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Please Stand By – Tudo que Quero


Todos merecem o direito de sonhar. De desenvolver os seus talentos, mesmo que todas as pessoas ao redor achem que aquela pessoa não tem “nada demais” para oferecer. Please Stand By foca em uma protagonista diferente, que tem os seus próprios desafios cotidianos para enfrentar mas que, apesar deles, acredita em seu próprio potencial para fazer algo incrível. Uma bela homenagem para as pessoas que “fogem do comum” e para uma das franquias do cinema mais admiradas por quem gosta de ficção científica.

A HISTÓRIA: De olhos fechados, ela escuta algo no fone de ouvido. Em seguida, abre os olhos e começa a imaginar uma história que envolve o espaço. Em seguida, ela imagina Spock em seu último gesto de bravura e de sobrevivência. Wendy (Dakota Fanning) é fascinada por Star Trek e está trabalhando em uma história que envolve esse universo. Scottie (Toni Collette) chega ao trabalho e cumprimenta vários moradores da residência que abriga muitas pessoas com seus desafios particulares. Ela toca um apito e entra no quarto de Wendy, que responde com outro apito. Scottie então comenta que a irmã de Wendy virá para visitá-la, e ela pergunta como ela se sente a respeito. Wendy tem muitos desafios para enfrentar no dia a dia e, em breve, vai passar por uma grande aventura.

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Please Stand By): Olá pessoal! Me desculpem a longa ausência. Mas tive Dia das Mães e muito trabalho nesse período. Assisti esse filme há umas duas semanas, então lembro do que eu vi, claro, mas sem toda aquela “vivacidade” que eu teria se tivesse conseguido tempo de escrever sobre Please Stand By antes. Peço desculpas por isso.

Assisti a esse filme sem grandes expectativas. Como vocês sabem, isso é algo importante. Pelo cartaz de Please Stand By, conclui, claro, que a produção fazia uma homenagem ou ao menos fazia uma bela referência para Star Trek. O que eu não sabia era que o filme teria um olhar tão generoso para pessoas “não comuns” da nossa realidade. Dizem que de médico e de louco todo mundo tem um pouco. Mas as pessoas nem sempre pensam sobre isso. Sobre como todos nós somos frágeis e podemos passar por dificuldades físicas ou mentais sem poder prever isso ou evitar que isso aconteça.

E quem define o que é “ser normal”? E quem disse que as pessoas diferentes e “especiais” não fazem a nossa civilização ser especial? Diferente do que alguns ditadores já tentaram defender na nossa História, não acho que ganhemos nada – absolutamente nada, na verdade – eliminando as pessoas que tem algum problema ou dificuldade, seja ela física ou mental. Todos nós podemos um dia passar por isso, e podemos aprender muito com as pessoas diferentes da gente ou que fogem da “normalidade”.

Mas para aprender com elas, é preciso ter um olhar cuidadoso, atento e generoso. Perceber que ninguém é melhor que ninguém e que todos tem o seu valor. Todos podem contribuir e devem ter o direito e sonhar e de buscar a própria superação. Não para ficarem parecidos com alguém ou para servirem de modelo seja para quem for. Mas para sentirem o prazer próprio desse gesto de superação – só alguém que já fez isso sabe do que estou falando.

O que eu achei bacana de Please Stand By é que esse filme trata com respeito e com carinho exatamente esse cenário não comum para muitas pessoas. Cada família tem a sua realidade e cada pessoa a sua trajetória. Talvez você nunca tenha conhecido ou convivido com uma pessoa que tem algum problema mental. Então para você esse filme será uma bela introdução – se assim você desejar, é claro – para esse universo diferenciado. Se você já conviveu ou convive com alguém que seja “diferente”, certamente essa produção fará um sentido todo especial.

O bonito desse filme dirigido por Ben Lewin e com roteiro de Michael Golamco é que ele trata com respeito e com um olhar afetuoso essa realidade sempre desafiadora de alguém que foge da “normalidade”. Wendy é a protagonista, mas conseguimos ver também as pessoas que orbitam ao redor dela. Assim, observamos também como as pessoas “normais” lidam com o que foge da sua compreensão. Alguns são mais generosos e atentos, outros, nem tanto. E isso não acontece apenas nesse filme, mas na vida real. Mas Please Stand By está aí para nos fazer pensar a respeito.

Gostei da sensibilidade e da naturalidade com que essa história é contada. Esse é um ponto forte do filme. No fim das contas, Please Stand By é a história de uma pessoa que busca realizar um sonho apesar de todos os elementos que jogam contra esse desejo e também um road movie. Acompanhamos a protagonista em sua jornada de superação, e esse tipo de história sempre é bacana de ser contada e de ser vista.

Um outro ponto alto desta produção é o belo trabalho dos atores. O destaque, claro, vai para Dakota Fanning como a protagonista. Ela convence no papel em cada detalhe da sua interpretação. Depois, ao lado dela, estão belos trabalhos de Toni Collette e Alice Eve (que vive a irmã mais velha de Wendy).

Além de ser uma produção sobre a jornada particular de uma pessoa diferenciada e que vive os seus próprios “dilemas” e “limitações” – não sou uma grande especialista, mas me parece que a protagonista é autista, certo? -, Please Stand By faz uma bela homenagem para o universo Star Trek. Wendy é apaixonada pelo universo do filme e da série de TV e, evidentemente, se sente “próxima” de Spock, que também deve enfrentar o desafio de lidar com as pessoas (como ela). Spock não entende muito bem os humanos, assim como precisa aprender a sentir. Desafios que parecem muito comuns com a protagonita de Please Stand By.

Alguns filmes, como o interessantíssimo documentário Life, Animated (comentado aqui), mostram como o cinema pode ajudar as pessoas a se encontrarem e a superarem os seus próprios dilemas. No fundo, o cinema nos aproxima – se você estiver disposto(a) a isso, é claro. Nos apresenta histórias, realidades e pontos de vista diferentes. E esse Please Stand By é um exemplo disso.

A história em si não é muuuuito surpreendente. A aventura de Wendy é linear e um bocado previsível, mas isso não importa tanto quanto a mensagem que o filme quer nos passar. De que todas as pessoas, como comentei antes, tem talentos, tem qualidades, limitações e o direito de sonhar e de realizar-se.

Mesmo quem se acha perfeito, certamente, tem algo que pode melhorar, tem algum defeito – ainda que não seja capaz de enxergar isso ao olhar-se no espelho. Então, devemos ser mais cuidadosos uns com os outros, mais generosos e ter mais respeito, especialmente com o que é diferente da gente. Esse tipo de mensagem é sempre bem-vindo, e isso é algo que esse filme faz.

Sobre a previsibilidade da história, como manda o clássico modelo de “trajetória do herói”, claro que Wendy tem que passar por uma série de desafios e de contratempos em sua jornada. Sim, o mundo nem sempre é simples. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Expulsam ela do ônibus porque ela está com um cachorro – porque, afinal, as regras são mais importantes que as pessoas, em muitos lugares – e ela é assaltada. Mas ela consegue terminar a jornada, superando-se. E no final, pouco importa se ela conseguiu ou não ser reconhecida pelo roteiro criado para Star Trek. O mais importante de uma viagem é o caminho e não o destino e/ou a vitória final.

NOTA: 8,5.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: Esse filme tem uma série de mensagens bacanas. Como que as pessoas diferentes e relativamente distantes podem se aproximar se tiverem uma motivação ou interesse para isso. Vemos isso no caso das irmãs Wendy e Audrey e também entre Scottie e o seu filho, Sam (River Alexander). Audrey percebe que a irmã consegue fazer muito mais do que ela imaginava, e que ela tem talento, enquanto Sam se aproxima da mãe quando ele decide viajar com ela para procurar Wendy. É Sam quem explica para a mãe a “graça” por trás de Star Trek. Bacana.

Como Sam resume com precisão na conversa que tem com a mãe no carro, a grande “graça” de Star Trek são os seus personagens. E, da mesma forma, a parte mais interessante de Please Stand By são também os personagens e os atores que foram escalados para a produção. Golamco acerta ao dar destaque para poucos personagens – assim, conseguimos nos aprofundar melhor neles, nas suas histórias e relações. Não adianta, é isso que dá a graça para uma produção.

Como comentei antes, Please Stand By tem uma série de qualidades. Só não dei uma nota maior para a produção porque ela é, temos que admitir, bastante previsível e não apresenta nenhuma grande “inovação” ou sacada diferenciada. Esse é um filme um pouco no estilo Sessão da Tarde. Não é mega recomendado, mas pode ser visto sem grandes pretensões e, desta forma, representar uma bela surpresa para o espectador. Cheio de boas mensagens e princípios, ele só não é surpreendente ou inovador. Por isso, acredito, merece uma nota boa, mas distante da avaliação máxima – essa nota é apenas para os filmes realmente imperdíveis.

O destaque dessa produção é o trabalho de Dakota Fanning como a protagonista. A atriz, que vem fazendo uma bela carreira desde a infância, demonstra como segue trilhando um belo caminho na profissão. Vejo ela como muito potencial para seguir fazendo ótimos trabalhos no futuro – se fizer as escolhas certas, é claro. Além dela, estão muito bem nos papéis secundários a veterana Toni Collette e Alice Eve.

Além deles, merece ser citado o bom trabalho, como coadjuvantes, de Tony Revolori como Nemo, o colega de Wendy na lanchonete e que tem uma “caidinha” por ela; e do veterano de séries e de pontas Patton Oswalt como o policial Frank, um fã de Star Trek que tem a sensibilidade de falar com Wendy em klingon – ou seja, ele foi a primeira pessoa a falar com ela de uma forma cuidadosa e bacana desde que ela começou a sua viagem para Hollywood. Outra veterana de pontas e de séries, a atriz Robin Weigert também merece ser citada pela ponta como a policial Doyle. Também vale citar o trabalho de Farrah Mackenzie como a jovem Wendy e de Madeleine Murden como a jovem Audrey.

O filme é bacana, cheio de boas intenções, mas me incomodou um pouco a forma com que ele “exagerou” um pouco na falta de sensibilidade das pessoas com Wendy. Ok que vivemos em uma época de muito individualismo e egoísmo, mas ninguém nunca ter se disposto a ajudá-la me pareceu um pouco exagerado – como quando ela não tem dinheiro para pagar um ônibus que a leve para a Paramount Pictures. Segundo esse filme, todos estão muito presos a regras e burocracias. Ainda que isso seja em parte verdade, acho que existe mais margem para o improviso e para a solidariedade no dia a dia do que o filme nos mostra.

Entre os elementos técnicos desse filme, vale destacar a trilha sonora de Heitor Pereira; a direção de fotografia de Geoffrey Simpson; o design de produção de John Collins; a direção de arte de Lindsey Moran; a decoração de set de Tamar Barnoon e os figurinos de Annie Bloom. Ben Lewin faz um bom trabalho na direção, mas não apresenta nada muito diferente da normalidade e do padrão.

Please Stand By estreou em outubro de 2017 no Festival de Cinema de Austin. Depois, o filme passou pelos festivais de Roma e da Virgínia. Nessa trajetória, o filme não foi indicado a nenhum prêmio.

Agora, algumas curiosidades sobre essa produção. As falas trocadas entre Kirk e Spock na história criada por Wendy são as mesmas que os dois personagens falam no episódio The Tholian Web, de 1968.

As equipes de Star Trek Deep Space Nine e Star Trek Voyager nunca promoveram um concurso de roteiros. Ainda assim, elas permitiram que alguns fãs das séries escrevessem roteiros. Parte desse material foi, de fato, utilizado nas séries enquanto elas eram transmitidas.

As montanhas que aparecem nos sonhos de Wendy são as Vasquez Rocks localizadas em Agua Dulce, na Califórnia. Esse local foi usado, de fato, em diversos filmes e séries da grife Star Trek, inclusive no episódio Arena, de 1966.

Os usuários do site IMDb deram a nota 6,6 para esta produção, enquanto que os críticos que tem os seus textos linkados no Rotten Tomatoes dedicaram 17 críticas positivas e 11 negativas para Please Stand By – ou seja, o filme tem uma aprovação de 61% e uma nota média de 5,8. No site Metacritic, o filme apresenta um metascore de 49, resultado de quatro críticas positivas, sete medianas e uma negativa. Ou seja, o filme é considerado mediano – o que é o meu parecer também.

Please Stand By é uma produção 100% dos Estados Unidos. Assim, esse filme atende a uma votação feita há algum tempo aqui no blog, na qual os leitores podiam filmes desse país. Mais um para a lista, pois. 😉

CONCLUSÃO: Um filme singelo, mas muito bem conduzido e com atuações convincentes. Sempre bato palmas para produções que dão voz e que destacam pessoas especiais mas para quem muita gente não dá a mínima bola. Todos nascem com talentos e com capacidade, basta olharmos com um pouco mais de carinho e de generosidade para aqueles que são diferentes da gente. Please Stand By consegue fazer um cruzamento interessante de histórias ao mesmo tempo que presta uma bela homenagem para o próprio cinema e um clássico da ficção científica. Despretensioso, merece ser visto. Um filme leve e que, ao mesmo tempo, tem uma bela mensagem.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 20 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing e, atualmente, atuo como professora do curso de Jornalismo da FURB (Universidade Regional de Blumenau).

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