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August: Osage County – Álbum de Família


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Todos nós conhecemos histórias de famílias problemáticas. E mesmo as “normais” tem os seus rompantes de absurdo. August: Osage County foca a atenção em um encontro familiar destes clássicos, com muitas confissões e brigas. Uma desculpa perfeita para aquela que provavelmente é a maior atriz de todos os tempos brilhar novamente. Meryl Streep parece não existir. E a comparação dela com qualquer outra intérprete roça o impossível. Neste filme, mais uma vez, ela dá um show. E é bem acompanhada por algumas falas ótimas e por um elenco “de apoio” que segura a responsabilidade.

A HISTÓRIA: Uma planície. E uma voz cansada diz a frase “A vida é muito longa”, de TS Eliot. Depois, outras imagens seguem revelando as paisagens de Osage County, território no Missouri, Estados Unidos, onde esta história é ambientada. Em uma casa branca de dois andares, encontramos a voz cansada de Beverly Weston (Sam Shepard). Ele para de falar quando escuta um barulho no andar de cima. Ele avisa que a fonte do barulho é Violet (Meryl Streep), sua esposa. Beverly confidencia que ela toma pílulas, e que ele bebe.

Este é o acordo que eles tem. E enquanto ele fala sobre o vício de cada um, Violet se levanta da cama e começa a caminhar. Quando ela se aproxima do marido, conhece a Johnna Monevata (Misty Upham), que está sendo contratada por Beverly para ajudar nos afazeres de casa. Em breve, Johanna vai conhecer profundamente esta família composta, ainda, por três filhas do casamento de Beverly e Violet e seus agregados.

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a August: Osage County): Logo que Meryl Streep apareceu em cena, fiquei boquiaberta. Como é mágico assistir a uma grande intérprete em cena! E ela está, mais uma vez, arrasadora. Para mim, neste papel de frágil e ao mesmo tempo forte Violet, ela consegue uma das melhores interpretações da carreira. E isso não é pouco para a atriz que é recordista em indicações no Oscar.

Quando surgem aquelas paisagens de Osage County, seguidas da voz inconfundível do veterano Sam Shepard, tudo parece ter sido milimetricamente planejado neste filme. Uma produção se revela interessante se ela começa com isto, com as escolhas certas. E daí o personagem de Beverly ainda cita TS Eliot e a frase simbólica de que a vida é muito longa. Meus caros, não se enganem. Esta sensação dita o sentimento de dois dos personagens principais da trama – e, talvez, até de outras pessoas que fazem parte da história.

Logo nos créditos iniciais da produção, percebi que August: Osage County tinha o roteiro de Tracy Letts, a mesma autora da peça que inspirou esta produção. Para mim, esta é sempre uma vantagem. Afinal, ninguém melhor que a autora original para conhecer os meandros e detalhes de sua obra. Normalmente o prosseguimento do trabalho de um autor em outro formato, como pode ser o cinema após o sucesso de um texto no teatro, garante não apenas a legitimidade da produção, mas também a continuidade de sua qualidade.

Não assisti à peça de Letts, mas gostei muito do trabalho dela neste filme. Verdade que a premissa central da história já é conhecida: uma família passa por um momento difícil, que faz os filhos voltarem para casa, e este retorno provoca o conflito de gerações e memórias. Outros filmes trataram deste tema, e muitos outros ainda vão se debruçar no intricado relacionamento familiar e suas desigualdades.

Mas o que eu gostei no texto de Letts é que, apesar dele focar um tema um tanto desgastado, a autora nos reserva alguns ótimos momentos e alguns diálogos muito bons. Falando exclusivamente do roteiro, gostei que ele entra direto na ação. Letts não tem tempo a perder. Assim, somos apresentados logo ao casal Beverly e Violet e a suas dependências declaradas: álcool e remédios. Os dois precisam destes “aditivos” para seguir encarando a “vida longa demais”.

O primeiro elemento que rompe a rotina daquele casal é a chegada da empregada com forte descendência índia Johnna. Ainda que sobre pouco espaço no filme para discutir a questão de dominação racial e seus resquícios naquela região dos Estados Unidos, o tema está presente na história. Aliás, a questão da dominação é uma tônica na produção que conta com a competente direção de John Wells.

Há um jogo importante de dominação naquela família. Violet tenta ser a voz mais encorpada, mas ela tem um contraponto importante no estilo silencioso e amoroso do marido. Soma-se a isso a questão da idade e da doença, que fragilizam a personagem central. Enfrentando um câncer na boca – que chega a render uma leve ironia do marido -, Violet não tem mais a força que um dia teve para enfrentar a independência das filhas ou do marido. Ainda assim, ela não se dobra. E a influência dela em cada pessoa da família vai se revelando aos poucos.

A rotina de cortinas fechadas e semi-breu na casa dos Weston é primeiro quebrada pela chegada de Johnna. Mas não demora quase nada para que o cenário mude com a chegada de vários familiares quando Beverly desparece. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). No início, fiquei em dúvida se tantas pessoas “socorrem” Violet porque estão com pena dela ficar sozinha na casa ou porque estão realmente preocupados com Beverly. Conforme a história vai se desenrolando, a motivação de cada um vai ficando mais clara. Mas, no geral, quase todos são movidos pelo “dever” de socorrer a uma senhora idosa e que está, aparentemente, sozinha – descontada a presença da “estranha” (leia-se de fora da família) Johnna.

O texto de Letts não tem papas na língua. Não há espaço em August: Osage County para enganos, ou para maquiagens. As relações naquela família são desveladas pouco a pouco, mas sem meios termos. Desta forma, apesar de serem “fruto” de um mesmo casal, cada uma das filhas dos Weston é movida por um sentimento e apresenta uma determinada reação no reencontro familiar.

Para começar, a segunda personagem central nesta história, Barbara (Julia Roberts), a filha “dominante” do casal, claramente está indo a contragosto para a casa dos pais. Ela segue a voz do “dever”, de quem precisa dar apoio em um momento de incertezas. Mas fica claro, logo no início, que ela não está exatamente feliz em fazer a viagem de “volta às raízes”. Depois, há a filha “sempre presente”, Ivy (a interessante Julianne Nicholson), que parece conviver mais de perto com os pais. E, finalmente, há Karen (Juliette Lewis), aparentemente a caçula da casa e a mais “desmiolada”.

No caso de Ivy, ela está presente naquele momento de sumiço do pai como, aparentemente, ela está presente na maioria das ocasiões. Em mais de uma cena ela aparenta ser a “menos estranha” naquele ninho. Acompanha os pensamentos de Violet, ouve mais do que opina, e respeita o espaço dos pais mais do que consegue fazer-se respeitar. Karen aparece depois do fato principal da história acontecer, arrastando consigo a última “conquista amorosa”, o noivo Steve Huberbrecht (Dermot Mulroney). Ela não parece fazer muito parte daquela família. Está ali para dar apoio para a mãe, mas sem quase nenhum compromisso.

A personagem dominante, entre as filhas, sem dúvida é Barbara. As irmãs olham sempre para ela quando algo inusitado é dito pela mãe. E ela não se importa de confrontar a matriarca, mesmo a mulher estando doente. Uma das cenas mais fortes da produção acontece, justamente, depois que Barbara resolve mostrar para a mãe quem está “mandando no pedaço”, após uma clássica cena de reunião familiar à mesa. Para mim, naquela sequência Julia Roberts garantiu a sua indicação ao Oscar – além de manter, por grande parte do filme, uma conduta regular.

Sem dúvida alguma este filme não é fácil. Como não é fácil nenhuma família – certo que existem algumas exceções pelo mundo… mas elas são exatamente isso, exceções. Além da queda de braços entre a mãe e o pai das garotas, existe uma “disputa” por poder entre a filha mais velha – que acredito ser Barbara – e a mãe. Jogos de poder em família sempre dão pano pra manga e, neste caso, rendeu um filme bem construído, comovente e com algumas cenas de impacto.

Para mim, August: Osage County se mostrou interessante, e diferente de outras produções do gênero, por focar em dois aspectos interessantes. O primeiro é o efeito que a falta de generosidade pode causar entre pais e filhos. Fica claro, especialmente em dois momentos da trama – na cena familiar na mesa e, depois, no diálogo final entre Violet e Barbara -, que a experiência de vida dos personagens Violet, Beverly e da irmã de Violet, Mattie (a competente Margo Martindale) é muito diferente daquela vivida por seus filhos.

Na mesa, Violet “joga na cara” das filhas que elas não estão fazendo nada demais da vida, apesar de terem todas as oportunidades do mundo – inclusive de estudar -, muito diferente deles (Violet, Beverly e Mattie), que foram pobres e passaram por maus bocados. No segundo momento que eu citei antes, Violet volta a explicar para Barbara como para a geração dela o dinheiro é importante. E para a geração de Barbara?

Aí que o filme ganha vários pontos de interesse. Barbara está passando pelo processo de separação do marido, Bill Fordham (Ewan McGregor), que, aparentemente, a traiu com uma garota pouco mais velha que a filha, Jean (Abigail Breslin). Ivy nunca conseguiu “engrenar” em um relacionamento a longo prazo, aparentemente porque ela teria sido “prejudicada” pela dedicação que teve no cuidado dos pais. E Karen está buscando dar certo com mais um homem que possa lhe pagar as contas. Em resumo: todas em busca do amor, mas sem grande sucesso.

Então, diferente dos pais, as filhas estão mais preocupadas com algum relacionamento que faça sentido do que com o dinheiro. Parece algo das últimas gerações. O efeito? Violet e Mattie aguentam muito mais os problemas dos relacionamentos do que os seus filhos – e do que a gente, possivelmente. O choque de geração está ali, assim como uma aparente falta de generosidade das mães com os seus rebentos. Mattie, inclusive, é confrontada pelo marido, Charlie Aiken (o ótimo Chris Cooper), pela crueldade que ela destila contra o filho, Little Charles (Benedict Cumberbatch).

A dureza na fala e na forma de agir parece ser uma característica das mulheres “mais fortes” da família. Mesmo sem perceber, Barbara segue os passos de dureza da mãe, Violet, e da tia Mattie. Mas as mulheres mais velhas tem a “desculpa” de terem comido “o pão que o diabo amassou”, por terem tido vidas complicadas. E qual seria a desculpa de Barbara? Talvez ela também tenha uma vida complicada, mas não por causa da falta de dinheiro, e sim de afeto.

Então qual miséria pode ser pior? A causada pela falta de recursos financeiros ou aquela causada pela falta de recursos afetivos? Aparentemente, segundo o que nos conta August: Osage County, estas duas carências podem motivar espíritos duros, com dificuldade de buscar afeto e o perdão. Mas claro que nada é imutável, e só escolhemos “seguir no inferno” causado por estes cenários agrestes se quisermos. Sempre é possível buscar um outro caminho. Talvez as herdeiras dos Weston consigam isso, se elas souberem encarar a herança familiar de forma madura e aprender com os próprios erros.

Outro tema que o filme traz e que eu sempre achei importante é a questão das expectativas familiares e as fraquezas individuais. Fica evidente que Barbara conhece bem a dependência materna de comprimidos e de que ela não aceita isso – provavelmente, quando adolescente, teve que suportar muitos “surtos” da mãe provocados pelo excesso de remédios. Mas o que fazer naquele cenário?

Este assunto, especificamente, é um dos levantados por um dos meus filmes preferidos de todos os tempos, Requiem for a Dream. Tanto naquela produção quanto nesta nova, a questão principal é: como encarar a dependência de uma mãe? E ela estando doente – especialmente Violet, que reclama de dores -, como retirar este “prazer” dela? Evidentemente que ninguém gosta de ver outra pessoa se descontrolando por causa de uma dependência química, mas que vida melhor você pode garantir para quem está naquela condição?

Com isso eu não quero dizer que apoio a dependência química e que deixaria Violet seguir com a vida que ela levava. Mas acho muito cruel também avançar contra ela e tirar-lhe um dos poucos – e talvez últimos – prazeres e válvulas de escape da vida. Afinal, ela terá uma vida melhor ou mais miserável a partir do fim do contato com os remédios?

Ao mesmo tempo, entendo a postura de Barbara. Afinal, nenhum filho quer ver a mãe descontrolada. Mas esta busca de controle por parte de Barbara – e da gente mesmo, quando agimos em relação aos nossos pais, ou filhos – é para causar o bem ou apenas para mostrar força e que ela pode mais? Situações complicadas.

E que nos levam a mais uma reflexão, alimentada especialmente pela sequência final da produção: por mais que a gente negue, muitas vezes somos mais parecidos com os nossos pais do que a gente gostaria de admitir – ou mesmo de ser. Barbara procura ser muito correta, falar o que pensa e enfrentar os “desmandos” da mãe sempre que possível. Mas será que estas reações dela não são, exatamente, o avesso e, algumas vezes, a cópia da mãe que ela gosta tanto de confrontar?

O lado “careta” de Barbara é um contraponto às dependências da mãe e do pai. Ok. Mas aquela busca por controle é totalmente uma característica de Violet. E a personagem de Meryl Streep sabe algo que qualquer jornalista tem muito claro no seu cotidiano: informação é poder. Ela tem tanta segurança naquela família e “canta de galo” porque sabe de tudo. Dos maiores segredos e das mais baixas motivações.

Por isso ela tem poder, apesar de, como todos nós que um dia nos sentimos “poderosos”, ser apenas carne e osso. Com a idade, ela percebeu que também é frágil. E a cena em que ela vai buscar apoio em Johnna, não por acaso, plasma com toda a profundidade esta carência e fragilidade que Violet e todos nós temos. Gostando de admitir ou não.

Desta forma, August: Osage County se mostra um filme muito interessante. Durante o desenrolar da trama, salta aos olhos os infindáveis “embates” familiares. Para mim, a sequência das irmãs conversando e descobrindo que elas são verdadeiras estranhas umas para as outras, foi das melhores – achei muito realista, até porque nas famílias isso acontece muito. Mas apesar das discussões e desentendimentos dominarem a trama, depois que o filme acaba é que as outras camadas de leitura da produção vão se desenrolando. Apenas por isso, por nos permitir diferentes e variadas leituras, o trabalho de Tracy Letts e John Wells, junto com o restante da equipe, já vale ser visto.

NOTA: 9,3.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: Este é mais um filme desta safra pré-Oscar com um elenco bem escolhido. Mérito da dupla Kerry Barden e Paul Schnee, responsáveis pelo “casting” da produção. Além da inigualável Meryl Streep, temos a uma esforçada Julia Roberts (que admitiu que ficou nervosa por contracenar com o ícone Meryl), e um elenco de apoio bastante interessante.

Para começar, é sempre bom ver a Sam Shepard em cena. Aliás, este é um destes atores que eu acho que é menos valorizado do que deveria. Sempre que o vejo em cena, ele nos dá uma entrega muito boa. Outro nome que muitas vezes fica em terceiro plano nas produções é o de Chris Cooper. Neste filme, o personagem dele acaba tendo uma relevância bem maior – ele é responsável, por exemplo, por diálogos mais relevantes que os mais badalados Ewan McGregor, Dermot Mulroney e Benedict Cumberbatch.

A impressão que fica é que a “velha guarda” do filme tem muito mais propriedade e potência em suas vozes e gestos, e que os mais jovens ainda estão aprendendo como se “impor”. Exceto pela personagem de Julia Roberts, claro. Apesar de terem importância menor na história, McGregor, Mulroney e Cumberbatch fazem uma boa entrega em seus respectivos papéis. Mas são os velhos, Shepard e Cooper, que roubam a cena sempre que aparecem.

O elenco feminino também é bem competente. Ainda que eu tenha percebido um grande “disparate” nas personagens e entregas de duas atrizes. De Meryl Streep e Julia Roberts eu já falei o suficiente. Talvez valha apenas acrescentar que senti falta da personagem da Julia ser um pouco mais realista, ou seja, apresentar nuances mais variadas de comportamento. Afinal, em 99% do tempo ela fica com aquela carranca dura, pronta para qualquer confronto – em pouquíssimas vezes ela sorri ou é capaz de uma fala menos dura. Até a mãe dela apresenta nuances muito mais variadas.

Mas falemos das outras atrizes… Para mim a grande surpresa do filme foi Julianne Nicholson. A atriz tem uma relevância considerável na história e consegue repassar suas emoções apenas com o olhar – diferente de outras figuras em cena. A personagem dela tem várias nuances e a atriz consegue flutuar entre os diferentes sentimentos de forma convincente. Gostei. A veterana Margo Martindale também mostra segurança em seu papel, e tem pelo menos um grande momento no filme – quando Mattie discute com Charlie e depois conta um segredo forte da família para Barbara. A única que achei apenas razoável foi Juliette Lewis.

Falando em segredos de família… (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Acredito que o final não tenha deixado muitas dúvidas, mas não custa explicar por aqui o que aconteceu para aqueles que deram uma adormecida nos minutos decisivos. 🙂 Violet dá um show ao mostrar como ela é, realmente, uma sobrevivente. Não apenas por ter enfrentado um câncer, mas por ter passado por muitas e pesadas dificuldades durante a vida. Além da traição do marido e da irmã, ela explica para Barbara como foi o desfecho da história de Beverly.

(SPOILER – continuação…). O marido deixou um bilhete suicida para a mulher, avisando onde estaria antes de se matar no rio. Ela, encarando aquilo como um “desafio” do marido, não acudiu para impedi-lo. No lugar disso, ela foi garantir que as economias que eles tinham guardado estavam lá. Segundo a leitura de Violet, aquele gesto final de cansaço de Beverly era, também, uma última queda-de-braço, da qual ela não estava disposta a perder. A filha fica chocada, é claro, mas eu concordo com Violet quando ela diz que ambas tinham “culpa” sobre o que aconteceu, ao mesmo tempo que ninguém tinha culpa. Afinal, a decisão de se matar foi dele, independente das motivações que ele tivesse tido. Da minha parte, sempre encaro um suicídio desta forma também. O único responsável pelo ato é aquele que o pratica. Alguém poderia ter impedido? Acho que o que podemos fazer é tentar não causar dor e desespero nos outros, mas no fim das contas cada um é responsável pelos seus atos.

Da parte técnica do filme, gostei muito da direção de John Wells. Acho que ele conseguiu estar atento aos detalhes das vidas daquelas pessoas, valorizando a interpretação dos atores. Afinal, este é um filme de atores e que explora os diálogos e a história entre eles. Não se trata de uma destas produções com cenas de ação ou reviravoltas. Por isso mesmo, grande parte da trama se desenrola na casa dos Weston, cenário bem explorado por Wells.

Ajuda na qualidade do filme o trabalho competente do diretor de fotografia Adriano Goldman, que consegue a luz certa mesmo em diversas sequências de semi breu. Gostei também da trilha sonora de Gustavo Santaolalla e da decoração de set de Nancy Haigh. O departamento de maquiagem faz um trabalho fundamental, com a atuação de oito profissionais – destes, destaco J. Roy Helland e Matthew W. Mungle, responsáveis pela mudança na aparência de Meryl Streep.

August: Osage County estreou em setembro de 2013 no Festival de Toronto. Depois, o filme participaria de outros nove festivais – e o próximo da lista será o Festival de Cinema de Belgrado, no dia 1 de março de 2014. Nesta trajetória, o filme abocanhou sete prêmios e foi indicado a outros 35, incluindo a indicação a dois Oscar. Entre os prêmios que recebeu, destaque para o de Melhor Atriz Coadjuvante para Julia Roberts e para o de Melhor Elenco no Hollywood Film Festival. Julia Roberts também ganhou como Melhor Atriz Coadjuvante no Palm Springs International Film Festival.

Esta produção teria custado cerca de US$ 25 milhões e arrecadado, apenas nos Estados Unidos, até o dia 27 de janeiro, esta última segunda-feira, pouco mais de US$ 26,9 milhões. Nos outros mercados em que a produção já estreou, ela teria conseguido pouco mais de US$ 11,5 milhões. Ou seja, até agora, o filme está esperando para começar a fazer lucro.

August: Osage County teve cenas rodadas nas cidades de Bartlesville e Pawhuska, em Oklahoma, no parque Lake Tenkiller State, também em Oklahoma, e em Los Angeles, na Califórnia.

A atriz Julia Roberts realmente ficou emocionada em contracenar com Meryl Streep. Quando ela estava promovendo o filme Mirror Mirror, a atriz chegou a chorar quando falou sobre a parceria com Meryl que, segundo ela, é a sua atriz favorita.

Agora, uma curiosidade sobre a produção: a autora Tracy Letts se opôs, mas sem sucesso, pela escolha dos irmãos Weinstein de escalar atores britânicos – leia-se McGregor e Cumberbatch – para a produção. Isso porque, inicialmente, esta história deveria ser muito “americana”, com atores interpretando a personagens daquele país. Mas a autora admitiu que mudou de ideia ao ver o resultado final da produção.

Na peça original, a personagem de Violet foi vivida pela atriz Deanna Dunagan. Ela ganhou um prêmio Tony – o mais importante do teatro – pelo desempenho com a personagem na Broadway.

E uma última curiosidade. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). O final original da produção (e da peça) era a entrega frágil de Violet no colo de Johnna depois que todas as suas filhas tinham ido embora. Apesar deste ser o final preferido do diretor e da roteirista, os testes com a audiência fizeram com que fosse acrescentada a sequência com Barbara. Isso porque, segundo dos produtores do filme, a audiência pedia por um desfecho para a personagem – que terminou como a mãe, mas que, para o público, esta informação não tinha ficado clara e precisava ser apresentada em um desfecho. Curioso.

Antes comentei sobre a trilha sonora. Ela tem algumas músicas muito interessantes. Entre outras, Lay Down Sally, de Eric Clapton; Gawd Above, de John Fullbright; e Last Mile Home, do Kings of Leon (música interessante e que aparece nos créditos finais). Muito bacana também a musiquinha que Benedict Cumberbatch canta em determinado momento do filme – ela tem o título de Can’t Keep It Inside.

Os usuários do site IMDb deram a nota 7,4 para o filme. Certamente, por causa, principalmente, do ótimo elenco. Essa é uma boa avaliação, levando em conta o padrão do site. Os críticos que tem os seus textos linkados no Rotten Tomatoes foram menos generosos. Eles escreveram 103 críticas positivas e 56 negativas para August: Osage County – o que lhe garantiu uma aprovação de 65% e uma nota média de 6,4.

CONCLUSÃO: Uma família pode ser fonte de sustentação para o indivíduo nas mais diferentes horas complicadas que ele tem na vida como pode ser, também, fonte de muita dor e de rejeição. August: Osage County não é o primeiro filme e nem deverá ser o último a focar as lentes para as relações de uma família complicada. A grande vantagem deste filme é que ele tem um elenco equilibrado, sob a liderança de uma estrela de Hollywood que está à frente de quase todas as intérpretes que já assistimos. Meryl Streep dá um show, mais uma vez. Além disso, o filme tem um roteiro competente, com algumas boas falas entre uma cena e outra de entrega dramática. Recomendado para quem gosta do tema das relações familiares e seus efeitos nos indivíduos. O tema sempre rende e vale ser debatido. Este filme se junta a outros na lista de bons exemplares do gênero. Sem contar que ele se diferencia de outros por ser uma crônica potente dos jogos de poder, dos segredos e das válvulas de escape da família “média e tradicional” dos Estados Unidos.

PALPITES PARA O OSCAR 2014: Se a premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood fosse justa, Meryl Streep receberia uma estatueta em todos ou quase todos os anos em que a atriz concorreu a um Oscar. É como se ela fosse hors concours e merecesse receber a estatueta sempre, pela perfeição de seu trabalho. Paralelo ao prêmio de Meryl, a Academia devia entregar outra estatueta para a segunda melhor atriz do ano.

Claro que o meu comentário parece exagerado. Mas é que é tão complicado comparar Meryl Streep com qualquer outra atriz… este ano, por exemplo. Cate Blanchett está levando tudo pelo trabalho em Blue Jasmine (comentado aqui no blog). Certo que Blanchett é uma grande atriz. Ninguém duvida disso. Mas daí você assiste a Meryl Streep em August: Osage County, e fica impossível fazer uma comparação justa. Meryl está muitos níveis acima de qualquer concorrente.

Dito isso, vamos falar de maneira realista sobre o Oscar deste ano. Como eu disse antes, August: Osage County está concorrendo em duas categorias da premiação da Academia. O filme foi indicado em Melhor Atriz, com Meryl Streep, e Melhor Atriz Coadjuvante, com Julia Roberts. E qual é a chance delas? Segundo as bolsas de apostas, nenhuma, zero. Meryl Streep tem tudo para sair, pela décima-quinta vez em sua trajetória, com as mãos vazias do Oscar – lembrando que a atriz é recordista em indicações e que já recebeu três estatuetas. O mesmo deve acontecer com Julia Roberts.

Segundo os especialistas de Hollywood, o Oscar de Melhor Atriz deve ficar mesmo com Cate Blanchett, que tem arrasado nos prêmios. A estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante estaria entre Lupita Nyong’o e Jennifer Lawrence por seus trabalhos em 12 Years a Slave (comentado aqui) e American Hustle (com crítica aqui), respectivamente. Da minha parte, acho mesmo que Julia Roberts se saiu bem, no geral, mas que não foi tão bem para ganhar um Oscar. Mas Meryl… sem dúvida eu daria a estatueta para ela. Mais esta, quero dizer. Porque ela já mereceu outras vezes e não levou.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 20 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing e, atualmente, atuo como professora do curso de Jornalismo da FURB (Universidade Regional de Blumenau).

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