É importante quando temos sonhos e buscamos realizá-los. Algumas vezes, vamos bem longe para isso. Outras vezes, somos levados para locais para os quais, inicialmente, não queríamos ir para, justamente lá, aprendermos o que nem sonhávamos que era possível. Lunana: A Yak in the Classroom é um filme belíssimo, não apenas pelas paisagens que nos apresenta, mas pelas histórias e pelas mensagens que convida a conhecer e a refletir.
A HISTÓRIA
Uma música ecoa. Quando a imagem aparece, vemos uma moça no topo de um morro cantando em frente a um vale e algumas montanhas. Em seguida, ouvimos a voz de uma senhora (Tsheri Zom), que chama Ugyen Dorji (Sherab Dorji) para que ele acorde. Ela reclama que jovens como ele saem a noite toda e dormem durante o dia.
A avó de Ugyen reclama da atitude do neto. Ugyen diz que não quer ser professor, mas a avó não chega a escutar a resposta dele. Em seguida, Ugyen sai a contragosto para uma reunião sobre o trabalho obrigatório que está fazendo. Em breve ele será enviado para Lunana, um lugar ermo e onde existe a escola mais isolada do país.
VOLTANDO À CRÍTICA
(SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Lunana): Fiquei maravilhada com esse filme desde o início. Pela imagem de abertura, belíssima, e pela narrativa que nos envolve e que convence do primeiro até o último minuto. Uma vantagem de Lunana é que ele não tenta ser algo que ele não é, ou não tenta ser maior do que ele se apresenta.
Acho que esta é uma das vantagens desta produção. O filme vai se apresentando com simplicidade, de forma direta, sem exageros ou sem tentar ser “fantástico” ou “mega inovador”. Ele se propõe a nos apresentar uma história com início, meio e fim bem claros. Ele é previsível? Até certo ponto sim.
(SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Claro que no início já era de imaginar que o rapaz que sonhava em buscar a felicidade fora do seu país de origem iria se surpreender indo para um local ermo do próprio país. Essa era a parte previsível. Mas o que ele realmente encontra lá, a forma como ele se relaciona com tudo que aparece pela frente, é o que faz a diferença para a produção e o que nos traz beleza e nos convence.
Além disso, claro, o desfecho da produção não era totalmente previsível. Quem sempre espera pelo “final feliz” certamente imaginou outro final para Lunana. Mas nós temos os finais que fazem sentido em cada contexto e para cada realizador. E até o final de Lunana se revela perfeito por isso. De fato, nosso “herói” consegue realizar o sonho de ir para a Austrália, mas chegando lá, ele não encontra exatamente o que desejava.
E aí reside a genialidade deste Lunana. (SPOILER – não leia… bem, você já sabe). Algumas vezes, as pessoas não enxergam a riqueza que elas tem perto delas, seja pela realidade em que vive, seja pela família e tudo que estas relações podem trazer para elas. Sonham com o sucesso e a felicidade longe, mas o protagonista desta história vai para a Austrália atrás de liberdade e de sucesso e repara que por lá ele é mais um. Apenas mais um imigrante que sabe cantar bem e que está buscando espaço no cenário musical. Enquanto por lá ele é mais um, no país de origem, especialmente em Lunana, ele é alguém importante, que faz a diferença.
Então qual é o papel que ele e qualquer um de nós quer desempenhar na vida? Ser mais um, alguém que não faz diferença, que realmente não contribui para uma mudança importante na sociedade, ou fazer o melhor que podemos onde nos encontramos e fazer a diferença com a vida e o trabalho onde temos nossas raízes? Sempre acho válido e importante as pessoas buscarem outras latitudes, viverem e terem experiências em outros países, mas voltar para casa não tem preço.
Porque morar em um lugar ou ficar um tempo em um lugar significa que por lá investimos nosso tempo, nossas energias, colocamos nossa força para fazer a roda da vida girar. Mas em que local isso faz sentido? Onde realmente nos sentimos em casa e onde o que fazemos pode mudar algo? Ugyen descobre que ele tem a capacidade que ele nem mesmo imaginava.
Isso ele aprende em Lunana e não na Austrália. Um lugar para o qual ele não queria ir e que ele desprezava antes de abrir os olhos, a compreensão e o coração para entender o que ele significava, mostrou para o protagonista que ele era mais do que ele mesmo imaginava.
Como uma certa frase do filme revela, um professor nunca vai sentir que realmente ensina e que é digno de ser chamado de professor. Quem pode falar isso são seus alunos. Em Lunana Ugyen aprende sobre a diferença que ele pode fazer para o mundo se assim ele desejar.
Essa questão tem uma importância ímpar para essa época em que vivemos. Muitos não acreditam em si mesmos. Têm dificuldade de encontrar o seu lugar no mundo. Estão “perdidos”, em um sentido amplo da palavra. Mas talvez porque somos pressionados desde sempre a encontrar este sentido, sem sabermos que o sentido vamos encontrando no caminho. E sem saber que ele pode mudar com o passar do tempo.
O final de Lunana nos mostra que é importante seguir os próprios sonhos, mas que nenhuma história se resume a apenas um caminho. Ugyen faz bem em seguir para a Austrália tentar algo que ele desejava e sonhava há muito tempo. Talvez ele tenha êxito cantando e resgatando os valores da terra que ele deixou para traz. Talvez ele fique lá por um tempo e depois volte para a avó, para os amigos, para a capital do Butão ou, talvez, por algumas temporadas, inclusive para a Lunana.
Fomos apresentados a uma parte pequena da história deste protagonista que simboliza tantos jovens do nosso tempo. Ele é influenciado por culturas alheias e deseja algo diferente da realidade que ele conhece. Apenas o tempo dirá se ele encontrará felicidade – algo tão importante para o Butão – longe de casa ou retornando para aquela vida simples e cheia de significado que ele resolveu deixar para trás.
Mas o interessante de Lunana, e isso é mérito total do diretor e roteirista Pawo Choyning Dorji, é que este filme fala, de uma forma muito honesta, precisa, com linguagem simples e sem complicação, muito sobre o nosso tempo. Quando as pessoas lutam e demoram para encontrar significado sobre seus passos em um mundo incerto, cheio de mudanças e de riscos – vide Zygmunt Bauman e Ulrich Beck com suas Modernidades Líquidas e Sociedade de Risco, entre outras obras.
O que percebemos cada vez mais, neste contexto social de 2022 e dos próximos anos, é que esta busca vista em Lunana será infinita. Como indivíduos e como sociedades estaremos sempre buscando o significado da nossa existência e que passos devemos dar na sequência para que busquemos felicidade para nós e para quem nos rodeia, tendo atos, atitudes (palavra importante neste filme) e pensamentos que contribuam não apenas para nós, mas para o coletivo.
Vivemos hoje, e a pandemia de Covid-19 está aí para nos fazer refletir sobre isso, uma guerra entre a corrente que tem este entendimento e esta preocupação com algo além do próprio umbigo com a corrente de quem se importa apenas consigo mesmo e com o acúmulo de dinheiro. Há tempos não vemos um embate tão grande entre estas correntes conflitantes, ainda mais em épocas de mudanças climáticas cada vez mais visíveis.
Neste contexto, um filme como Lunana nos faz refletir sobre muitos aspectos importantes. Ele trata sobre sentido da vida, sobre escolhas, sobre valorização do que é simples, da Natureza, de uma relação de respeito e de admiração com o passado, com o presente e com o futuro das gerações e, principalmente, em uma relação amorosa com toda a vida que nos cerca. Um filme honesto, escrito sem papas na língua e que não busca ser excepcional mas que acaba o sendo, e que trata de tudo isso.
Como tantos outros filmes, Lunana nos mostra o processo de amadurecimento de um rapaz. Que deixa a capital do país e sua “vida tranquila”, recheada de bares à noite e de um trabalho que ele não gostava de dia, para viver algo totalmente diferente em um local isolado.
Lá ele aprende o que não iria aprender em outro lugar. E conhece pessoas incríveis, que fazem diferença à sua maneira e que preservam valores que são difíceis de ensinar – aprende quem quer através do exemplo e da observação. Em Lunana ele aprende sobre simplicidade, sobre amizade, união, solidariedade, gratidão por cada detalhe da vida e vê um tipo de beleza que alguns não conhecem durante uma vida.
Que filme lindo! Nas imagens e nas mensagens. Irretocável. Além de tudo que ele nos apresenta, Lunana nos marca por tudo aquilo que ele nos leva a refletir sobre. Imperdível.
NOTA
10.
OBS DE PÉ DE PÁGINA
Eu sei que não é simples dar a nota máxima para um filme. E que, provavelmente, caso você assistir a este filme depois de ver a nota 10 que eu dei para ele, você vai discordar de mim. E estarás com a razão. Mas é que eu achei esta produção incrível, irretocável, imperdível. Terminei de assisti-la com vontade de dar o 10 e, mesmo pensando depois se eu não poderia baixar um pouco a nota, afinal, Lunana talvez não merecesse tanto, simplesmente não consegui. Fiquei encantada com o filme, e isso é tudo.
Olha, não importa o que eu escreva sobre Lunana, ainda será pouco. Esse filme é tão rico, tão cheio de camadas e de detalhes, que acho que nenhuma crítica conseguirá tratar sobre toda a riqueza que esta produção nos apresenta. Incrível, simplesmente.
Fiquei encantada e impressionada com o trabalho do diretor e roteirista Pawo Choyning Dorji. Imediatamente, depois de assistir a Lunana e ao começar a escrever essa crítica, quis saber mais sobre ele. Minha intenção era de assistir a outros filmes que e ele já fez. Então qual a minha surpresa ao saber que Lunana marca a estreia dele na direção! Pois sim. Antes deste filme, ele tinha atuado como produtor de Hema Hema: Sing Me a Song While I Wait, dirigido e escrito por Khyentse Norbu.
Em 2019, ele lançou Lunana: A Yak in the Classroom, filme que ele dirigiu, escreveu e produziu. Agora, em 2022, ele deve lançar o seu segundo filme: Once Upon a Time in Bhutan… Já estou na fila para assistir. Eis um nome que devemos acompanhar, até para ver se o trabalho diferenciado dele vai seguir com a mesma potência em seus próximos trabalhos.
Logo no início de Lunana, vemos na camiseta de Ugyen Dorji uma frase interessante: “Felicidade Interna Bruta, Butão”. Até assistir a este filme, eu não sabia quase nada sobre o Butão. Muito menos sobre a sua “Felicidade Interna Bruta”. Como vocês devem saber, a “riqueza” de um país é medido através do seu PIB – Produto Interno Bruto. Que tem a ver com os “bens e serviços finais produzidos por um país, estado ou cidade, geralmente em um ano”, segundo definição do IBGE. Ora, então o PIB tem a ver com o valor da produção, do trabalho. O Butão subverte isso ao tratar sobre Felicidade, que pouco tem a ver com produção.
Por isso mesmo Lunana se mostra tão interessante. Porque ele tem a ver com a própria filosofia do seu país de origem ao debater e apresentar elementos sobre o que pode definir a felicidade. Claro que essa definição varia muito de pessoa para pessoa. Mas o filme apresenta alguns de seus significados e fica a “gosto” do espectador tirar a própria conclusão sobre o que pode trazer mais felicidade. Importante saber também, claro, que ela não é perene, permanente, não se escreve em pedra. Ela é variável, mas é possível. Em alguns lugares, mais fácil de encontrar que em outros.
Mas então, voltando para o conceito de “Felicidade Interna Bruta” (FIB), busquei saber um pouco mais sobre o que ele propõe e significa. Encontrei esse artigo interessantíssimo de Amelia Gonzalez sobre o FIB proposto pelo Butão e que busca uma outra forma de medir a “riqueza” de um país. Recomendo a leitura do artigo dela.
Segundo a jornalista, a ideia do FIB surgiu nos anos 1970 pelo quarto rei do Butão, Jigme Singye Wangchuck, que buscava explicar o “baixo desenvolvimento” do país questionando o próprio conceito de desenvolvimento e riqueza. Para o rei do país, o progresso não deveria ser medido por riquezas ou consumo (as duas formas de medir o PIB), mas sim pela “felicidade do povo”.
“Foi assim que princípios como espiritualidade, afetividade e satisfação com a vida passaram a ser considerados aspectos importantes para a população”, explica Amelia. Em 2008, o FIB foi institucionalizado no Butão. Vale ler o texto de Amelia Gonzalez, que traz uma entrevista com Kalinka Susin, professora do Royal Thimphu College e especialista no FIB.
Interessante como o filme trata de forma franca algumas questões internas do Butão. Como a falta de oportunidades de trabalho e uma certa limitação de “oportunidades” no país. Tanto que ninguém ao redor de Ugyen entende como ele pode não estar grato por trabalhar para o governo como professor – afinal, este é um emprego seguro e que, aparentemente, dá um bom salário e segurança para quem opta por este caminho. Achei curioso que acompanhamos o protagonista quando ele está saindo do quarto para o quinto ano de serviço obrigatório. Ele não pode sair antes de finalizar o prazo, portanto. Ou seja, o Butão funciona com uma loja diferente sobre serviço obrigatório, aparentemente.
Falando em Butão, acredito que Lunana seja o primeiro filme que eu assisto daquele país. Só por isso, já é uma alegria. Gosto muito de conhecer realizadores, produções e até “escolas de cinema” de novos países. Butão é um país pequeno, de cerca de 771,6 mil habitantes em 2020, segundo projeção do Banco Mundial. O regime de governo é a monarquia, com Jigme Khesar Namgyel Wangchuck como o rei atual. Como vemos em Lunana, Timbu é a capital e maior cidade do país. Localizado no “extremo leste do Himalaia”, o Butão é conhecido pelos seus mosteiros budistas, por suas fortalezas e paisagens. Situado na Ásia, o país faz fronteira com a China e a Índia.
O grande mérito deste filme está no roteiro e na direção de Pawo Choyning Dorji, que faz um trabalho diferenciado, com um roteiro envolvente e convincente, com uma linguagem simples e que valoriza a linguagem coloquial dos personagens, além de uma direção segura que dá destaque para as paisagens do Butão, para os cenários, portanto, assim como para o trabalho dos atores.
Dos aspectos técnicos do filme, sem dúvida o maior destaque, além dos já citados direção e roteiro, é a direção de fotografia de Jigme Tenzing. Ele faz um trabalho preciso e que ajuda a valorizar a visão do diretor em cada enquadramento e plano-sequência. Trabalho irretocável.
Além dos aspectos já citados, vale destacar o ótimo trabalho dos atores. Claro que o maior destaque fica com o protagonista, porque é ele quem nos conduz por toda a história. Sherab Dorji convence em cada aspecto e em cada momento e mudança da narrativa como Ugyen Dorji. Um trabalho irretocável também.
Além dele, vale destacar o trabalho dos coadjuvantes Ugyen Norbu Lhendup, que interpreta Michen, um dos guias de Ugyen, pastor e cantor de apenas uma canção que conquistou a mulher com essa música; Kelden Lhamo Gurung como Saldon, a moça simples e encantadora que inspirou o protagonista com uma bela canção; Pem Zam como Pem Zam, uma das alunas mais encantadoras de Lunana e capitã da turma – impossível não ceder ao seu jeito meigo, educado e inteligente; e Kunzang Wangdi como Asha Jinpa, o chefe da aldeia de Lunana.
Em papéis menores, estão atores como Tshering Dorji, que interpreta a Singye, o outro guia que ajuda Ugyen a chegar até Lunana e depois o leva de volta antes do inverno chegar; Tsheri Zom interpreta a avó do protagonista, que aparece mais no início do filme; e Dorji Om interpreta a Secretária de Educação que dá uma dura no jovem que ainda não tinha encontrado o seu caminho.
Entre os aspectos técnicos do filme, além da direção de fotografia, que é um ponto de destaque nesta produção, vale comentar a ótima edição de Hsiau-Yun Ku; o design de produção de Tshering Dorji; e a direção de arte de Chungdra Gyeltshen e Pema Wangyel.
Interessante a relação, o respeito e o afeto que os moradores de Lunana tem com o “yak” que faz parte do título desta produção. O “yak”, do inglês, faz referência ao “iaque doméstico” que, segundo o dicionário de Cambridge é um tipo de gado com pelo longo e longos chifres que é encontrado, principalmente, no Tibete. Para os moradores de Lunana, como podemos ver pelo filme, ele é fundamental, porque é o “yak” macho dá o substrato para que eles possam se manter aquecidos à noite e reproduz, enquanto as fêmeas produzem leite.
Segundo este artigo do Jornal do Comércio, o “yak” é o animal símbolo da região tibetana – e de países próximos, como o Butão.
Lunana: A Yak in the Classroom (em uma tradução livre, Lunana: Um Iaque na Sala de Aula) estreou em outubro de 2019 no BFI Festival de Cinema de Londres. Depois, o filme participaria, ainda, de outros 20 festivais em diferentes países. O último em que ele participou foi em dezembro de 2021, o Festival Internacional de Cinema Budista.
Lunana é o representante oficial do Butão no Oscar 2022. O filme faz parte da lista curta (“short list”) das 15 produções que avançaram na disputa na categoria Melhor Filme Internacional. Além de ser produzido pelo Butão, Lunana tem coprodução da China.
Até o momento, Lunana ganhou 18 prêmios e foi indicado a outros 10. Entre os prêmios que recebeu, destaque para o de Melhor Filme conferido pela audiência do Festival de Cinema CinemAsia; para o de Melhor Ator para Sherab Dorji no Festival Internacional de Cinema Saint-Jean-de-Luz; e para os prêmios de Melhor Recurso Narrativo pela escolha da Audiência e Melhor Votação do Público do Festival para Pawo Choyning Dorji no Festival Internacional de Cinema de Palm Springs.
Acho que o maior desafio de Lunana é realmente ser assistido. Por vir de um país sem tradição no cinema mundial, ele deve percorrer um caminho maior para chegar até ao público e ser visto pela crítica. Esse é o seu maior desafio, sem dúvidas.
Os usuários do site IMDb deram a nota 7,7 para esta produção, enquanto que o site Rotten Tomatoes apresenta apenas duas críticas sobre este filme – ambas positivas.
Buscando saber mais sobre o filme e o seu realizador, encontrei essa entrevista interessante com Pawo Choyning Dorji e parte do elenco de Lunana. Adriana Rosati nos apresenta uma entrevista interessante e que vale ser conferida para entender um pouco mais sobre a proposta desta produção.
Antes da entrevista com o diretor, roteirista e produtor, Adriana nos conta um pouco sobre ele e sobre seus atores. Todos são estreantes em Lunana. Kelden Lhamo Gurung, que interpreta Saldon, é estudante; Sherab Dorji, que vive o protagonista da história, trabalha em um estúdio de música; e Ugyen Norbu Lhendup, que interpreta Michen, é engenheiro. Ou seja, nenhum deles é “profissional” do cinema, o que torna esse filme ainda mais especial – inclusive porque na primeira resposta do diretor ele comenta como construiu Lunana, uma produção que junta diversas histórias que ele conheceu nas suas viagens como fotógrafo. Especial.
CONCLUSÃO
Um filme que fala como uma pessoa pode achar a razão da sua vida sem mesmo perceber. A felicidade está no que é simples e singelo e não no que é complexo e caótico. Lunana nos ensina um pouco da essência do seu país de origem ao mesmo tempo em que nos conta uma história universal e que pode emocionar a qualquer pessoa de qualquer latitude.
Para mim, o grande ensinamento do filme é que podemos achar a felicidade e a nossa vocação onde menos esperamos e, mesmo assim, só vamos valorizar isso tudo quando estivermos muito longe, em um país distante. Algumas vezes a caminhada é longa, mas nosso coração nos leva em um instante para onde gostaríamos de estar. Belo filme, muito bem conduzido e narrado. Uma destas preciosidades que apenas o Oscar pode nos apresentar.
PALPITES PARA O OSCAR 2022
Como comentei na crítica de Un Monde (que pode ser acessada por aqui), ainda é cedo para fazer prognósticos sobre os filmes que irão avançar entre os indicados na categoria Melhor Filme Internacional no Oscar deste ano. Afinal, Lunana é apenas o segundo filme que eu assisto da lista de 15 produções que avançaram na disputa.
Ainda assim, devo dizer que estou dividida com este filme. O meu coração e o meu gosto para filmes me fazem torcer para que ele consiga chegar entre os cinco finalistas desta categoria. Mas a minha razão diz que essa será uma tarefa muito, mas muito difícil. Afinal, que tradição o cinema de Butão tem no Oscar? Nenhuma. Querendo ou não, este fator é importante para um filme avançar na disputa.
Então, pensando pela emoção, claro que desejo e faço votos para que Lunana chegue até os cinco finalistas. Francamente, se descontarmos a questão história do Oscar, ele tem qualidades para isso. Mas, mesmo que consiga quase um milagre e chegue até os finalistas, ele tem zero chances de ganhar a estatueta dourada. Simplesmente porque ele não vai ter o lobby suficiente para ganhar a estatueta.
Agora, se for falar pelo meu lado racional, provavelmente Lunana não ficará entre os finalistas. O que será uma pena, já que a vitrine do Oscar pode fazer um filme ser mais visto do que sem chegar lá. Espero que apenas o fato dele estar na “short list” da produção já faça Lunana ser muito mais visto. Ele merece. Neste momento, contudo, mesmo torcendo para ele chegar até os 5 finalistas, não acredito que ele chegará longe.
7 respostas em “Lunana: A Yak in the Classroom – A Felicidade das Pequenas Coisas”
[…] meu palpite sobre chances na premiação – segue da seguinte forma: Lunana (com crítica neste link) em primeiro lugar, seguido, muito depois, de Un Monde (comentado por aqui) e, bem atrás, […]
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[…] Claro que ainda é cedo para cravar isso ou dizer que ele é o favorito. Preciso ver ainda a outros fortes concorrentes. Mas já me arrisco a dizer que ele estará na lista dos cinco filmes indicados. Saber se ele vai levar o prêmio… ainda é cedo. Entre os filmes que eu assisti até agora, considero ele o melhor – até melhor que o outro para quem eu dei 10 desta temporada, Lunana (com crítica neste link). […]
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[…] segundo lugar, mas correndo por fora, gostaria de ver Lunana (com crítica neste link) avançando. Em seguida, pelo fenômeno que se tornou entre o público e a crítica, viria Lamb […]
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[…] esta produção japonesa. Claro que eu gostaria de ver Lunana: A Yak in the Classroom (com crítica neste link) avançando, mas a falta de tradição do cinema feito no Butão certamente vai prejudicar o filme […]
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[…] Lunana: A Yak in the Classroom (Butão) […]
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[…] Ghahreman ficou de fora do Oscar 2022. No lugar dele, foi indicado Lunana (com crítica neste link) e o italiano È Stata La Mano di Dio (comentado por […]
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Justamente nestes tempos de uma guerra absurda na Europa, envolvendo de forma perigosa potências nucleares, está obra do Butão (uma Monarquia minúscula encravada no Himalaya) tem todas as chances de receber o troféu máximo de Melhor Filme Estrangeiro.
O mundo precisa voltar p ser mais sensível e p encontrar o sentido da vida se confrontando com as coisas simples na vida.
Aposto tudo nesta obra e, espero que os jurados da Academia ainda conseguem se sensibilizar !
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