Olá amigos e amigas do blog!
Faltam poucos dias agora para confirmarmos todas as expectativas sobre o Oscar 2017. O provável é que tenhamos poucas surpresas neste ano. La La Land é o favoritíssimo da premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood e deverá papar quase tudo.
Como já comentei no blog antes, esta é uma bela safra do cinema americano e de outros países representada no Oscar. La La Land não é o melhor filme do ano, mas deve será o grande vencedor porque esta é a forma que Hollywood encontrou para defender os seus “ideais” e a “fábrica de sonhos” que ela representa frente a um governo de Donald Trump um tanto “ameaçador”.
Como em anos anteriores, aproveito para falar também das três categorias de curtas-metragens que estão na disputa. Ainda que no Brasil o grande público não dê grande importância para este tipo de filmes, é importante sempre falar deles. Afinal, muitos cineastas que vamos admirar pelos seus trabalhos depois começam justamente fazendo curtas.
De acordo com esta matéria da IndieWire, em 2017 houve um recorde de curtas-metragens animados que disputaram uma indicação ao Oscar: 69 produções. A exemplo de outras categorias, nesta também foi divulgada uma lista de pré-indicados de 10 produções e, no final, apenas cinco realmente disputam a estatueta dourada. Vejamos, então, um pouco mais sobre os indicados deste ano na categoria Melhor Curta de Animação:
1. Blind Vaysha
O curta de oito minutos dirigido e escrito pelo búlgaro Theodore Ushev conta a história de uma garota “muito especial” chamada Vaysha. Desde que nasceu, Vaysha tem uma condição diferenciada: pelo olho esquerdo ela vê sempre o passado das pessoas, dos lugares e das situações, enquanto pelo seu olho direito ela enxerga sempre o futuro.
Como vocês poderão ver abaixo, já que o curta está disponível na íntegra no YouTube, Blind Vaysha tem uma proposta diferenciada em todos os sentidos. Ushev teria se inspirado, segundo este site, na arte medieval e na linogravura para contar esta história. A verdade é que o curta, com toques bastante sombrios, parece estar contando esta história com traços de pintura em movimento à frente dos nossos olhos.
Eu gostei tanto dos traços de Ushev quanto da reflexão que ele levanta com a história de Vaysha. Afinal, se a protagonista é cega para o presente e só consegue enxergar o passado ou o futuro, ela não seria uma alegoria de muitas pessoas que vivem nos tempos atuais e que não conseguem viver o que está acontecendo agora, mas apenas se prender em tempos cronológicos para os quais esta pessoa tem pouco controle?
Ah sim, e vale comentar que Blind Vaysha é inspirado em um conto do escritor búlgaro Georgi Gospodinov lançado em 2001. O curta com narração de Caroline Dhavernas é a primeira indicação ao Oscar do experiente diretor Ushev, que tem nesta produção o seu 15º curta. Formado e mestre em desenho gráfico pela Academia Nacional de Finas Artes em Sofia em 1995, quatro anos depois se mudou para o Canadá, onde começou a atuar como artista multimídia, ilustrador e com animação.
2. Borrowed Time
O curta dirigido por Andrew Coats e Lou Hamou-Lhadj (animadores da Pixar) tem sete minutos de duração e conta a história de um velho sheriff que retorna para um local marcante. Com uma trilha sonora maravilhosa de Gustavo Santaolalla, o curta resgata a essência dos filmes de western para contar uma história amarga, de redenção e de “fazer as pazes” com o passado.
Interessante como um curta com tão pouca duração pode conter uma história tão interessante. Borrowed Time é uma destas produções que mostram que poucos minutos podem ser o suficiente para contar belas histórias. (SPOILER – não leia se você ainda não assistiu ao curta). O sheriff deste curta de western acaba voltando para a paisagem onde a carruagem em que ele estava com o pai, então o sheriff da época, foi atacada por bandidos.
O protagonista desta história tenta frear a carruagem, mas ele acaba caindo e o pai dele é jogado precipício abaixo. (SPOILER – não leia… bem, você já sabe). O jovem se espreita pela borda do precipício e vê que o pai pode ser salvo, mas ao tentar ajudá-lo, o garoto acaba apertando o gatilho da arma sem querer. Agora, envelhecido, ele resolve encarar aquele local novamente e chega a tentar se largar precipício abaixo, mas ele acaba tendo refletido o brilho do relógio que o pai tinha lhe dado. Neste momento, e de forma muito sutil, ocorre a redenção do personagem.
Bem feito, com um bom ritmo e uma história muito honesta e direta, o americano Borrowed Time é um destes curtas que merece ser visto. Ele é menos artístico que o anterior, tem uma história simples, mas é muito bem feito. Gostei tanto do estilo do filme quanto da trilha sonora e de seu tom meio “amargo” mas com mensagem positiva no final.
3. Pear Cider and Cigarettes
Com coprodução do Canadá e do Reino Unido, este curta é o mais longo da disputa, com 35 minutos de duração. Infelizmente não encontrei ele disponível na íntegra, mas o trailer abaixo já dá uma bela palhinha da força desta história e do trabalho do diretor e roteirista Robert Valley.
De acordo com a apresentação do curta, Pear Cider and Cigarettes é a “brutalmente honesta” história do relacionamento entre o diretor e o seu autodestrutivo e carismático amigo de infância que pede ajuda para ele após sofrer um acidente e estar confinado em um hospital na China. Tudo o que este amigo do “alter-ego” de Robert Valley quer é que ele vá ao seu socorro e o ajude a voltar para Vancouver.
Segundo o próprio texto de Valley, tudo o que Techno Stypes quer é beber e fumar, mas isso é tudo que ele não pode fazer porque está doente. Após sofrer um acidente de moto na China, ele estava internado lá. O diretor tinha ouvido duas instruções clara do pai dele: fazer com que Techno parasse de beber o tempo suficiente para que ele recebesse um transplante de fígado e levá-lo de volta para a sua cidade-natal.
Pelo trailer, o curta parece ter um estilo muito diferenciado. É um filme de ação com uma grande técnica de desenho e traços interessantes de Robert Valley. Esta é a primeira indicação ao Oscar do diretor que dirigiu, antes, apenas três trabalho para a TV. Algo que me chamou a atenção no trailer de Pear Cider and Cigarettes foi a ótima trilha sonora de Mass Mental? composta por Robert Trujillo e Armand Sabal-Lecco. Gostei também da arte de Valley e do que parece ser um excelente trabalho de edição.
4. Pearl
A VR (realidade virtual) está cada vez mais ganhando protagonismo mundo afora, e não apenas nos games ou nas produções jornalísticas, mas também em todo o tipo de ação que envolva produções artísticas e empresas. Não por acaso 2017 marca a primeira indicação de um curta feito em VR da história do Oscar.
Este estreante é o curta Pearl, dirigido por Patrick Osborne e com seis minutos de duração. A produção, que pode ser “vivenciada” através do vídeo abaixo do usuário Nathie, conta em detalhes a relação entre uma garota e o seu pai. O curta começa com ela adolescente reproduzindo um gravador em um carro, o que remete o espectador ao passado dela.
A partir daí o curta reproduz a experiência de um roadie movie, já que pai e filha vivem viajando e tem, basicamente, o carro como propriedade compartilhada. Pearl tem uma trilha sonora muito bacana, assinada por Pollen Music Group, Alexis Harte e JJ Wiesler, e uma estética que lembra a de alguns games.
A narrativa é bacaninha, sensível, e mostra como a relação de pai e filha amadurece com o tempo, além de explorar bem o conceito de que o amor do pai pela música acabou influenciando positivamente a filha. É uma proposta interessante, especialmente por colocar o espectador dentro da experiência com o VR, mas o curta não me parece ter a qualidade para ganhar o Oscar.
Ainda assim, sem dúvida alguma Pearl pode estar sinalizando uma tendência importante. Com um pouco mais de qualidade de produção e com uma evolução de técnica e narrativa, não será uma surpresa se um curta ou filme de VR ainda ganhar um Oscar no futuro.
Vale comentar que este é o segundo curta dirigido por Osborne – ele estreou na direção de curtas após trabalhar como animador em muitos filmes da Disney com Feast – curta que, aliás, ganhou o Oscar. Abaixo eu deixo o curta na íntegra (que deve ser visto, preferencialmente, com o óculos VR da Google ou qualquer outro do gênero) e o vídeo com a experiência de um espectador.
5. Piper
Finalmente comento aquele que, para muitos, é o favoritíssimo deste ano nesta categoria. O curta Piper tem seis minutos de duração e conta com roteiro e direção de Alan Barillaro, animador conhecido por diversos trabalhos da Pixar.
A verdade é que o curta surpreende. Inicialmente, você pensa sobre a capacidade de um curta sobre um filhote de passarinho e a sua mãe entreter o grande público. Mas aí que Piper mostra todo o potencial de Barillaro. Ele conta esta singela e bonita história sem diálogos e com muitas cenas graciosas de forma magistral.
Piper conta a história de um filhote de passarinho que enfrenta “o mundo” pela primeira vez. Incentivado pela mãe, ele deixa o ninho e se aventura até a orla, logo descobrindo a razão que faz todos os pássaros correrem quando uma onda se aproxima. Ele tenta “caçar” alguns bichinhos no início, mas depois é levado por uma onda.
No início, o jovem pássaro fica traumatizado. Mas o pavor dele da água logo é superado quando ele demonstra uma grande capacidade de aprendizado. Singelo, bacana, divertido. Vale também comentar que este é o primeiro curta dirigido por Barillaro.
Apesar da Pixar ter um histórico de indicações ao Oscar, desde 2002 o estúdio não ganha a categoria de Melhor Curta de Animação. Piper tem grandes chances de acabar com esta longa ausência de prêmios para o estúdio – derrotado oito vezes desde que venceu pela última vez com For the Birds. Como Piper foi lançado nos cinemas junto com o blockbuster Finding Dory, sem dúvida ele é o curta na disputa mais popular.
PALPITES PARA O OSCAR 2017: Esta é uma safra de curtas com propostas e estilos muito diferentes. Difícil comparar produções tão diversas, mas acho que a disputa tem três produções com maiores chances e duas que correm por fora. As favoritas parecem ser, nesta ordem: Piper, Blind Vaysha e Pear Cider and Cigarettes.
Ainda que eu tenha gostado do estilo de Borrowed Time, acho que o curta é um tanto “simples” demais para o Oscar. O mesmo pode ser dito sobre Pearl, que tem como destaque ser o primeiro curta VR a ser indicado para a premiação. Avaliando o conjunto da obra, ou seja, a história, a criatividade da narrativa e a parte artística, admito que eu estou com os especialistas que apontam Piper como o favorito.
Blind Vaysha é o mais artístico dos curtas na disputa. Pear Cider and Cigarettes me chamou muito a atenção pelo estilo, mas como eu só vi o trailer do curta, não posso opinar realmente com propriedade sobre ele. Então, avaliando todos os outros, aos quais vi na versão integral, realmente Piper parece ser o provável vencedor.
3 respostas em “Curtas de Animação Indicados ao Oscar 2017 – Avaliação”
[…] Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood vale a pena darmos uma pausa nos filmes e, após o post sobre os curtas de animação que estão na disputa, comentar os curtas de ficção que buscam uma […]
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[…] comentar sobre os curtas de animação e sobre os curtas de ficção que vão concorrer ao Oscar deste ano, chegou a hora de falar dos […]
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