Um filme duro, mas necessário. Além disso, muito bem construído e belo em diversos momentos. Flee chamou a minha atenção no início deste ano por ter sido indicado em três categorias diferentes e nada comuns de uma mesma produção concorrer no Oscar: Melhor Documentário, Melhor Animação e Melhor Filme Internacional. Desde então, eu queria conferir esta produção. Afinal, o que ela tinha de tão especial para concorrer em três categorias tão importantes? A forma diferenciada do diretor Jonas Poher Rasmussen contar esta história, sem dúvidas, é seu ponto alto.
A HISTÓRIA
Começa explicando que o filme trata de uma história verídica e que “alguns nomes e locais foram alterados para proteger pessoas que fazem parte do elenco”. Alguns traços vão, aos poucos, mostrando algumas pessoas correndo. Ouvimos uma respiração ofegante. O diretor pergunta para o entrevistado o que significa, para ele, a palavra casa. Ele responde que significa um local seguro. No qual a pessoa pode ficar e não tem a obrigação de sair. Esta é a história de alguém que perdeu sua casa.
VOLTANDO À CRÍTICA
(SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Flee): Como comentei antes, fiquei muito curiosa para assistir a este filme desde que ele foi indicado em duas das minhas categorias preferidas do Oscar – Filme Internacional e Documentário – e, de quebra, ainda ter emplacado uma indicação em Melhor Animação.
Foi um feito para esta produção ter emplacado estas indicações. Pela primeira vez na história do Oscar um filme concorreu em categorias tão diferentes – especialmente Animação e Documentário. Vamos convir que isso é raro, muito difícil de ser imaginado até então. Além disso, para fechar a minha lista em Filme Internacional, eu precisava assistir essa produção.
Para mim, Flee é, sobretudo, um documentário. Que por causa de suas características, “precisou” ser realizado no formato de animação. Por ter um zelo diferenciado e uma veia artística determinante, o filme também emplacou uma indicação em Melhor Filme Internacional, garantindo para a Dinamarca uma vaga na sempre concorrida lista final desta categoria.
Quem acompanha o blog aqui há tempos sabe que a minha categoria preferida do Oscar é justamente esta, de Filme Internacional. Afinal, quando temos tempo de assistir uma boa parte da lista que figura na seleção inicial feita pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, temos por ali um quadro interessante do cinema feito em diferentes latitudes mundo afora.
A essência de Flee é o documentário. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Afinal, esta produção se aprofunda na história de Amin Nawabi, um homem que conseguiu fugir do Afeganistão quando a vida por lá se tornou muito perigosa para ele e sua família. Quem narra essa história é o próprio Amin, que não é identificado por seu nome durante a produção.
Conforme o filme avança e Amin narra sua vida desde sua memória mais antiga, quando ele era um menino de três ou quatro anos que vivia em Cabul, percebemos que a razão principal para este documentário não seguir a “cartilha” de filmes do gênero e trazer as imagens dos depoimentos do entrevistado e sim uma adaptação delas através de diferentes recursos de animação é porque ele corre certo perigo.
(SPOILER – não leia… bem, você já sabe). Demora um tempo para entendermos o porquê de Amin ter medo. Ele conseguiu se tornar um refugiado na Dinamarca com base em uma mentira. O traficante que finalmente conseguiu tirar o então jovem da situação ilegal na Rússia orientou ele a dizer que estava sozinho no mundo. Mas isso não é verdade.
Daí temos em Flee um diferencial interessante. O diretor Jonas Poher Rasmussen consegue contar essa história com a profundidade e com o detalhamento que vemos em cena porque ele conhece o entrevistado há muito tempo, desde a juventude de ambos. Só assim, e certamente com uma condição de mantê-lo no anonimato, para termos tantas informações sobre a história deste refugiado que conseguiu construir uma vida longe da cidade e do país natal após muito sofrimento e com base em uma mentira.
O tema dos refugiados é sempre angustiante e triste. É muito injusto pensarmos que uma pessoa não pode escolher em que lugar ela quer viver. Que por questões diversas, especialmente envolvendo guerras, conflitos, desastres naturais e pobreza, uma pessoa se sinta obrigada a deixar o que ela chama de lar. Muitas vezes, para sempre, sem chances de retorno.
Esse é o caso do protagonista de Flee. O país dele muda para pior, mas até uma parte essencial daquela cultura impede Amin de voltar. (SPOILER – não leia se você ainda não assistiu ao filme). Vamos saber, conforme o filme se desenrola, que o protagonista é homossexual e que pessoas como ele nunca foram tratadas com o respeito devido no país dele de origem. Apenas por isso, Amin já seria desestimulado a voltar.
Mas, para além disso, as mudanças políticas e os conflitos vivenciados no Afeganistão fizeram ele, sua mãe e irmãos a saírem correndo de lá. O temor de todos é que acontecesse com algum deles o que aconteceu com o pai do protagonista: uma certa noite ele foi levado pelas autoridades para nunca mais voltar – algo vivenciado no Brasil também por algumas famílias durante a infame ditadura militar a partir de 1964.
A mãe do protagonista, muito corajosa, fugiu com a família antes que algum de seus filhos também fosse levado daquela forma. A jornada deles, a partir desta decisão, é longa e angustiante, com vários altos e baixos – com muito mais momentos difíceis do que de esperança. Mas sabemos, até porque quem nos conta essa história é o próprio Amin, que ao menos ele sobreviveu. Isso torna a narrativa um pouco menos angustiante. Pouco.
Como Flee aborda essa história em todos os seus detalhes, o filme nos faz pensar sobre a razão de Amin ter que se esconder até hoje. Mesmo sem deixar este ponto extremamente claro, até porque o diretor foca, essencialmente, nas entrevistas de Amin, tudo indica que a condição de refugiado do protagonista só existe porque a lei da Dinamarca coloca uma série de regras para esta condição.
Ou seja, o visto de refugiado precisa atender a diversas questões. Uma delas, aparentemente, é que a pessoa não tenha mais vínculos familiares, algo como “estar sozinho no mundo”. Sob esta condição, o governo dinamarquês pode lhe dar um visto para permanecer no país sob a proteção estatal. Isso faz pensar.
Procurando saber mais a respeito, pesquisei sobre a política da Dinamarca em relação aos refugiados. Fiquei surpresa ao ler esta matéria que afirma que, apesar da Dinamarca ser o primeiro país a “assinar a Convenção das Nações Unidas sobre Refugiados em 1951”, atualmente o país tem uma das “políticas mais duras da União Europeia em relação à imigração”.
País desenvolvido e que, pouco a pouco, complicou ainda mais as regras para dar vistos para pessoas que fugiram de situações complicadas, muitas delas sob risco de morrer caso voltassem para os locais de origem. Este ano, o país abriu exceção para os refugiados da Ucrânia, por causa da guerra provocada pela Rússia, o que levantou um debate sobre o país ser seletivo sobre quem “deseja” e aceita como refugiado.
Tudo isso torna este Flee ainda mais corajoso e essencial. Ele trata, de forma indireta, sobre diversos preconceitos relacionados com a história do protagonista. Não apenas por ele ser gay e vir de um país no qual a cultura não aceita bem quem faz parte deste coletivo, mas também por outros países explorarem a condição de refugiado ou discriminar estas pessoas.
Então o protagonista deste filme, em especial, revela muita coragem ao contar sua história com tanta franqueza. E o diretor faz uma escolha fundamental ao lhe dar o direito ao anonimato – algo que desapareceria depois, com a repercussão que o filme teve. Flee traz apenas o primeiro nome do protagonista. Seu sobrenome só ficaria conhecido depois.
Sempre que alguém tem algo relevante para falar mas sua história pode colocá-lo em risco, o sigilo da fonte deve ser oferecido. Isso vale para jornalistas e vale, claro, para documentaristas. Se não houvesse esse cuidado todo com o que Amin narra, talvez Flee pudesse ter seguido o caminho mais “clássico” de um documentário. Afinal, boa parte do filme traz reproduções em forma de animação de cenas que, de fato, foram filmadas pelo diretor. Seria muito mais simples e menos demorado trazer estas cenas como elas foram gravadas.
Mas a particularidade desta história fez com que ela fosse narrada no formato animação. E não temos, em Flee, uma animação qualquer. Diversas técnicas desta área são utilizadas com muita inteligência e sensibilidade. Os traços, as cores e o estilo de filmagem da animação variam conforme a parte da história de Amin que estamos presenciando.
Assim, momentos de grande angústia, das memórias mais pesadas de Amin, são narrados em preto e branco em uma técnica parecida com a da pintura em giz branco sobre fundo preto. Muito interessante, diga-se de passagem. Estes momentos quebram a narrativa que, no restante do filme, segue com cores e no estilo de animação 2D para abordar as melhores memórias – ou, ao menos, as memórias menos angustiantes – e o tempo presente do narrador/protagonista.
Além de toda a narrativa focada nos relatos de Amin, suas memórias e sua vida atual, inclusive seu dilema sobre qual caminho seguir, tudo isso apresentado por estas técnicas de animação, Flee traz algumas imagens de arquivo para nos situar ainda mais nessa história. Isso reforça o tom de documentário da produção. Temos, nestas imagens de arquivo, cenas do Afeganistão, da Rússia – país para onde Amin e família fogem inicialmente – e dos Estados Unidos (onde Amin vai participar de um evento).
Assim, tanto pela forma como pela mensagem, Flee merece destaque. A produção aborda temas fundamentais e levanta debates pertinentes – como a forma como algumas pessoas são exploradas por outras, especialmente em posição de poder, e de como precisamos discutir muito mais a inclusão de diferentes pessoas na nossa sociedade. Todos os países deveriam olhar com atenção para o drama de refugiados, além de buscarem por maior justiça social e inclusão em suas próprias sociedades. Só assim para, talvez evoluirmos um pouco e não vermos mais tantas histórias como Amin.
Para além da técnica e da qualidade da história, gostaria de citar ainda algumas outras questões deste filme. Um diferencial importante de Flee é como esta produção é humana, extremamente humana. O diretor dá espaço para Amin contar e refletir sobre sua própria história. Ao optar por mostrar a vida do entrevistado na atualidade, Rasmussen consegue algo interessante: mostrar como o impacto de tudo que aconteceu antes com Amin cobra um preço importante dele até hoje.
(SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme ainda). Este é um ponto importante e que diferencia esta produção. Rasmussen poderia apenas ter contado a história de Amin até o início das entrevistas/gravações. Mas ele optou por gravar e revelar parte da intimidade do protagonista. Com isso, ele mostrou como Amin tinha dificuldades em confiar, em se abrir. O que é totalmente compreensível pelo contexto no qual ele cresceu e pela forma como ele viveu. Tendo que se esconder não apenas por mentir para conseguir a condição de refugiado mas, também, por esconder que era homossexual de sua família, que ele imaginava muito tradicional – afinal, eles vieram todos do Afeganistão.
Essa dificuldade de confiar, de se abrir, assim como o medo (ou dificuldade) de se abrir para a possibilidade de ser feliz, é totalmente explicada pela história cheia de perdas ou do temor de perder, de ser descoberto, de ser punido ou morrer. Difícil uma pessoa que passou pelo que Amin passou baixar a guarda. Mas os questionamentos feitos por Rasmussen fazem ele enxergar as origens deste temor e o que estava lhe impedindo de realmente iniciar uma vida nova e amorosa. Neste sentido, e nos outros já citados, Flee é transformador.
NOTA
9.
OBS DE PÉ DE PÁGINA
Então, minha gente, vou voltando com este espaço aos poucos. Espero que não seja “fogo de palha” e que eu consiga, de fato, algum tempo para assistir alguns filmes e comentar sobre eles por aqui nas próximas semanas e meses. É o meu sonho, admito. 😉 Veremos.
Eu tinha falado, no post anterior, sobre Don’t Look Up, que tinha apenas mais um filme indicado ao Oscar 2022 que eu fazia questão de assistir, né? Seria esse aqui, Flee, porque ele conseguiu algo inédito: concorrer no mesmo ano em Melhor Filme Internacional, Melhor Documentário e Melhor Animação. Só que aí eu fui ver a minha listinha de filmes do Oscar e encontrei outra produção que concorreu neste ano e que não ganhou nada mas que eu não vou poder evitar. Falarei sobre ela e sobre as razões de eu não poder ignorá-la no próximo post.
Assisti a Flee na semana passada. Então ainda tenho o filme bem “fresco” na memória. A proposta da produção, o olhar atento e a escuta ativa do diretor sobre o que era contado no filme, a forma como ele respeitou seu amigo e o protagonista desta história, oferecendo para ele um legítimo anonimato, e a forma como ele conseguiu resgatar as memórias e a história de Amin na mesma medida em que refletiu sobre sua realidade atual e sobre as cicatrizes que toda sua história lhe provocou foram marcantes. Sem dúvidas, junto com as técnicas de animação utilizadas nesta história, esses pontos foram os que mais me marcaram em Flee.
O filme levanta algumas questões importantes, como eu comentei antes. A Europa é um continente diverso, muito antigo, com as qualidades e defeitos que sua história e diversidade podem nos apresentar. Mas algo que a Europa deveria discutir, sempre, é a forma como ela lida com as diferenças e com as pessoas que vem de fora. Morei na Espanha por três anos e, mesmo não sendo em uma fase muito complicada para a economia da Europa quando eu vivi lá, percebi rompantes de xenofobia aqui e ali.
Importante os europeus não se esquecerem de seu passado. De tudo que fizeram mundo afora, da exploração e “conquista” de continentes e países até o extermínio de povos originários, o fomento da escravidão e a imigração de milhões de europeus para o Brasil e para outros países da América nos séculos XIX e XX. Eles deveriam levar tudo isso em conta quando pensam políticas públicas relacionados com imigrantes e refugiados que chegam no continente no século XXI.
Flee trata sobre isso. Sobre como uma pessoa que precisava de apoio e que não tinha culpa nenhuma sobre ter que fugir para sobreviver teve que mentir sobre sua vida e sua família para conseguir viver na Dinamarca. O anonimato dele se explica por isso – e por ele não querer ser o centro das atenções e sim sua história.
Gostei bastante de Flee, mas acho que o filme perde algumas oportunidades. Por isso, essencialmente, a nota acima. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Certo que o foco do diretor era o de narrar a história de Amin sob a perspectiva do amigo refugiado. O objetivo era centrar a história na perspectiva dele, o que torna a trajetória desse refugiado, ainda que particular, mais universal. Entendo isso. Mas acho que Flee poderia ser ainda melhor se tivesse explicado algumas questões, como a política de recepção de refugiados da Dinamarca e de outros países europeus – especialmente a Suécia, onde os irmãos de Amin vivem – e o contexto do Afeganistão quando da fuga da família e atual. Senti falta também de termos outras perspectivas em cena, como depoimentos/entrevistas de familiares de Amin. Acho que assim teríamos um quadro mais completo desta história.
Sobre a questão do anonimato e o filme ter sido realizado como animação para respeitar esse desejo do protagonista, achei muito interessante essa entrevista dada por Amin Nawabi para o ator Riz Ahmed, que é produtor executivo do filme, e que resultou nesta matéria do Los Angeles Times. Amin volta a ter imagem animada, ao invés de aparecer na conversa como uma pessoa, e comenta que ele queria justamente que sua história aparecesse, e não ele enquanto pessoa, para que ficasse mais fácil das pessoas que assistissem ao filme se identificarem com sua história. Funcionou, sem dúvida. Facilmente Flee desperta essa empatia e identificação, especialmente porque trabalha questões que são universais, como o sentimento de pertencimento a algum lugar – noção de lar, o desejo de ser livre, respeitado(a), de família, de aceitação e a busca da felicidade. Tudo isso faz parte dessa história.
Por falar em pessoas que fazem parte do filme, o principal nome da produção, além do protagonista, é claro, é o diretor e roteirista Jonas Poher Rasmussen. Ele que enxerga no amigo uma história incrível e que merecia ser contada. Rasmussen é que convence Amin a contar essa história e que consegue conduzir as entrevistas com ele nas direções certas, que mais contribuem para a narrativa. Belo trabalho.
Com 41 anos, esse diretor dinamarquês estreou no cinema em 2003 com o curta Easa 2002: A Journey to Vis. O primeiro longa dirigido por ele veio três anos depois: Noget om Hafdan, documentário que focava na vida e na trajetória do poeta dinamarquês Hafdan Rasmussen. Depois, ele filmou mais três curtas e dois documentários antes de lançar Flee, produção que realmente lhe deu uma projeção mundial.
Como a identidade de Amin é preservada durante o filme, não ouvimos sua voz. O protagonista desta produção é “interpretado” por Daniel Karimyar, na parte do filme em que vemos Amin na faixa etária entre os 9 e os 11 anos, e por Fardin Mijdzadeh quando ele tinha entre 15 e 18 anos e na fase adulta, como refugiado que é entrevistado pelo diretor.
Vale citar o bom trabalho dos atores que interpretam, além de Amin, seus irmãos. Milad Eskandari dá a voz para Saif quando ele tinha 8 anos de idade e Belal Faiz interpreta ele nas idades entre os 13 e os 19 anos; Elaha Faiz interpreta Fahima entre os 13 e os 18 anos, e Zahra Mehrwarz dá voz para ela quando Fahima tinha 28 anos; e Sadia Faiz dá voz para Sabia entre os 16 e os 26 anos de idade. Diversos outros nomes interpretaram traficantes de pessoas, policiais corruptos, entre outros.
Entre os aspectos técnicos da produção, além do roteiro e da direção de Rasmussen, vale citar a ótima e envolvente trilha sonora de Uno Helmersson; a competente (e imagino que difícil, pelo vasto material à disposição) edição de Janus Billeskov Jansen; e o fundamental trabalho da equipe de 59 profissionais envolvidos com o Departamento de Animação do filme. Entre os nomes que fazem parte desta lista, há um que, acredito, tenha tudo para ser brasileiro: Pedro Ivo Carvalho de Araújo Silva. Pesquisei sobre ele, mas não consegui saber nada sobre sua origem além de ter acesso à sua filmografia. Animador, ele tem alguns trabalhos bem interessantes no currículo. Seria bacana saber que um brasileiro está em projetos tão bacanas.
Além dos pontos já citados, vale trazer os nomes de outros profissionais envolvidos na produção: Jess Nicholls na Direção de Arte; Martin Hultman como designer gráfico responsável pelo Departamento de Arte; e Theo Boubounelle nos Efeitos Visuais.
Flee estreou em janeiro de 2021 no Festival de Cinema de Sundance. Depois, até março de 2022, o filme participaria, ainda, de 47 outros festivais e mostras de cinema pelo mundo. Nessa trajetória, a produção colecionou 91 prêmios e foi indicado a outros 141 – números impressionantes, não é mesmo? Mesmo não tendo ganho nenhuma estatueta no Oscar 2022, sem dúvidas o filme entrou como vencedor na disputa apenas pelo fato de ter sido indicado em três categorias importantes do prêmio máximo de Hollywood. Fez história por isso.
Entre os prêmios que recebeu, destaque para o de Melhor Filme de Animação Independente no “Oscar” do cinema animado que é o Annie Awards. No Festival de Cinema de Sundance, a produção ganhou o prêmio do júri como Melhor Documentário no World Cinema.
Além destes destaques, interessante verificar que Flee ganhou diversos prêmios como Melhor Documentário e outros tantos como Melhor Animação. Entre outras consagrações, vale citar os três prêmios recebidos pelo filme no Prêmio de Cinema Europeu, como Melhor Documentário Europeu, Melhor Filme de Animação Europeu e um prêmio especial da categoria de júri universitário. Flee foi indicado também como Melhor Filme de Animação no Globo de Ouro, mas ele perdeu a disputa para Encanto – vencedor também do Oscar na mesma categoria. Dependendo da premiação, Flee também se consagrou como Melhor Filme Internacional em diversas ocasiões.
Agora, vale citar uma ou duas curiosidades sobre a produção. Segundo os produtores de Flee, ao contrário do que muitos pensam, no filme não é utilizada a técnica da rotoscopia, que permite que os animadores utilizem vídeos como base para fazer animação quadro a quadro. Faria sentido usarem essa técnica em Flee já que a base de boa parte da produção são as filmagens feitas com Amin. Mas eles preferirem fazer a animação com a técnica de desenhos feitos à mão. Para quem quer saber mais sobre rotoscopia, achei interessante esse texto da Adobe sobre a técnica.
Além de participarem de Flee como produtores executivos do filme após ele ter sido lançado em Sundance, os atores Riz Ahmed e Nikolaj Coster-Waldau dublaram Amin e Rassmussen, respectivamente, na versão dublada em inglês da produção.
Contam os produtores do filme que, inicialmente, Rasmussen concebeu Flee como uma produção que seria veiculada em rádio. Depois, ele pensou em um curta-metragem que combinaria live-action (reprodução de sequências com atores, dramatização de cenas reais) e animação. Por fim, ele percebeu que precisaria converter a história em um longa-metragem, optando pelo caminho do “documentário animado”.
O diretor de Parasite (comentado por aqui no blog), Bong Joon Ho, colocou Flee na sua lista de “filmes favoritos” de 2021. Segundo o diretor, Flee era a “peça de cinema mais comovente do ano”.
Representante da Dinamarca no Oscar, Flee contou com recursos de diversos países. A fonte principal, claro, foi a Dinamarca, mas houve investimento também da França, Noruega, Suécia, Países Baixos, Reino Unido, Estados Unidos, Finlândia, Itália, Espanha, Estônia e Eslovênia.
Durante o filme, são falados cinco idiomas: dinamarquês, inglês, dari, russo e sueco.
Flee teria custado cerca de US$ 3,4 milhões e faturado, nos cinemas a nível mundial, cerca de US$ 655,8 mil. Claro que dá para entender esse “desempenho” baixo nas bilheterias porque este filme, como todos os outros lançados em 2021, tiveram uma série de restrições para chegar nos cinemas mundo afora por causa da pandemia de Covid-19. Então não medimos o sucesso de uma produção, nesta temporada, por este critério. Sem contar que Flee, por ter um caráter independente importante, foi muito mais um filme de festivais do que cinemas comerciais – seria assim mesmo sem a pandemia.
Os usuários do site IMDb deram a nota 7,9 para Flee, enquanto que os críticos que tem os seus textos linkados no site Rotten Tomatoes dedicaram 189 críticas positivas e apenas quatro negativas para o filme, o que lhe garante uma aprovação de 98% e uma nota média de 8,5. Muito bom o nível de aprovação do filme. Diferenciado.
O site Metacritic apresenta o “metascore” 91 para Flee, fruto de 33 críticas positivas. Além disso, o site apresenta o selo de recomendação “Metacritic Must-see”.
CONCLUSÃO
O tema dos refugiados é sempre angustiante. Nos faz pensar sobre os absurdos das guerras e dos conflitos e sobre o sofrimento que eles provocam. Alguns filmes já apresentaram este assunto, mas nenhum com os recursos e com o olhar diferenciado deste Flee. Um filme marcante, belo e triste na mesma proporção. Ao mesmo tempo, esta produção nos deixa uma mensagem de superação marcante. Bem conduzido, utilizando recursos diferentes para a narrativa e tocando em outros temas relacionados com a história do protagonista, Flee é inspirador e merece ser visto. Até para discutirmos algumas políticas e formas de pensar que ainda excluem pessoas ao invés de respeitá-las como deveria ser.
Uma resposta em “Flugt – Flee – Flee: Nenhum Lugar Para Chamar de Lar”
[…] Flee […]
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