Todos sabem e/ou presumem que uma guerra é vergonhosa no trato do ser humano. Além da carnificina propriamente dita – tiroteiros, bombardeios, etc. -, existe a parte da “inteligência de guerra”, que nada mais é do que interrogatórios com base em técnicas de tortura. Mas uma coisa é especular e fantasiar sobre isso, outra muito diferente é ter provas de que os direitos humanos são ignorados em muitos de seus artigos aceitos por todos os países do mundo. O documentário Standard Operating Procedure se debruça sobre o escândalo fotográfico da prisão de Abu Ghraib, exposto na mídia em abril de 2004 – e que provocou um pedido de desculpas público do então presidente-cavalo George W. Bush. Para os norte-americanos talvez o documentário traiga pouca informação nova – afinal, o caso foi tratado exaustivamente na mídia estadunidense -, mas, para nós, “seres de outros países”, o filme traz uma série de detalhes do que aconteceu por ali e sobre o que, certamente, continua acontecendo em bases do Exército dos Estados Unidos ainda hoje.
A HISTÓRIA: O filme conta a história de um episódio doloroso na vida recente dos militares dos Estados Unidos: o escândalo revelado através de fotos e alguns vídeos das operações na base militar de Abu Ghraib, no Iraque. Através de depoimentos de homens e mulheres que trabalharam lá no período em que ocorreram os abusos, torturas e humilhações de prisioneiros, o filme vai reproduzindo as fotos que foram utilizadas no julgamento dos militares e, ao mesmo tempo, reconstituindo o que aconteceu através da dramatização com atores. O escândalo de Abu Ghraib veio à tona em abril de 2004, com as primeiras fotos sendo publicadas pelo The New Yorker e exibidas no 60 Minutes. Nestas fotos, soldados dos Estados Unidos registravam diferentes técnicas de humilhação e abuso feitos com presos iraquianos na base militar. Alguns dos participantes – especialmente as pessoas que aparecem nas fotografias – foram condenados.
VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Standard Operating Procedure): Nenhuma imaginação, eu acredito, chega a tocar o que algumas vezes a realidade revela. Ok, em uma país como o Brasil, que teve uma ditadura militar, todos já ouviram falar em pau-de-arara, choques elétricos, tortura psicológica e demais técnicas utilizadas para fazer “prisioneiros falarem”. Mas ouvir da boca dos protagonistas destas histórias, ouvir dos torturadores a narrativa do que aconteceu e, pior, o esboço de uma justificativa para os atos praticados é, algumas vezes, pior do que simplesmente ver as imagens dos prisioneiros sendo maltratados.
Fiquei chocada realmente com Standard Operating Procedure. Não apenas pelas imagens impressionantes dos abusos que foram feitos – até porque estas imagens já haviam sido publicadas no mundo inteiro (ainda que eu, francamente, não me lembrava de muitas delas). Mas fiquei chocada especialmente pelas idiotices sem tamanho que aquelas pessoas disseram, tentando justificar o que estava acontecendo e, mais impressionante quanto o anteriormente citado, quando o especialista Brent Pack começa a classificar o que era considerado “ato criminal” ou “procedimento operação padrão”. Chocante o que eles podem considerar como aceitável em uma guerra para obter informações de prisioneiros.
O filme todo é uma surpresa após a outra. Existe momentos de puro interesse policial, como quando Brent Pack conta em detalhes como eles conseguiram reunir todas as fotos em temas e depois colocá-las cronologicamente para que esse material narrasse o que aconteceu em Abu Ghraib. Conseguiram, inclusive, identificar as fotos que foram feitas por cada máquina e, claro, as pessoas que tinham tirado elas. Um trabalho realmente interessante.
Mas o filme ganha protagonismo especialmente por deixar os envolvidos falarem. Logo que Lynndie England aparece, nas suas primeiras declarações – antes de sabermos tudo o que ela fez -, percebe-se que a mulher é uma louca. Incrível como ela e outras figuras como Megan Ambuhl Graner tentam realmente justificar o que fizeram como algo aceitável, dizendo que estavam apenas “seguindo ordens”. Ah, ok. Será que elas convencem alguém? Porque outras pessoas que contam o que aconteceu por lá dizem como não aderiram a esse esquema. E como diz Sabrina Harman lá pelas tantas, sempre é possível as pessoas fazerem diferente, mas ela não consegue ver o que poderia ter feito naqueles casos.
A verdade é que ela tem razão quando comenta que o importante era documentar aquilo, para provar que esses fatos aconteceram. Sabe-se que eles ocorriam antes e estão ocorrendo agora, anos depois, mas pelo menos em algum momento da História eles foram documentados e se tornaram públicos, mostrando algumas das características mais bizarras e horríveis do ser humano. Atos que comprovam o quão baixo as pessoas podem chegar com o propósito de “defenderem” sua sobrevivência. Só que no caso destas fotos, o que se percebe é que na maioria das situações o que realmente ocorria é que estas pessoas fizeram o que fizeram apenas para se divertirem. Eles gozavam realmente com a humilhação dos “inimigos” – que sabiam, muitas vezes, serem inocentes. Para mim, isso é a base da insanidade e do crime vergonhoso.
Gostei muito da direção de Errol Morris. Ele conseguiu depoimentos realmente potentes (para os quais farei comentários detalhados em seguida), além de ter cuidado muito bem dos detalhes da narrativa, tornando o filme permanentemente interessante e, ao mesmo tempo, devastador. Claro que ele seguiu praticamente uma linha cronológica, contando os fatos através das fotos e das cartas de Sabrina Harman mas, mesmo assim, ele tornou a história realmente impactante, sem perder o ritmo em momento algum. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Prova disso é que mais perto do final, quando você já pensa que viu tudo que era possível – humilhações e abusos sexuais e até assassinato provocado por torturas – ainda aparece a cena dos cães sendo jogados contra presos. Inacreditável.
Junto com o diretor, que faz realmente um trabalho muito bom, destaco o trabalho dos editores Andy Grieve, Steven Hathaway e Dan Mooney. Mais uma vez o compositor Danny Elfman faz um trabalho excepcional com a trilha sonora, que imprime o tom exato entre suspense e “era da informática” no filme. Um grande trabalho da equipe técnica, realmente.
NOTA: 9.
OBS DE PÉ DE PÁGINA: Só fiquei um pouco incomodada, para ser franca, pelo documentário ter entrevistado apenas os envolvidos da parte “estadunidense” desta história. Gostaria de ter ouvido depoimentos das pessoas que foram humilhadas e agredidas. Sei que seria difícil conseguir um depoimento delas, mas não seria impossível. Ainda que o documentário, com estes depoimentos, precisasse ter quatro horas de duração, mas acho que ele teria sido um documento ainda mais potente. Faltou isso, mostrar os outros lados da questão – e, por essa razão, dei esta nota menor para o filme. Teria sido interessante ouvir os iraquianos, por exemplo, para eles contrastarem alguns depoimentos dos soldades norte-americanos, como o “espantalho”, que disse que efetivamente os fios eram eletrificados e que ele estava acostumado a levar choques elétricos – o que os militares negam.
Standard Operating Procedure é destes filmes que vão servir sempre como um documento sobre a guerra e sobre a atuação dos Estados Unidos em conflitos pelo mundo. Acaba sendo um filme raro sobre uma face que poucos gostam de olhar no procedimento deles – e de outros países, com certeza – em situações como aquela.
Agora, vou comentar todos os entrevistados do filme e o que eles trazem de mais interessante para esta produção:
- Javal Davis, sargento da polícia militar dos Estados Unidos: um dos grandes depoimentos do filme. Ele conta realmente em detalhes como era a vida dos militares na região, tanto no trabalho de patrulhamento quanto no de controle dos presos. É um dos poucos que realmente narra a pressão pela qual eles passavam, sob constante ataque. Bastante crítico, ele também comenta sobre os vários presos nunca registrados pela prisão, presos considerados “importantes” pelas diversas instituições de inteligência norte-americana (da CIA adiante). Davis também fala sobre técnicas de tortura psicológica, como a de expor os presos a altos níveis de estresse com música alta. Um dos momentos mais fortes do filme, para mim, é quando ele revela como as prisões de muitas pessoas eram arbitrárias. Literalmente eles “passavam o rodo” na cidade, prendendo praticamente todos os homens da região apenas para “controlá-los”. Ou seja, muitos inocentes passaram por situações de estresse, humilhações e torturas totalmente de graça. E depois eles não sabem porque os iraquianos e outros povos do Oriente Médio nutrem tanto ódio pelos estadunidenses e/ou ocidentais.
- Ken Davis, sargento da polícia militar: é um dos que aparece menos no documentário. Ele ajuda a dar credibilidade para os demais, comentando sobre o seu “espanto” ao ver os presos sendo tratados daquela maneira – sempre sendo despidos e colocados sob o controle de militares mulheres. Ken Davis corrabora também a informação que outros deram de que, quando alguém contestava o que estava acontecendo, os superiores hierárquicos apenas diziam que eram “procedimentos do IM (inteligência militar)” e que eles “sabiam o que estavam fazendo”. O sargento realmente comenta que ficou assustado com o que viu e que decidiu não participar daquilo – e como ele não apareceu em nenhuma das fotos, fica impossível comprovar se isso é verdade ou não.
- Walter (Tony) Diaz, sargento da polícia militar: ele também aparece pouco no filme, basicamente para contar detalhes sobre a morte do preso durante uma sessão de interrogatório/tortura. O interessante de depoimentos como o dele é que eles acabam dando validade para um fato que não teve registros durante o crime propriamente dito – Sabrina fez fotos apenas depois, quando o prisioneiro tinha sido colocado em um saco repleto de gelo para “impedir” que ele começasse a cheirar mal e apodrecer. Com depoimentos como o de Tony Diaz fica claro que eles “passaram dos limites” e realmente mataram uma (e certamente mais) pessoa no processo.
- Tim Dugan, interrogador do CACI Corp.: um dos grandes depoimentos do filme. Ele praticamente pode ser visto como o narrador desta história, afinal, a produção começa e termina com fotos e opiniões dele. Um homem sensato, que já passou por muitas guerras e que acaba sendo, neste documentário, uma das poucas vozes sensatas sobre o que pode ser aceito ou não em um trabalho como o deles. Realmente muito boas as suas falas, algumas bastante inspiradas – ainda que, como as demais pessoas que não aparecem nas fotos, não sabemos até que ponto ele pode ser considerado um dos “bonzinhos” da história.
- Lynndie England, soldado da polícia militar: essa é, sem dúvida, louca de pedra. Logo na primeira aparição dela, pelo jeito que ela olha para a câmera e, principalmente, pelo jeito com que ela fala, você pode perceber que a mulher está desequilibrada. E ela só vai piorando. Até porque, pouco a pouco, descobrimos que ela é uma das “estrelas” das fotografias incriminadoras. Ela e seu então “namorado”, Charles Graner – um dos principais envolvidos que não pôde ser ouvido pela equipe de produção do filme. A mulher se mostra realmente louca ao tentar justificar os atos dela e dos demais, sem contar que ela “culpa” a paixão dela por Graner como o que fez ela ser tão estúpida. Me desculpem, mas ela não me convence em momento algum. As pessoas sabem o que é certo e o que é errado, e quando elas fazem o errado por causa de alguém, são mais estúpidas ainda. Mas, no caso daquelas humilhações, não me parecia que a garota, então com 20/21 anos, estava fazendo aquilo coagida. Não, parecia mesmo que ela se divertia. Ultrajante.
- Jeffery Frost, especialista da polícia militar: outro que fala pouco durante o filme. Basicamente ele ajuda a narrar o que acontecia em Abu Ghraib cotidianamente, além de dar mais detalhes sobre a morte do prisioneiro após ser torturado. Se mostra um pouco menos consciente que o general Tony Diaz, até porque, em alguns momentos, ele parece se divertir com o que ocorreu por lá.
- Megan Ambuhl Graner, especialista da polícia militar: outra louca do grupo. Basta olhar para o seu olhar fixo para a câmera e seus depoimentos praticamente automáticos/sem emoção para perceber que algo de errado acontece com essa mulher. Ela é uma das pessoas que mais tenta justificar o que eles fizeram como algo que “faz parte no processo de salvar vidas”. Realmente repugnante. Sem contar que ela reforça a justificativa de muitos de que eles tomavam aquelas atitudes sob o comando de superiores. Ah, me poupem! Ok que muitos deles seguiam ordens, mas em vários casos mostrados no documentário, eles agrediam e humilhavam presos apenas para se divertirem. Isto está claro. Não tinham recebidos ordens para pisar nos dedos de uns, dar um soco forte em outros, fazer uma pirâmide de homens nus a certa altura do dia. Esses atos não tiveram justificativa e nem ordem de superiores para ocorrerem.
- Sabrina Harman, especialista da polícia militar: um dos grandes depoimentos do filme, tanto pelo que ela fala quanto pelas cartas dela para a mulher que acabaram sendo um interessante fio condutor da história. Através das cartas de Sabrina acompanhamos a rotina da prisão desde o dia 1° de outubro de 2003, quando ela chega no local, até o momento em que ela começa a fazer as primeiras fotos e, depois, em que eles começam a passar por uma investigação militar. Sem dúvida ela se mostra uma das pessoas mais sensíveis do filme, consciente de que o que eles fizeram foi errado. Ainda que, em certas ocasiões, ficou difícil dela negar que talvez estivesse se divertindo em vários momentos, como quando faz o sinal de positivo ao lado do morto sob tortura e, em outra ocasião, quando diz que o homem colocado como um “espantalho sob risco de ser eletrocutado” era “divertido”. Realmente não existem santos naquele meio – e nem ela, uma das pessoas que fala mais francamente sobre tudo que aconteceu, era inocente na história.
- Janis Karpinski, general de brigada responsável por Abu Ghraib e outras prisões da região: outro grande depoimento do documentário. Indignada com o tratamento que recebeu depois que o escândalo veio à tona, ela nomeia todos os superiores que tiveram alguma participação nos abusos daquele local. Uma das primeiras falas dela narra a visita de Donald Rumsfeld, então Secretário de Defesa dos Estados Unidos, as instalações de Abu Ghraib. Fica claro o descaso dele com o local e as suas ordens para transformar aquilo em um centro de tortura no Iraque. Tanto que ela mesma comenta que no dia seguinte em que o Secretário de Defesa esteve lá é que começaram as mudanças. No dia seguinte um tal de General Miller muda toda a estrutura de Abu Ghraib e coloca as alas 1A e 1B, onde ocorreram os principais abusos contra presos, sob o comando de um tal de Coronel Pappas. Posteriormente, Karpinski ainda cita ao General Wojdakowski como o comandante que disse que eles não tinham autorização alguma para libertar nenhum dos mais de 1,5 mil presos do local – um número muito acima do que seria o razoável para as pessoas que trabalhavam ali. Realmente corajosa, Karpinski acaba sendo um dos melhores depoimentos do filme – detalhe: nenhum “peixe grande” do Exército foi condenado pelos crimes que ocorreram em Abu Ghraib.
- Roman Krol, especialista da Inteligência Militar: outro louco de pedra. Logo que ele aparece em cena se percebe que ele é um descontrolado. Especialmente revoltante quando ele fala que não entende como pode ter sido condenado “apenas” por ter jogado uma garrafa de água e por ter jogado uma bola de futebol americano em cima de presos do local. Fica claro também que ele comenta que nada disso teria acontecido se as fotos não existissem – uma maneira de dizer que o problema foi o registro “idiota” de alguns de seus colegas, e não o procedimento dos militares. Típico imbecil do Exército.
- Brent Pack, agente especial do exército da divisão de investigação criminal: figura fundamental da história, especialmente porque é ele quem conta como as provas foram classificadas e viraram peça-chave nas condenações daquelas pessoas. Como agente de investigação criminal, ele é direto em dizer que boa parte dos crimes solucionados dependem da burrice dos criminosos. E ele considera uma grande burrice os militares terem tirados fotos de seus atos. Com isso ele não quer dizer que eles não deveriam ter feito isso, apenas constata que estes crimes chegaram ao grande público e viraram o que viraram porque alguém teve a genial idéia de documentar tudo através de fotos. Sabe-se que outros abusos acontecem diariamente nas prisões militares dos Estados Unidos mas elas não aparecem porque ninguém que está lá dentro tem essa idéia de registrar tudo. Algo bem típico da era das máquinas digitais e da internet, não?
- Jeremy Sivits, especialista da polícia militar: típico cara que parece ter “entrado de gaiato no navio”. Pelo menos segundo seu depoimento, ele entrou como bobo na história que viraria, na opinião de Brent Pack, elemento-chave na condenação daquelas pessoas: a infame “pirâmide de sete iraquianos nus”. Aparentemente Sivits participou daquela cena apenas tirando fotografias e cortando as amarras que estavam deixando um preso com as mãos roxas. Aparentemente, porque ninguém sabe se ele participou de outras histórias de humilhação não documentadas. Ainda assim, ele acaba resumindo um pouco o sentimento de vergonha que muitos militares e/ou estadunidenses sentiram com este episódio. Um depoimento pequeno no filme, mas importante.
Vale a pena citar que os investigadores do caso receberam 12 CDs recheados com milhares de fotos e conseguiram, com este material, contar cronologicamente tudo que aconteceu em Abu Ghraib no período em que foram feitas aquelas fotografias.
Encontrei alguns artigos interessantes sobre o caso e o documentário. Vale citar: este do Los Angeles Times, este outro do Washington Post, este do New York Times e, por fim, esta crítica do Boston.com. Foi um filme realmente que ganhou muita projeção internacional, especialmente nos Estados Unidos e no Reino Unido.
Falando em projeção internacional, Standard Operating Procedure conseguiu uma nota relativamente baixa no IMDb: apenas 7,5. Os críticos que tem textos publicados no Rotten Tomatoes também não foram dos mais efusivos com este documentário. Eles dedicaram 75 críticas positivas e 19 negativas para o filme – lembrando que o concorrente de Standard Operating Procedure no próximo Oscar, Man on Wire, conseguiu 100% de críticas positivas no mesmo site.
O documentário de Errol Morris foi indicado a seis prêmios até agora, ganhando apenas um (importante, diga-se): o prêmio especial da crítica/Urso de Prata no Festival de Berlim de 2008.
De bilheteria o filme foi fraco: conseguiu quase US$ 229 mil nos Estados Unidos até julho de 2008.
Importante contextualizar a importância deste escândalo na história recente dos Estados Unidos. A publicação das fotos de Abu Ghraib foi a que desencadeou uma série de publicações e denúnicas de maus tratos e de violação de direitos humanos por parte dos militares estadunidenses em diversas prisões pelo mundo. Depois que se tornaram públicas as fotos de Abu Ghraib é que vieram à tona problemas em outros locais do Iraque, no Afeganistão e na prisão da base naval americana em Guantánamo, em Cuba.
CONCLUSÃO: Um filme revoltante sobre um dos episódios mais vergonhosos da história recente dos Estados Unidos. Bem produzido e com uma direção cuidadosa, Standard Operating Procedure se mostra um importante documento sobre os abusos da guerra e sobre a capacidade humana em chegar ao nível mais baixo de comportamento. Por ser uma história sobre tortura, violência e humilhações contra presos durante uma guerra, se trata de um filme duro, com muitas cenas que vão provocar revolta e, dependendo da “fragilidade” do espectador, até mal estar físico. Realmente é de embrulhar o estômago algumas vezes – não sei se por efeito da bílis ou pela constatação de que, algumas vezes, a realidade pode ser pior do que alguns filmes de terror.
PALPITE PARA O OSCAR: Acredito que Standard Operating Procedure será um dos cinco indicados para o Oscar de melhor documentário deste ano. Não é um filme fácil para os Estados Unidos, mas ele deveria ser visto com um filme necessário. Acredito que ele tem qualidades técnicas e de narrativa suficiente para levar a estatueta para casa. Só acho uma incógnita o que os membros da Academia vão decidir. Eles podem realmente valorizar o trabalho de denúncia de Errol Morris ou, igualmente, premiar o trabalho mais inspirado e artístico de James Marsh com seu bacana Man on Wire. Realmente fica difícil de apontar um favorito, ainda que eu ache que Man on Wire leva uma pequena vantagem – pelo menos na opinião dos críticos.
ATUALIZAÇÃO – 22/01/2009: Acabo de ver na lista de indicados para o Oscar que Standard Operating Procedure ficou de fora. Uma pena. Acho que o filme merecia, pelo menos, ser indicado. Acho que o favorito mesmo nesta categoria será Man on Wire, ainda que existam filmes fortes na disputa, como Trouble the Water, que revela o drama ocorrido em Nova Orleans com a passagem do furacão Katrina.