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Das Lehrerzimmer – The Teacher’s Lounge


Um local que deveria ser seguro, acolhedor, propício para o desenvolvimento e para o aprendizado. A escola deveria ter estas características e este papel. Mas nem sempre é assim. Especialmente nos dias atuais, com tantos conflitos latentes em tantas partes mundo afora. Das Lehrerzimmer aborda uma história complexa. Inicialmente, o enredo parece simples. Mas quando paramos para pensar em tudo que vimos, percebemos como Das Lehrerzimmer tem diversas camadas. Um filme importante, especialmente para refletirmos sobre o que andamos fazendo e que tipo de caminhos queremos perseguir logo mais.

A HISTÓRIA

A professora Carla Nowak (Leonie Benesch) está falando ao telefone. Ela diz que o fato que ela narrou aconteceu na semana anterior. Ela pede um tempo e diz que ainda está no telefone, ouvindo, quando o colega Oskar Kuhn (Leonard Stettnisch) a chama para outro compromisso. Carla anota alguns números na mão e diz que vai manter contato. Depois de desligar o telefone, toca o sinal da escola. Carla desce as escada, cumprimenta alguns alunos e chega até a reunião com alguns colegas. Pede desculpas pelo atraso, e Oskar diz que o professor Thomas Liebenwerda (Michael Klammer) já adiantou o problema.

Na sala, estão dois alunos. Eles dizem que não sabem quem foi. Os professores perguntam se eles desconfiam de alguém ou se notaram algo diferente recentemente. Thomas pergunta especificamente se eles notaram algum colega agindo de forma estranha. Os professores dizem que sabem que é uma situação desconfortável, e Carla diz que não apenas para os alunos. Oskar diz que eles devem resolver a situação juntos e que os representantes de classe têm sua responsabilidade. A aluna responde que não sabe de nada, mas esse encontro será apenas o primeiro de uma série de situações ruins causadas por furtos na escola.

VOLTANDO À CRÍTICA

(SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Das Lehrerzimmer): Assisti a esse filme há cerca de duas semanas, antes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood divulgar os indicados ao Oscar deste ano. Pois bem, dito isso, vamos aos pontos principais que chamaram a minha atenção nesse filme, levando em conta essa “distância temporal” que eu tenho de tê-lo vivenciado – isso faz um pouco de diferença.

Quando assisti a Das Lehrerzimmer, ele ainda era apenas um dos filmes que fazia parte da “shortlist” do Oscar na categoria Melhor Filme Internacional. Ou seja, ele ainda era apenas uma possibilidade. Quando escrevo essa crítica, ele é um fato. A produção alemã dirigida por Ilker Çatak conseguiu uma das cinco vagas entre os finalistas na disputa. E foi merecido. Claro, ainda não posso dizer isso com 100% de convicção, porque ainda não vi aos outros filmes semifinalistas ou mesmo ampliei essa vivência com os demais da lista de representantes de 88 países, mas posso dizer que entendo ele ter chegado até a cobiçada lista dos cinco.

Como eu disse no início deste conteúdo, Das Lehrerzimmer parece, inicialmente, um filme simples, algumas vezes denso, outra vezes um tanto “pueril”. Mas ele é muito mais que isso quando paramos para pensar um pouco melhor sobre o que acabamos de ver.

Vamos falar sobre o óbvio, inicialmente. Das Lehrerzimmer trata sobre questões caras para os alemães e para os europeus em geral. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme ainda). Quem já viveu em solo europeu por um período, sabe que a questão da xenofobia e as discussões sobre os diversos imigrantes que vivem por lá fazem parte da pauta do dia a dia. Ok, eles podem não falar sobre esses temas diariamente. Mas volta e meia o assunto “nós e eles” vêm à tona.

Então, evidentemente, que um dos temas fortes de Das Lehrerzimmer é justamente esse desconforto, essa desconfiança e, em alguns casos, a xenofobia que rola em solo europeu – e alemão, por consequência. E o pior: incluindo crianças e seus pais, incluindo o ambiente escolar. Essa é uma das questões que mais provoca desconforto nesta produção. Mas não apenas ela. Aquele ambiente escolar, que deveria ser de aprendizado, diversão, companheirismo, amizades e reforço de bons valores, acaba sendo um cenário de incentivo a “delatores”, desconfiança, acusações ou insinuações. Enfim, um ambiente hostil.

Algo que me chamou muito a atenção em Das Lehrerzimmer é na forma como o diretor Ilker Çatak escreveu esse roteiro e construiu essa história ao lado do roteirista Johannes Duncker. Os dois, responsáveis pelo roteiro, nos apresentaram uma história que parece simples, mas que vai tornando-se complexa pouco a pouco. E sem exageros ou pirotecnia. Os “fatos” vão se sobrepondo e se encadeando um após o outro de uma maneira muito natural e, apesar disso, um bocado angustiante.

Então vamos lá. Logo no início, somos apresentados para uma situação incômoda. Aquela “reunião” entre professores e dois alunos, representantes de uma turma, para falar sobre “possíveis responsáveis” por furtos que estão acontecendo na escola, já nos apresenta para o cerne da questão. Uma situação que poderia ser resolvida de uma forma tranquila, lógica, com a direção e os professores da instituição de ensino não fazendo um pré-julgamento dos alunos e sim ampliando o campo de visão para todas as pessoas que frequentavam o local, acaba sendo tratada com um viés muito bem definido. E cheio de preconceito.

Os professores que começam a apontar os dedos para os alunos não estão desconfiados dos “alunos padrão”, dos filhos de alemães com muitas gerações nascidas no país. Eles estão desconfiados dos filhos dos imigrantes. Talvez as crianças já nasceram ali, mas, apesar disso, elas nunca são vistas como alemãs de verdade. Esse é o princípio da xenofobia. Você encarar como “estranho”, diferente, como “eles contra nós” quem não tem diversas gerações nascidas no seu país.

Qual é a lógica por trás disso? Não há lógica alguma! É preconceito puro e simples. Como se cada país não tivesse em sua origem uma miscigenação considerável. Não importa se estamos falando da Alemanha. Seja lá, seja aqui, grande parte da nação é feita de pessoas que tiveram suas origens em muitos outros países e continentes. Não existe raça pura. Nunca existiu. Talvez nos primórdios da humanidade, mas isso já está distante de nós há muitos milhares de anos.

Então Das Lehrerzimmer é puro incômodo. Desde o princípio e conforme a história vai avançando, percebemos que não apenas nós estamos incomodados. A protagonista desta história também. Mais para a frente na narrativa, descobrimos que a professora Carla Nowak (interpretada pela excelente Leonie Benesch) também “veio de fora”. Quando ela é entrevistada por alunos, para uma publicação estudantil, eles perguntam sobre o sobrenome dela, Nowak, que seria de origem polonesa. Ela responde que sim, mas que ela nasceu na Alemanha e que os país dela estão no país desde os anos 1960.

Daí surge uma segunda camada nessa narrativa que eu achei especialmente interessante. E importante. (SPOILER – não leia se você não assistiu a Das Lehrerzimmer ainda). Carla tem uma visão diferente dos colegas porque chegou na escola no início do semestre. Filha de poloneses, apesar de ter nascido na Alemanha, certamente ela já sentiu na pele, em algum momento, essa “estranheza” e certa “aversão” de quem é “alemão de verdade” (o que não existe, para mim) em relação a alguém que veio com a família “de fora”. Então ela olha para toda aquela “inquisição” dos colegas professores contra os alunos, especialmente os que não são “alemães há muitas gerações”, com repúdio, desconforto. Ela quer tentar resolver aquilo de outra forma.

Mas então o que ela faz? Ao ver uma outra professora catando moedas colocadas de forma voluntária para ajudar com os custos do café compartilhado na sala dos professores, algo muito, mas muito mesquinho e estranho, ela resolve colocar um plano em prática. Desconfiada que a pessoa que está furtando objetos na escola pode ser um(a) professor(a) e não um(a) aluno(a), ela monta uma certa armadilha deixando um pouco de dinheiro no casaco e a câmera do notebook filmando. A ideia não era de todo ruim, mas se tivesse sido bem empregada.

Eu faria o mesmo que ela. Mas com uma técnica um pouco diferente. Teria deixado uma câmera ligada ao notebook um pouco mais distante ou colocado uma câmera oculta em alguma prateleira para realmente flagrar a pessoa que furtou o dinheiro sem margem para dúvidas. Depois disso, teria tentado reunir mais provas, teria tentado flagrar a pessoa em outras situações, antes de acusar. Mas nossa protagonista não é cuidadosa. Muito pelo contrário. E isso provoca o caos.

Sim, ela era uma defensora dos alunos. Sim, Carla estava muito incomodada com aquela inquisição contra os estudantes e com o ambiente hostil no qual a escola estava se transformando. Como ela tinha começado a atuar no local no início do semestre, possivelmente ela não quis “peitar” mais os colegas argumentando por A + B como aquela situação era absurda. Então ele demonstrou desconforto em algumas ocasiões, chegou a falar algumas coisas, mas nunca se posicionou de forma dura contra tudo aquilo.

Daí vem a outra camada que comentei. De como pessoas bem-intencionadas, até idealistas, acabam, sem notar, sendo engolidas “pelo sistema”. E o que isso significa, na prática? É a pessoa acabar recorrendo a práticas erradas e fazendo, até certa medida, o mesmo que estava condenando há pouco apenas para provar seu ponto de vista contrário ao que estava acontecendo.

Em sua ânsia por provar que os colegas professores estavam errados em acusar os alunos, Carla acaba apontando o dedo para uma funcionária e mãe de um dos alunos. Sim, a culpa não recaiu sobre um aluno. Mas os dedos todos foram apontadas para uma funcionária do local que, além disso, era mãe do melhor aluno da classe de Carla.

(SPOILER – não leia… bem, você já sabe). Algo genial no filme de Ilker Çatak é que, no fim das contas, não temos certeza sobre a culpa de Friederike Kuhn (Eva Löbau), mãe de Oskar (Leonard Stettnisch). Sim, era bastante improvável que alguém teria uma blusa com a mesma estampa que ela com acesso àquela parte da escola no dia do furto do dinheiro deixado como isca por Carla. Mas ainda que isso fosse improvável, não era impossível. Convenhamos. Como Friederike nega que tenha furtado o dinheiro até o final, como ela resiste daquela forma indignada, e como a filmagem de Carla não é nada conclusiva, achei genial o roteiro deixar essa questão em aberto.

Porque daí nos perguntamos: onde há justiça? O que é justiça? Que provas são necessárias para condenar alguém? Mesmo que Carla tivesse feito um vídeo conclusivo, o que não foi o caso, quem poderia garantir que a pessoa filmada seria a responsável por todos os outros casos? E se fossem várias pessoas? Enfim, o tema é complexo. Assim como é complexo o que acontece com Carla. No início, ela poderia estar cheia de razão e de boas intenções. Mas e no final? Será que ela de fato ajudou a resolver a situação ou apenas deixou ela pior? Causou mais ou menos danos?

Acho que estas são algumas das várias questões que Das Lehrerzimmer nos apresenta. Quando o filme termina e começamos a pensar em tudo que vimos na nossa frente, começamos a refletir sobre isso, de como muitas pessoas competentes, talentosas e bem-intencionadas acabam se deixando levar pelos colegas, parceiros e pelos ambientes hostis e, com o tempo, acabam se tornando apenas “parte da paisagem”. Quantas vezes nós mesmo não erramos porque “nos deixamos levar”? Quantas vezes ao invés de fazermos o bem, realmente, acabamos piorando uma situação ou tornando o ambiente pior? Sem querer, mas aconteceu.

Esse é um filme sobre os tempos atuais, em que parece que a desconfiança e a falta de diálogo, de abertura para entender o que é diferente ao que conhecemos e a nós próprios, predominam e causam muitos, muitos danos. Para a gente, para quem está próximo e para toda a sociedade. Que tipo de relações estamos desenvolvendo e queremos desenvolver no futuro? Como as crianças estão sendo preparadas e educadas para o momento atual e para o que virá? Que tipo de ensinamentos os adultos estão passando para elas?

Para não dizer que Das Lehrerzimmer é uma verdadeira tragédia e apenas caos, existe uma mensagem que fica nas entrelinhas. Ela está na última sequência do filme e aqui e ali, pincelada em diversos outros momentos da produção. Essa mensagem tem a ver com a união das crianças e com a resistência delas para tudo aquilo.

Especialmente Oskar, em sua ação rebelde no final, joga na cara de todos os adultos que o que deveria interessar ali era o aprendizado, o ensino, e não todo o resto. Mais do que um tapa na cara. Em outros momentos, os estudantes também se unem contra os “desmandos” e as acusações dos adultos, professores e direção da escola.

No fim das contas, essa é uma bela mensagem de esperança que o filme nos traz. Pena que essa união e que essa rebeldia talvez se percam um pouco com o passar do tempo. Quem dera que elas durassem para sempre! Que fôssemos mais indignados e mais unidos, mais solidários de verdade, quando chegamos e avançamos na idade adulta! Problema que muito disso se perde no caminho – na maior parte das vezes. Mas é bonito ver que as crianças e os jovens podem nos dar o exemplo.

Acho que esse filme está cheio dessas reflexões e dessas mensagens. Acredito que citei as principais por aqui. Ou, ao menos, as que mais me chamaram a atenção. Além do roteiro, que achei perfeito, muito bem construído, gostei muito da direção de Ilker Çatak, que valoriza demais o trabalho dos atores. E o elenco está perfeito! Um dos belos filmes dessa temporada. Então, mais uma vez, tenho que agradecer ao Oscar por ter me apresentado ele. 😉

NOTA

9,5.

OBS DE PÉ DE PÁGINA

Acho que o principal sobre essa produção eu comentei acima. Das Lehrerzimmer é um filme envolvente, com um ótimo roteiro, que parece simples, mas que tem diversas camadas e algumas reflexões realmente importantes. O ponto alto da produção, a meu ver, é o roteiro de Ilker Çatak e Johannes Duncker, assim como a direção de Ilker, que valoriza o trabalho dos atores e o cenário da escola, assim como o trabalho irretocável do elenco.

Eu não lembro de ter assistido a nenhum outro filme de Ilker Çatak. Estava pesquisando um pouco sobre ele, e vi que Ilker nasceu em Berlim, na Alemanha, em 1984. Ou seja, ele recém completou, no dia 11 de janeiro, 40 anos de idade. Um diretor ainda jovem, portanto. Nova geração. Como diretor, ele estreou em 2005 com o curta Eskimo Frosch. Depois, ele dirigiu mais oito curtas. Em 2007, ele dirigiu o filme feito para a televisão Mehrzahl Heimat. O primeiro longa para o cinema veio 10 anos depois, em 2017: Es War Einmal Indianerland. Depois vieram mais três longas antes deste Das Lehrerzimmer.

Até o momento, Çatak tem 14 prêmios no currículo. Os primeiros prêmios vieram com os curtas Wo Wir Sind e Sadakat, premiados em 2014 e 2015, respectivamente, no Festival Max Ophüls. Wo Wir Sind foi premiado uma outra vez e, Sadakat, outras quatro vezes. Depois, veio um prêmio para o curta Namibya Sehir Iken… em 2011 e o prêmio de roteiro no New Talent Award do Festival de Cinema de Munique pelo filme Es Gilt das Gesprochene Wort, em 2019. Os demais prêmios e indicações do diretor vieram com Das Lehrerzimmer.

Apresentei Ilker Çatak porque realmente gostei do trabalho dele. Acho que é um nome que merece ter seu trabalho acompanhado. Quem sabe ele pode seguir nos apresentando ótimas histórias logo mais?

Além de acertar a mão no roteiro de Ilker Çatak ao lado de Duncker, Çatak também acerta bastante na direção. Ele conduz a história no ritmo certo, valorizando sempre o trabalho dos atores, com a câmera geralmente perto deles e abrindo o campo de visão apenas quando isso é relevante. Ele sabe valorizar cada espaço, cada ambiente, cada interação. Muito bacana o trabalho dele na direção.

Entre os aspectos técnicos do filme, acho que vale citar o bom trabalho de Judith Kaufmann na direção de fotografia; de Marvin Miller na trilha sonora; de Gesa Jäger na edição; de Alexandra Montag na preparação do casting; e o de Florian Klos e de Patrick Locher no Departamento de Câmera e Elétrica, lidando com as filmagens.

Para contar essa história, o elenco é reduzido. E faz muito sentido que ele seja assim. Afinal, a narrativa inteira acontece no ambiente de uma escola, e por ali orbitam alguns professores, algumas pessoas da administração, alunos e, em certo momento do filme, alguns pais e mães. Claro, há diversos coadjuvantes no enredo. Natural. Mas as pessoas de destaque nesta produção são poucas. Vou citá-las, porque elas são fundamentais para o filme ter a qualidade que ele tem.

O primeiro nome que precisa ser destacado é o da atriz Leonie Benesch. Ela está perfeita, com um trabalho irretocável como a protagonista cheia de dúvidas, questionamentos e algumas certezas Carla Nowak. Carismática, sensível, com presença marcante, Leonie “veste a roupa” de Carla à perfeição, com todas suas nuances, imperfeições e certa complexidade.

Além dela, estão muito bem em cena e merecem destaque Leonard Stettnisch como Oskar Kuhn, o melhor aluno da turma de Carla; Eva Löbau como Friederike Kuhn, a mãe de Oskar e funcionária da escola, por boa parte do tempo vista com bons olhos por todos por ser uma “solucionadora de problemas”, até que uma gravação nada conclusiva de Carla muda tudo.

Fazem papéis menores, mas que merecem ser citados, os atores Michael Klammer como o professor Thomas Liebenwerda, um dos mais enfáticos na “caça” aos alunos, especialmente os que tem origem estrangeira; Anne-Kathrin Gummich como a Dr. Bettina Böhm, diretora da escola; Kathrin Wehlisch como Lore Semnik, que fiquei na dúvida se é tipo uma “supervisora pedagógica”, psicóloga ou uma colega docente de Carla… de qualquer forma, alguém que se faz presente em momentos delicados e próxima da diretora; Sarah Bauerett como a professora Vanessa König, outra partidária do “nós contra eles”, no mesmo estilo do colega Thomas; e Rafael Stachowiak como o professor Milosz Dudek, que fica quase no meio do caminho entre os que perseguem e os que procuram entender o que está acontecendo de fato.

Eu queria saber o nome dos atores e atrizes que interpretaram os papéis das crianças e dos adolescentes, mas não consegui identificar os intérpretes e ligá-los a seus papéis. Mas esse elenco faz um belo trabalho. Todos muito competentes em suas atuações.

Vale citar ainda uma super ponta de dois atores veteranos: Uygar Tamer e Özgür Karadeniz fazem uma rápida aparição como o casal Yilmaz, os pais de Ali (Can Rodenbostel), o primeiro “suspeito” dos furtos da escola. Eles são chamados para falar sobre o filho na escola. A sequência deles é de arrepiar e um dos vários tapas na cara para quem está atento aos detalhes da história.

Das Lehrerzimmer estreou em fevereiro de 2023 no Festival Internacional de Cinema de Berlim. Até janeiro de 2024, o filme participou, ainda, de outros 18 festivais e mostras de cinema em diversos países, incluindo os festivais de cinema de Toronto, do Rio de Janeiro, de Valladolid e de Estocolmo.

Em sua trajetória até aqui, Das Lehrerzimmer ganhou 11 prêmios e foi indicado a outros 20, incluindo a indicação na categoria Melhor Filme Internacional no Oscar 2024. Entre os prêmios que recebeu, destaque para o Label Europa Cinemas e o C.I.C.A.E. Award conferidos para Ilker Çatak no Festival Internacional de Cinema de Berlim; para o prêmio de Melhor Edição para Gesa Jäger no José Salcedo Award do Festival Internacional de Cinema de Valladolid; para os prêmios de Directors to Watch para Ilker Çatak e Melhor Atriz para Leonie Benesch no Prêmio FIPRESCI no Festival Internacional de Cinema de Palm Springs; e para quatro prêmios conferidos pelo Prêmio do Cinema Alemão, o Oscar daquele país europeu, incluindo os prêmios de Melhor Filme Alemão, Melhor Direção para Ilker Çatak, Melhor Atriz para Leonie Benesch e Melhor Roteiro.

Os usuários do site IMDb deram a nota 7,5 para esta produção, enquanto que os críticos que tem seus textos linkados no site Rotten Tomatoes dedicaram 90 críticas positivas e duas negativas para esta produção, o que garante para Das Lehrerzimmer o nível de aprovação de 98% e a nota média de 8,4. O site Metacritic apresenta o “metascore” 84 para esta produção, fruto de 17 críticas positivas, além do selo “Metacritic Must-see”. Entre os usuários do site a nota é de 8,7.

Segundo o site Box Office Mojo, Das Lehrerzimmer faturou quase US$ 2,5 milhões nas bilheterias onde o filme estreou, sendo apenas US$ 215 mil nos cinemas dos Estados Unidos. Como era esperado, o país onde o filme se saiu melhor nas bilheterias foi a Alemanha, onde Das Lehrerzimmer teria faturado US$ 1,8 milhão.

Das Lehrerzimmer é uma produção 100% da Alemanha. Por isso, o filme passa a figurar na categoria de produções que atendem a votações feitas aqui no blog. Há alguns anos vocês me pediram críticas de filmes alemães. Pois bem, segue mais um para a lista. 😉

Além do alemão, são falados neste filme os idiomas turco, polonês e o inglês. Para quem gosta de saber onde as produções foram rodadas, Das Lehrerzimmer foi filmado na cidade de Hamburgo.

Das Lehrerzimmer conseguiu uma vaga no Oscar 2024, mas ele não teve chances no Globo de Ouro deste ano. Os cinco filmes que conseguiram uma vaga no Globo de Ouro foram: Past Lives (comentado aqui no blog), Anatomie d’une Chute, La Sociedad de la Nieve (com crítica neste link), Kuolleet Lehdet, Io Capitano e The Zone of Interest. Três dos filmes dessa lista (La Sociedad de la Nieve, The Zone of Interest e Io Capitano) também emplacaram uma indicação no Oscar.

CONCLUSÃO

Eis um filme que pode render muitas discussões e múltiplas leituras. Inicialmente, Das Lehrerzimmer parece nos contar uma história simples sobre suspeitas, acusações, possibilidade de culpa ou de inocência. Fica evidente também como o filme trata sobre conflitos, não apenas entre gerações, mas também sobre figuras de “poder” e seus “subjugados”. Mas, se analisarmos com calma, Das Lehrerzimmer trata sobre diversas outras questões. Uma que me pareceu mais relevante e impactante é como “a roda do sistema” pode esmagar e triturar a espinha de qualquer idealista.

Quando menos percebemos, podemos ser levados pela torrente e nos tornarmos “mais do mesmo”. Quando paramos para pensar nas diferentes camadas deste filme, percebemos sua potência. Com ótima narrativa, que conta com uma condução crescente de tensão, ótimos atores e uma direção sensível e cuidadosa nos detalhes, Das Lehrerzimmer se mostra um dos filmes importantes de serem vistos nesta temporada. Assista. E, depois, com tempo, reflita. Conforme o tempo passa, mais Das Lehrerzimmer revela-se interessante, acima da média e para além da obviedade de uma leitura rápida.

PALPITES PARA O OSCAR 2024

Então, minha gente, não tive tempo de assistir a tantos filmes que eu gostaria desta temporada da premiação anual da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood e já estamos com os filmes indicados na ponta da nossa mira. Sim, porque nesta semana foram divulgadas as produções que concorrem nas 23 categorias do Oscar 2024.

Assisti a Das Lehrerzimmer antes da divulgação dos finalistas do Oscar, como comentei anteriormente. E o filme, como já era esperado, conseguiu sua vaga entre os cinco finalistas na categoria Melhor Filme Internacional – a minha preferida do Oscar.

Estão com ele, na disputa pela cobiçada estatueta dourada do Oscar, os filmes Io Capitano (Itália), Perfect Days (Japão), La Sociedad de la Nieve (Espanha, comentado aqui no blog) e The Zone of Interest (Reino Unido). Todos comentam que o favorito na disputa é The Zone of Interest, filme indicado ainda nas categorias Melhor Direção, Melhor Som, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Filme. La Sociedad de la Nieve concorre também em Melhor Maquiagem e Cabelo.

Como eu não assisti a todos os filmes que eu gostaria e que tinham chance na categoria Melhor Filme Internacional, não posso dizer se os cinco finalistas são as produções mais “merecedoras” da vaga. Mas me parece um pouco óbvio um filme que ganhou cinco indicações ao Oscar, como é o caso de The Zone of Interest, ser o favorito na disputa. Antes mesmo dos indicados serem anunciados, ele já era apontado como o filme que provavelmente se sagraria vencedor como Melhor Filme Internacional.

Então, convenhamos, não devemos ter nenhuma surpresa na entrega do Oscar. Das Lehrerzimmer deve ser preterido na disputa. Como, até o momento, assisti apenas aos representantes da Alemanha e da Espanha no Oscar, devo dizer que a minha preferência ainda seria por La Sociedad de la Nieve. Claro que os dois filmes são interessantes, muito bem feito, cheios de qualidade. Mas existe um abismo entre as duas produções finalistas na categoria Melhor Filme Internacional.

Enquanto Das Lehrerzimmer é um filme mais reflexivo, cheio de camadas, La Sociedad de la Nieve é uma produção mais elaborada, complexa de ser feita, e bastante direta em sua mensagem e mais direta em seus propósitos. Gostei das duas produções, mas se tivesse que votar em uma, votaria no filme espanhol. Mas isso pouco importa, porque The Zone of Interest é quem deve levar a estatueta para casa. Logo mais, na entrega do Oscar, teremos certeza sobre isso.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 25 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing, professora universitária (cursos de graduação e pós-graduação) e, atualmente, atuo como empreendedora após criar a minha própria empresa na área da comunicação.

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