Alguns personagens marcaram determinados filmes sem que eles fossem os protagonistas da produção. Em Finding Nemo isso aconteceu com a personagem Dory, que roubou a cena. Pois bem, os realizadores resolveram fazer um filme em que ela, finalmente, virou a protagonista. Finding Dory é tecnicamente muito bem feito, além de ser bonito e divertidinho, mas não achei tudo aquilo para fazer deste filme a maior bilheteria dos Estados Unidos em 2016.
A HISTÓRIA: Começa com Dory (voz de Ellen DeGeneres quando adulta e de Sloane Murray na infância) se apresentando. Ela fala o nome e, em seguida, explica que sofre de perda de memória recente. Os pais de Dory, Jenny (voz de Diane Keaton) e Charlie (voz de Eugene Levy), aplaudem a filha e explicam para ela sobre os perigos da correnteza.
Para ajudá-la a lembrar do que eles estão ensinando, eles utilizam a música para ajudar, mas sem muito sucesso. Esta é a infância de Dory antes dela se perder dos pais e acabar encontrando Marlin (voz de Albert Brooks) e Nemo (voz de Hayden Rolence), seus grandes amigos.
VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Finding Dory): Este filme é especialmente interessante para os fãs de Finding Nemo. Afinal, é interessante descobrir mais sobre Dory e perceber, por exemplo, que ela realmente aprendeu a falar “baleiês” na infância.
Como outros filmes que tratam sobre personagens que tem alguma disfunção, Finding Dory ganha um interesse especial por mostrar que a “esquisitona” e engraçada Dory tem uma boa razão para ser “atrapalhada” daquele jeito. Como a personagem aprrece comentando logo nos primeiros minutos deste filme, ela tem uma disfunção na memória que faz com que ela não lembre do que aconteceu no curto prazo.
Os roteiristas Andrew Stanton e Victoria Strouse, que contaram com o apoio de Bob Peterson e Angus MacLane, acertam ao apostar em uma história linear que começa com a introdução sobre a infância da protagonista, a sua saga por diversos anos tentando encontrar o caminho para casa e, nesta tentativa, o seu encontro com Marlin. Após eles “esbarrarem” na água e Dory ajudar o peixe na saga por resgatar Nemo, aventura vista no filme anterior da grife, logo pulamos um ano no tempo.
Em uma bela manhã, ao ser levada por uma correnteza durante uma aula do Mr. Ray (Bob Peterson), Dory lembra da família e do nome do local onde eles podem estar: Joia do Morro Bay, na Califórnia. Inicialmente Marlin resiste à cruzar novamente o oceano para ajudar Dory, mas ele acaba cedendo por dever de retribuir o favor que foi feito por ela antes.
E assim começa a nova aventura dos personagens. As cenas da equipe envolvida no filme dirigido por Andrew Stanton e Angus MacLane são um verdadeiro deleite e muito bem planejadas para o 3D. As cenas são um esplendor e devem agradar em cheio as crianças, especialmente as mais jovens.
Afinal, tantas cores, texturas e detalhes são mesmo de encher os olhos. Até consigo imaginar os mais jovens com a boca aberta e fascinados por tudo que eles vem. Os personagens, um tanto “infantis”, também ajuda neste processo de identificação das crianças.
Agora, pensando no público adulto, Finding Dory não é tão interessante quanto outros exemplares do gênero. Claro, existe ao menos um personagem mais “complexo” e interessante na produção, que é o polvo Hank (voz de Ed O’Neill).
Ele é o personagem mais complexo, capaz de várias artimanhas para conseguir sair do centro de reabilitação do Instituto de Vida Marinha e ir para um local em que ele não correrá riscos, o aquário de Cleveland. Diferente do mar, onde ele acredita que terá trabalho para sobreviver – no aquário ele terá “vida mansa”.
Bailey acaba sendo um dos grandes parceiros de Dory para achar os seus pais. O filme se resume à procura da personagem, agora alçada à posição de protagonista. Os momentos mais engraçados da produção envolvem o personagem de Bailey, além da sacada da “Sigourney Weaver” com voz gravada logo no início do filme e que a “inocente” Dory acredita que poderá ajudá-la.
Finding Dory tem menos “mensagens” e “moral da história” que Zootopia. O filme é focado, basicamente, na aventura de Dory e de seus amigos para que todos fiquem juntos. As mensagens bacaninhas da história residem na valorização da família que temos quando nascemos, especialmente nossos pais, e da família que “conquistamos” na vida, que são os nossos amigos. Dory ensina que nem uma e nem outra é mais importante, porque ambas ajudam a nos definir e nos enchem de alegria.
A outra mensagem do filme tem a ver com a valorização de cada vida e indivíduo. Em determinado momento Nemo ensina para o pai que Dory lhes inspira, e em um dos melhores diálogos do filme Marlin explica para Dory como a coragem dela, assim como a sua generosidade e desprendimento por ajudar sempre um amigo ou alguém que precisa, faz diferença para a vida deles.
Essa mensagem é bem bacana porque alguns se apressam em classificar as pessoas como “bobas”, “tolas” ou com nomes piores, como poderia acontecer com Dory que, ao ter falta de memória de fatos recentes, podia ser considerada mais frágil mas que, apesar disso, tinha muitas qualidades.
Desta forma muito singela Finding Dory nos mostra que todos tem o seu valor e as suas qualidades, mesmo que elas não sejam padrão ou perceptíveis para todo mundo. São mensagens bacanas para difundir, especialmente para as crianças – quem sabe, assim, teremos menos bullyng e mais aceitação nas escolas e na vida adulta?
NOTA: 8,5.
OBS DE PÉ DE PÁGINA: Este novo filme com Dory, Marlin e Nemo acerta ao não apostar em muitos personagens. Além dos três personagens já conhecidos pelo filme Finding Nemo, temos os pais de Dory, quase o tempo todo ressurgindo nas memórias de Dory que vão voltando aos poucos, e uma meia dúzia de personagens mais importantes do Instituto de Vida Marinha.
Entre os personagens principais, sem dúvida alguma os destaques são os atores que “dão vida” para Dory e para Marlin, respectivamente Ellen DeGeneres e Albert Brooks. Entre os personagens secundários, o destaque principal é Ed O’Neill como Hank. Merecem aplausos também Kaitlin Olson como a baleia Destiny, amiga de infância de Dory, e Ty Burrell como o tubarão Bailey, que ajuda Dory a se localizar.
Em papéis menores e mais “maduros”, que merecem ser mencionados, estão Idris Elba e Dominic West como as focas-marinhas Fluke e Rudder, respectivamente, que ajudam Marlin e Nemo a procurar Dory e, depois, perto do final, também dão uma forcinha para a missão libertadora da protagonista. Grandes nomes envolvidos na produção e que, certamente, ajudaram a atrair atenção do público para o filme.
Da parte técnica do filme, destaque para a trilha sonora de Thomas Newman, para a edição de Alex Geddes e, claro, para o ótimo trabalho da equipe de 54 profissionais envolvidos no departamento de animação. Foi fundamental para o resultado final da produção também o trabalho de Steve Pilcher no design de produção; de Bert Berry e Don Shank na direção de arte; de Jeremy Lasky na direção de fotografia; dos seis profissionais envolvidos com o departamento de arte e dos 59 profissionais responsáveis pelos efeitos visuais da produção.
Finding Dory foi lançado 13 anos depois de Finding Nemo, produção de 2003 dirigida por Andrew Stanton e Lee Unkrich que ganhou 47 prêmios, incluindo o Oscar de Melhor Animação em 2004. Faz tempo que eu assisti ao filme, mas a impressão que eu tenho é que o original foi melhor que a sequência focada em Dory.
A première de Finding Dory foi feita em Los Angeles em junho de 2016. Na trajetória do filme até o final do ano estiveram três festivais de cinema. Até o momento, Finding Dory ganhou dois prêmios e foi indicado a outros 26. A produção foi reconhecida como Choice Summer Movie e Choice Summer Movie Star Female para Ellen DeGeneres no Teen Choice Awards. Por outro lado, a produção foi esquecida pelo Globo de Ouro. Sinal de que ela pode chegar um tanto enfraquecida no Oscar 2017.
Finding Dory teria custado cerca de US$ 200 milhões e faturado, apenas nos Estados Unidos, quase US$ 486,3 milhões. Nos outros países em que o filme estreou ele faturou praticamente outros US$ 541,5 milhões. No total, pouco mais de US$ 1 bilhão. Ou seja, mesmo custando caro, ele conseguiu ter um bom lucro, além de surpreender por ter terminado 2016 como o filme com a maior bilheteria dos Estados Unidos.
Agora, algumas curiosidades sobre a produção: o personagem de Hank tem apenas sete tentáculos porque os animadores perceberam que eles não conseguiam fazer o personagem com oito membros. Desta forma, a solução foi justificar a ausência de um tentáculo no roteiro.
Esta é para os aficionados pelos filmes da Pixar: a placa do caminhão, CALA113, faz referência à sala de Cal Arts onde muitos dos profissionais do estúdio trabalharam, de sigla A113, e que aparece em todos os filmes da Pixar.
Alguns personagens de outros filmes da Pixar podem ser vistos entre os visitantes do Instituto de Biologia Marinha, como as crianças das creches de Toy Story 3, alguns adultos e adolescentes vistos em Inside Out, e alguns dos pacientes do dentista de Finding Nemo.
Além de ser a maior bilheteria de 2016 nos Estados Unidos, Finding Dory também se consagrou como o filme de animação com a maior bilheteria da história do país, desbancando desta posição Shrek 2, de 2004.
Interessante uma ponderação dos realizadores de Finding Dory. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Esta produção conta a história de Dory procurando os seus pais mas, em última análise, ela está procurando a si mesma, à sua própria identidade – por isso o título de “Finding Dory” seria justificado. Não deixa de ser verdade. Sempre que procuramos as nossas origens estamos procurando mais sobre nós mesmos.
Esta é uma produção 100% dos Estados Unidos, por isso Finding Dory passa a fazer parte da lista de produções que atende a um votação feita aqui no blog há algum tempo.
Os usuários do site IMDb deram a nota 7,5 para esta produção, enquanto os críticos que tem os seus textos linkados no Rotten Tomatoes dedicaram 250 críticas positivas e 16 negativas para a produção, o que lhe garante uma aprovação de 94% e uma nota média de 7,6. Apesar das notas e do nível de aprovação dos dois sites estarem acima da média para as duas fontes de informação, eles estão abaixo das avaliações de Zootopia.
CONCLUSÃO: Um filme bacaninha, mas nada além disso. Sem dúvida fez diferença eu ter assistido a Zootopia um dia antes de Finding Dory. Como os dois são concorrentes diretos no Oscar 2017, impossível não compará-los. E aí posso dizer sem medo: Zootopia é melhor. Finding Dory vale para um público mais infantil e, sem dúvida, para os super fãs de Finding Nemo. Como eu não faço parte de nenhum destes públicos, achei o filme bacaninha, mas apenas mediano. De qualquer forma, ele é divertido, ainda que fique muito atrás também neste quesito de Zootopia.
PALPITES PARA O OSCAR 2017: Será bem difícil a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood ignorar no Oscar 2017 a maior bilheteria de 2016. Provavelmente Finding Dory será indicado – algo que não aconteceu no Globo de Ouro. Até porque os jornalistas responsáveis pelas indicações e pelos premiados tem uma preocupação muito menor com o “mainstream” do que os votantes da Academia.
Assim, pela força das bilheterias de Finding Dory, ele deve chegar à lista dos cinco finalistas na categoria Melhor Animação. Mas sejamos francos: ele não tem as qualidades e a força de Zootopia para levar o prêmio. Seria uma injustiça se ocorresse o contrário. A única maneira de Finding Dory vencer nesta disputa direta com Zootopia seria o lobby e a força do dinheiro contarem mais alto. Espero que isso não aconteça.
Ainda é cedo para dizer que Zootopia é o favorito, porque falta assistir aos outros concorrentes, mas após conferir Finding Dory eu posso dizer com tranquilidade que Zootopia leva vantagem neste confronto direto. E com sobras, ao menos para o meu gosto.