou, como no meu caso, rir de filmes que exageram a mão nesse sentido.

Enfim, a nossa Rambo versão feminina acaba se vingando de todos e está pronta para a próxima, tendo sobrevivido a uma queda incrível e a um empalamento que, não sabemos como, não acertou nenhum de seus órgãos internos. O filme é bonito, tem um apelo visual e de edição muito interessantes, mas a história… bem, para alguém como eu, que curte um bom roteiro, não posso dizer que esta é a melhor pedida.

Claro, eu não estava esperando um filme com pegada filosófica ou que me fizesse pensar muito na vida ou em questões interessantes, mas daí a ter tanta forçada de barra em uma produção… realmente foi uma surpresa. O filme não faz parte dos piores que eu já vi, mas também não entra na lista dos mais interessantes ou dos que eu recomendaria. Vi que vários críticos curtiram a produção, e fico me perguntando o que eles viram que eu não vi. Não sei. Só sei que há coisa bem melhor no mercado aí para ser vista.

Agora, pensando sobre as razões que fizeram tantos críticos gostarem do filme, penso que talvez seja porque a protagonista de Revenge simbolize a “vingança” de todas as loiras mortas em filmes de terror. Sabem aquele perfil de “loira (ou morena) burra” que acaba sendo morta com facilidade pelo psicopata/vilão do gênero? Pois bem, aqui nesse filme essa loira que parecia meio boba acaba dando a volta por cima e indo à desforra. Em tempos em que as mulheres estão buscando cada vez mais serem respeitadas na sociedade, não é se admirar que esse filme funcione para muitos.

NOTA: 7.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: Esse filme é uma espécie de “Duro de Matar” com pegada “feminista”. No lugar de um homem que tem dificuldade de morrer e que enfrenta todos os seus “inimigos”, temos a uma bela mulher. E que, inicialmente, com um pirulito na boca, poderia não passar muita confiança para o público. Mas sim, ela é a nossa John McClane estilosa, bonita e “modernete”. Só achei um tanto exagerada essa tentativa de Fargeat transformar uma garota comum e em desvantagem em quase “super humana”.

Como ficou evidente na minha crítica acima, o ponto fraco de Revenge é o roteiro de Coralie Fargeat. Achei que ela exagerou demais nas doses e nas tintas. Mas ok, lá pelas tantas, você começa a rir desses exageros e leva o filme com maior suavidade, inclusive dando risada dos furos da história. Esse é o jeito. 😉

Fora o roteiro, achei os atores um tanto fraquinhos. Sim, os protagonistas tem um corpão, são lindos e etc e tal. Mas e como intérpretes? Achei eles um bocado fraquinhos. Ainda assim, gostei do trabalho, em especial, de Matilda Anna Ingrid Lutz. Ela encarnou bem esse papel de mulher “super poderosa” e quase indestrutível. Também fazem um bom trabalho, ainda que em tom forçado aqui e ali, Kevin Janssens como Richard; Vincent Colombe como Stan e, com menor talento, Guillaume Bouchède como Dimitri. Esse filme tem poucos personagens, o que é algo positivo se levarmos em conta o objetivo da produção.

Entre os aspectos positivos do filme, destaco a direção interessante e com algumas escolhas muito acertadas de ângulo de câmera e de estilo narrativo de Coralie Fargeat. Se ela erra no tom do roteiro, acerta na direção, muito bem conduzida e com uma dinâmica ágil e interessante. Nesse sentido, vale destacar, em especial, a direção de fotografia de Robrecht Heyvaert e a edição de Jerome Eltabet, Coralie Fargeat e Bruno Safar. Esses dois elementos são fundamentais para esta produção.

Além dos destaques comentados, vale citar a trilha sonora de Robin Coudert; os figurinos de Elisabeth Bornuat e a maquiagem de Laetitia Quillery.

Revenge estreou em setembro de 2017 no Festival Internacional de Cinema de Toronto. Depois, até julho de 2018, o filme participou de outros 15 festivais de cinema em vários países. Nessa trajetória, o filme conquistou uma indicação e nenhum prêmio.

De acordo com a diretora Coralie Fargeat, Revenge tem tanto sangue que a equipe de apoio chegou a ter o estoque de sangue falso zerado. Dá para imaginar… 😉

Jen, a protagonista, não tem mais falas a partir do minuto 26 da produção. Isso sim que eu chamo de curioso!

Agora, algumas considerações sobre essa produção feitas pelos produtores. (SPOILER – não leia se você ainda não assistiu ao filme). De acordo com essas notas da produção, Revenge não é um filme que trata apenas de vingança. Ele também abordas questões mais “místicas”, como renascimento e transformação. A primeira imagem simbólica é dela empalada na árvore de uma maneira que lembra a crucificação de Cristo. Depois, ao por fogo na árvore, ela tem um gesto como de uma fênix, que se inflama para renascer. A imagem da fênix ficaria ainda mais evidente com a “cicatriz” tipo tatuagem que ela fica da ave mística no corpo após usar a lata da cerveja Phoenix Beer para cauterizar a ferida na frente do corpo.

Os usuários do site IMDb deram a nota 6,3 para esta produção, enquanto que os críticos que tem os seus textos linkados no Rotten Tomatoes dedicaram 81 críticas positivas e sete negativas para esta produção, o que garante para Revenge uma aprovação de 92% e uma nota média de 7,3. Especialmente esse nível de aprovação dos críticos me impressiona. O site Metacritic, por sua vez, dá o metascore de 81 para esta produção, resultado de 21 críticas positivas e 2 críticas medianas.

Segundo o site Box Office Mojo, Revenge teria feito pouco mais de US$ 102 mil nas bilheterias dos Estados Unidos. Filme pouco visto, basicamente prestigiado pelos críticos – aparentemente.

Revenge é uma produção 100% da França.

CONCLUSÃO: Esse é o típico filme que não pode ser levado à sério. Nem um pouco. Revenge é uma produção estilosa, com alguns momentos de direção bastante interessantes, mas que mergulha fundo no estilo trash de cinema. Gostei de alguns aspectos técnicos da produção, como a direção e a direção de fotografia, assim como dos atores. Mas o roteiro… ah, meus caros, quase é preciso tomar o mesmo alucinógeno que a protagonista para encarar essa história. Lá pelas tantas, quando o filme se apresenta realmente trash, o segredo é levar tudo na esportiva e na comédia. Rir, porque essa deve ser a intenção dos realizadores. Se você gosta de produções do gênero, vale conferir. Mas apenas nesse caso. 😉

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 20 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing e, atualmente, atuo como professora do curso de Jornalismo da FURB (Universidade Regional de Blumenau).

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