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The Zone of Interest – Zona de Interesse


Eis um convite para entrarmos na sala de estar, no jardim e no quintal dos monstros. Sim, já fomos apresentados a diversas histórias sobre os horrores do nazismo e do Holocausto. Mas nenhuma como esta. The Zone of Interest entra na intimidade de um proeminente e cada vez mais destacado comandante de um campo de concentração e de extermínio nazista. Acompanhamos ele e sua família de perto, cada vez mais perplexos com a naturalidade com que eles lidam com o mal. De arrepiar.

A HISTÓRIA

Depois de vermos o título do filme, que vai desaparecendo da nossa frente pouco a pouco, mergulhamos na escuridão e na trilha sonora com alguns sons intercalados por pouco mais de dois minutos. Aos poucos, começam a ser inseridos outros sons, como o canto de alguns pássaros e vozes distantes de crianças. A escuridão desaparece e vemos uma cena idílica. Um grupo formado adultos e crianças está pegando sol em um local cheio de verde, um descampado em meio à mata, e em frente da água. Enquanto uma mulher sai para colher frutas silvestres com duas meninas, os homens e meninos descem até a água.

Hedwig Höss (Sandra Hüller) também se levanta e sai atrás das filhas com um bebê no colo. Enquanto os rapazes se divertem na água, o marido dela, Rudolf Höss (Christian Friedel) fica em pé na margem apreciando o sol e o dia bonito. Mais tarde, eles voltam para casa, com Rudolf levando o bebê com ele e na frente dos demais, puxando a fila. Eles pegam os carros e dirigem pela estrada até escurecer. Algumas crianças discutem no caminho. Chegando em casa, Rudolf apaga todas as luzes de forma sistemática. Vamos acompanhar a história dessa família.

VOLTANDO À CRÍTICA

(SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a The Zone of Interest): Que filme impressionante! Sim, quem tem algum histórico de filmes na conta, pode dizer que já assistiu a muitos filmes sobre a Segunda Guerra Mundial, em geral, e sobre o nazismo e os nazistas em particular.

Vocês, como eu, devem ter visto a dezenas de filmes do gênero. Há para todos os gostos. Produções de todos os gêneros e, principalmente, com níveis de qualidade muito diversos. Alguém que já viu a dezenas de filmes sobre aquela época pode pensar: “Não existe mais o que falar sobre aquele momento histórico. Já foi falado tudo a respeito”. Sim, não seria raro esse pensamento. Mas daí surge um filme como este para nos mostrar que não, ainda há mais para ser dito a respeito.

The Zone of Interest é uma aula de cinema e um dos filmes mais interessantes sobre o Holocausto e o nazismo que eu já vi. Dos filmes “recentes” sobre o tema – levando esse “recente” em conta desde que eu criei o blog, ao menos -, acredito que apenas Lore (com crítica neste link) me chamou tanto a atenção justamente por não mostrar a guerra em si, mas a perspectiva de “pessoas comuns” sobre o que aconteceu na Alemanha.

Claro que Lore e The Zone of Interest tem muitas diferenças. No fundo, eles são muito diferentes entre si. O que eles têm em comum é esse olhar diferenciado para aquela época e a busca de seus realizadores para tentar explicar como tanta maldade e crueldade foi possível sem que a maior parte da população se revoltasse contra o assassinato maciço de milhares – na verdade, milhões – de pessoas.

Mas é evidente que The Zone of Interest se revela um filme ainda mais impressionante do que Lore. Ao mesmo tempo que ele é sutil, ele é impactante. Uma porrada, no fim das contas. Mas tudo isso construído com muita inteligência pelo diretor e roteirista Jonathan Glazer, que se baseou no livro homônimo de Martin Amis para construir esta produção.

Glazer é o grande nome – ou um dos grandes nomes – desta produção. O diretor e roteirista realmente faz um trabalho impecável. Como eu disse, uma aula de cinema. Fiquei surpresa com a assinatura do realizador. Ele faz escolhas muito interessantes e nada óbvias. A aula de cinema que ele nos dá envolve desde a escolha de cada ângulo de sua câmera e, consequentemente, cada recorte da narrativa, até a condução dos atores e a forma como ele vai construindo essa história.

Como sempre, e quem me acompanha por aqui já está cansado de saber a minha opinião sobre isso, quanto menos a gente sabe sobre uma produção antes de assisti-la, melhor. Pelo menos para mim funciona melhor a experiência do cinema desta forma. Gosto de ser surpreendida pelas histórias. Mas, infelizmente com The Zone of Interest, não foi possível ser totalmente surpreendida… impossível, pelo tipo de divulgação que o filme fez, não saber que esta produção tratava sobre a família de um comandante de um campo nazista que morava ao lado do campo em uma espécie de “paraíso particular”.

Essa era a premissa da produção sobre a qual eu tive acesso antes de assistir ao filme. Assim, quando aquelas cenas de uma “família alemã comum” começam a revelar outros aspectos, como o uniforme nazista de Rudolf e, pouco depois dele receber seu presente de aniversário, ele sair do quintal de casa e rumar para o trabalho, que fica ao lado, quando então percebemos que eles são vizinhos de um campo de concentração nazista, essas imagens tem menos impacto do que deveriam ter se eu não tivesse tido contato com a premissa da produção.

Apesar disso, pouco a pouco, as cenas que vão sendo trazidas e construídas por Glazer vão nos impactando. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Por isso que eu falo sobre a aula de cinema do diretor. De forma muito sutil, e você precisa estar atento(a) a cada detalhe que aparece em cada sequência do filme, vamos vendo o contraste entre o jardim cuidadosamente idealizado por Hedwig e o terror que está acontecendo ao redor.

(SPOILER – não leia… bem, você já sabe). Percebemos isso em cada trem que chega e que aparece ao fundo, e que nos faz lembrar sobre as milhares de pessoas que estavam sendo levadas para aquele lugar para trabalhar de forma forçada ou morrer. Percebemos isso quando Hedwig vai mostrar o quintal e a piscina para sua mãe, Linna Hensel (Imogen Kogge), e vemos os telhados e a torre de vigia do campo de concentração ao fundo e, de forma inevitável, ficamos imaginando como estão passando fome e sendo traumatizados os prisioneiros que lá estão.

Mas não é apenas o contraste dessas cenas que nos aterroriza e que nos surpreende. Diversas outras cenas do cotidiano dessa família são de arrepiar. Mas tratados com muita naturalidade por seus protagonistas. Depois que o filme terminou, logo fui atrás de saber o quanto aqueles personagens eram reais. E sim, eles existiram, de fato. O que torna a história ainda mais impressionante.

Claro que The Zone of Interest não é uma cinebiografia do carrasco nazista Rudolf Höss e de sua família. Mas boa parte do que vemos em cena tem como origem uma profunda pesquisa de Martin Amis sobre eles. Ainda assim, claro, não podemos pegar cada linha do roteiro como algo 100% histórico. Não estamos vendo aqui um documentário. Mas boa parte do que vemos realmente aconteceu – e o restante é uma alegoria inteligente sobre os demais fatos e sobre aquele tempo histórico.

Dito isso, todo o horror nazista está em cena. E, para isso, para tornar o horror evidente, Glazer em nenhum momento mostra a violência em si. O que torna tudo ainda mais impactante. Temos a visão de uma “pessoa comum” que estivesse vivendo naquela casa ao lado do campo nazista – e, vale dizer, não estamos falando de qualquer campo de extermínio nazista, e sim do pior de todos, Auschwitz. Segundo essa matéria de Guillermo Altares, do El País, apenas em Auschwitz teriam sido mortos 1 milhão de pessoas, sendo 870 mil mortos em câmaras de gás idealizadas por Rudolf Höss logo depois deles chegarem ao local.

Logo no início dessa crítica, comentei que The Zone of Interest nos leva para a intimidade de monstros do Holocausto. E isso não é exagero. O casal Höss tem um nível impressionante de frieza e de crueldade. Isso não é visto apenas pelas atitudes de Rudolf mas, talvez, especialmente pelas ações de Hedwig. O diretor e roteirista faz uma escolha muito interessante e acertada de jamais entrar no campo de concentração e extermínio. Estamos sempre do lado de fora. Assim, não vemos Rudolf em ação lá dentro. O que nos resta é ver as atitudes dele em casa e, principalmente, ver as atitudes de Hedwig.

Ambos são extremamente cruéis e, possivelmente sem exagero ao afirmar isso, sádicos. Mas para percebermos isso, não precisamos ver nenhuma agressão física ou tiro sendo dados por eles. O sadismo e a crueldade estão nos pequenos gestos, e esta talvez seja uma das questões mais impactantes desta produção. Ela revela como nazistas em busca da extrema eficiência, como era o caso de Rudolf, podiam ser diretamente responsáveis pela morte de mais de um milhão de pessoas sem, para isso, terem em momento algum apertado um gatilho ou apertado um botão. Eles mandavam, planejavam, arquitetavam como matar de forma mais eficiente sem perderem uma noite de sono por causa disso.

E quem estava ao redor dessas figuras “proeminentes”? Pessoas como Hedwig e seus filhos. Que também eram cruéis a sua maneira. Percebemos isso no dia a dia e nas sutilezas do cotidiano daquela família. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Diferente do que Hedwig diz para a mãe, quando ela vai visitar a família e passar uma temporada com eles, os Höss utilizavam sim mão de obra de judeus. Pessoas que trabalharam de maneira forçada, que não tinham escolha. E para as quais Hedwig ainda se dizia “generosa”. Afinal, elas estavam trabalhando ali de maneira forçada mas, ao menos, não estavam morrendo nas câmaras de gás, certo? Olha o nível da pessoa…

Além de ser cruel com os “empregados”, que eram, na verdade, pessoas livres e que foram forçadas a trabalhar de graça para não morrerem, Hedwig ainda tira todo o proveito possível daquela situação. Assim, temos na família mostrada em The Zone of Interest uma amostra muito fiel do que aconteceu naqueles anos na Alemanha nazista. O imenso contingente de nazistas que fazia a roda do horror girar explorava ao máximo judeus e os demais grupos perseguidos e mortos por eles.

(SPOILER – não leia… bem, você já sabe). Achei especialmente tenebrosas as cenas em que chegam “carregamentos” de espólios das pessoas de Auschwitz para Hedwig. Ela dá as roupas mais simples para as empregadas escolherem “uma peça cada” e ela vai para o quarto ficar com o “filé” da entrega, um casaco de pele de uma mulher que foi morta ao lado da propriedade da família. Como não ficar estarrecido(a) com isso? Mas esta é apenas uma de diversas sequências do filme em que fica evidente essa frieza e crueldade cotidiana.

Em uma outra sequência, Hedwig está tomando um café ou chá da tarde com outras duas mulheres de oficiais nazistas e o tipo de conversa nojenta que elas têm sobre esse cotidiano de exploração dos judeus é de embrulhar o estômago. Tudo acompanhado de perto por uma judia que tinha que trabalhar para a família Höss. Em paralelo, Hedwig não está preocupada com a empregada judia estar ouvindo aquela conversa, mas sim em fiscalizar se ela está fazendo tudo certo e se não esqueceu a bebida que ela deve servir para Rudolf.

The Zone of Interest está recheado de episódios assim. E a cada nova cena, vamos ficando com o estômago embrulhado – ou quase isso. Para mim, este é um dos filmes mais contundentes sobre o cinismo, a crueldade, o sadismo e o horror daquela época. Para termos contato com tudo isso, não precisamos ver cenas explícitas de violência. Perseguições e mortes são ouvidas ao fundo de cenas cotidianas. Mas está tudo ali. As mortes estão presentes, ainda que não vistas.

Para mim, essa é uma das grandes sacadas dessa produção. Como ela mostra todo esse horror sem apelar para cenas explícitas ou para recursos óbvios. Muito pelo contrário. Glazer é bastante criativo em suas escolhas e muito sutil em diversos momentos. Cada cena é importante, assim como cada som que faz parte da produção. Tudo ajuda a contar o que está acontecendo. O som da morte, que a partir de determinado momento não cessa, mesmo à noite, é tão perturbador que faz a mãe de Hedwig ir embora.

O roteiro de The Zone of Interest é um dos pontos altos da produção. De forma muito natural, após nos mostrar a conversa de “comadres” na cozinha, Glazer nos revela a conversa séria dos homens no escritório de Rudolf, quando ele é apresentado para um projeto que tornará o assassinato maciço de pessoas ainda mais eficiente. Ele era esse sujeito. Que foi galgando postos na hierarquia nazista e ganhando fama por sua eficiência em matar. E é sobre ele e sua família esta história.

Todo esse olhar cuidadoso para a intimidade dos Höss e o contraste da casa deles, localizada em uma “zona de interesse”, como eram chamadas as regiões ao redor dos campos de concentração e de extermínio nazistas, que deveriam ser ocupados por pessoas de confiança para que “pessoas comuns” não ficassem próximas destes locais e ficassem sabendo o que acontecia de fato por lá, com o que de fato acontecia do outro lado dos muros, dentro dos campos de extermínio, é o que o filme tem de mais impactante. É a melhor parte da produção.

Mas, a meu ver, nem tudo funciona com perfeição neste filme. Há duas questões que acho que destoaram um pouco da história. Sim, encontrei uma razão de ser para ambas, mas, apesar disso, acho que elas não contribuem para a narrativa. Ou, ao menos, foram costuradas na produção de uma forma um tanto desconexa, sem tanto sentido quanto o restante. Vou falar sobre elas.

A primeira questão ocorre após Rudolf trair a esposa com uma mulher sobre a qual não sabemos nada. (SPOILER – não leia… bem, você já sabe). Lendo um pouco sobre a história de Rudolf, como ao acessar essa matéria de Rafael Battaglia para a Superinteressante, ficamos sabendo que ele foi investigado por ter engravidado uma prisioneira de guerra e, depois, por essa mulher ter sido assassinada. Ainda que o filme não cite datas, durante a narrativa Hedwig chega a citar a investigação que estão fazendo sobre ele e, pouco depois, Rudolf é transferido para Berlim.

Ora, aparentemente, quando a mulher com quem Rudolf trai a esposa aparece em cena, ela não está grávida… então ela seria outra prisioneira que é obrigada a se deitar com ele para não morrer? Ou seria outra mulher qualquer, que é colocada no filme apenas para mostrar que o marido e pai de cinco filhos não era fiel à esposa? Essa é uma sequência que para mim fica muito “jogada” no filme e sem a devida contextualização.

Em seguida, vem outra sequência que me parece bastante “perdida” na narrativa. Rudolf se lava, após o sexo com aquela mulher que não sabemos quem é, e encontra a filha sonâmbula em casa fora da cama. Então começa uma sequência, que parece ser filmada em um filme negativo preto-e-branco, que revela uma garota espalhando frutas em diversos lugares em que os prisioneiros do campo nazista eram colocados para fazer trabalhos forçados. Enquanto isso, ouvimos Rudolf contando uma história para sua filha dormir.

Demorei muito e, na verdade, só descobri quem era a garota que aparece naquela sequência após o filme acabar. Toda vez que uma produção nos mostra algo e não deixa evidente sobre o que aquelas sequências se referem, acho que isso não nos ajuda a entender a história ou a compreender o que deveríamos compreender com maior facilidade – e durante a história, sem ter que buscar a respeito depois.

Pois bem, aquela garota que aparece em cena se chama Aleksandra Bystron-Kolodziejczyk (Julia Polaczek). E quem foi ela? Bem, apenas assistindo a The Zone of Interest, podemos concluir que toda a sequência da garota, ao menos a parte em que ela está distribuindo frutas para ajudar os prisioneiros de guerra a não morrerem de fome, já que eles ficavam sem comer nos campos de concentração por muito tempo, é tipo um contraponto, um “filme negativo”, o “outro lado” na comparação com a narrativa central da produção.

Ora, se a narrativa central nos mostra uma realidade que não existe, de pura crueldade e sadismo, ver uma jovem distribuindo frutas durante a noite e a madrugada para ajudar os prisioneiros de guerra é uma realidade paralela, não é mesmo? Isso podemos concluir vendo ao filme. Fiquei procurando muito a personagem na história, mas não consegui concluir se ela tinha ou não uma ligação direta com os Höss.

Me parece que não. Achei que talvez a jovem pudesse ser a filha de uma das empregadas do casal nazista, mas cheguei a dar um print no rosto das quatro empregadas que são chamadas para escolher uma peça de roupa por Hedwig e comparei com a mãe da jovem e não, nenhuma delas era aquela pessoa.

Então, afinal, quem era aquela garota? Através do roteiro de The Zone of Interest não recebemos a resposta para esta pergunta. E sempre que isso acontece, eu acho ruim. Sim, um filme pode nos estimular a ir atrás de mais informações e de ter essas e outras respostas que não são dadas durante a produção. Mas isso é realmente justo com o espectador? Eu acho que os filmes não precisam ser óbvios, podem deixar questões no ar, mas acho que em algum momento, nem que for após ou durante os créditos finais, podemos ter alguma resposta sobre questões deixadas em aberto – a exceção para isso são finais sem conclusão, que isso é outra história e acho até ok dependendo do contexto e da história.

Mas então, pesquisando a respeito e pelo nome da atriz que aparece em cena, descobri nos créditos do filme que a jovem que vemos naquelas sequências se chama Aleksandra Bystron-Kolodziejczyk. Mas quem foi Aleksandra na vida real? Isso fui descobrir apenas após o filme, pesquisando a respeito.

Segundo esse texto de Sumith Prasad para o site TheCinemaholic, Aleksandra era uma garota polonesa que começou a fazer parte da resistência de cidadãos daquele país quando tinha 12 anos de idade. Ela e a irmã de fato ajudavam a alimentar prisioneiros de campos de concentração, além de levar remédios e mensagens secretas para eles. No filme, ela representa pessoas comuns que viviam próximas de Auschwitz. Além disso, segundo Prasad, Aleksandra morou até 2016, quando morreu, na casa onde Glazer teria filmado esta produção.

Bem, então está explicada aquela sequência no filme. Mas há uma outra sequência que eu achei um tanto estranha. E não pelo corte temporal que Glazer faz na produção, mas pela escolha do diretor sobre o que acontece pouco antes. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Depois de ligar para a esposa e de se “orgulhar” pela Operação Höss, algo totalmente abjeto, ele sai da sala onde está e começa a caminhar pelo edifício da administração nazista até que, ao descer alguns lances de escada, começa a passar mal. Rudolf, sempre impassível e controlado, parece ter ânsia de vômito.

Depois de olhar reto para um lado do corredor, temos um salto temporal. (SPOILER – não leia… bem, você já sabe). Vemos trabalhadoras de um campo de concentração, agora transformado em museu, chegando ao local de trabalho e preparando o local para a visita futura de pessoas interessadas por conhecer aquele passado. As sequências em si achei bastante impactantes, especialmente conforme vamos avançando nas salas cheias de impactantes memoriais sobre as pessoas que foram assassinadas pelos nazistas.

Mas o que me incomodou nessa sequência foi a ânsia de vômito do protagonista. É como se fosse sugerido, em algum nível, que ele teve alguma consciência sobre o que fez, sobre a mais de 1 milhão de mortes que provocou/orquestrou. E sabemos, pesquisando um pouco mais sobre ele, que tudo que Rudolf não teve foi remorso. Ele poderia ter tido ânsia de vômito por ter bebido demais naquela noite ou ter descido as escadas muito rápido após ter bebido tanto… mas não parece que foi isso que aconteceu. Então o que explica a sequência dele “quase passando mal”, sucedida daquelas imagens de “choque de realidade” depois?

Acho que esta questão não fica evidente no filme e, mais uma vez, isso prejudica a narrativa. Sem problemas colocar as cenas do museu do holocausto, mas não acho que a sugestão de ânsia de vômito de Rudolf casa com o que vemos depois. Enfim, achei uma escolha equivocada do diretor. E apenas por esses detalhes que comentei, não darei a nota máxima para o filme. Esses detalhes me incomodaram um pouco.

Mas nada, absolutamente, que tire o brilho, a força e a inventividade de The Zone of Interest. Sem dúvida alguma, este é um dos melhores filmes desta temporada do Oscar. Merece ser visto e, para além desta premiação, certamente é um filme que irá perdurar na nossa memória por muito tempo. Um belo trabalho de Glazer e de todas as pessoas envolvidas no projeto.

NOTA

9,8.

OBS DE PÉ DE PÁGINA

Antes eu comentei sobre Aleksandra Bystron-Kolodziejczyk. Pois bem, vale comentar e destacar que nos créditos finais de The Zone of Interest aparecem três nomes para os quais o filme é dedicado “in memoriam”. Aleksandra é o primeiro nome que aparece listado. Ali é citado também que ela nasceu em 1927 e morreu em 2016. Outros dois nomes também aparecem na lista: Simone Bär e Martin Amis. Simone, que nasceu em 1965 e morreu em 2023, foi uma das três pessoas responsáveis pelo casting do filme. Martin Amis, que nasceu em 1949 e que também morreu em 2023, quando The Zone of Interest foi lançado, é ninguém mais, ninguém menos que o autor do livro que inspirou esta produção.

Por baixo, identifiquei pelo menos quatro empregadas que trabalham para Hedwig. Três delas ela chama quando vai repartir as roupas mais simples das prisioneiras que foram mortas no campo de concentração ao lado da casa da família. São elas: Sophie (Stephanie Petrowitz), Marta (Martyna Poznanski) e Aniela (Zuzanna Kobiela). Além delas, temos uma jovem judia que não chega a ser nominada, mas que é interpretada por Julia Babiarz. Além das quatro mulheres, outros judeus trabalham de maneira forçada para a família Höss.

Judeus e judias, assim como todos os grupos que foram perseguidos, presos e mortos durante o regime nazista foram muitas vezes também utilizados para trabalhar para os nazistas de maneira forçada. Em uma certa cena perto do final de The Zone of Interest, um comandante nazista fica preocupado com o início da iminente Operação Höss. Então o comandante o tranquiliza dizendo que vão “sobrar” judeus para trabalharem para ele. Era isso.

Eles não queriam matar todos, porque parte precisava estar viva para ser explorada. E não apenas pelos nazistas, mas também por diversas empresas, especialmente indústrias, alemãs – algo que é sugerido também durante o filme. Em certo momento, a mãe de Hedwig comenta sobre a chegada de um casal na região, porque o marido, um engenheiro, iria trabalhar na Siemens. E ela comenta que “grandes empresas” estavam instaladas ali. Uma das razões para isso era a exploração de judeus e de outros grupos perseguidos pelos nazistas, obrigados a trabalhar nestes locais. A outra opção seria eles serem mortos. Enfim, mais exemplos da crueldade daqueles tempos e que fazem parte da narrativa de The Zone of Interest.

Para mim, o grande nome deste filme é o de seu realizador. Jonathan Glazer tem uma visão especial e diferenciada. A assinatura dele é o que torna The Zone of Interest um filme tão diferente. Mérito de Glazer como diretor e como roteirista. Descontadas as questões que eu citei anteriormente e que me incomodaram um pouco, acho o trabalho dele praticamente perfeito. Ele tem uma visão única e consegue colocar ela de forma irretocável na telona. Está de parabéns! Sem dúvida alguma, mereceu a indicação de Melhor Direção no Oscar 2024.

Além de Glazer, que é o grande responsável pela qualidade de The Zone of Interest, outros nomes merecem ser citados. Entre os elementos técnicos da produção, sem dúvida alguma merecem aplausos a direção de fotografia de Lukasz Zal; a excelente e importantíssima trilha sonora de Mica Levi; a edição precisa e competente de Paul Watts; e o trabalho excepcional e bastante importante para a narrativa dos 22 profissionais que fizeram parte do Departamento de Som. Todos esses elementos, especialmente o som e a trilha sonora, são bastante importantes para a narrativa.

Outros aspectos técnicos que merecem ser citados são o design de produção de Chris Oddy; a direção de arte e a decoração de set de Joanna Kus e Katarzyna Sikora; os figurinos de Malgorzata Karpiuk; a maquiagem de Waldemar Pokromski; e o ótimo trabalho dos 47 profissionais envolvidos nos efeitos visuais.

Me chamou a atenção, ao citar os aspectos técnicos anteriores, a equipe enxuta com a qual Glazer trabalhou. Muito interessante como filmes mais “independentes”, como é o caso desta produção, conseguem fazer um trabalho excepcional de reconstrução de época e de construção narrativa sem precisar de equipes enormes.

Além dos aspectos técnicos da produção, que fazem jus a um filme muito acima da média, um grande trunfo de The Zone of Interest é seu elenco. Neste sentido, o destaque óbvio vai para o casal de protagonistas. Christian Friedel está muito bem em seu papel como Rudolf Höss, mas uma pessoa que rouba a cena a cada aparição é a atriz Sandra Hüller, que interpreta a esposa dele, Hedwig. Justamente pelo fato da residência do casal nazista estar sempre no foco central da história, ela como “comandante” da casa acaba se destacando.

Muita gente, eu sei, parece estar “descobrindo” Sandra Hüller agora. Para quem gosta do cinema alemão e acompanha lançamentos vindos daquele país, ela não é nenhuma novidade. Sandra Hüller é uma das grandes atrizes da sua geração. Aqui no blog, tenho comentados dois filmes que ela estrelou: Toni Erdmann (2016) e Ich Bin Dein Mensch (ou I’m Your Man, de 2021).

Nascida em 1978 na cidade alemã de Suhl, Sandra Hüller começou sua carreira como atriz em 1999 com o curta Nicht auf den Mund. O primeiro longa dela veio em 2006: Requiem. No total, ela tem 43 trabalhos no currículo como atriz, incluindo curtas, longas e séries para TV. Com Anatomy of a Fall, que eu estou bem curiosa para assistir, ela conseguiu sua primeira indicação ao Oscar, na categoria Melhor Atriz.

O companheiro dela de cena em The Zone of Interest, Christian Friedel, nasceu em 1979 na cidade alemã de Magdeburg. Ele tem uma carreira bem mais curta e menos destacada do que Sandra. Ainda assim, Christian Friedel estreou muito bem, em 2009 com o filme Das Weisse Band (com crítica neste link). Depois de estrear no filme de Michael Haneke, Christian trabalhou como ator em 18 produções, incluindo curtas, longas e séries para TV.

Além de Rudolf e Hedwig, o filme apresenta os cinco filhos do casal, a saber: Claus (interpretado por Johann Karthaus), Hans (Luis Noah Witte), Inge-Brigitt (Nele Ahrensmeier), Heideraud (Lilli Falk) e Annegret (o bebê que aparece em cena, vivenciado por três crianças, Anastazja Drobniak, Cecylia Pekala e Kalman Wilson). Ainda que tenham algumas cenas aqui e ali, não destaco nenhum deles por ter uma interpretação realmente importante para a história. São coadjuvantes sem grande relevância para a narrativa.

Entre os coadjuvantes, a pessoa que eu considero que teve mais relevância foi a atriz Imogen Kogge, que interpreta Linna Hensel, a mãe de Hedwig. Outros coadjuvantes que tem certa relevância para a história são as amigas de Hedwig, interpretadas por Marie Rosa Tietjen e por Antje Falk; a mãe de Aleksandra, interpretada por Agnieszka Wierny; e as atrizes que interpretam as empregadas dos Höss e que já listei anteriormente.

Para quem, como eu, assim que terminou de assistir a The Zone of Interest ficou interessado(a) em saber mais sobre a história original que inspirou o filme, ou seja, quis saber mais sobre Rudolf Höss, eu indico algumas leituras complementares sobre ele e sua família, começando por este conteúdo assinado por Rodrigo Trespach e publicado pelo site da Aventuras na História; este texto de Rafael Battaglia publicado pelo site da Superinteressante; e esta matéria de Euler de França Belém publicada pelo Jornal Opção.

O diretor Jonathan Glazer fez um trabalho de pesquisa incrível, para além da adaptação do livro homônimo de Martin Amis. Fiquei um tanto chocada ao ver algumas fotografias originais que mostram a casa, o jardim e o quintal dos Höss e que inspiraram o diretor em diversas cenas de The Zone of Interest. É de arrepiar. Para quem se interessou em ver as imagens originais, é possível encontrá-las nesse artigo de Harry Howard publicado pelo Daily Mail.

Sobre o extermínio de judeus pelos nazistas, recomendo a leitura dessa matéria assinada por Guillermo Altares e publicada pelo El País. Ele explica sobre como é difícil trazer o número exato de judeus assassinados pelos nazistas, mas conta como historiadores chegaram a estimativas que variam entre 5 milhões e 6 milhões de vítimas. Um dos responsáveis por uma parte considerável destas mortes é justamente o sujeito que protagoniza The Zone of Interest.

The Zone of Interest estreou em maio de 2023 no Festival de Cinema de Cannes. Até fevereiro de 2024, a produção peregrinou por outros 23 festivais e mostras de cinema em diversos países, incluindo os importantes festivais de cinema de Telluride, Toronto, Helsinki, San Sebastián, Zurich, Nova York, São Paulo e Göteborg. O filme também foi exibido em um evento nas Nações Unidas.

O filme foi rodado entre junho de 2021 e janeiro de 2022 em diferentes locações na Polônia, incluindo o Campo de Concentração de Auschwitz.

Agora, vale citar algumas curiosidades sobre o filme trazidas pelas notas de produção. A primeira, achei chocante. O autor do livro que inspirou o filme morreu no dia 19 de maio de 2023, o mesmo dia em que The Zone of Interest estreou no Festival de Cinema de Cannes. Uau! Ele ter morrido no mesmo dia da estreia mundial foi algo impressionante.

(SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Na conversa com as amigas que eu já citei anteriormente, tem um momento em que Hedwig zomba de uma mulher que achava que um casaco de peles roubado de uma vítima do nazismo tinha vindo do Canadá, achando que Canadá se referia ao país da América do Norte. Mas ela não sabia, na verdade, que os nazistas tinham apelidado de Kanada o armazém em Auschwitz onde eles colocavam os bens confiscados dos prisioneiros. Olha o nível…

Outra curiosidade sobre esta produção: o som constante de aceleração de um motor de motocicleta que conseguimos ouvir à distância diversas vezes em cenas externas é inspirado no que de fato aconteceu naquela época. Enquanto era comandante de Auschwitz, Rudolf Höss contratou uma pessoa para acelerar o motor de uma moto e, com isso, ofuscar o horror dos gritos e dos tiros que vinham do campo de concentração nazista.

O diretor Jonathan Glazer utilizou cinco câmeras fixas na casa e no jardim da família Höss para capturar muitas cenas. Como essas câmeras não precisavam de uma equipe para serem operadas, os atores não sabiam se eles estavam sendo filmados em plano aberto ou em close-up. A ideia é que os atores ficassem imersos nas cenas e trabalhassem em um ambiente realista, sem terem sempre uma equipe de filmagem rodando todas as cenas da produção.

Quando Glazer conheceu Aleksandra Bystron-Kolodziejczyk, ela tinha 90 anos. Ela morreu pouco tempo depois deles se conhecerem e de Glazer conhecer mais sobre a história dela. Além de fazer a homenagem para ela através da personagem que vemos em cena e de registrar isso nos créditos finais do filme, Glazer fez questão de usar a bicicleta que foi de Aleksandra e o vestido que era dela para dar ainda mais realismo para a personagem que a homenageia no filme.

Falando ainda na homenagem a Aleksandra, vale citar trechos de uma entrevista de Glazer para a Vanity Fair publicada em 2023. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme ainda). Segundo Glazer, quando ele começou a desenvolver o projeto de The Zone of Interest, ele passava muito tempo em Auschwitz e tudo que ele enxergava era escuro, e o horror da história lhe parecia muito opressivo. Em diversos momentos, Glazer pensou que não poderia seguir com o projeto porque tudo não passava de escuridão. Foi então que um amigo do diretor e um dos coprodutores do filme, Bartek Rainski, começou a pesquisar pessoas que ainda viviam naquela área e que tinham vivenciado a época em que Höss comandava Auschwitz. Muitos que estavam vivos eram criança, na época, e faziam parte de um movimento de resistência chamado AK. Foi então que Glazer conheceu Aleksandra.

O que ela contou para Glazer é que quando ela era uma menina, ela vivia visitando uma mina de carvão onde os prisioneiros dos nazistas trabalhavam. Ela era uma garota polonesa local, que não era judia, mas que sentia que deveria fazer o que pudesse para ajudar os prisioneiros. Parte do que ela fazia era deixar comida para eles nos canteiros de obras à noite, quando era mais difícil alguém flagrá-la fazendo isso. Para rodar essas cenas, que não poderiam ter luz de apoio, Glazer e Lukasz Zal conversaram a respeito o optaram por gravar as cenas com uma câmera térmica. Muito interessante a escolha deles. Até ler sobre isso, eu não tinha certeza sobre como eles tinham conseguido aquele “negativo” das sequências em que a personagem aparece.

Justamente pela escolha de Glazer de utilizar múltiplas câmeras para rodar grande parte do filme, quando ele foi trabalhar com Paul Watts na edição do filme, eles tinham mais de 800 horas de imagens para trabalhar.

O cachorro que vemos em cena no filme é, na verdade, o cachorro de estimação de Sandra Hüller. Agora deu para entender a parceria natural que eles desenvolveram em cena.

Interessante que, ao ler as notas de produção, fiquei sabendo de algo bem diferente do que eu tinha imaginado inicialmente. O roteiro de The Zone of Interest é apenas “vagamente baseado” no livro homônimo de Martin Amis. Apesar de provocativo, como o filme, o livro de Amis narra uma trama fictícia de uma história de amor a partir de três perspectivas. Apesar de usar apenas nomes fictícios, a história da família Höss serviu de inspiração para o autor.

O nome do filme e do livro faz referência a uma expressão utilizada pelos nazistas para se referir à área de 40 quilômetros quadrados em torno de Auschwitz.

Em um certo momento das filmagens, Glazer tinha cerca de 10 câmeras instaladas, com Johnnie Burn utilizando cerca de 30 microfones para capturar o que os atores falavam sem qualquer interferência.

Apesar da casa da família Höss ter sido recriada para o filme, a cena que vemos no porão foi rodada no porão que, de fato, pertencia à verdadeira casa da família Höss. A produção não pode ser gravada na casa da família porque ela está em péssimo estado de conservação, e como o acampamento de Auschwitz é considerado Patrimônio Mundial da Unesco, nenhuma construção pode ser feita na área ou ao redor dela. O plano B da produção foi adaptar um prédio abandonado próximo do acampamento. Para que o jardim estivesse pronto para a época das filmagens, eles começaram a plantar árvores e demais plantas em abril de 2021.

Encontrei nas notas de produção do filme uma explicação para aquela cena de Rudolf Höss com ânsia de vômito. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). A cena dele tentando vomitar de horror, mas sem conseguir, é idêntica a cena do final do documentário The Act of Killing (com crítica neste link), que retrata os líderes de “uma brutal campanha de limpeza étnica na Indonésia”.

The Zone of Interest ganhou, até o momento, 51 prêmios e foi indicado a outros 163, incluindo cinco indicações ao Oscar 2024 e três indicações ao Globo de Ouro 2024. Entre os prêmios que recebeu, destaque para os prêmios de Melhor Filme Britânico do Ano, Melhor Filme em Língua Não Inglesa e Melhor Som recebidos no BAFTA Awards; e para o Grande Prêmio do Festival, para o FIPRESCI Prize, para o CST Artist – Technician Prize e para Cannes Soundtrack Award dados no Festival de Cinema de Cannes.

Os usuários do site IMDb deram a nota 7,6 para The Zone of Interest, enquanto que os críticos que tem seus textos linkados no site Rotten Tomatoes dedicaram 300 críticas positivas e 21 negativas para esta produção, o que lhe garante uma aprovação de 93% e uma nota média de 8,7. O site Metacritic apresenta o “metascore” 92 para The Zone of Interest, fruto de 54 críticas positivas, três medianas e uma negativa. Alé disso, o site apresenta o selo “Metacritic Must-see” para a produção.

Segundo o site Box Office Mojo, The Zone of Interest faturou US$ 20,1 milhões nos cinemas pelo mundo, sendo US$ 7,8 milhões obtidos nas bilheterias dos Estados Unidos. Depois dos Estados Unidos, o país onde o filme teve a melhor bilheteria foi a França, onde ele arrecadou quase US$ 4,7 milhões.

The Zone of Interest é uma coprodução do Reino Unido com os Estados Unidos e a Polônia. Os idiomas falados no filme são o alemão, o polonês e o iídiche. Apesar de ter recursos de outros países, o grosso da verba e da produção é do Reino Unido, por isso o filme representa esse país no Oscar 2024.

CONCLUSÃO

Um filme impactante, marcante, mas sem usar nenhum recurso óbvio para isso. Muito pelo contrário. Diferente de tantos filmes anteriores que já trataram sobre o Holocausto, The Zone of Interest não mostra uma cena de morte ou de extermínio explícita. O terror, contudo, não é menor por causa disso. Pelo contrário. Os sons de morte e de extermínio nos perseguem praticamente do primeiro ao último minuto, assim como o contraste absurdo entre a vida da família do comandante do campo de extermínio e o que acontece literalmente ao redor.

Um filme extremamente inteligente pelas escolhas feitas pelo seu realizador, com destaque para o roteiro, a direção e o trabalho dos atores. Certamente, um dos melhores filmes do ano. Sem dúvidas, o melhor da lista de Melhor Filme do Oscar 2024, ao lado de Past Lives. Pelo menos, entre os que eu vi até agora. Filme marcante, que está entre os grandes de todos os tempos sobre este tema. Apesar disso, acho que falta algo nele para torná-lo impecável, perfeito. Por isso a nota acima.

PALPITES PARA O OSCAR 2024

Sim, eu sei que é cedo para eu dizer que The Zone of Interest é a melhor produção entre aquelas indicadas na categoria Melhor Filme do Oscar 2024. Afinal, falta eu assistir a seis dos concorrentes. Mas, entre os filmes da lista que eu assistia até agora – quatro, portanto, dos 10 concorrentes -, digo sem pestanejar que prefiro The Zone of Interest e, principalmente, Past Lives do que o favorito Oppenheimer ou do que Killers of the Flower Moon.

Claro que a minha opinião pouco importa. Os votantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood vão dar o prêmio principal e mais uma porrada de outros prêmios para Oppenheimer. E ok, já virou um costume eu discordar do Oscar. hahahahahaha. Mas, aparentemente, eles vão fazer justiça em Melhor Filme Internacional. The Zone of Interest deve receber esse prêmio. Isso é tão certo quando dois mais dois é igual a quatro. E será justo.

No total, The Zone of Interest foi indicado em cinco categorias do Oscar, como eu já citei anteriormente: Melhor Filme, Melhor Filme Internacional, Melhor Direção, Melhor Som e Melhor Roteiro Adaptado. Os realizadores da produção já podem se sentir vencedores por terem conquistado essas cinco indicações. Especialmente pelo filme ter o Reino Unido como origem e não ser um produto de Hollywood.

Segundo as bolsas de apostas, The Zone of Interest deve levar uma estatueta para casa, justamente a da categoria que eu considero a mais importante do Oscar, a Melhor Filme Internacional. Falta eu ver ainda a dois concorrentes desta categoria mas, acredito que mesmo após assistir aos representantes do Japão e da Itália, ainda seguirei achando este o melhor filme na disputa neste ano. Então podemos nos alegrar que ao menos com este filme será feito algum tipo de justiça. 😉

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 25 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing, professora universitária (cursos de graduação e pós-graduação) e, atualmente, atuo como empreendedora após criar a minha própria empresa na área da comunicação.

4 respostas em “The Zone of Interest – Zona de Interesse”

Obrigada por explicar as cenas em negativo, eu entendi que era uma pessoa que distribuía comida, mas fiquei tentando ligar a família principal, por isso estava pesquisando para entender e apareceu seu texto que foi muito esclarecedor! Ótimo texto

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