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Killers of the Flower Moon – Assassinos da Lua das Flores


Um filme policial, com alguma dose de suspense e de drama, que é uma verdadeira revisão histórica sobre parte da construção dos Estados Unidos. Killers of the Flower Moon é um filme longo, bem verdade, mas que não cansa, que não parece arrastado ou com roteiro no estilo “encher linguiça” em nenhum momento. Um trabalho cheio de esmero do grande Martin Scorsese, com um ótimo elenco para encabeçar essa história que, infelizmente, fala sobre os Estados Unidos mas que poderia ser, guardada as devidas proporções, ser a história de várias outras partes, incluindo o Brasil. Até agora, o melhor filme da temporada.

A HISTÓRIA

Com as mãos levantadas, uma liderança osage (Talee Redcorn) preside uma cerimônia. Ele comenta que amanhã eles vão enterrar o cachimbo que ele segura nas mãos. Ele comenta que o cachimbo é o mensageiro deles para “wah-kon-tah”, e que está na hora de enterrar o objeto com dignidade e deixar para trás seus ensinamentos. O líder comenta que as crianças fora do local da celebração irão ouvir e aprenderão outro idioma, comenta que elas serão educadas pelos brancos, aprenderão novos modos e desconhecerão os modos dos osages.

No local, todos sentados, diversas pessoas começam a chorar com essas palavras. O líder, infelizmente, sabe o que fala. Isso tudo antes da grande mudança realmente acontecer naquelas terras. Espreitando do lado de fora, as crianças. Depois, os adultos saem do local levando o cachimbo, que depois é enterrado seguindo as tradições dos osages. Em seguida, vemos petróleo brotando do solo seco. O líquido acaba explodindo e os osages comemoram. Mal sabem eles que a riqueza que virá juntamente com aquele “ouro negro” irá mudar a vida daquele povo para sempre.

VOLTANDO À CRÍTICA

(SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Killers of the Flower Moon): Agora sim, posso dizer que assisti aos dois principais filmes em disputa no Oscar deste ano. Claro, ainda falta assistir a Barbie, outra produção que será bastante indicada nesta edição. Ao menos, tudo sinaliza para isso.

Mas já fico satisfeita com ter visto a Oppenheimer (comentado por aqui) e, agora, este Killers of the Flower Moon. Eu estava especialmente curiosa com o filme dirigido por Martin Scorsese. Para mim, um dos grandes cineastas de todos os tempos. Alguns dos meus filmes favoritos de sempre foram dirigidos por ele. E, novamente, nosso querido Scorsese não decepciona.

Devo dizer que eu estava um pouco com medo de ficar cansada com um filme que tem quase 3 horas e meia de duração. Quando comecei a assistir ao filme e vi sua duração, levei um susto. Mas então percebemos, pouco a pouco, a qualidade do roteiro de Eric Roth e Martin Scorsese, que se basearam no livro de David Grann.

O filme é longo, sim, bastante. Mas ele não nos deixa com sono. Pelo contrário. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). A história nos envolve do início ao fim com dois pontos de interesse óbvios: primeiro, a história central, que mostra como os brancos foram exterminando os osages para ficarem com suas terras ricas em petróleo; e, depois, a história secundária, que demora um bocado para aparecer, mas que dá nova dinâmica para a trama, e que tem a ver com os primórdios do trabalho do FBI.

Primeiramente, quero dizer que amei ver uma figura como Scorsese, com uma filmografia das mais admiráveis do cinema americano, abordando um tema tão importante. Nos Estados Unidos, como no Brasil, muito da riqueza de alguns (brancos, vamos combinar) foi feita através do extermínio dos povos originários.

Aqueles brancos não tiveram nem um segundo de peso na consciência por matar pessoas que eram diferentes deles. Killers of the Flower Moon aborda uma das famílias que promoveu o extermínio de forma direta, franca, sem pestanejar. (SPOILER – não leia… bem, você já sabe). Mesmo Ernest esboçando algum traço de “remorso” na reta final, fica evidente, por ele mentir na cara dura sobre o envenenamento da esposa, que ele não sentia culpa alguma por tudo aquilo. E ele, apesar de não ser muito inteligente, era responsável por seus atos, deixando a ambição falar mais alto do que o alabado “amor” que ele sentia pela esposa ou pelos filhos. Tudo uma grande balela.

Mas o melhor de Killers of the Flower Moon é que Scorsese e Roth nos contam essa história a partir da perspectiva de duas famílias: uma, da vítima, Mollie (Lily Gladstone), e a outra, dos algozes, Hale (Robert De Niro) e sua trupe. Com isso, evidentemente, conseguimos nos aprofundar um pouco mais na intimidade destas pessoas, suas maneiras de ser, de falar e de agir, assim como nas pessoas do entorno.

No fim das contas, Killers of the Flower Moon tem sim diversos personagens secundários, mas todos eles dão “corpo” aos personagens centrais. O roteiro em nenhum momento se perde por causa dos diversos personagens-satélite que orbitam ao redor dos personagens-solares. Isso é bastante importante para nos deixar entretidos, ao mesmo tempo que os personagens-satélite jogam um papel importante para nos mostrar o contexto daquele local e daquela época.

Killers of the Flower Moon é muito bem construído, tanto na narrativa quanto no visual. A reconstituição de época é algo de se tirar o chapéu. Irretocável, perfeita. Além da trama central, que já nos prende a atenção por causa de sua evolução dramática, com pitadas de angústia e de crescente tensão, ainda temos o início da trama secundária após duas horas de produção: o início das investigações por parte do FBI. Esse novo ingrediente reaviva nosso interesse. Afinal, os poderosos vão conseguir se livrar ou teremos alguma justiça nessa história?

Para uma pessoa como eu, que quando adolescente devorava livros da Agatha Christie e que atualmente ama obras e podcasts sobre true crime, todo o enredo dessa produção é naturalmente interessante. Claro, levo isso em consideração na hora de avaliar este filme. Realmente ele é tão bom quanto parece ou apenas a temática da produção me encanta?

Descontado todo o meu fascínio sobre os assuntos da produção – questões envolvendo revisão histórica, crimes reais e investigação policial que tem o FBI como importante agente do processo -, encarando Killers of the Flower Moon apenas como obra cinematográfica, vejo sim que este filme está recheado de qualidade.

Vejamos. Para começar, não é fácil construir uma narrativa de quase 3h30 de duração sem que o filme pareça longo demais. Depois, os elementos técnicos do filme são muito bem executados, assim como temos um elenco competente em cena – com poucos exageros aqui e ali, sem incomodar muito na dinâmica da produção. No geral, o filme é bem conduzido, envolvente, e nos apresenta uma história mais que importante.

Sou mais que favorável aos processos de revisões históricas. Acho que os países deveriam fazer isso cada vez mais. Para aprenderem com o passado e tentarem, desta forma, evitar erros e absurdos no futuro. Falei sobre isso em outras críticas por aqui. Elogiei a Alemanha por fazer isso. E agora Scorsese nos surpreende com uma produção que mostra um “american way of life” que certamente incomoda muita gente.

Certamente, muitos americanos não devem apreciar este filme. Afinal, Killers of the Flower Moon revela um lado sinistro, criminoso, do desenvolvimento dos Estados Unidos. Como comentei anteriormente, diversas pessoas daquele país, assim como diversas pessoas do Brasil, se “fizeram” e ficaram ricas, assim como seus descendentes, praticando crimes graves, incluindo mortes sequenciais, contribuindo para um cenário de extermínio dos povos originários.

No Brasil, também tivemos isso. Os “bugreiros” e suas caçadas e recompensas pelas mortes de índios que o digam. Essas figuras tenebrosas ganhavam por cabeça morta. Quem pagava? Certamente brancos que eram favorecidos com a ocupação de terras. Até hoje temos descendentes destes criminosos por aí, ostentando suas heranças “conquistadas” com a matança de inocentes.

Killers of the Flower Moon trata sobre isso, mas em uma parte dos Estados Unidos – e focando em um povo específico, os osages. Apenas por isso, rendo homenagens e bato palmas para Scorsese e toda a galera envolvida nessa produção. É preciso coragem para, nos Estados Unidos de 2023 e 2024, com a divisão e com a distopia que parte da população daquele país vive – como no Brasil, ainda, diga-se de passagem -, abordar uma história como essa. Por isso mesmo considero esse um dos filmes mais coragens e importantes desta temporada e dos últimos anos.

Somado a isso, temos o surgimento do FBI e de seus métodos investigativos. E tudo aquilo aconteceu porque os osages, incluindo a corajosa Mollie, foram até Washington para clamar por justiça e pedir apoio do governo federal para resolver uma questão que a polícia e a justiça local não eram capazes de resolver. Sim, houve resistência osage – apesar desta questão ser abordada apenas algumas vezes no filme.

A descoberta do petróleo em suas terras pelos osages trouxe bonança, muito dinheiro, mas também uma desgraça para aquele povo. (SPOILER – não leia… bem, você já sabe). Os brancos foram atraídos por toda aquela abundância de dinheiro e, pouco a pouco, como bom abutres que muitos deles são, souberam como “explorar” as “fraquezas” daquele povo originário para apoderarem-se de seus bens. A forma como faziam isso era a mais vil possível, e Killers of the Flower Moon aborda esta questão de forma muito franca e objetiva.

Gostei muito da condução da história, essencialmente linear, assim como na maneira com que os roteiristas se aprofundaram nas características individuais dos protagonistas e nas dinâmicas deles com os demais personagens. Muito bem construída a história. Os atores também fazem um belo trabalho, sem nenhum nome a destacar para além dos óbvios protagonistas. Lily Gladstone, em especial, parece um imã a cada cena, atraindo a atenção para si por sua beleza, carisma e pelo trabalho coerente que apresenta a cada minuto.

Para nós, talvez algumas questões pareceriam óbvias. Mas não o são. (SPOILER – não leia… bem, você já sabe). Para alguém de fora, talvez parecesse óbvio o que os osages deveriam fazer para se proteger: pararem de casar com brancos e casarem entre si. Bem, alguns faziam isso, como Killers of the Flower Moon mostra muito bem. Mas essa não era a alternativa para todos, especialmente após os brancos argumentarem, ano após ano, geração após geração, que eles traziam o “progresso” e a “evolução” para os osages.

Além disso, talvez alguns critiquem Mollie e sua “falta de ação”. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Mas será que não estamos olhando para ela com os critérios que temos hoje em dia? É preciso não apenas olhar de forma diferente para essa história avaliando o tempo histórico e a posição das mulheres naquela época, como é preciso entender a forma como os osages lidavam com seus conflitos e desenvolviam suas relações. Mollie não grita, não intimida, não surta, mesmo após ouvir tudo o que ouviu sobre as mortes de suas irmãs. Calmamente ela confronta Ernest (Leonardo DiCaprio) e depois lida com aquela situação.

Mas ela não é passiva. Em diversos momentos, ela impõe sua vontade e busca fazer o que é certo, mesmo que sua luta pela família acabe não sendo suficiente para frear a ambição assassina mais que próxima. (SPOILER – não leia… bem, você já sabe). Talvez a única questão que alguns levantem – e eu admito que levantei por um breve período de tempo – é o porquê dela não ter freado aquelas injeções ou ter saído de casa antes de quase ser morta pelo marido.

No início, eu acredito que ela se deixou levar pelo que sentia por Ernest e acreditou nele. Depois, acho que ela estava fraca demais para conseguir realmente ter uma atitude e sair daquela casa. Enfim, uma tragédia anunciada e que ela não conseguiu evitar, apesar de toda a intuição que ela tinha e dos indicativos que havia colecionado.

Mas quantas mulheres, em pleno 2024, não podem dizer que passaram ou passam pelo mesmo? Algumas relações, especialmente as manipuladas mas inicialmente baseadas no amor, são difíceis realmente de serem resolvidas apenas de forma racional. Algumas vezes a mulher precisa de ajuda para sair destas situações difíceis. Isso vale para a história contada por Killers of the Flower Moon como vale para diversas histórias ambientadas ao nosso redor em 2024.

Sem contar que, mesmo Mollie sabendo que Ernest gostava de dinheiro e que estava interessado nas terras que ela um dia poderia deixar para ele, certamente outras questões contaram mais para ela. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Entre outros pontos, Mollie acreditou que Ernest realmente gostava dela. Afinal, ele era carinhoso, atencioso, e ela achava ele bonito. Ele era ambicioso e gostava de dinheiro? Bem, parecia que poucos homens ao redor dela não eram assim. Ao menos os brancos.

Os osages tinham outra cultura e não davam a importância para o dinheiro que os brancos davam. Os povos originários em geral são assim. Eles costumam dar valor para o contato com a natureza, para a família, para a ancestralidade. Mas daí o dinheiro entra em cena e, muitas vezes, esses valores mais importantes e tradicionais para eles acabam se perdendo ou sendo corrompidos pelo dinheiro e tudo que ele traz de ruim.

Claro, precisamos de dinheiro para viver, afinal, vivemos em sociedades capitalistas. Mas faz sentido fazer tudo ou quase tudo por causa do dinheiro? Para mim, assim como para os osages, certamente que não. Killers of the Flower Moon nos mostra como a perda dos valores e da ancestralidade por causa do fascínio ou do domínio que o dinheiro pode provocar causa pequenas ou grandes tragédias. Não vale a pena. Disso, não tenhamos dúvida.

Mas muitas nações foram construídas com base na crença abjeta, indecente e criminosa de que os povos originários, sejam eles quais forem, eram “ignorantes” e “menos gente”, ou seja, poderiam ser comprados, vendidos ou simplesmente eliminados. No fim das contas, é sobre isso que Killers of the Flower Moon trata. Entre outros pontos que citei anteriormente. Um filme corajoso e importante por tratar sobre estes temas de forma tão franca. Os Estados Unidos, o Brasil, a Austrália e tantos outros lugares deveriam se envergonhar de parte de seu passado e tentar, mesmo que de forma tardia, trazer um pouco de justiça para os povos que foram massacrados no passado.

Eu não sou bisneta, neta ou filha de pessoas que pagaram para “bugreiros” mataram índios e, com esse extermínio, ficarem com suas terras. Se eu fosse herdeira, em alguma medida, de gente assim, certamente teria profunda vergonha e tentaria, mesmo com muito atraso, reparar em algo os absurdos feitos pelos meus antepassados. Não é o caso. E, infelizmente, e com tristeza, comento que duvido muito que alguma pessoa que se encaixa nesse perfil tenha a dignidade e a coragem de fazer o que é certo. Não farão. Porque para eles o dinheiro é mais importante do que a honra e as vidas de outras pessoas. Enfim…

Voltando para Killers of the Flower Moon. Para não dizer que o filme é perfeito – apesar dele aproximar-se muito da perfeição -, acredito que esta produção falha em um ponto. Achei genial como Scorsese termina a produção, resumindo alguns fatos no final como se estivéssemos vendo a transmissão e/ou gravação de um programa de rádio que contava a história do FBI – uma alusão interessante aos podcasts da atualidade? Mas, nesta parte, senti falta de Killers of the Flower Moon abordar outros assassinatos de osages que não tiveram a ver com a sanha de Hale pela riqueza sem fim.

Acho que faltou ali uma contextualização sobre o massacre dos osages para além da história particular que vimos no filme. Como é citado em algum momento da produção, dezenas de osages foram assassinados. Certamente, muitos por causa das mesmas razões que vimos em cena. Alguns, talvez, de forma sequenciada, como foi o caso da família de Mollie. Outros, nem tanto.

Faltou uma contextualização sobre quantos foram mortos em determinado período e sobre o que aconteceu com aquelas terras ou famílias, no geral. Apenas por isso essa produção não recebe a nota máxima. Não custava acrescentar algumas linhas, naquela sequência final, para trazer alguns números e informações. Ficamos na dúvida se os osages conseguiram prevalecer, mesmo que em pequeno número, e se há descendentes deles que resistem até hoje. A cena final da produção, que é de celebração, nos indica que sim. Um breve alento para um filme pesado, mas mais que necessário.

NOTA

9,8.

OBS DE PÉ DE PÁGINA

Então, minha gente, comecei 2024 com a meta de voltar a publicar uma crítica por semana por aqui. Espero que eu consiga! Afinal, já estamos na reta final para o Oscar e, desta vez, quero assistir aos principais títulos antes da premiação. Para conseguir dar conta do recado, algumas vezes talvez eu escreva algumas críticas mais curtas, mas objetivas. Espero que vocês entendam. 😉

Acredito que a maioria de vocês me acompanha por aqui há bastante tempo. Mas como sempre tem alguém novo chegando por aqui, acho que não custa comentar algo que é bastante óbvio para quem visita o blog há tempos. Eu NUNCA leio nada sobre nenhum dos filmes que eu assisto antes de passar pela experiência de assistir a produção. Sim, odeio spoiler. Por isso vivo dando esse alerta para quem, como eu, não gosta de saber de fatos importantes da história antes de assistir ao filme.

Sei que tem pessoas que não se importam com spoiler’s e que até procuram ler um bocado sobre um filme antes de assisti-lo. Há quem leia sinopse, há quem leia diversas críticas ou comentários antes de escolher o que vai assistir. Nenhum destes é o meu caso. Gosto de ser surpreendida pelos filmes e seus realizadores. De preferência, gosto de assistir a algo sem saber nada sobre a história antes. No caso de Killers of the Flower Moon, infelizmente, não consegui ser totalmente surpreendida pela produção.

Afinal, a expectativa da galera era tão grande e falaram tanto do filme antes dele estrear que foi impossível eu não saber sobre dois aspectos da produção. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme ainda). Eu sabia que o filme tratava sobre crimes que ocorreram na história dos Estados Unidos e que ele abordava o início das atividades do FBI. Esses elementos não foram surpresa, portanto. Não acho que saber sobre isso antes atrapalhou muito a minha experiência, mas o ideal seria não saber nem sobre isso.

Além de tentar evitar ao máximo saber sobre qualquer informação de um filme antes de assisti-lo, outra questão importante de comentar para quem está chegando por aqui agora: eu escrevo todas as partes das minhas críticas antes de pesquisar sobre as produções que estou comentando. Com isso, pretendo repassar ao máximo as minhas impressões antes de pesquisar sobre os filmes ou sobre as histórias reais por trás deles – quando for o caso de filmes com esse perfil. Assim, não estranhem que apenas essa seção aqui traz informações mais aprofundadas ou diferentes do restante do conteúdo – essa parte aqui é a última que eu escrevo. Nesta seção, busco pesquisar sobre o filme, sua história, e ampliar algumas informações sobre o que vimos na produção.

Dito isso, vamos aos comentários de sempre sobre o filme que eu assisti. Para mim, o ponto alto de Killers of the Flower Moon é o roteiro de Martin Scorsese e de Eric Roth. Um trabalho primoroso. Acho que eles respeitaram muito bem a história e seus personagens, acertando ao focar em uma sequência de crimes e não se perdendo em tentar se aprofundar nas dezenas de assassinatos dos osages. Essa escolha permitiu que nos aproximássemos mais dos personagens e que eles fossem apresentados com uma maior profundidade, sempre com um olhar atento e cuidadoso aos detalhes e as interpretações do diretor.

Como quem me acompanha aqui sabe, para mim, um filme sai da categoria bom para chegar até o patamar de excelente por causa do roteiro. Essa é a parte fundamental de qualquer produção. Então o roteiro de Scorsese e de Roth, que sabe conduzir a história muito bem, de maneira envolvente e sem nos fazer perceber as quase 3h30 do filme, é o que torna Killers of the Flower Moon um filme bem acima da média.

Além deste elemento ser o ponto forte do filme, a direção de Scorsese também é uma aula de cinema. Diferente do colega Christopher Nolan, que, evidentemente, sabe dirigir um filme, mas que usou diversos recursos batidos e alguns outros desnecessários em Oppenheimer, Scorsese aqui nos apresenta todos os recursos esperados de um filme que mistura as categorias policial, drama, suspense e uma importante carga histórica, valorizando cada ator em cena ao mesmo tempo que ele destaca as culturas envolvidas na história, a época e o contexto regional.

Não tenho dúvidas que tanto Scorsese quanto Nolan dominam todas as técnicas do cinema. Eles sabem nos envolver com suas narrativas mas, particularmente seguindo o meu gosto, gosto mais do trabalho de Scorsese na direção de Killers of the Flower Moon do que de Nolan em Oppenheimer. Isso já deixei evidente, acredito, com as críticas dos respectivos filmes. Para mim, Scorsese não quer inventar a roda e nem tem rompantes de fazer um filme “arte”. Ele quer nos apresentar um filme envolvente, bonito, eficaz, e consegue fazer isso à perfeição.

Além do roteiro e da direção, Killers of the Flower Moon chama a atenção, logo nos primeiros minutos, por causa da direção de fotografia e da trilha sonora. Trabalhos perfeitos do grande Rodrigo Prieto e de Robbie Robertson, respectivamente. Espero que ambos sejam indicados ao Oscar. Conforme a história evolui, outra característica que acaba chamando a atenção é a edição de Thelma Schoonmaker, assim como todos os aspectos técnicos relacionados com a reconstituição de época.

Neste sentido, vale destacar o trabalho de Jack Fisk no design de produção; de Jordan Crockett, Spencer Davison, Michael Diner, Marisa Frantz, Matthew Gatlin e Meghan McClure na direção de arte; de Adam Willis na decoração de set; de Jacqueline West nos figurinos; e o trabalho de nada mais, nada menos que 91 profissionais de Departamento de Arte. Vale citar, ainda, o belo trabalho dos 82 profissionais que trabalharam no Departamento de Maquiagem. Todos eles foram importantes para o filme ter a qualidade visual e técnica que ele tem.

E o que falar sobre o elenco de Killers of the Flower Moon? Como não é de se surpreender quando falamos de um filme de Scorsese, claro que temos um elenco estelar e que também dá espaço para talentos menos conhecidos e que foram ótimos em seus papéis. Pela relevância de seus personagens na história, evidentemente que o maior destaque vai para Leonardo DiCaprio, Lily Gladstone e Robert De Niro. Os três estão ótimos em seus papéis, com um leve destaque adicional para Lily. Afinal, depois de tantos anos assistindo a DiCaprio e De Niro, sabemos o que esperar deles. E eles nos entregam. Mas Lily traz novidade e acaba surpreendendo mais por isso. Mas os três estão ótimos.

Além deles, temos vários atores e atrizes em papéis menores que também brilham em cena. Começo destacando as atrizes que dão vida para a família de Mollie. Estão ótimas em cena Tantoo Cardinal como Lizzie Q, matriarca da família; Cara Jade Myers brilha muito como Anna, a irmã caçula de Mollie e a mais “rebelde” e independente delas; Janae Collins interpreta Reta; e Jillian Dion interpreta Minnie.

Além das atrizes, que fazem um ótimo trabalho enquanto estão em cena, vale comentar o desempenho de Scott Shepherd como Byron Burkhart, o irmão mais velho de Ernest e braço direito de Hale; Jason Isbell muito bem como Bill Smith, que se casa com duas irmãs de Mollie; William Belleau como Henry Roan, mais uma vítima da série de crimes que vemos em cena; Louis Cancelmi como Kelsie Morrison, um dos matadores; Tommy Schultz como Blackie Thompson, um dos criminosos; Ty Mitchell muito bem como John Ramsey, um coitado que torna-se criminoso um bocado por desespero; e Jesse Plemons como Tom White, um dos líderes das investigações do recém-formado FBI.

Alguns outros nomes ganham relevância na história e vale citá-los. John Lithgow como o promotor Peter Leaward; Brendan Fraser como o advogado de defesa de Hale, W.S. Hamilton; Talee Redcorn como Non-Hon-Zhin-Ga, líder tradicional dos osages; Tatanka Means como John Wren, um dos investigadores do FBI, único de origem indígena; Steve Witting e Steve Routman como os médicos James e David Shoun, interessados em ganhar dinheiro e servir a Hale e nada interessados em salvar vidas – especialmente as dos osages.

Não sei vocês, mas achei todas as interpretações condizentes com os personagens, com alguns atores entregando realmente o que a gente esperava – ou até um pouco mais. Com uma exceção: Brendan Fraser. Achei a interpretação dele como o advogado de Hale alguns tons acima do necessário. Ou seja, em outras palavras, exagerada. Será que Fraser só vai conseguir fazer entregas desse jeito a partir de agora, pós-Oscar? Honestamente, me dá preguiça, um pouco, quando os atores saem do esquadro e tem dificuldade de voltar. Com todo o respeito ao ator e sua trajetória, mas me dá preguicinha…

Killers of the Flower Moon estreou em maio de 2023 no Festival de Cinema de Cannes. Depois, o filme participou de outros oito festivais. Até o momento, o filme ganhou 67 prêmios e foi indicado a outros 240. Entre os prêmios que recebeu, destaque para os de Melhor Atriz para Lily Gladstone, de Melhor Diretor para Martin Scorsese e de Melhor Filme conferidos pelo National Board of Review.

O filme foi indicado em sete categorias do Globo de Ouro 2024: Melhor Filme – Drama, Melhor Diretor para Martin Scorsese, Melhor Atriz – Drama para Lily Gladstone, Melhor Ator – Drama para Leonardo DiCaprio, Melhor Ator Coadjuvante para Robert De Niro, Melhor Roteiro e Melhor Trilha Sonora.

Enquanto eu publicava esse texto por aqui ontem no final da noite, estava rolando a cerimônia de entrega do Globo de Ouro. Killers of the Flower Moon ganhou um único prêmio na noite, o de Melhor Atriz – Drama para Lily Gladstone, que fez um discurso bem bacana resgatando e fazendo reverência para suas raízes e comentando como o prêmio que ela recebeu era histórico. Os demais prêmios importantes foram ganhos por Oppenheimer. Isso pode se repetir no Oscar? Pode. Mas também pode que tenhamos algum nível de surpresa já que o Globo de Ouro há muito tempo deixou de ser uma prévia do prêmio da Academia.

Os usuários do site IMDb deram a nota 7,8 para Killers of the Flower Moon, enquanto que os críticos que tem seus textos linkados no site Rotten Tomatoes dedicaram 416 críticas positivas e 32 negativas para a produção, o que garante para o filme o nível de aprovação de 93% e uma nota média de 8,6. Chama a atenção, em especial, a nota e o nível de aprovação entre os críticos.

O site Metacritic apresenta o “metascore” 89 para Killers of the Flower Moon, fruto de 57 críticas positivas e seis medianas para o filme, além do selo “Metacritic Must-see”. Entre os usuários do site, a nota para o filme é de 7,7.

Nas bilheterias, o filme não foi tão bem quanto os realizadores gostariam. A produção, que teria custado cerca de US$ 200 milhões, faturou nos Estados Unidos apenas US$ 67 milhões segundo o site Box Office Mojo. Nos outros países em que o filme estreou, ele faturou outros US$ 89 milhões. Ou seja, no total, Killers of the Flower Moon teria faturado cerca de US$ 156,3 milhões. O filme teve um impacto bem menor que Oppenheimer. Sinceramente, não vejo o porquê. Será que porque Nolan virou o queridinho do cinema de Hollywood e Scorsese ficou um pouco esquecido ou porque a temática de Killers of the Flower Moon chamou menos a atenção que Oppenheimer?

Os dois filmes narram fatos históricos e tem temas “espinhosos”, então por que Oppenheimer foi tão melhor que seu concorrente? Em linhas gerais, me parecia que Killers of the Flower Moon tinha um potencial maior de chamar o público ao cinema. Mas Oppenheimer conseguiu um burburinho importante, a exemplo de Barbie, e virou um dos fenômenos de bilheteria de 2023. Não acho isso injustificado. Mas acho muito estranho o mesmo não ter acontecido com Killers of the Flower Moon.

Talvez nos Estados Unidos isso se explique pela preguiça que a maioria dos americanos tem de olhar de forma crítica para o próprio passado da nação. Eles querem a América “grande novamente” e o quanto menos pensarem e serem críticos ao se olharem no espelho, melhor. Ok se for por isso, dá para entender. Mas e o resultado do filme nos outros países? Apenas US$ 89 milhões de bilheteria nos outros mercados fora dos Estados Unidos achei muito pouco. O filme mereceria muito mais. Talvez o interesse na produção aumente com as indicações do filme ao Oscar, mas acho difícil ele recuperar-se o suficiente.

Killers of the Flower Moon é uma produção 100% dos Estados Unidos. Por causa disso, o filme entra aqui na lista de produções que atende a uma votação feita há séculos atrás aqui no blog. Uma curiosidade sobre o filme – outras curiosidades eu deixarei para comentar posteriormente: Killers of the Flower Moon apresenta quatro idiomas durante a produção. A saber: inglês (por óbvio), sioux, latim e francês.

Antes de publicar esse conteúdo, vale citar uma ou duas curiosidades sobre Killers of the Flower Moon. Fica evidente, especialmente pelas cenas finais do filme, que esta produção é especial para o grande Martin Scorsese – um dos grandes diretores da história do cinema mundial. Segundo Scorsese, logo depois que ele terminou a leitura do livro homônimo de David Grann, ele sabia que precisava transformar aquela história em filme. Segundo notas da produção, Scorsese passou várias horas com o líder da nação Osage para convencê-lo a ajudar com as filmagens.

O autor David Grann dedicou uma década de sua vida para pesquisar o material que rendeu o livro Killers of the Flower Moon: Oil, Money, Murder and the Birth of the FBI. Fiquei curiosa para ler o livro, devo admitir.

Lily Gladstone tem 22 trabalhos no currículo como atriz – sendo 15 filmes lançados no cinema, um filme feito para a televisão, dois curtas e quatro séries de TV. No auge da pandemia de Covid-19, Lily estava se inscrevendo em um curso de análise de dados quando ela recebeu uma notificação sobre uma solicitação de reunião on-line com Scorsese.

Na época, Lily estava considerando mudar de carreira, porque aquela fase estava complicada para atuações. Mas logo que a reunião com Scorsese começou, o diretor sabia que tinha encontrado a protagonista do filme. Foi instantâneo. Killers of the Flower Moon está dando uma visibilidade para a atriz que ela não teve anteriormente – não que eu lembre, ao menos. E claro que foi e é merecido.

Conforme Scorsese, algumas vezes Robert De Niro ficou irritado com as frequentes improvisações de DiCaprio. Em certas ocasiões, Scorsese e De Niro se olhavam, reviravam os olhos e falavam para DiCaprio que ele não precisa de certos diálogos que ele tinha inventado. Fiquei imaginando esses momentos… devem ter sido engraçados.

Bueno, outras curiosidades sobre esta produção trarei por aqui mais pra frente, beleza? Até breve!

Voltei! Hehehehehehe. Como eu não quero “bobear” e deixar o tempo passar sem comentar ao menos um filme por semana, o ideal é mesmo que eu encerre logo os comentários dessa crítica para logo poder focar na próxima produção que vou comentar por aqui.

Vejam que interessante. Inicialmente, DiCaprio havia sido escalado para interpretar o agente do FBI Tom White. Quando Scorsese decidiu mudar o foco de boa parte da produção para que a história focasse mais na relação entre Mollie e Ernest, DiCaprio assumiu o papel de Ernest e Jesse Plemons foi escalado para viver o agente do FBI.

O responsável pela trilha sonora do filme, Robbie Robertson, morreu dois meses antes de Killers of the Flower Moon ser lançado. Falando em últimos trabalhos da carreira e da vida, esse foi o último trabalho do ator Larry Sellers, que deu vida para Non-Hon-Zhin-Ga, uma das lideranças osages que vemos em cena. De descendência osage e cherokee, Larry também era instrutor da língua osage.

Vejam que interessante – e chocante: William Hale tinha cerca de 45 anos de idade quando os assassinatos de osages começaram. Robert De Niro, que interpreta Hale no filme, tinha 80 anos na época do lançamento de Killers of the Flower Moon. Fiquei impressionada por saber que Hale mandava e desmandava tanto com 45 anos de idade… se bem que, para a época, pouco antes dos anos 1920, um homem com essa idade já tinha passado bastante da metade de sua vida… os tempos eram outros, a expectativa de vida também, então alguém com 45 anos realmente estava no “auge” da sua trajetória. Dá para entender…

Segundo as notas de produção, Killers of the Flower Moon seria o filme biográfico mais caro da história, superando o recorde de outro filme de Scorsese, The Irishman (com crítica neste link), que teria custado US$ 159 milhões. Killers of the Flower Moon também seria o filme censurado mais caro que se tem registro – os Estados Unidos trabalham com um sistema de classificação por idade diferente de outros países. O filme anterior com a mesma classificação e com custo tão grande tinha sido The Matriz Ressurections, que custou US$ 190 milhões.

Para interpretar o protagonista deste filme, DiCaprio recebeu US$ 30 milhões, o maior salário de sua carreira até aqui.

Enquanto Mollie era, na vida real, 10 anos mais velha que Ernest, Lily Gladstone é 12 anos mais nova que DiCaprio.

A previsão inicial é que Killers of the Flower Moon começaria a ser filmado em março de 2020. Mas com o início da pandemia de Covid-19, o filme foi adiado. No fim, ele foi rodado entre abril e outubro de 2021.

Para o filme ser ambientado na época certa, vários edifícios e ruas na cidade de Pawhuska, em Oklahoma, foram remodelados para parecerem como na década de 1920.

Uma questão que talvez tenha chamado a atenção de vocês durante o filme – chamou a minha atenção, ao menos – é sobre as razões de Mollie e de vários outros osages terem tutores e não poderem decidir por conta própria onde gastar o dinheiro que recebiam da exploração do petróleo nas suas telas. Pois bem, no início do século XX, os tribunais consideravam a maioria dos osages incapaz de administrar suas próprias finanças. Geralmente eles tinham um “superintendente” branco que fazia essa administração – isso, evidentemente, predominava entre as mulheres, mas também acontecia com diversos homens. Quando uma mulher osage casava com um homem branco, automaticamente ele passava a administrar os recursos que eram dela.

Para quem ficou curioso(a) como eu sobre o livro de Grann e sobre os fatos que inspiraram Killers of the Flower Moon, vale dar uma conferida nessa reportagem da BBC de 2017 que trata sobre a obra – ou seja, antes da adaptação cinematográfica. (SPOILER – não leia se você ainda não assistiu ao filme). Grann comenta que em seu livro ele dá destaque para Mollie e para o que aconteceu com a família dela. Mas, apesar disso, os crimes envolvendo os osages, que teriam vitimado cerca de 60 pessoas, teria envolvido dezenas de pessoas e não apenas um líder e seus cúmplices, como vemos no filme. Isso meio que deu para entender já assistindo a produção, não é mesmo? Mesmo que o roteiro não traga a contextualização no final, fica subentendido.

Interessante que, inicialmente, a versão do roteiro de Roth focava mais na investigação policial envolvendo os crimes cometidos contra os osages, com DiCaprio como o agente do FBI conforme comentei antes, até que o ator pediu para o roteiro ser reescrito e para que a pegada do filme fosse mais sobre o drama humano envolvendo Mollie e o marido, com ele interpretando esse último papel. A Paramount, que encabeçava o projeto, viu que o filme deixaria de ser um thriller de ação com apelo comercial para assumir a característica de um “drama psicológico melancólico”. Então o estúdio autorizou DiCaprio a comprar o projeto, que acabou indo parar nas mãos da Apple Studios. Uma mudança corajosa de rumo, sem dúvidas, e que, para mim, funcionou.

Particularmente, gostei muito da aparição de Martin Scorsese nos minutos finais da produção. E há algo interessante sobre a escolha do diretor para aparecer em cena. (SPOILER – não leia… bem, você já sabe). Scorsese disse que resolveu aparecer em cena para ler o obituário de Mollie porque ele não tinha certeza se conseguiria orientar um ator na medida certa para que ele expressasse a mudança de tom indicada para aquela cena. Além disso, o diretor quis assumir a própria responsabilidade no papel que desempenhou de transformar os “assassinatos os osages em entretenimento”. Interessante. É uma forma de ver. Sim, virou filme. Mas mais que entretenimento, acho que a produção cumpre seu papel de denúncia e de fazer pensar.

Achei outras leituras interessantes sobre a história dos osages e dos crimes que inspiraram a obra de Grann e, agora, o novo filme de Scorsese. Para quem quiser saber mais, indico as seguintes leituras: esta reportagem de Juan Carlos Galindo para o El País; esta outra matéria de Pedro Ezequiel para o Giz_br do UOL; e, por fim, esta matéria de Kelly Miyashiro para a Veja sobre algumas reclamações de pessoas da tribo Osage sobre como a história deles foi adaptada para os cinemas.

CONCLUSÃO

Filme corajoso e quase perfeito. Entre as produções que devem encabeçar as indicações ao Oscar 2024, até o momento, achei esta a melhor. Martin Scorsese nos apresenta uma história longa, cheia de detalhes, mas muito necessária. Importante um diretor como ele, gigante, com uma filmografia de peso, encabeçar uma produção que desconstrói um pouco do mito da construção dos Estados Unidos.

Com uma narrativa envolvente, mesmo sendo um filme longo, ele não cansa. Prende nossa atenção do início ao fim ao optar por focar em uma família e seu entorno de crimes, além de narrar a origem do FBI. Roteiro bem escrito, com ótimos atores e demais características técnicas sem ressalvas, o filme só não leva nota 10 porque faltou um pouco mais de contextualização sobre outras histórias similares sobre massacre dos osages. Mas o filme beira a perfeição. Vale ser visto, sem dúvidas.

PALPITES PARA O OSCAR 2024

Juntamente com Oppenheimer (com crítica neste link), Killers of the Flower Moon deve ser um dos filmes mais indicados ao Oscar deste ano. Acredito que ele seja também o único que pode tirar alguns dos principais prêmios de Oppenheimer. Sim, as bolsas de apostas e os especialistas colocam o filme dirigido por Christopher Nolan como o favorito em diversas categorias, mas se existe algum filme que pode vencer essa produção, especialmente como Melhor Filme, é esta produção.

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood divulgou no dia 21 de dezembro a lista de filmes que avançaram na disputa de 10 categorias do Oscar. Eles chamam esse anúncio de “shortlists”. Pois bem, das cinco categorias em que Killers of the Flower Moon poderia buscar uma vaga, a produção conseguiu avançar em quatro delas. O filme está entre os semifinalistas de Maquiagem e Cabelo, Melhor Trilha Sonora, Melhor Canção Original e Melhor Som.

Segundo as bolsas de apostas, Killers of the Flower Moon pode ser indicado em 13 categorias, a saber: Melhor Filme; Melhor Diretor para Martin Scorsese; Melhor Atriz para Lily Gladstone; Melhor Ator para Leonardo DiCaprio; Melhor Ator Coadjuvante para Robert De Niro; Melhor Roteiro Adaptado; Melhor Fotografia; Melhor Figurino; Melhor Edição; Melhor Maquiagem e Cabelo; Melhor Design de Produção; Melhor Trilha Sonora; e Melhor Som.

Da minha parte, considero sim que Killers of the Flower Moon merece ser indicado nessa porrada de categorias. Agora, em quantas delas ele realmente tem chance de ganhar? Segundo quem aposta no Oscar, o filme lidera apenas na categoria Melhor Roteiro Adaptado, mas em um empate técnico com Oppenheimer. Nas categorias Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz, Melhor Fotografia, Melhor Edição e Melhor Trilha Sonora, o filme aparece em segundo lugar na disputa, pouco atrás de Oppenheimer ou de outras produções.

Pessoalmente, acho que o Oscar será uma bela loteria. Ou Hollywood faz uma grande reverência ao badalado Christopher Nolan e a sua história sobre um “herói americano” (guardadas as devidas proporções, com a falta de profundidade que o filme tem sobre esse personagem, o que é bom para o país de origem da premiação), ou ele tem a coragem de premiar um grande cineasta que não se importa de contar uma parte da história questionável dos Estados Unidos de forma franca.

Eu prefiro, sem dúvidas, Killers of the Flower Moon, não apenas pela história que ele nos conta, mas pelo filme ter me deixado envolvida muito mais do que seu concorrente. Sem contar que os “defeitos” de Killers of the Flower Moon me parecem muito menores do que de Oppenheimer. Enfim, se fosse eu a pessoa a desempatar essa disputa, eu não teria dúvida em voltar no filme de Scorsese.

Mas… como eu não apito nada e quem vota são outras pessoas, não me surpreenderei que eles escolham Oppenheimer e a “juventude” de Nolan. No dia da premiação, contudo, estarei torcendo por Scorsese e sua turma. Ou por algum outro filme desta temporada… já que ainda faltam algumas produções bem cotadas para eu assistir. Veremos se alguma outra rouba o meu coração e a minha torcida. 😉

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 25 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing, professora universitária (cursos de graduação e pós-graduação) e, atualmente, atuo como empreendedora após criar a minha própria empresa na área da comunicação.

2 respostas em “Killers of the Flower Moon – Assassinos da Lua das Flores”

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