É preciso resistir! Algumas vezes, quando a realidade é tão absurda que a lógica não tem vez, a resposta tem que vir com certa dose de radicalismo. O que não se pode é aceitar a sequência de absurdos e o radicalismo do sistema sem revidar ou, ao menos, resistir. É preciso ser revolucionário! Buscar por uma mudança, pelo menos para as pessoas terem o direito de existir. Sobre isso e um pouco mais é sobre o que One Battle After Another trata.
Um filme claramente crítico ao que está acontecendo nos Estados Unidos agora, assim como em outros países, com sistemas sendo tomados por gente radical e antidireitos. Especialmente contra os imigrantes. Um filme com roteiro e direção excelentes e com um baita elenco. Sem dúvida, um dos melhores filmes do ano e, provavelmente, um dos grandes indicados no próximo Oscar. Com certeza merece o seu tempo e a sua ida ao cinema.
A HISTÓRIA
Uma mulher, jovem, bonita e determinada, caminha perto de uma ponte. Ela é Perfidia (Teyana Taylor), que coloca um boné enquanto observa o movimento próximo. Caminhões passam por ela, e o alvo da atenção de Perfidia é um centro de detenção de imigrantes. Ela passa sobre a ponte e se aproxima de diversas pessoas que estão se organizando para fazer uma invasão. Bob (Leonardo DiCaprio) caminha rápido até o grupo puxando uma carretinha. Eles estão na fronteira dos Estados Unidos com o México.
Um dos líderes do grupo comenta que no local de detenção tem cerca de 300 pessoas, mas que eles têm espaço no caminhão contêiner para resgatar apenas 50 pessoas. Vão dar prioridade para mulheres e crianças, mas as demais pessoas deverão fugir à pé. Perfidia pergunta o que Bob está carregando, e ele diz que armas e explosivos. Ela pede para que ele dê um show. Em seguida, o grupo invade o local, primeiro rendendo os seguranças e militares. Nessa invasão é que Perfidia conhece o então capitão Steven J. Lockjaw (Sean Penn), um homem obstinado e que irá cruzar o caminho dela algumas vezes depois.
VOLTANDO À CRÍTICA
(SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a One Battle After Another): Olá, minha gente! Tem uns meses que eu assisti esse filme no cinema, mas muita coisa aconteceu nesse período de tempo então só agora estou terminando esse texto. Me desculpem que as “impressões” que eu tive logo após assistir One Battle After Another se perderam no caminho, mas estou revisitando as minhas anotações para terminar esse texto e resumir o que eu achei sobre a produção.
Primeira questão que eu quero trazer aqui é que sim, eu já tinha ouvido falar bastante de One Battle After Another antes de procurar pelo filme no cinema. Sabia já que ele era um dos favoritos no próximo Oscar – tanto para concorrer e talvez ganhar o Oscar principal de Melhor Filme quanto para ficar entre os principais indicados do ano. E mesmo sendo um filme tão crítico ao governo norte-americano atual, acredito sim que ele vai emplacar muitas indicações e tem grandes chances de vencer em mais de uma categoria.
Mas por que eu comentei isso por aqui logo de cara? Porque vocês sabem que sempre que a gente assiste a um filme que está entre os “favoritos” ao Oscar ou qualquer outra premiação importante do cinema, é natural que a nossa expectativa sobre a produção aumente, certo? Então sim, fui com essa expectativa ao cinema há alguns meses. E apesar da expectativa alta, One Battle After Another não me decepcionou. E isso já quer dizer muita coisa.
Esse é um filme com a cara do seu realizador e é uma produção, acima de tudo, rock and roll. Sim, estamos falando de um filme com muitos tons exagerados, o que é proposital, óbvio, e que tem uma posição política crítica e irônica bastante declarada. Importante falar isso logo de cara porque imagino que aquelas pessoas que defendem alguns dos pontos que One Battle After Another critica tem uma chance grande de detestarem o filme. Porque elas não vão analisar a narrativa, nem os aspectos técnicos da produção, mas vão mirar apenas em suas crenças e na forma como a produção de Paul Thomas Anderson detona esses “valores”.
Importante, portanto, dizer que One Battle After Another tem sim um lado claro e que é um filme bastante político – e crítico. Isso é ruim? Bem, acredito que apenas para as pessoas que defendem o que o filme critica. Sob a ótica da narrativa, ter um lado bem definido ajuda na condução da história, por óbvio. A simplificação de lado opostos e a escolha por um deles sempre facilita a condução de uma história o entendimento da narrativa. Quando Paul Thomas Anderson simplifica os lados opostos e grande parte dos seus personagens, ele também facilita o entendimento de sua história e o trabalho de conduzir os espectadores por sua narrativa.
Nesse sentido, Paul Thomas Anderson, que além de dirigir One Battle After Another também é o responsável pelo roteiro do filme – ele utilizou o livro Vineland, de Thomas Pynchon, como inspiração para essa produção -, deixa muito claro seus princípios e toma posição na história ao focar a produção nos revolucionários Perfidia e Bob.
A personagem de Perfidia tem um impacto grande na tela sempre que aparece. Ela simboliza, por óbvio, toda a independência da mulher na atualidade – e até na história, se formos lembrar de todas as mulheres “transgressoras” e que buscaram ser livres no decorrer do tempo. Ela é dona de si, e isso incomoda, obviamente, uma sociedade onde os homens prevalecem e na qual eles fazem todo o possível para seguirem prevalecendo. Mas One Battle After Another coloca nessa mulher revolucionária um peso totalmente diferente por ela ser preta. E isso tem um papel fundamental na história – e nas nossas sociedades também.
Infelizmente nos Estados Unidos e em outros países vemos crescer, ano após ano, o racismo e os grupos de supremacistas brancos. Isso é nojento, é absurdo e criminoso, mas é a nossa realidade. Especialmente nos Estados Unidos, um país com sua história marcada pelo segregacionismo, essa questão do racismo parece não ter solução. Volta e meia lemos histórias de policiais brancos matando pessoas pretas, manifestações de KKK, entre outros absurdos acontecendo sem que nada realmente seja feito a respeito – ou até existem respostas “pontuais” a um ou outro fato, mas nenhum combate ou medida que mude as estruturas e resolva a base do problema.
Então a heroína dessa história não é apenas uma mulher que busca conhecer a si mesma, seus desejos e sua independência o tempo todo, mas ela é uma mulher forte, guerreira, linda e preta em um cenário onde mulheres em geral, e especialmente as pretas, não podem ter o direito de serem tudo isso. Ela impressiona sempre que aparece em cena e tem uma presença marcante, subversiva, o que encanta pessoas tão diferentes quanto o revolucionário Bob e o racista, supremacista branco e militar Steven J. Lockjaw.
Perfidia e Bob fazem parte da French 75, uma organização política que luta contra o sistema e tudo que ele anda defendendo nos Estados Unidos – especialmente a segregação dos imigrantes e a restrição a direitos como o aborto. Para resistir contra as medidas que eles consideram um retrocesso, os membros dessa organização cometem crimes, como assaltos a bancos, invasão de centros de detenção de imigrantes e a explosão de torres de energia e de outros locais importantes. Eles provocam o caos, muitas vezes, em busca de recursos para sua causa.
Claro que toda essa movimentação do grupo é vista como um perigo para os governantes e seus grupos de apoio e há um movimento contrário e de perseguição ao grupo. Como aconteceu com grupos de resistência durante a Ditadura Militar no Brasil, na história de One Battle After Another os integrantes da French 75 são perseguidos, presos, torturados e/ou mortos. E sim, isso em meio a uma “democracia” nos Estados Unidos – isso é algo interessante do filme, porque ele faz nos lembrar do livro Como as Democracias Morrem e de que a derrocada de uma democracia sempre acontece aos poucos, com parte da base democrática ruindo aos poucos e sem muitos perceberem.
Pois bem, nesse cenário de luta, resistência e repressão, Perfidia fica grávida. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Sem dúvida uma das cenas mais difundidas e “impactantes” dessa produção mostra a protagonista da nossa história com um barrigão disparando uma metralhadora. Sim, é o simbolismo clássico da “revolucionária” que mostra para quem quiser ver que é preciso lutar, resistir, disparar uma arma de alta letalidade ao mesmo tempo que se gera uma vida – o simbolismo está na ideia que o futuro só será possível se lutarmos.
Porque sim, a história está feita de avanços e de retrocessos, de vezes em que caminhamos dois passos para a frente antes de vermos a sociedade dar um ou até três passos para trás. Quem entende um pouco de história e de sociologia sabe que esses avanços e retrocessos fazem parte da nossa evolução. E sim, são movimentos de resistência que muitas vezes impedem da gente cair em um buraco tão fundo do qual é praticamente impossível sair.
Eu não lembro qual filme já trabalhou com essa proposta de um mulher disparando uma metralhadora, mas a ideia não é exatamente nova. Talvez a maior novidade de Paul Thomas Anderson seja não apenas colocar essa mulher grávida em cena mas, principalmente, ao apresentar uma Perfidia para além dos manuais de “heroína”. (SPOILER – não leia… bem, você já sabe). O grande frescor dessa personagem, a meu ver, está nela manter sua independência para além dos estereótipos e das expectativas dos outros. Quando ela diz que não serve para ser mãe e deixa a filha Charlene para Bob cuidar, ela está rompendo com toda a “expectativa” que se coloca sobre uma mulher que vira mãe.
Isso é revolucionário – e bastante sincero, devo dizer. Quantas mães, depois que tem seus filhos, descobrem que não nasceram para isso? Que, honestamente, não tem vocação para serem mães? Ah, mas como as mulheres se tornam mulheres, as mães também se tornam mães… bem, isso não é a mesma coisa. Toda mulher se torna mulher porque descobre, conforme cresce e em suas diferentes fases da vida, o que significa ser mulher na sociedade em que vivemos. Só uma mulher sabe o medo, os desafios, os riscos e os perrengues que passa durante sua trajetória não por sua individualidade, mas apenas por ser mulher.
Mas ser mãe não é a mesma coisa. É preciso muitos atributos diferentes para ser uma “boa” mãe, para se realizar nesse “papel”, independente do julgamento alheio. Há uma idealização enorme sobre a maternidade e sobre o papel da mãe, e quando a mulher finalmente ganha esse papel, muitas vezes descobre o abismo entre o real e o que foi idealizado. E muitas vezes não se realiza como tinha imaginado. E muitas vezes descobre que não tem todas as “ferramentas” para ser a mãe que gostaria ou que precisaria ser para ter filhos e filhas saudáveis.
Bem, essa é uma grande discussão, sobre a qual não vou entrar aqui. Mas acho que Perfidia só demonstra ainda mais sua coragem quando diz que não sente que “serve” para ser mãe e para figurar em um papel de “esposa” de Bob e mãe de Charlene. Ela comenta que vem de uma linhagem de mulheres revolucionárias e que quer continuar sendo independente, quer seguir na revolução, e isso pouco combina com o “papel” de uma mãe que vai cuidar de sua filha.
Pouco depois de assumir essa postura, Perfidia encabeça uma das sequências mais interessantes do filme, quando, após assaltar um banco e matar um dos seguranças do local, ela e seus companheiros são perseguidos pelas ruas e a protagonista é presa. Então ela acaba sendo confrontada novamente pelo militar Steven, agora com ele na posição de poder. Ele diz que ela pode pegar de 30 a 40 anos de prisão, se for condenada, mas que ela pode mudar essa realidade se entregar seus companheiros de revolução.
(SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). E aí entra em cena outro momento importante do filme, porque Perfidia rompe novamente as expectativas e vira uma delatora. Sim, ela entrega os companheiros para “se salvar”, e isso é visto como alta traição pelos poucos que sobrevivem entre os revolucionários depois que os militares e o governo do país perseguem e matam muitos integrantes da French 75.
Uma das pessoas que sobrevive é Bob. Ele consegue fugir e leva a filha junto. O coronel Steven persegue e mata muitas pessoas da French 75 e acaba sendo condecorado por isso – o que, convenhamos, aconteceu muitas vezes no decorrer da nossa história, quando assassinos foram premiados por seus “serviços” prestados para instituições das mais diferentes latitudes e épocas. E então a história dá um salto no tempo, com a narrativa mostrando a realidade do país 16 anos depois.
Nesse novo cenário, a pequena Charlene (quando bebê, interpretada por Nia Leon), que teve que mudar de nome, como Bob, é uma estudante do ensino médio chamada Willa (Chase Infiniti). Ela é uma boa aluna e uma líder confiante. Quando chega em casa, Bob pergunta o que estão ensinando para ela de história – e ele comenta que dificilmente ela vai aprender a verdade sobre o que aconteceu ou acontece na sociedade deles.
Enquanto isso, em paralelo, acompanhamos o personagem de Sean Penn, Steven, já com a patente de coronel. Ele foi ascendendo dentro da carreira militar e agora está se candidatando a fazer parte de uma organização chamada Clube dos Aventureiros Natalinos. Para falar sobre o ingresso dele nesse “clube”, o coronel Steven é recebido pelo governador Virgil Throckmorton (Tony Goldwyn) em uma suíte para eles falarem sobre os princípios do grupo e sobre as condições para qualquer um entrar naquele “seleto” clube.
Naquele discurso de Virgil estão alguns dos princípios de diversos grupos de direita dos Estados Unidos e mundo afora. Eles querem um “mundo seguro e puro” e se revelam contra os judeus e a “mistura” entre raças – ou seja, são contra qualquer ideia inter-racial. Para esse grupo, é um “problema de caráter” quem flerta com essas questões e não combate o que o grupo combate. Virgil faz diversas perguntas para Steven, claramente sondando o “candidato” ao grupo, e ele argumenta que eles precisam ser muito cuidadosos porque eles são melhores e superiores a todos os demais – como se fossem uns “iluminados”.
E esse ponto será fundamental para a virada na história. Porque a obsessão do agora coronel Steven para entrar nesse seleto e “superior” grupo do Clube dos Aventureiros Natalinos faz com que ele mova mundos e fundos para encontrar Willa e tirar uma dúvida sobre a garota. (SPOILER – não leia… bem, você já sabe). Afinal, ela é filha dele ou de Bob? O coronel Steven começa a empreender uma caçada para encontrar a garota e fazer um teste de paternidade nela. Se ela for a filha de Bob, ok, ele até pode deixar ela ir embora. Mas se ela for filha dele, Steven terá que tirar ela de cena para esse “ponto fraco” dele não ser descoberto e impedir que ele entre no Clube dos Aventureiros Natalinos.
A partir daí, o filme entra naquele eletrizante jogo de gato e rato que estamos acostumados em produções de ação. Mas essa busca do coronel Steven pela verdade e por eliminar seu possível “ponto fraco”, com a consequente resistência de Bob e de Willa e de outras pessoas que tentam ajudar a garota a se proteger, não se resume apenas a cenas de ação e de perseguição.
Temos muita ironia polvilhada aqui e ali, com tiração de sarro tanto para o lado da resistência – com seus códigos e processos que fazem um antigo usuário de drogas ser testado para além do limite que ele tem agora – quanto para o lado do governo e dos militares.
One Battle After Another é uma aula de cinema tanto na técnica quanto no texto. O roteiro de Paul Thomas Anderson sabe nos envolver do início ao fim, equilibrando bem muitas cenas de ação e de perseguição com o desenvolvimento dos personagens e com uma leitura bastante crítica sobre algumas das discussões mais atuais da sociedade dos Estados Unidos – e de outros países. Muitas cenas de ação são um verdadeiro primor técnico, com Paul Thomas Anderson dando uma aula de direção.
Além daquela sequência que acaba com a prisão de Perfidia, logo na parte inicial do filme, destaco a sequência em que Bob escapa dos perseguidores com a ajuda do Sensei Sergio St. Carlos (Benicio Del Toro) e de várias pessoas nas ruas, além da estupenda sequência de perseguição entre os carros na reta final do filme – depois falarei um pouco mais sobre isso, porque é um ponto alto do filme e, ao mesmo tempo, o único “porém” que eu coloco nessa história.
Interessante como Paul Thomas Anderson não transforma nenhum personagem em um herói de HQ. O que eu quero dizer com isso? Ninguém é infalível ou “perfeito” – isso existe? Todos os heróis dessa produção tem seus pontos frágeis ou suas “controvérsias” – ou seja, estão mais próximas de pessoas reais do que de personagens de uma história de fantasia. E claro que isso é proposital. Não faria sentido o diretor e roteirista criticar questões muito cruas e que fazem parte do debate de muitas nações neste momento e trazer à cena personagens irretocáveis, irreais. Esse é um outro ponto forte do roteiro.
A resistência acaba ajudando Willa e ela é levada para o ponto de encontro, um local seguro onde Bob deveria encontrar ela depois, por uma velha conhecida da mãe da garota, Deandra (Regina Hall). É lá, em meio a “freiras” que cultivam maconha, que Willa descobre que a mãe não é a heroína que ela imaginava. (SPOILER – não leia… bem, você já sabe). Ao menos pelos olhos de quem sobreviveu às perseguições feitas nos últimos 16 anos, ela era uma vilã por ter delatado seus colegas mais próximos. Enquanto isso, Bob procura fugir, é pego após cair de um telhado ao não conseguir pular como os jovens que estão mostrando para ele o caminho, mas consegue escapar fingindo ser diabético.
Depois de fazer o teste de paternidade em Willa, o coronel Steven encaminha a garota para a morte. Um capanga contratado por ele, Avanti (Eric Schweig) se recusa a matar a garota e então ele é encarregado de deixar ela com um grupo que irá executá-la. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Avanti de fato entrega ela para uma das pessoas do grupo, mas ele acaba se arrependendo e resgata ela em uma missão suicida. Enquanto isso, Bob está buscando a filha depois de não conseguir impedir que ela fosse levada por esse capanga. E temos um elemento adicional de suspense nessa altura do filme: como Virgil e seu grupo de supremacistas brancos são poderosos e muito bem informados, eles sabem do envolvimento que Steven teve com Perfidia e mandam eles mesmos um matador de aluguel super experiente para matar a possível filha deles.
Então entra em cena talvez uma das sequências mais legais e bem filmadas de One Battle After Another. Aquela em que a câmera mostra Willa correndo a toda velocidade por estradas quase desertas ao mesmo tempo em que Bob e o matador de aluguel procuram por ela. Eletrizante aquela sequência, em um ponto alto de tensão da história. Paul Thomas Anderson mais uma vez dá uma aula de direção aqui. Mas, ao mesmo tempo, essa é a sequência que me impediu de dar a nota máxima para essa produção.
Vejamos o porquê da minha escolha. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Um filme que estava se saindo tão bem em todos os quesitos, ao meu ver, não poderia derrapar justamente no final. E aquela sequência entre três carros pelas estradas que vemos perto do fim, apesar de tecnicamente ser perfeita, em termos de lógica ela deixa a desejar. Vamos pensar juntos. Em teoria, Bob conseguir localizar Willa até seria possível, porque ela tinha um localizador com ela – mas ele só saberia onde ela estava se se aproximasse o suficiente para o aparato funcionar. Então ok, até seria possível ele saber em que estrada Willa estava por causa desse localizador, mas como o assassino de aluguel experiente contratado pelos supremacistas brancos conseguiria tão rapidamente localizar a garota?
Seria uma questão de sorte? De acaso? Me desculpem, mas fazer a gente acreditar nisso é forçar um pouco a barra. Apesar desse deslize do roteiro, a sequência é perfeita e uma dos momentos altos do filme – na verdade a perseguição anterior do assassino de aluguel que fica na cola do coronel Steven e depois essa sequência entre ele, Bob e Willa, são momentos de grande tensão e muito bem filmados. Bem ao estilo do diretor.
O final, após aquela sequência, também é genial. O desfecho dos personagens centrais traz um gostinho de “vitória” para o espectador. (SPOILER – não leia… bem, você já sabe). O durão coronel Steven sobrevive ao atentado do assassino profissional e ainda acredita que será aceito pelo clubinho dos criminosos que ele idolatra. No fim, ele acaba se dando mal. Bob volta para sua vida junto da filha, entregando uma carta que a mãe dela enviou para a garota anos antes, e Willa assume o seu papel de mulher que segue o legado de resistência de Perfidia e das outras mulheres que a antecederam.
Porque uma das mensagens desse filme é de que nós somos o resultado de muitas gerações. Sempre carregamos o legado de quem veio antes, mesmo quando a gente não entende ou percebe isso. Podemos até desconhecer nossos antepassados, toda a carga que cada um trouxe e que levou adiante, mas, ainda assim, levamos isso para a frente. De forma consciente ou não. E isso vale para todos, para os que estão em um lado da trincheira ou do outro.
Enquanto peça de cinema, One Battle After Another é uma aula de direção e de roteiro envolvente. O filme tem uma alta voltagem do início ao fim, com muitas cenas de ação irretocáveis e alguns momentos emocionais e de confronto pessoal bem realizados e pulverizados de forma estratégica aqui e ali.
Para além da parte técnica, One Battle After Another é um filme muito interessante por atacar de forma tão franca questões bastante debatidas na atualidade e com práticas bem questionáveis do governo dos Estados Unidos, especialmente envolvendo temas como os direitos das mulheres, dos imigrantes e dos negros. Os supremacistas brancos mexendo seus pauzinhos com muita eficácia nos bastidores do poder e ditando algumas leis e condutas do governo são um perigo para uma parte importante da sociedade. Colocar isso em evidência e “defender” a ideia de que é preciso resistir, inclusive de forma armada a tudo isso, foi uma escolha muito corajosa de Paul Thomas Anderson e de sua equipe.
Um filme muito atual e que seguirá sendo muito atual por muito tempo. Para mim, volto a dizer, um dos melhores filmes dessa temporada. Então ele vai merecer todo o destaque que vai ter, certamente, no próximo Oscar e em outras premiações do cinema. Se você não é um(a) extremista “do lado errado da força”, veja esse filme. Será uma experiência interessante enquanto entretenimento e para fazer você pensar sobre algumas questões.
NOTA
9,8.
OBS DE PÉ DE PÁGINA
Sou sincera em dizer que eu fiquei muito em dúvida sobre a nota que eu daria para essa produção. Pela coragem do filme, One Battle After Another merecia, talvez, a nota 10. Mas aquela questão que me incomodou na reta final da produção me impediu de dar essa nota… porque essa nota eu dou para filmes que eu acho impecáveis, irretocáveis, perfeitos. Ok, talvez nem todos os filmes que eu classifiquei com a nota máxima na história do blog mereciam, de fato, essa nota, mas tenho tentado ser muito criteriosa sobre isso nos últimos tempos.
Essa produção está recheada de qualidades. Uma das principais é a direção do grande Paul Thomas Anderson. Ele está entre os meus diretores preferidos, e isso não é de agora. Paul Thomas Anderson estreou na direção em 1988 com o curta The Dirk Diggler Story. O primeiro longa dele veio em 1996: Sydney. Mas eu conheci o trabalho desse grande diretor a partir do ano seguinte, com Boogie Nights. A partir dali, assisti a praticamente todos os longas que ele dirigiu. Um dos meus preferidos de sempre é Magnolia, de 1999. Nenhum desses filmes foi comentado por aqui, mas gosto de falar deles porque Boogie Nights e Magnolia merecem ser vistos – caso você ainda não tenha conferido essas belas peças de cinema.
Depois, assisti a Punch-Drunk Love, lançado em 2002, filme que chegou aos cinemas antes desse blog ser lançado. Aqui no blog, comentei os filmes do diretor lançados a partir de 2007. Vocês encontram por aqui as críticas de There Will Be Blood (com crítica por aqui), The Master (crítica acessível nesse link), Phantom Thread (com crítica aqui) e Licorize Pizza (com crítica nesse link), filmes lançados, respectivamente, em 2007, 2012, 2017 e 2021.
Gosto do estilo de Paul Thomas Anderson e da coragem dele em diversas produções, investindo em um cinema autoral muito interessante. Considero One Battle After Another um de seus filmes mais diretos e políticos. E um dos melhores que eu vi do diretor até hoje. Ele acerta também no roteiro, disparando para quase todos os lados e equilibrando muito a ação com a comédia, com alguns momentos que exploram também o drama, a profundidade de alguns personagens – sobretudo os centrais da trama – e a relação entre eles.
Além da direção e do roteiro de Paul Thomas Anderson, outro destaque óbvio de One Battle After Another é o seu elenco. Temos um grande astro em cena, que não precisa de apresentações, que é o Leonardo DiCaprio. Ele está muito bem como Bob e faz uma entrega que já consideramos como esperada – e que está acima da média. Mas quem acaba roubando a cena são as atrizes – até porque elas são menos conhecidas que DiCaprio. Nesse sentido, tenho que fazer louvores para as entregas de Teyana Taylor e Chase Infiniti, que interpretam, respectivamente, mãe e filha – Perfidia e Willa. Elas estão lindas, apresentam muita força e coerência, em trabalhos irretocáveis. Para mim, ambas são o destaque da produção em termos de atuação.
Outra figura conhecida e que faz um trabalho acima da média sempre é Sean Penn, um dos vilões dessa história. O personagem dele tem algumas camadas e é um pouco mais complexo do que a aparência dele “bombada” parece transparecer, e o ator faz uma entrega coerente com o que o papel dele exige. Penn e DiCaprio tem uma longa carreira e não precisam de apresentações. Sabemos o que esperar de ambos, e eles fazem entregas coerentes nessa produção.
Além desses quatro nomes, que são os principais da trama, vale comentar alguns outros grandes atores que fazem papéis um pouco mais secundários no filme, mas que fazem belos trabalhos em cena e que ajudam a dar corpo para esse elenco robusto: Benicio Del Toro está muito bem como o Sensei Sergio St. Carlos, um apoiador da resistência que mantém a calma e busca sempre a melhor saída não importa o desafio que apareça; Regina Hall como Deandra, uma das sobreviventes do grupo original de rebeldes e que ajuda Willa quando ela precisa; Eric Schweig como Avanti, o homem contratado pelo coronel Steven J. Lockjaw em sua missão de dar um fim ao seu segredo do passado; e Tony Goldwyn como o governador Virgil Throckmorton, uma das lideranças do grupo supremacista no qual o coronel Steven quer entrar.
Estão em papéis menores, mas que merecem ser citados, Alana Haim como Mae West, uma das revolucionárias do grupo original; Shayna McHayle como Junglepussy, outra revolucionária da French 75; e John Hoogenakker como Tim Smith, o super especialista em matar pessoas que o grupo de supremacistas contrata para terminar com o assunto coronel Steven J. Lockjaw.
Entre os aspectos técnicos do filme, vale destacar a excelente direção de fotografia de Michael Bauman, assim como as ótimas trilha sonora de Jonny Greenwood e edição de Andy Jurgensen. Esses três aspectos fazem muita diferença para o filme e são dignos de indicações a prêmios.
Vale citar ainda a direção de elenco de Cassandra Kulukundis; o designer de produção de Florencia Martin; a direção de arte de Andrew Max Cahn, Albert Cisneros e May Mitchell; a decoração de set de Anthony Carlino; os figurinos da super veterana Colleen Atwood; e as equipes responsáveis pelo Departamento de Arte e, principalmente, pelo Departamento de Som e pelo Departamento de Efeitos Visuais.
Como comentei anteriormente, tenho certeza que One Battle After Another será um dos filmes mais indicados no Oscar 2026. Nas “shortlists” divulgadas pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood agora no dia 16 de dezembro, One Battle After Another já aparece entre os filmes que avançaram para conseguir uma das vagas nas categorias Elenco, Melhor Fotografia, Melhor Maquiagem e Cabelo, Melhor Trilha Sonora e Melhor Som.
Para vocês terem uma ideia sobre a potência desse filme na corrida pelo Oscar, One Battle After Another avançou nas “shortlists” de cinco das sete categorias possíveis – em outras cinco listas de filmes que avançaram a produção não poderia figurar por não se tratar de curta, documentário ou filme internacional. Apenas nas categorias Melhores Efeitos Visuais e Melhor Canção o filme de Paul Thomas Anderson não conseguiu avançar. No final desse texto, vou comentar sobre as chances do filme no Oscar.
One Battle After Another também é um dos destaques do Globo de Ouro 2026. O filme foi indicado nas seguintes categorias: Melhor Filme – Musical ou Comédia; Melhor Ator – Musical ou Comédia para Leonardo DiCaprio; Melhor Atriz – Musical ou Comédia para Chase Infiniti; Melhor Ator Coadjuvante para Benicio Del Toro; Melhor Ator Coadjuvante para Sean Penn; Melhor Atriz Coadjuvante para Teyana Taylor; Melhor Diretor para Paul Thomas Anderson; Melhor Roteiro para Paul Thomas Anderson; e Melhor Trilha Sonora para Jonny Greenwood.
Por falar em premiações, One Battle After Another recebeu, até o momento, 101 prêmios e foi indicado a outros 231. Números impressionantes. Entre os prêmios que o filme recebeu, destaque para os de Melhor Ator para Leonardo DiCaprio; Melhor Diretor para Paul Thomas Anderson; Melhor Filme; Melhor Ator Coadjuvante para Benicio Del Toro; e Breakthrough Performance para Chase Infiniti; todos conferidos no Prêmio NBR, conferido pela National Board of Review.
Segundo os produtores do filme, One Battle After Another teria custado cerca de US$ 130 milhões e, conforme o site Box Office Mojo, o filme faturou US$ 205,1 milhões, sendo US$ 71,4 milhões nos Estados Unidos e o restante em outros países. Interessante esses números. Eles demonstram que o filme teve um resultado melhor de crítica do que nas bilheterias.
Para os padrões dos Estados Unidos, essa bilheteria de US$ 71,4 milhões, especialmente para um filme com um diretor e vários nomes do elenco bem conhecidas, é baixa. Nos outros países, o melhor resultado de One Battle After Another foi no Reino Unido, seguido da França, onde o filme fez US$ 15,2 milhões e US$ 12,1 milhões respectivamente.
Agora, vale citar algumas curiosidades sobre essa produção. O título do filme, “One Battle After Another”, foi inspirado em uma declaração de 1969 do grupo político revolucionário Weather Underground publicada em uma edição do New Left Notes, um jornal de esquerda da organização Students for a Democratic Society. A declaração dizia: “Daqui para frente, é uma batalha após a outra – com a juventude branca se juntando à luta e assumindo os riscos necessários. América porca, cuidado. Há um exército crescendo em suas entranhas e ele vai derrubá-los”.
Os integrantes do grupo French 75 são, em sua maioria, músicos na vida real. Entre eles, vale citar Teyana Taylor, Alana Haim, Shayna McHayle, Paul Grimstad e Dijon.
Segundo o diretor Paul Thomas Anderson, ele precisou de 20 anos para escrever o roteiro de One Battle After Another – ou seja, ele vinha trabalhando nos conceitos do filme muito antes da volta ao poder de Trump e de todo o retrocesso interno no país que ocorreu desde então.
O diretor Paul Thomas Anderson foi questionado sobre as semelhanças entre One Battle After Another e Running on Empty, produção lançada em 1988 e dirigida por outro grande diretor, Sidney Lumet. Anderson comentou que foi influenciado pelo filme de Lumet e que ambos compartilham de um ponto: “Como as coisas que fazemos e acreditamos quando somos jovens podem nos assombrar pelo resto de nossas vidas”, nas próprias palavras de Anderson.
One Battle After Another marca a estreia de Chase Infiniti nos cinemas – e que baita estreia! E uma outra curiosidade sobre outra atriz importante dessa produção: Teyana Taylor decidiu fazer suas próprias cenas de ação no filme.
French 75 é o nome de um drink feito com gim, champanhe, suco de limão e açúcar. Ele recebeu esse nome porque alguns alegaram que o drink tinha um efeito tão forte que dava a sensação da pessoa ter sido atingida por um disparo do canhão de campanha francês de 75 mm (conhecido popularmente como French 75), usado nas duas Guerras Mundiais.
Paul Thomas Anderson considera Vineland, o romance que o inspirou para escrever o roteiro de One Battle After Another, um de seus livros favoritos. Por muito tempo, ele pensou em fazer uma adaptação totalmente fiel ao romance mas, depois de escrever o roteiro de Inherent Vice, ele disse que recebeu o aval do autor para fazer uma adaptação livre da obra. Então ele decidiu abordar alguns dos pontos que mais lhe marcaram do livro original e juntar ideias de projetos que ele acabou não desenvolvendo nas últimas duas décadas. Tudo isso virou o roteiro de One Battle After Another.
O centro de detenção de Otay Mesa, que vemos no início do filme, realmente existe e atualmente é operado pelo Serviço de Imigração e Alfândega para abrigar imigrantes que foram detidos nos EUA.
O ator Leonardo DiCaprio recebeu seu “cachê padrão” por interpretar Bob nesse filme: US$ 25 milhões.
Apesar da bilheteria de One Battle After Another não ter sido aquilo tudo, segundo o site IMDb esse foi o primeiro filme de Paul Thomas Anderson que ultrapassou a marca de US$ 100 milhões e é a maior bilheteria que o diretor já conseguiu nos cinemas.
Ah, e algo interessante desse filme é que, segundo Paul Thomas Anderson, ele não focou a história da produção em uma época específica para que o filme não “envelhecesse” antes do tempo. Apesar disso, de não sabermos em que época se passa a narrativa, e apesar da inspiração do diretor vir de um livro e de outras histórias que ele foi “deixando no caminho” nos últimos 20 anos, a história acaba sendo muito atual por causa do novo governo de Donald Trump e de sua política anti-imigração, além de todo o crescimento dos extremistas e dos supremacistas brancos nos Estados Unidos e em outras partes.
E um último comentário sobre esse filme. (SPOILER – não leia se você não assistiu a essa produção ainda). Segundo o diretor Paul Thomas Anderson, aquela sequência de perseguição dos carros pelas estradas em meio ao cenário desértico não estava no roteiro original. Ele teve a ideia daquela sequência depois de passar quatro horas buscando por locações por ali e, ao dirigir por parte daquela paisagem, perceber ao gravar com o celular como não era possível ver a sequência da estrada em alguns pontos de subidas e descidas. Faz sentido justamente essa parte do roteiro não fazer todo o sentido que deveria fazer, já que meio que a sequência foi “improvisada” e inserida no roteiro depois. Faltou um pouco de lógica na sequência, apesar dela ser ótima em termos de imagem e de tensão.
O site IMDb apresenta a nota 7,9 para One Battle After Another, uma nota acima da média para os padrões do site. O filme apresenta o nível de aprovação de 95% no site Rotten Tomatoes – fruto de 399 críticas positivas e de 23 críticas negativas. O site Metacritic também apresenta o metascore 95 para o filme, resultado de 60 críticas positivas e de três críticas mescladas – além do site conferir o selo “Metacritic must-see” para a produção.
One Battle After Another é uma produção 100% dos Estados Unidos. Por ter essa origem, ele responde a uma votação feita por vocês aqui no site há tempos e figura em uma lista específica aqui no blog. 🙂
Assisti esse filme no cinema, e tenho certeza que o impacto da produção é outro na tela grande. Então se você ainda tiver a chance de assistir a One Battle After Another no cinema, dê preferência para essa experiência. Garanto que vai valer o ingresso. 😉
Falando no blog, quero pedir desculpas por essa ausência nos últimos meses. A minha ideia era publicar diversos textos nesse período, mas eu tive uma passagem pelo hospital e tive que dar prioridade para outros temas – inclusive a minha saúde. Então desculpem essa última ausência, mas agora eu quero retomar o blog. Até porque temos pouco tempo para o Oscar 2026 e tenho alguns filmes para assistir antes da premiação máxima de Hollywood e da indústria do cinema. Espero que a vida não venha pregando mais peças nas próximas semanas e nos primeiros meses de 2026 e que eu consiga atualizar o blog com uma frequência muito maior. Amém!
CONCLUSÃO
Um filme necessário, especialmente pelo cenário que vivemos em 2025. Não apenas pelos absurdos que estão acontecendo nos Estados Unidos, com um retrocesso nos direitos humanos, especialmente em relação à perseguição que o governo federal e diversas autoridades estão fazendo com os imigrantes e o aumento de movimentos supremacistas brancos, mas também porque esse movimento infeliz está crescendo em diversos outros países do mundo. One Battle After Another é, portanto, muito atual, e mostra o lado da resistência à tudo isso.
Porque sim, sempre que houver gente defendendo absurdos, teremos outras pessoas defendendo os direitos humanos e valores que deveriam ser inegociáveis – e não subvertidos – como liberdade, igualdade e fraternidade. Um filme tecnicamente perfeito, com uma direção exemplar do geralmente ótimo Paul Thomas Anderson, com um roteiro preciso que atira pra quase todos os lados e acerta os seus alvos com crítica e ironia, e um elenco que foi escolhido à dedo.
Para mim, como eu disse antes, um dos melhores filmes do ano e certamente uma produção que vai chegar muito forte no Oscar 2026. E com todo o mérito do mundo. Super recomendado! E o mais importante, é a mensagem que o filme deixa. A luta contra o fascismo deve ser permanente e não terminar nunca. Precisamos resistir, cada um da sua maneira, para não deixar os absurdos seguirem acontecendo ou crescendo. Ainda é possível! “It’s Revolution, baby!”.
PALPITES PARA O OSCAR 2026
Tudo indica que One Battle After Another será um dos filmes mais indicados no próximo Oscar. Acredito que ele dividirá o maior número de indicações juntamente com Sinners (com crítica neste link), Wicked: For Good e talvez Avatar: Fire and Ash. Mas a grande concorrência do filme de Paul Thomas Anderson para as principais categorias será mesmo com Sinners.
Como comentei anteriormente, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood divulgou as “shortlists” em 12 categorias do Oscar 2026 no dia 16 de dezembro. One Battle After Another aparece como um filme que avançou na disputa em cinco categorias – e mesmo tendo outras produções na disputa por uma das cinco vagas finais, é quase certo que One Battle After Another vá avançar e emplacar essas indicações.
Caso isso se confirme, One Battle After Another já está praticamente certo nas categorias Melhor Elenco, Melhor Fotografia, Melhor Maquiagem e Cabelo, Melhor Trilha Sonora e Melhor Som. Além dessas categorias, é certo que o filme estará concorrendo na categoria Melhor Filme (que pode ter até 10 títulos indicados) e que ele tem grandes chances de concorrer nas categorias Melhor Diretor, Melhor Ator para Leonardo DiCaprio, Melhor Atriz Coadjuvante para Teyana Taylor, Melhor Ator Coadjuvante (que pode ter indicação dupla, para Sean Penn e Benicio Del Toro), Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Edição. A atriz Chaise Infiniti, mesmo sendo estreante, tem boas chances de ser uma das cinco indicadas como Melhor Atriz.
Ou seja, se todas essas indicações forem confirmadas, One Battle After Another pode receber 14 indicações ao Oscar 2026. E quais são as chances do filme levar estatuetas para casa? Vou trazer aqui o que apontam as bolsas de apostas. Elas indicam que o filme é o favorito para ganhar o Oscar nas categorias Melhor Diretor para Paul Thomas Anderson; Melhor Ator para Leonardo DiCaprio; Melhor Atriz Coadjuvante para Teyana Taylor e Melhor Edição.
O filme estaria na sexta posição na disputa da categoria Melhor Filme – que teria Sinners como o favorito; apareceria em terceiro lugar nas categorias Melhor Ator Coadjuvante para Sean Penn (atrás de Stellan Skarsgard, de Sentimental Value, e de Paul Mescal, de Hamnet) e Melhor Som (atrás de Sinners e F1); e na segunda posição na disputa das categorias Melhor Roteiro Adaptado (atrás de Hamnet), Melhor Elenco (atrás de Sinners), Melhor Fotografia (atrás de Sinners) e Melhor Trilha Sonora (atrás de Sinners mais uma vez).
Ou seja, One Battle After Another tem grandes chance de ser um dos filmes mais indicados do ano e sair do Oscar 2026 com quatro prêmios – sendo três das principais categorias entregues na premiação. Curioso que se Paul Thomas Anderson realmente levar o Oscar para casa, essa vai ser a primeira vez que a Academia irá premiar o diretor – que foi indicado 11 vezes antes nas categorias Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Filme – nas produções em que ele foi produtor também. Até hoje, nunca levou uma estatueta dourada para casa, então seria muito justo ele finalmente ganhar um Oscar.
Caso Leonardo DiCaprio for premiado, esse será o seu segundo Oscar na carreira – ele foi indicado sete vezes antes, mas venceu como Melhor Ator apenas em 2016 por The Revenant (com crítica por aqui). Parece que a grande rivalidade do Oscar 2026 será entre One Battle After Another e Sinners. Eu, cá entre nós, prefiro o filme de Paul Thomas Anderson. Acho uma obra mais ousada e mais bem acabada que o filme dirigido por Ryan Coogler.
Ok, verdade que Sinners tem um roteiro um pouco mais “original”, digamos assim, mas acho One Battle After Another um filme mais redondo e potente. Não será a primeira vez que o melhor filme da temporada não ganha na categoria principal do Oscar. E isso porque falta muito filme para eu ver ainda… quem sabe algum outro surpreenda e impacte ainda mais que esses dois pesos-pesados na disputa? Veremos. Algo interessante dessa disputa particular de Sinners com One Battle After Another é que as duas produções abordam a questão dos supremacistas brancos e do racismo. Cada um a sua maneira, mas é um tema compartilhado por ambos.