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Contraband – Contrabando


Um garoto faz uma grande bobagem. Se mete em algo que não conhece e se dá mal. Na sequência, ele é cobrado por isso. Para sua sorte, ele tem na família um especialista no assunto. Ok, já conhecemos essa história. E nem por isso Contraband não apresenta, com honestidade e sem enrolação, o que o espectador quer ver em um filme de ação. De quebra, o serviço se torna um pouco mais complicado, e a história não economiza em ameaças e alguma pancadaria.

A HISTÓRIA: Noite. Um barco desliza pelas águas, e um helicóptero faz o mesmo pelos ares. Enquanto o helicóptero se aproxima do barco, duas lanchas ajudam a fechar o cerco. A luz do helicóptero ilumina a cabine onde está Andy (Caleb Landry Jones), e ele sai correndo. Acorda Walter (Jason Mitchell) no caminho para livrar-se das drogas. Mesmo com o alerta da polícia para não se mexer, Andy consegue jogar a bolsa com a mercadoria nas águas. Enquanto isso, em uma festa de casamento, Chris Farraday (Mark Wahlberg) faz um brinde em homenagem aos recém-casados. Na festa, Chris ouve comentários sobre o tempo em que era um mestre no contrabando, e recebe uma proposta para voltar ao ramo. Ele resiste à ideia, porque agora tem mulher e dois filhos pequenos. O problema é que Andy é o irmão mais novo de sua esposa, Kate (Kate Beckinsale) e, mesmo sem querer, Chris acaba tendo que ajudá-lo a sair de uma dívida.

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Contraband): O roteiro não é nenhum primor em originalidade. Mas isso não torna Contraband, exatamente, previsível. Aquela premissa básica, citada no início deste post, de fato é conhecida. Mas o desenvolvimento da trama, especialmente as saídas criativas do protagonista para os problemas que vão surgindo e o pouco tempo para solucioná-los, torna a produção envolvente.

Eis um filme de ação clássico. Há a pressão da família envolvida, e a necessidade de um proteger o outro para sobreviver, assim como as forças contrárias a isso. Também faz parte do enredo corrupção, redes internacionais de contrabando e criminalidade, traições, perseguições e alguma pancadaria.

Pouco antes de Contraband chegar na metade, ele já nos apresenta algo elementar em qualquer filme com elementos fortes de suspense: sabemos de algo que o protagonista não sabe. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Neste caso, que o melhor amigo dele, Sebastian Abney (Ben Foster), é o maior interessado em que Chris não apenas resolva o problema de Andy, mas que ele também viaje trazendo uma encomenda de drogas – o que ele, por princípios e para não ter a vida mais complicada, caso seja necessário, se recusa a fazer. Abney é o sujeito que manda no “vilão conhecido”, Tim Briggs (Giovanni Ribisi). Colocar o espectador nesta “posição privilegiada”, de saber disto, enquanto Chris não tem esta informação, serve apenas para tornar o filme mais tenso.

O diretor Baltasar Kormákur faz um belo trabalho. Ele conduz bem a história, especialmente nas cenas de ação inteligente. Porque há perseguições e brigas, mas o elemento principal de Contraband são as saídas criativas do protagonista, comparado com Houdini, ilusionista conhecido mundialmente por enganar a todos e por não revelar os seus segredos. Conhecer os métodos de Chris é um dos atrativos da história.

O roteiro de Aaron Guzikowski acerta na dosagem da ação com as histórias pessoais dos personagens. Afinal, há intriga, disputa, ciúme, fidelidade e traição em jogo. E isso torna o filme mais completo e denso, não apenas uma simples história de ação. Interessante que Contraband é uma refilmagem do islandês Reykjavík Rotterdam, e que o ator principal desta produção, Baltasar Kormákur, foi justamente o diretor da produção hollywoodiana. Os responsáveis pelo roteiro da produção islandesa foram Arnaldur Indrioason e Óskar Jónasson, citados nos créditos de Contraband.

Ainda que o roteiro de Contraband seja competente ao traçar as cenas de ação, ele tem alguns probleminhas que acabam atrapalhando ao filme. (SPOILER – não leia… bem, você já sabe). Por exemplo, por mais que o protagonista seja conhecido como o “Houdini do contrabando”, algumas saídas dele acabam sendo mais interessantes pela falta de tempo para solucionar os problemas do que pela genialidade das soluções. Mas o que incomoda, realmente, é a parte final da produção. Como a tensão é resolvida de forma simples e um tanto difícil de engolir – especificamente o resgate de Kate.

Os atores tem desempenhos diferentes em Contraband. Mark Wahlberg está bem, assim como Ben Foster, mas Kate Beckinsale tem um desempenho sofrível. Fora a sequência em que ela apanha na saída da loja, nas demais ela parece ter as emoções neutralizadas. Não absorve a tensão de uma mãe de família em situação tão extrema – na qual estão em risco o irmão, os filhos e o marido.

Mas se há elementos que não funcionam muito bem em Contraband, algo se destaca do início ao fim da produção: a trilha sonora de Clinton Shorter. Eletrizante, pop e pesada em alguns momentos, a trilha revela-se fundamental para dar ritmo ao filme. Belo trabalho.

NOTA: 8,5.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: As cidades em que se passa a história deste filme acabam sendo personagens de Contraband. New Orleans, que ficou conhecida pela devastação do furacão Katrina, e a Cidade do Panamá, serviram de cenário para a história. Cada uma delas, com suas características, influenciam nas escolhas dos personagens. Um acerto do roteiro, que não torna o ambiente como algo secundário, mas importante para o desenvolvimento da trama.

Da parte técnica do filme, merecem ser destacados, além da trilha sonora, a edição de Elísabet Ronaldsdóttir e a direção de fotografia bem feita de Barry Ackroyd, que consegue manter a tensão nas cenas noturnas sem fazer a qualidade das imagens cair.

Do elenco, vale citar o bom trabalho de Lukas Haas como Danny Raymer, braço direito de Chris durante a operação; Lucky Johnson como Tarik, e Ólafur Darri Ólafsson como Olaf, ambos integrantes do grupo de contrabandistas; J.K. Simmons como o chefe do navio; e Diego Luna como o “maluqueiro” criminoso Gonzalo.

Contraband estreou no dia 12 de janeiro em mercados de pouco peso para a bilheteria mundial, como o Cazaquistão, a Rússia e Cingapura. No dia seguinte ele chegou aos Estados Unidos, Canadá, Bulgária e Paquistão.

O filme, que teria custado aproximadamente US$ 25 milhões, arrecadou pouco menos de US$ 66,5 milhões nos Estados Unidos até o dia 11 de março. Um bom resultado, especialmente porque a crítica não gostou da produção. O interessante é que, logo na estreia, Contraband conseguiu US$ 28,5 milhões nas bilheterias norte-americanas. Ou seja, o filme conseguiu se pagar nos primeiros dias. O que revela a força dos filmes de ação – e do elenco que encabeça esta produção.

Contraband marca a estreia do islandês Baltasar Kormákur como diretor em Hollywood. O primeiro filme dirigido por ele foi 101 Reykjavík, lançado no ano 2000, e que contou com recursos de cinco países europeus. Depois, ele dirigiu a outros cinco longas. O mais conhecido deles foi A Little Trip to Heaven, produção islandesa com co-produção dos Estados Unidos e estrelado por Forest Whitaker, Jeremy Renner, Julia Stiles e Peter Coyote.

Os usuários do site IMDb deram a nota 6,5 para Contraband. Nota baixa, mas melhor que a dada pelos críticos que tem seus textos linkados no Rotten Tomatoes. Eles dedicaram 77 críticas positivas e 73 negativas para o filme, o que lhe garantiu uma aprovação de 51% e uma nota média de 5,4.

Não assisti ainda a Reykjavík Rotterdam, mas fiquei com vontade de conferir o original por trás de Contraband. Especialmente pelo fato dele ter uma nota melhor no IMDb: 6,8. E também porque as produções originais tendem a ser melhores, não é mesmo?

CONCLUSÃO: Um filme de ação que fala sobre o inevitável caminho que a dívida no caminho do crime deve percorrer. Ainda que conheçamos a lógica deste caminho, sempre podem ocorrer imprevistos. Contraband segue o padrão de filmes do gênero até um ponto, mas também inova. A principal vantagem do filme, talvez, seja o trabalho do diretor, que não deixa fios soltos. Os diálogos convencem, não parecem ter saído de um manual de roteiristas. E o elenco masculino está muito bem, só Kate Beckinsale que tem muitos altos e baixos. Para quem gosta de filmes mais “realistas”, talvez a generosidade com o protagonista decepcione um pouco. Mas ele também sabe justificar o apelido de Houdini – famoso ilusionista capaz de escapar dos desafios mais complicados. Contraband pode não ser inesquecível, mas cumpre o seu papel de entretenimento. Para um filme do gênero, tão habituado a fórmulas, não é pouco.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 20 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing e, atualmente, atuo como professora do curso de Jornalismo da FURB (Universidade Regional de Blumenau).

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