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Metropolis – Metrópolis


Um filme visionário em alguns aspectos e conservador em outros. Um dos maiores clássicos do cinema é também uma superprodução. Metropolis apresenta inovação na cenografia e acerta em vários pontos do “futuro” que acabou virando presente para a geração do século 21. Por outro lado, o filme preto-e-branco, ainda parte do cinema mudo, durante boa parte do tempo repete a dinâmica do teatro que, nos primórdios da Sétima Arte, era uma inspiração inevitável. O diretor Fritz Lang apresenta algumas técnicas interessantes em uma época em que os “efeitos especiais” eram feitos na unha. Fundamental, sem dúvida, especialmente pela influência que teria em outros filmes décadas depois.

A HISTÓRIA: Começa com uma epígrafe, que afirma que “o mediador entre a mente e as mãos deve ser o coração”. A cena de uma metrópole abre espaço para diversas imagens de engrenagens de máquinas que funcionam a todo vapor. O ponteiro do relógio vai avançando, e as máquinas não param, até que soa um apito e ocorre a troca de turno. Filas de homens uniformizados caminham lentamente para dentro e para fora da fábrica. Os que saem tem o passo muito mais pesado.

Quem chega vai para as “profundezas” da cidade, onde vão trabalhar até quase o esgotamento. Em outra parte, os filhos dos homens com dinheiro vivem uma vida frívola. Um destes “filhos” é Freder (Gustav Fröhlich), herdeiro do “mestre” de Metropolis. Ele vive mais um dia de farra até que Maria (Brigitte Helm) aparece nos Jardins Eternos e faz Freder mudar a sua vida.

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Metropolis): Nada como fazer leituras sobre obras que já ganharam em profundidade com o passar do tempo. Certamente foi uma experiência muito diferente assistir Metropolis no ano de seu lançamento, em 1927, do que ver a obra agora, 90 anos depois. O exercício de pensar esta obra no ano em que ela foi lançada faz parte da avaliação justa de uma das produções mais importantes de Fritz Lang.

Metropolis tem uma carga dramática fortíssima e segue um tipo de interpretação que bebe diretamente do teatro. O cinema tinha sido “criado” quase 30 anos deste filme e os principais diretores daquela fase do cinema mudo procuravam, ao mesmo tempo, apresentar inovação com a Sétima Arte e também, para não serem totalmente estranhos para os seus públicos, um tipo de produção que era “palatável” para quem iria ao cinema ver aquele espetáculo.

Se pensarmos neste contexto, dá para entender a dinâmica teatral de Metropolis. Os atores claramente apresentam interpretações exageradas e bem conhecidas em teatros da época. Este tipo de interpretação fazia parte do que as pessoas esperavam para aquele momento histórico – para a nossa sorte e conforme a sociedade foi evoluindo, passamos anos habituar com interpretações mais interessantes e condizentes com os dramas humanos, algo muito menos caricatural.

Para o meu gosto e vendo o filme com os filtros de 2017, a parte da interpretação teatral e exagerada é algo que “incomoda” um pouco. Talvez um dos pontos fracos do filme, assim como a temática. Mas vamos falar dela depois. Por outro lado, o início de Metropolis possivelmente abriga algumas das cenas mais importantes e interessantes da produção. Nos minutos iniciais, Fritz Lang explora as possibilidades técnicas de sobreposição de imagens e de edição para passar as suas mensagens.

Chama muito a atenção como as engrenagens são mostradas como parte fundamental da grande metrópole. Sem toda aquela produção, as máquinas e seus trabalhadores, todo aquele “avanço” não seria possível. Para mim, a cena mais marcante da produção, assim como aquela em que aparece o grande invento de Rotwag (Rudolf Klein-Rogge) e que virou uma das cenas mais conhecidas da história do cinema, é aquela dos trabalhadores andando em marcha no início da produção.

Aquela sequência inicial de Metropolis apresenta boa parte do que Lang vai demorar o filme inteiro para “explicar”. Os trabalhadores entram na fábrica parecendo “animais” indo para o abate, e os que saem da produção, esgotado, parecem produtos em série. Todos, no fundo, parecem autômatos. São engrenagens que não devem pensar ou sentir e que fazem parte de um sistema de exploração humano, como Lang argumenta durante a produção.

A sequência dos trabalhadores em fileiras, cabeças baixas e passos cadenciados entrando e saindo da fábrica é das mais significativas e marcantes da produção. Depois, me chamou muito a atenção as imagens visionárias de Metropolis, com arranhas-céus e diversos meios de transporte (fileiras de carros, monotrilhos e aviões) preenchendo o cenário.

Estes cenários e a figura da “máquina humana” criada por Rotwag são, sem dúvida, duas partes muito marcantes da produção, não apenas pelo apelo visual destas imagens – dá para imaginar o impacto delas no público do final dos anos 1920 -, mas também pelo quanto elas, descontados alguns detalhes, anteciparam o que existiria apenas no final do século passado.

Também não deixa de ser muito visionário, ainda que apresentada de uma forma um tanto “tosca” (na visão de hoje, não na da época), a questão da clonagem. Afinal, Maria teria sido “clonada” na “máquina humana” segundo Rotwag. A clonagem, todos sabemos, seria efetivada apenas em 1996, com a ovelha Dolly – ou seja, quase 70 anos depois de Metropolis.

Todos estes pontos que eu comentei são o grande ganho e avanço apresentado por este filme do austríaco Fritz Lang (curioso que eu sempre achei que ele fosse alemão, mas não). Mas há outras questões da narrativa que seguem uma linha bastante conservadora. Para início de conversa, a questão central da produção: a diferença brutal entre a realidade das classes trabalhadora e a elite de Metropolis. O personagem de Freder me fez pensar, inicialmente, na história de Buda, que saiu de sua realidade “maquiada” e irreal de riquezas e passou a conhecer o mundo como ele era, cheio de desigualdades e de exploração, mudando de vida após este choque inicial.

Filho do “chefão” do pedaço, Freder vive uma vida frugal e cheia de prazeres até que é afetado pela imagem de Maria e de suas criancinhas pobres. A partir daí ele empreende uma “busca pela verdade” e, claro, por Maria. Assumindo o lugar do trabalhador 11811 – Georgy (Erwin Biswanger), Freder não apenas experimenta na pele a exploração dos trabalhadores (as “mãos” da frase que inicia a produção), mas também acaba descobrindo sobre o mapa que os trabalhadores levavam no bolso e sobre Maria.

A exploração da classe trabalhadora pelos donos do dinheiro é uma parte fundamental desta produção. Mas outra parte marcante é a questão messiânica da produção. Maria é tida quase como uma santa, alguém que inspira os trabalhadores a acreditarem em um mundo melhor quando chegasse o “messias” – a pessoa que trabalharia como mediadora entre eles e o dono de Metropolis. Logo descobrimos que esse “mediador” é Freder, o “coração” da história – ou seja, a pessoa que sabe olhar além das máquinas, do trabalho e do dinheiro e que se importa realmente com as pessoas.

Mas o filme longo demais e um tanto arrastado de Lang – justificado apenas pela necessidade do diretor de mostrar o domínio das novas técnicas e recursos propiciados pelo cinema – leva duas horas e meia para nos apresentar a solução do conflito. Depois dos trabalhadores, iludidos pela figura messiânica e diabólica do “homem máquina” travestido de Maria, acabarem com a cidade das máquinas e, consequentemente, com a sua própria cidade e com Metropolis, finalmente Freder age como mediador do conflito e une os trabalhadores e a “mente” (quem tem a visão do todo e pensou Metropolis).

A mensagem que Lang deixa, desta forma, é que as relações entre trabalhadores e patrões não pode continuar da mesma forma. Que é necessária uma revisão nestas relações que leve em conta o “coração”, ou seja, a reflexão de que nada funcionaria sem a força do trabalho (das mãos) e que, por isso mesmo, os trabalhadores devem ser tratados com respeito e consideração e não serem explorados. O roteiro de Thea von Harbou, que escreveu a obra que deu origem para o filme e que teve contribuição de Lang para a adaptação para o cinema, deixa clara esta necessidade de revisão das relações e de como qualquer cidade depende igualmente da visão criativa dos patrões e da dedicação “braçal” dos empregados.

A parte mais previsível do roteiro é exatamente esta, a velha e boa disputa entre classes sociais que só pode ser resolvida através do entendimento e da negociação, até porque patrões e trabalhadores dependem um dos outros. Uma parte interessante do filme, aliás, é quando os trabalhadores e suas mulheres destroem a cidade das máquinas sem pensar nos efeitos daquele gesto incentivado pela “falsa Maria”. O guardião da máquina-coração, Grot (Heinrich George), tenta alertar os colegas sobre a besteira que eles estão fazendo, mas ninguém lhe dá ouvidos. O que demonstra o efeito nocivo do “comportamento de manada” que, infelizmente, nunca é racional.

Também chama a atenção o abandono das crianças. É como se Thea von Harbou e Lang estivessem dizendo que os trabalhadores, ao lutarem contra as máquinas e o seu próprio ganha-pão, estivessem acabando com o próprio futuro (representado pelas crianças). Ou seja, Metropolis defende, em certa medida, que o futuro passa, necessariamente, pelo trabalho, e que a revolta dos trabalhadores não leva a nada. O filme também explora a questão da influência da religião, seja como alerta, seja como recurso para “apaziguar” desejos de mudança.

Vejamos. Maria faz as vezes de uma figura messiânica que, através da promessa da vinda de um “mediador”, esvazia o desejo de mudanças e a possibilidade de revolta dos trabalhadores. Em certo momento da produção, Freder fica conhecendo uma passagem do Apocalipse e vemos na figura da “falsa Maria” o instrumento para o reinado da morte e dos sete pecados capitais. Ah sim, e em determinado momento Maria também fala sobre a construção da Torre de Babel. Ou seja, muitas referências bíblicas nesta produção.

Toda esta referência bíblica eu achei um tanto desnecessária e exagerada, ainda que dê para entender ela como parte da crítica de Thea von Harbou e Lang. Algumas cenas da história da Torre de Babel servem de paralelo para o que acontece em Metropolis. Nas duas histórias vemos a exploração dos trabalhadores – inclusive com o paralelo entre os escravos da época da Torre e os trabalhadores de Metropolis – e a soberba dos homens acreditando que poderiam substituir Deus.

Existe também a reflexão sobre a bondade das pessoas e a maldade das máquinas. De forma bastante inovadora e acredito que até atemporal, Metropolis nos adianta a discussão sobre o uso da tecnologia e mostra que as máquinas em si não são ruins, mas o uso delas sim pode ser daninho. O vilão da história não é a “máquina humana” que acaba se passando como Maria e enganando os trabalhadores. O vilão de Metropolis é o inventor Rotwag que, por vingança, acaba utilizando a figura de Maria para destruir o seu desafeto Joh Fredersen (Alfred Abel).

Com mais esta temática em cena, Lang parece denunciar os “falsos profetas”, os falsos ídolos que trabalham nos bastidores em prol de seus próprios interesses e que podem ser muito prejudiciais. Líderes com esta necessidade de poder e ânsia destrutiva apareceriam depois de Metropolis, reforçando ainda mais algumas das preocupações apresentadas pelo filme de Lang.

Metropolis tem alguns elementos marcantes e muito visionários, especialmente ao tratar de parte de um futuro que seria concretizado muitas décadas depois da produção estrear. O filme, por toda o seu apelo visual, deve ter impressionado as plateias da época. O problema da produção é que ela não se contenta em investir nos aspectos visionários e mistura muitos elementos em uma história que poderia ser mais objetiva e envolvente.

Para os padrões da época, toda a dramaticidade das cenas de perseguição especialmente de Maria devem ter funcionado, mas hoje elas parecem teatrais demais e um tanto desnecessárias. É um grande filme, ainda que ele não tenha a força de outros lançados naquela fase inaugural do cinema.

NOTA: 8,8.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: Olá amigos e amigas do blog! Coisa boa voltar a falar de filmes clássicos! Há várias semanas eu queria retomar a seção “Um Olhar Para Trás”, na qual eu comento sobre filmes que marcaram a história do cinema mundial segundo o livro “1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer”. Pois bem, como estamos em 2017, vou retomar sempre a filmes que estão fazendo “aniversário” neste ano. Começo com o primeiro filme com esta característica que aparece no livro, que é Metropolis.

Eu considerava uma “falha” no meu currículo não ter assistido a Metropolis antes. Algumas das cenas mais marcantes da produção, como a apresentação da “máquina humana”, eu já tinha assistido, mas ao filme inteiro, ainda não. Aliás, encontrei uma versão de Metropolis restaurada, ou seja, com a duração completa do filme – de duas horas e 33 minutos – com diversas cenas resgatadas e outras apenas “narradas” através de texto (no caso das cenas definitivamente perdidas). O ideal é assistir a esta versão, até para conhecer a visão artística de Fritz Lang na sua integralidade.

Vocês vão me perdoar, mas como esse filme faz parte desta seção de revisão histórica do cinema, desta vez vai vir aqui um textão. 😉 Além da crítica que fiz acima, acho muito válido citar informações trazidas pelo crítico Kim Newman na obra “1001 Filmes para Ver Antes de Morrer”. Cito o início da crítica dele sobre Metropolis: “Com uma duração original de mais de duas horas, Metrópolis, de Fritz Lang, é o primeiro épico de ficção científica, com cenários imensos, centenas de figurantes, efeitos especiais de ponta para a época, muito sexo e violência, uma moral nada sutil, atuações grandiosas, um quê de goticidade alemã e inovadoras sequências de fantasia. Financiado pela UFA, o gigante cinematográfico alemão, o filme foi controverso e se revelou um desastre de bilheteria que quase levou o estúdio à falência”.

Bem citado por ele duas questões: realmente Metropolis foi o primeiro épico do gênero ficção científica; e chama a atenção neste filme o número gigante de figurantes – a exemplo de Intolerance: Love’s Struggle Throughout the Ages, clássico épico de 1916 comentado por aqui e que estreou a seção “Um Olhar Para Trás”.

O crítico Kim Newman continua comentando como o enredo de Metropolis é “quase tão simplista quanto um conto de fadas”. Hehehehehe. Verdade. Como eu disse antes, o enredo do filme é um de seus pontos fracos, tanto por ser simplista quanto por misturar muitas estações. Vale citar outro trecho da crítica de Newman: “Logo depois de lançado, a distribuição do dispendioso filme foi interrompida e ele foi remontado contra a vontade de Lang: essa versão truncada e simplificada continuou sendo a mais conhecida – inclusive na sua forma remixada e colorizada por Giorgio Moroder na década de 1980 – até o século XXI, quando uma restauração parcial (com sutis intertítulos de ligação para substituir as cenas que continuam irreversivelmente perdidas) chegou bem mais perto da visão original de Lang”.

Importante ressaltar, mais uma vez, que eu assisti justamente a esta versão da obra restaurada. Ou seja, não assisti às versões que Newman cita que foram modificadas sem a concordância de Lang e que acabaram sendo as versões mais conhecidas da obra. Então levem em conta isso e tentem realmente assistir a versão que o diretor gostaria que todos nós assistíssemos.

Retomando os comentários de Newman: “Essa versão (a restaurada) não só acrescenta várias cenas que passaram décadas inéditas como também restaura a ordem delas na versão original e acrescente os intertítulos corretos. Até então considerado um filme de ficção espetacular, porém simplista, essa nova-velha versão revela que a ambientação futurista não tinha a intenção de ser profética, mas sim mítica, com elementos da arquitetura, indústria, design e política da década de 1920 misturando-se com o medieval e o bíblico para produzir imagens de uma arrebatadora estranheza: um robô futurista queimado na fogueira; um cientista louco e mão-de-ferro que é também um alquimista do século XV; os trabalhadores que se arrastam em direção às mandíbulas de uma máquina que é também o antigo deus Moloch”. Certíssimo o crítico. A mistureba do filme é impressionante.

Seguindo ainda o que Newman nos conta: “A interpretação de Fröhlich como o herói que representa o coração ainda é extremamente exagerada, porém o engenheiro Rotwang de Kleine-Rogge, o Mestre de Metrópolis de Abel e, principalmente, Helm, no papel duplo da angelical salvadora e da femme fatale de metal, estão magníficos. Depois que boa parte da história foi restaurada a partir de um mergulho nas motivações contraditórias dos personagens, a fantástica trama passa a fazer mais sentido e podemos vê-la tanto como um bizarro drama familiar quanto como um épico de repressão, revolução e reconciliação”.

Ainda que eu concorde com Newman de que as interpretações de Alfred Abel como John Fredersen e de Rudolf Klein-Rogge como Rotwang sejam menos exageradas do que a de Gustav Fröhlich, devo opinar que acho as interpretações destes últimos dois exageradas também em muitos momentos da produção. Não o tempo todo do filme, a exemplo de Fröhlich, mas em alguns trechos sim. E ainda que a atriz Brigitte Helm seja claramente a estrela deste filme, brilhando em muitas ocasiões e ofuscando os demais, ela também tem momentos de puro exagero – cito, por exemplo, a sequência em que ela é perseguida por Rotwang nas “profundezas” da Cidade dos Mortos. Exagerado.

Além dos atores citados, que são os destaques da produção, vale comentar o bom trabalho de Fritz Rasp como o “capataz” de Fredersen; de Theodor Loos, este sim, provavelmente o menos exagerado em cena, como Josaphat, funcionário de Fredersen que é demitido por ele e que acaba sendo o principal aliado de Freder; Erwin Biswanger, também menos exagerados que os outros, interpreta bem o personagem 11811 Georgy; e Heinrich George ganha importância como Grot mais na reta final do filme. Todos estão bem, ainda que os destaques sejam mesmo Helm e o exagerado Fröhlich.

Como todo filme mudo exige, a trilha sonora de Gottfried Huppertz e de Bernd Schultheis é um elemento forte e fundamental nesta produção. Eles fazem um grande trabalho, reforçando a característica épica de Metropolis. Me chamou a atenção, em especial, quando os trabalhadores começam a sua revolução, como a trilha sonora lembra alguns acordes do hino da França, A Marselhesa.

Da parte técnica do filme, destaque para a direção de fotografia excelente de Karl Freund, Günther Rittau e Walter Ruttmann; para a direção de arte fundamental para o filme ter se tornado o marco que ele se tornou e que é assinada por Otto Hunte, Erich Kettelhut e Karl Vollbrecht; o trabalho fundamental de Otto Hunte, Erich Kettelhut, Walter Schulze-Mittendorff, Karl Vollbrecht e Edgar G. Ulmer no departamento de arte; os efeitos especiais de Ernst Kunstmann, Konstantin Irmen-Tschet e Erich Kettelhut; e os efeitos visuais de Jeff Matakovich, Eugen Schüfftan, Erich Kettelhut (esse trabalhou, hein?), Ernst Kunstmann, Willy Muller, Hugo O. Schulze e Edmund Zeihfuss. Mais que o roteiro de Lang e de Thea von Harbou, este pessoal que eu citei aqui foi fundamental para a produção ter a qualidade e a força que ela tem.

A premiere de Metropolis foi feita no dia 10 de janeiro de 1927 em Berlim, na Alemanha. Nos Estados Unidos o filme estreou no dia 6 de março daquele mesmo ano. A versão editada do filme estreou no dia 5 de agosto em Stuttgart, também na Alemanha. No Brasil o filme estreou no dia 4 de novembro de 1927. A primeira versão restaurada de Metropolis estreou no dia 15 de fevereiro de 2001 no Festival Internacional de Cinema de Berlim. Depois, em 2010, seria lançada a última versão restaurada e a mais completa do filme – foi esta que eu vi e é esta que eu recomendo.

Metropolis teria custado 6 milhões de marcos alemães – uma fortuna para a época. Esse custo, atualizado pela inflação, significaria algo em torno de US$ 200 milhões em 2007.

Algumas curiosidades sobre o filme. Thea von Harbou era a mulher de Fritz Lang. Ela resolveu ficar na Alemanha enquanto o marido, judeu, mudou-se para os Estados Unidos. Foi lá que, ao observar as silhuetas dos edifícios de Nova York, ele se inspirou para a cidade que vemos em Metropolis. De acordo com o livro “1000 Que Fizeram 100 Anos de Cinema”, “durante 20 anos (Lang) lutou contra os produtores de Hollywood que interferiam em sua visão criativa”.

Esta produção teria utilizado 37 mil extras, sendo 25 mil homens, 11 mil mulheres, 1,1 mil homens carecas e/ou que tiveram a cabeça raspada (para a cena da Torre de Babel), 750 crianças, 100 negros e 25 asiáticos. As filmagens duraram impressionantes 310 dias.

Para a consternação de Fritz Lang, Adolf Hitler e Joseph Goebbels eram dois grandes fãs de Metropolis. Um dia, Goebbels se reuniu com Lang e disse que, “apesar dele ser judeu”, ele poderia ser nomeado um “ariano honorário” porque, afinal, eles “decidiam” quem era ou não judeu. Na mesma noite desta conversa, Lang fugiu para Paris.

O desemprego e a inflação eram problemas tão graves na Alemanha quando o filme foi feito que os produtores não tiveram problemas em achar 500 crianças desnutridas para participar das sequências de inundação.

O filme influenciou tanto os criadores do Superman, Jerry Siegel e Joe Shuster, que eles resolveram dar o nome para a cidade em que se passa a HQ como Metropolis.

A história de Metropolis se passa em 2026.

Metropolis foi filmado nas cidades de Berlim, na Alemanha, e em Viena, na Áustria, além de ter sido rodado no estúdio Babelsberg, em Potsdam; na fábrica da Guinness, em Dublin; e no Filmwerke Staaken, em Spandau.

O robô apresentado em Metropolis serviu de inspiração para o C-3PO de Star Wars, produção lançada 50 anos depois. A mão mecânica de Rotwang serviria também de inspiração para o personagem de Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb.

A mulher de Lang, Thea von Harbou, era uma defensora do nazismo. Adolf Hitler e todo o seu círculo próximo gostaram do filme e acharam ele um tipo de “plano social” – certamente a parte de “encantar” os trabalhadores. Talvez por tudo isso Lang, que era judeu e que fugiu da Alemanha assim que pode – apesar dos nazistas oferecem a possibilidade dele continuar lá -, disse que gostou de fazer o filme, mas que já não apreciava ele tanto assim depois que ele foi finalizado.

A atriz Brigitte Helm interpretou, de fato, a “máquina humana”, usando aquele pesado traje que, segundo a atriz, era muito desconfortável e inclusive lhe provocou machucados.

A revista Premiere escolheu Metropolis como um dos “100 filmes que abalaram o mundo” em 1998, em uma lista que destacou os filmes mais ousados que já foram lançados nos cinemas na história. Certamente este filme foi bastante ousado e visionário para a sua época e influenciou muitos realizadores.

A exemplo do que vemos em cena, Fritz Lang também exigiu dos atores e da multidão de extras jornadas extenuantes de gravações. Em muitas cenas ele não queria o uso de dublês e a atriz Brigitte Helm teve que se arriscar e até chegou a desmaiar em cena – como em uma longa sequência com o traje metálico da “máquina humana”.

O especialista em efeitos especiais Eugen Schüfftan criou vários efeitos pioneiros para Metropolis. Entre outros, destaque para os de miniaturas da cidade; o de uma câmera em um balanço; e, principalmente, o processo que levou o sobrenome dele, Schüfftan, em que espelhos são utilizados para que os atores apareçam em cenários de miniatura. Essa última técnica, que era nova, só foi utilizada novamente em 1929, no filme Blackmail.

Quando o filme estreou, no dia 10 de janeiro de 1927, o público presente “explodiu” em aplausos em algumas das cenas mais espetaculares da produção.

O elenco de Metropolis foi formado, basicamente, por atores desconhecidos. Heinrich George era um ator, na época, conhecido apenas nos teatros; Gustav Fröhlich era um jornalista de 19 anos que não tinha experiência no cinema; e a experiência anterior de Brigitte Helm tinha sido a das audições para o filme Die Nibelungen: Siegfried, de 1924 e dirigido por Fritz Lang também.

O Vaticano classificou Metropolis como um filme de “arte” e como um dos 45 grandes filmes da história do cinema. Esta produção também faz parte da lista de grandes filmes de Roger Ebert.

Metropolis ganhou cinco prêmios e foi indicado a outros quatro. Todos os prêmios que ele recebeu foram dados a partir do ano 2000. Vale citá-los: Melhor Lançamento de DVD de Filme Clássico em 2011 pela Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films; o prêmio Honorary Roger para Kevin Saunders Hayes no ano 2000 no Festival de Cinema de Avignon/Nova York; o prêmio especial pela restauração do filme em 2002 dado pelo New York Film Critics Circle Awards; o de Melhor Filme no OFTA Film Hall of Fame em 2000 dado pelo Online Film & Television Association; e o de Melhor Restauração do Ano em 2002 no Rondo Hatton Classic Horror Awards.

O diretor Fritz Lang nasceu em 1890 na cidade de Viena, na Áustria, e morreu em 1976 em Los Angeles, nos Estados Unidos, país que adotou após a ascensão do nazismo na Alemanha, onde morava. Com 46 filmes no currículo como diretor, Lang foi um dos expoentes da escola de cinema chamada expressionismo alemão, caracterizada por uma “pintura dramática e subjetiva” criada para expressar os sentimentos humanos. Ou seja, foi uma escola do “exagero” e que revelava de “forma plástica” questões como o amor, o ciúme, o medo, a solidão, a miséria humana e a prostituição. Neste caso, os valores emocionais predominam sobre os valores intelectuais. Existe uma deformação intencional de formas e de cores, além do uso da caricatura e do aspecto teatral. Algo que vemos claramente em Metropolis. Lang é considerado um dos grandes diretores do cinema de todos os tempos.

Fritz Lang foi casado com Thea von Harbou entre 1922 e 1933. Após visitar Nova York, o diretor pediu que a esposa escrevesse um livro inspirado nos edifícios da cidade americana – foi aí que surgiu Metropolis. Como Thea von Harbou foi defensora do nazismo, Lang se separou dela e casou-se com a atriz alemã Lily Latte em 1971, ficando casado com ela até que ele morreu em 1976. Antes de ser casado com Thea von Harbou, Lang foi casado com Lisa Rosenthal entre 1919 e 1921, quando ela morreu.

Os usuários do site IMDb deram a nota 8,3 para a produção, enquanto que os críticos que tem os seus textos linkados no Rotten Tomatoes dedicaram 114 críticas positivas e apenas uma negativa para Metropolis, o que lhe garante uma aprovação de 99% e uma nota média de 9,1.

Este é um filme 100% de produção alemã. Certamente um dos grandes filmes da história daquele país. Com ele, retomo a seção “Um Olhar Para Trás” criada aqui no blog no ano passado e também atendo a uma votação feita há algum tempo por aqui.

CONCLUSÃO: Um dos grandes clássicos da primeira fase do cinema mundial, Metropolis é uma produção ousada em diversos aspectos técnicos e um tanto conservadora na mensagem e no enredo. Aqui a velha “disputa” entre proletariado e classe abastada é resolvida através de figuras um tanto messiânicas. O interessante mesmo da produção é a sua visão sobre o futuro – com alguns acertos e erros sobre o que viria pela frente.

Tem mais qualidades que defeitos, especialmente se pensarmos sobre a época em que o filme foi feito, mas ele poderia ser mais curto. Um tanto grandiloquente demais, Metropolis peca um pouco pelo excesso. O diretor Fritz Lang quis mostrar o seu poder, e conseguiu. Tecnicamente bem feito, o filme tem uma dinâmica muito irregular. Mas merece ser visto, especialmente porque realmente faz parte da história do cinema.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 20 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing e, atualmente, atuo como professora do curso de Jornalismo da FURB (Universidade Regional de Blumenau).

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