Hollywood parece não ter se cansado de “inspirar-se” (para alguns, simplesmente copiar) a criatividade sombria dos filmes de terror japoneses. Desde que The Ring marcou época em 2002, tirando do quase anonimato o diretor Gore Verbinski, em uma refilmagem do japonês Ringu, a lista de histórias de terror adaptadas nos Estados Unidos não parou de crescer. Até Walter Salles chegou a Hollywood em um projeto assim: Dark Water, de 2005, com Jennifer Connelly, uma refilmagem do filme Honogurai Mizu no Soko Kara de Hideo Nakata (o mesmo diretor de Ringu). Pois The Eye é mais um exemplo do quanto Hollywood anda necesitando da criatividade nipônica. O filme estrelado por Jessica Alba é uma versão repaginada do original, Jian Gui, de 2002, dirigido por Oxide Pang Chun e Danny Pang em um produção de Hong Kong e Singapura. Achei a refilmagem fraca, um bocado de “mais do mesmo”. Talvez se eu não tivesse assistido mais nenhum filme do gênero… mas tendo visto vários outros, inclusive os citados anteriormente, me pareceu um esforço despropositado para ganhar uns trocados garantidos – afinal, os fãs do gênero assistem de tudo, não importa se é algo ruim ou não.
A HISTÓRIA: Sydney Wells (Jessica Alba) é uma música virtuosista que ficou cega quando tinha 5 anos de idade. Ela se acostumou a viver sem a visão, aguçando os demais sentidos. Vive sozinha e tem uma vida independente, até que recebe um transplante de córneas por iniciativa da irmã, Helen Wells (Parker Posey). Durante a sua recuperação da cirurgia, Sydney começa a ver imagens estranhas e irreais. Segundo o médico Paul Faulkner (Alessandro Nivola) ela está passando por uma fase de resistência psicológica, mas até o científico passa a duvidar deste diagnóstico quando Sydney se envolve em estranhos acontecimentos.
VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que não siga lendo quem ainda não assistiu a The Eye): Ok, o filme tem alguma ironia dispersa aqui e ali, o que me fez até dar uma relaxada. Por exemplo, na hora em que o médico pergunta a sua paciente de forma irônica se ela está vendo “pessoas mortas”, em uma clara referência a frase que virou o cartão-de-visitas de The Sixth Sense. Mas fora essa “piadinha”, o filme é um amontoado de situações-comum e frases mais que esperadas em filmes do gênero.
Jessica Alba está bem, ainda que me irrite um pouco a sua preocupação em estar sempre “piscando” para demonstrar um naturalismo maior da personagem que “acabou de fazer um transplante de córneas”. Os demais atores também estão ok, em nenhum papel que realmente vá mais do que o estágio médio de profundidade. Ok, ninguém espera personagens mais trabalhados em filmes assim – exceto por Dark Water e alguns outros, talvez. O que se espera são sustos dos bons e efeitos idem.
Bem, os sustos também são poucos… pelo menos se você já assistiu mais de 10 filmes do gênero, não é pego de maneira tão fácil por figuras distorcidas que se jogam na frente da câmera. Também algo que me irrita um pouco em filmes do gênero: porque diabos os tais fantasmas não verbalizam o que eles querem? Ficam nesse jogo mudo de sustos até que o “perseguido” perceba o que eles querem. Ai, não tenho tanta paciência não com os fantasmas. 🙂
Talvez alguém ache o filme interessante como passatempo, mas eu não achei nem isso. Fraco, realmente. Fiquei curiosa para ver o original, que talvez seja mais ousado na direção, pelo menos. Aliás, a dupla David Moreau e Xavier Palud fizeram, na minha opinião, um filme bem modesto… poderiam ter se arriscado mais na direção.
No mais, sei que os fãs do terror vão me jogar pedras, mas é inevitável perguntar: (SPOILER – não leia se não viu o filme ainda) se todo o propósito de Ana Christina Martinez (Fernanda Romero) era mesmo que Sydney impedisse a morte de várias pessoas, o que teria acontecido se ela conseguisse as informações da sua doadora só um dia depois? Ou várias horas depois? Ok, ok, eu sei que os roteiros de filmes assim não devem ter lógica, necessariamente, mas sei lá… custa ter um pouco mais de sentido? Enfim… quero deixar claro que não foi nem a falta de lógica que me incomodou, mas que os sustos foram poucos e fracos. E o final… mais artificial impossível.
NOTA: 4,5.
OBS DE PÉ DE PÁGINA: Algo que o filme me incomodou um pouco: essa mensagem de que algum órgão transplantado pode carregar uma certa “memória celular” da pessoa anterior… Fiquei pensando até que ponto isso não pode afetar doações. Procurei informações a respeito (recomendo este texto e este outro para começar) e parece realmente que existiram casos de pessoas que relataram fatos que só poderiam ter vindo como “herança” da pessoa de quem elas receberam determinado órgão – normalmente coração ou pulmão. Mas existe muita divergência entre os cientistas sobre isso. E, claro está, não ocorreria algo assim como se vê no filme, com um transplante de córneas e uma série de “visões” que a pessoa passaria a ter. De qualquer forma, é um tema interessante – ainda que perigoso porque é cercado por mais dúvidas que certezas.
O filme foi bem nas bilheterias… até o dia 6 de abril ele tinha arrecadado pouco mais de US$ 31,3 milhões apenas nos Estados Unidos. Nada mal. E a cifra também comprova que Hollywood pode continuar fazendo refilmagens do tipo que sempre terá uma boa bilheteria para os filmes – especialmente se tiver alguém como Jessica Alba na frente do elenco.
Falando da atriz, além dela e das pessoas já citadas, faz parte do grupo de atores em cena Rade Serbedzija como o maestro Simon McCullough; a veterana Rachel Ticotin como Rosa Martinez, mãe de Ana Christina; e Obba Babatundé como o médico Dr. Haskins.
O filme conseguiu a nota 5,3 dos usuários do site IMDb. Os críticos que tem textos publicados no Rotten Tomatoes dedicaram 59 textos negativos e 16 positivos para o filme.
Curioso que o filme acumulou dois prêmios até agora: melhor cartaz de filme de terror no Golden Trailer Awards; e melhor atriz de filmes de terror para Jessica Alba no Teen Choice Awards.
Para não dizer que Jessica Alba não se esforçou para o papel, conta a lenda que ela se preparou com aulas de violino por seis meses, além de ter recebido aulas básicas de braile – só não vi muito o que isso fez diferença no filme, mas tudo bem. 🙂
O filme foi rodado em Los Angeles – sequencia inicial; em Vancouver, no Canadá; e em duas cidades do Novo México: Albuquerque e Isleta Pueblo.
CONCLUSÃO: Mais uma refilmagem de um filme de terror nipônico, esta produção acaba por não mostrar nada de novo – nem na direção e nem nos sustos. Acaba se mostrando fraco para os fãs do gênero que já estão acostumados com outras histórias similares. Ainda assim, não deixa de ser curioso o “mote” do filme, ou seja, a ainda não esclarecida questão da “memória celular” que passaria de doador para receptor de transplantes. Para quem gosta do gênero, talvez seja um passatempo. Para os que não são muito fãs, será um filme um tanto chatinho.
SUGESTÃO DE LEITORES: Mais um filme comentado anteriormente por um dos bons leitores deste blog. The Eye foi comentado por Elizeu há vários meses… aqui está o comentário, meu bom Elizeu. Finalmente assisti ao filme. Jessica Alba está bem, realmente, mas achei que ela não fez nada assim… “excepcional”. Talvez para uma tarde chuvosa e sem nada melhor para ver, ele valha a pena. hehehehehehehe. Mas quero ver você aqui comentando sobre o filme também. Fiquei curiosa mesmo é para ver o original. Um abraço para ti e para os demais leitores que sugerem filmes por aqui – prometo continuar assistindo o que vocês indicam dentro do possível. 🙂
Uma resposta em “The Eye – O Olho do Mal”
Ale, sinto pena por você ter que assistir filmes desses calibre!
Esse é o tipo de filme que para assistir, só se for pra alertar as pessoas a não cometerem o mesmo erro.
Eu não gosto de filmes de terror, prefiro um filme que faça você pensar do que um que fique dando sustos a cada 15 segundos.
Pode ser que o fato de eu odiar tanto filmes de terror seja culpa de Samara (The Ring) que me provocou noites de insônia nos altos dos meus 10 anos.
Você comentou que a bilheteria foi boa, mas foi de apenas US$31 Milhões, qual foi o custo de produção ? Foi assim tão baixo, que esse valor pagou ?
Abraços e tudo de bom !
PS: O novo visual do blog está ótimo!
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