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The Danish Girl – A Garota Dinamarquesa


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Esse filme será difícil de ser assistido por alguns, será uma verdadeira revelação para outros e, para um terceiro grupo, ele pode parecer uma redenção. Tudo vai depender sob que ótica você irá assistir a The Danish Girl. Da minha parte, ele foi difícil de ser visto, ao mesmo tempo que ele foi um eficaz cartão de visitas para uma realidade até agora desconhecida. Com atores de primeiríssima linha, especialmente com mais uma atuação inspirada de Eddie Redmayne, The Danish Girl se revela um filme necessário. Especialmente para ajudar a quebrar preconceitos ainda existentes.

A HISTÓRIA: Um conjunto de belas paisagens. Elas servem de inspiração para Einar Wegener (Eddie Redmayne). Gerda (Alicia Vikander), mulher dele, observa um de seus quadros. Perto dela, Einar é paparicado pela forma com que ele retrata Vejle. Os dois se olham, enquanto o agente dele, Rasmussen (Adrian Schiller) tenta exaltar o talento do artista. Essa história começa em Copenhagen em 1926. No dia seguinte Gerda acorda Einar, que a chama para a cama novamente. O casal de artistas é uma inspiração, ainda que eles tenham apelos muito diferentes. Em breve, contudo, Einar deixará aflorar a verdade sobre si mesmo, o que vai mudar a vida do casal.

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a The Danish Girl): Este filme não é fácil de ser visto. Pelo menos pela maioria das pessoas, eu aposto. Para mim não foi fácil. Primeiro porque é sempre duro ver o sofrimento alheio. E em The Danish Girl há bastante sofrimento. Mas ele não é tudo nesta história, é claro. Neste filme também há muito amor e a busca pela própria verdade. Ainda que esta verdade seja dura de aceitar, algumas vezes.

Serei franca em dizer que este filme mexeu com os meus preconceitos – ou com a minha dificuldade de entender o que é diferente de mim. (SPOILER – não leia se você não tiver assistido ao filme). Assistindo a The Danish Girl percebi que é muito mais simples entender um homem que se apaixona por um homem e uma mulher que se apaixona por uma mulher do que me colocar no lugar de quem não aceita o próprio corpo e faz cirurgias arriscadas para ter o outro sexo – que, evidentemente, é o que ele entende como sendo o seu.

Em outras palavras, para mim foi muito mais simples me identificar com Gerda do que com Einar/Lili. E neste ponto reside uma das belezas desta produção com roteiro de Lucinda Coxon baseado no livro de David Ebershoff. Ela provoca quem não compartilha com a visão de mundo e de realidade de Lili a conhecer mais de perto a intimidade dos transexuais/transgêneros.

Agora, o contato não é delicado. Pelo contrário. Não estamos do lado de fora, conhecendo a mudança de Einar para Lili como simples espectadores. Estamos dentro do quarto do casal Gerda e Einar. “Estamos” presentes no estúdio em que Gerda está trabalhando no retrato da amiga do casal, Ulla (Amber Heard), quando a modelo se atrasa e ela pede para o marido vestir as meias e a sapatilha para se passar pela amiga, momento em que Einar sente a sua verdadeira identidade começar a aflorar.

O filme não demora para mostra esta ruptura na vida do casal e a evolução deste quadro. Ainda assim, temos tempo de conhecer um Einar antes da mudança. Ele era um artista talentoso e sensível, se vestia bem e não tinha, aparentemente, nenhuma atração por homens ou vontade de se passar por mulher. Pelo menos até aceitar a provocação de Gerda e se vestir como mulher para acompanhá-la em mais um dos eventos chatos com artista que ele odiava.

Inicialmente eles pareciam estar apenas brincando e “jogando”. Afinal, no início, Einar continuava atraído pela esposa. Mas conforme ele foi dando espaço para Lili, tudo começou a mudar. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). De forma maravilhosa o grande ator Eddie Redmayne foi deixando claro que Einar se sentia muito mais vivo e “inteiro” sendo Lili. Não demorou muito para que ele só quisesse dar espaço para ela – e para que Einar praticamente desaparecesse.

A beleza de The Danish Girl é nos mostrar essa autodescoberta de Einar como Lili com muita franqueza. Mas a honestidade não torna tudo mais simples. De qualquer forma, para quem nunca tinha realmente se interessado ou tido a oportunidade de se colocar na ótica de um transgênero, este filme é um verdadeiro achado. Em The Danish Girl fica muito evidente o que se passa com um homem que passou uma parte considerável da vida escondendo o que realmente sentia sobre si mesmo e que, em determinado momento, resolve ser verdadeiro consigo mesmo.

A descoberta e a transição são dolorosas. Ainda assim, em diversos momentos, dá para perceber a liberdade e a alegria que Einar sente ao caminhar naquela direção de se assumir. Isso tudo é verdade e um desafio para quem não é transgênero. Me colocando no lugar deles, também entendo que este filme seja uma verdadeira redenção e uma inspiração. Mas serei franca em dizer que me coloquei demais no lugar de Gerda. Impossível não ficar assustada, como ela, com a primeira noite em que Lili saiu de casa e com o que viria depois.

A interpretação de Alicia Vikander é perfeita neste sentido. Ela fica assustada com as mudanças pelas quais passa Einar. Até porque ela não demora muito para perceber que, finalmente, ela está conhecendo de verdade a pessoa com quem ela se casou. Na medida em que a verdade não consegue mais ser escondida, o casal passa por um doloroso processo de aceitação e de mudança. Não tem como não sentir a dor de Gerda ao ver que ela está perdendo o seu marido.

Daí também, serei franca, um pouco da minha dificuldade também de entender Einar/Lili. (SPOILER – não leia… bem, você já sabe). Como até ele experimentar as roupas e se sentir uma mulher ele tinha tanta atração e parecia apaixonado por Gerda? Entendo quem faça isso para “acobertar” a própria identidade enquanto tem uma vida dupla, por pressão social, mas alguém que parece realmente eliminar parte fundamental da própria identidade e viver uma outra persona por tanto tempo me parece algo incrível. Sei que os psicólogos podem explicar e que o fato da história se passar nos anos 1920 ajuda nesta explicação, mas ainda assim me parece incrível.

Por causa disso Gerda acredita que se casou com uma certa pessoa e que a conhecia, mas não. E o processo de descoberta de Einar e de Gerda é complicado. Primeiro ele mesmo parece não entender pelo que está passando. Muito menos ela. No início, me incomodou também o fato dele não ter coragem de falar a verdade para Gerda e sair escondido para se encontrar com Henrik (Ben Whishaw). Sempre sou à favor das pessoas jogarem aberto. A verdade deveria prevalecer. Bueno, isso acaba acontecendo mas, até lá, é duro ver o que acontece com Einar/Lili e Gerda.

Também não é nada fácil ver todas as soluções malucas e absurdas que diferentes médicos e “especialistas” dão para o caso de Lili. É de cortar o coração. Ninguém, por mais que a maioria não entenda pelo que está passando, dever ser sujeito àquelas dores e torturas. Mas todos sabemos como a sociedade lidava com este e com outros “problemas” há diversas décadas atrás.

Nestas horas – e em outras também – percebemos como sim, evoluímos com o passar do tempo. Mas algo que parece ainda não ter evoluído muito, e aí está a importância de The Danish Girl, é a aceitação e entendimento dos transgêneros pela maioria da sociedade. Ainda falta mais falarmos do assunto e conhecermos histórias como a de Lili. Talvez, com o tempo, elas se tornem tão naturais quanto as histórias de amor entre homossexuais.

Por falar em amor, uma das grandes mensagens de The Danish Girl é o imenso amor que existe entre Gerda e Einar/Lili. Enquanto Lili luta por sobreviver e por ser cada vez mais coerente consigo mesma, Gerda segura as pontas e enfrenta toda a dor de perder o marido para que Lili possa ganhar a vida. Impressionante a entrega de Gerda e o amor verdadeiro que ela sentia por Einar/Lili. Francamente, não sei se eu conseguiria fazer o mesmo. Provavelmente não. Mas Gerda nos ensina isso, que o mais bonito amor é aquele que quer que a outra pessoa seja feliz, que se sinta inteira e viva. Não há amor aonde o outro tem que mentir para si mesmo.

Claro que junto com esse amor gigante de Gerda por Einar/Lili está o amor de Lili pela própria verdade. A busca incessante de Einar para dar lugar para a sua verdadeira identidade é comovente e, certamente, inspirador para quem passa pelo menos. The Danish Girl consegue demonstrar isso mesmo para quem não faz parte deste grupo. Este, sem dúvida, é um grande mérito da produção. Conquista dos ótimos atores envolvidos no projeto, especialmente Eddie Redmayne e Alicia Vikander, e também da ótima direção de Tom Hooper.

O roteiro de Coxon e a direção de Hooper não embelezam a pílula. Pelo contrário. E isso é mais um ato corajoso dos realizadores deste filme. Francamente, gostei muito do resultado. Mas acho que o filme peca um pouco por não nos contextualizar mais na história de Einar. Talvez algum flashback do passado ou ele contando mais para Gerda sobre a sua trajetória, sentimentos e dificuldades poderia tornar o filme mais completo. De qualquer forma, é uma bela produção. E muito necessária, já que pouco ainda se fala, e de forma tão franca e humana, dos transgêneros no cinema. Sem contar que este é um trabalho exemplar dos atores principais. Maravilhosos, os dois.

NOTA: 9.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: Eddie Redmayne realmente é um ator diferenciado. Ele consegue dar vida para Lili de uma forma genuína e que convence – quantos atores que você acompanha conseguiriam fazer o mesmo? Quantos não pareceriam forçados? Sei que ele tem Leonardo DiCaprio no papel da vida dele para enfrentar no Oscar, mas não dá para ignorar o excelente trabalho de Redmayne neste filme. Se ele seguir inspirado como agora, não tenho dúvida que outros prêmios virão.

Muito importante para The Danish Girl que o filme tenha, além de um Redmayne inspirado, uma Alicia Vikander igualmente em ótima forma. A atriz interpreta com maestria Gerda, fazendo muitas pessoas se sensibilizarem pelo que ela está passando na história. Francamente, o papel dela é muito diferente do de Rooney Mara em Carol, quando a interpretação é muito mais contida e nos detalhes – como na troca de olhares. No caso de Vikander a interpretação é muito mais direta, franca e entregue porque a personagem dela pede isso. Mara, por outro lado, faz uma entrega perfeita também, mas de outra forma.

Complicado escolher entre as duas. Assim como é complicado escolher entre Redmayne e DiCaprio. Para mim, todos estão perfeitos. A diferença talvez seja na classificação de “interpretação da vida” dos atores. DiCaprio realmente faz o melhor papel da carreira. Não conheço muito da trajetória de Vikander para dizer o mesmo dela, mas me parece que ela ganhou outro status a partir deste filme. Então, se formos olhar por esta ótica, talvez Vikander tenha uma vantagem sobre Mara. Agora, é preciso ainda ver a Kate Winslet em Steve Jobs – falo mais do Oscar logo abaixo.

Eu gosto muito do que Redmayne faz, mas tenho que confessar algo: me irrita um pouco o cacoete dele de piscar os olhos como se o personagem de Lili/Einar tivesse uma certa timidez que algumas vezes deve ser administrada através daquela piscada. Não sei, isso me faz lembrar de outros papéis dele. Acho que ele poderia utilizar outros recursos para variar um pouco.

A direção de Tom Hooper me pareceu soberba. Ele acerta ao estar atento a cada detalhe da interpretação dos atores na mesma medida em que ele valoriza a beleza dos lugares – afinal, este filme, ao ter dois protagonistas que são pintores, exige um apreço pelo visual diferenciado. Neste sentido, contribui para o bom trabalho visto no filme o diretor de fotografia Danny Cohen. Belo trabalho o dos dois.

Falando nas qualidades técnicas do filme, é preciso ressaltar o bom trabalho de Alexandre Desplat na trilha sonora; a edição competente de Melanie Oliver; o design de produção requintado e certeiro de Eve Stewart; a direção de arte de Grant Armstrong e Tom Weaving; a decoração de set de Michael Standish; os figurinos perfeitos e muito bem pesquisados/criados por Paco Delgado; e o excelente trabalho de maquiagem dos 10 profissionais liderados por Caroline Case, Annette Field e Pari Khadem. Exemplar também o trabalho do departamento de arte que conta com 32 profissionais talentosos.

Este filme é capitaneado e tem na interpretação de Redmayne e Vikander uma de suas fortalezas. Mas é preciso enaltecer também o bom trabalho dos coadjuvantes. Destaque para Adrian Schiller como Rasmussen, que representa Einar e, rapidamente, entende o novo talento que aflora em Gerda a partir dos quadros inspirados em Lili; Amber Heard linda e com interpretação convincente como Ulla; Ben Whishaw ótimo como Henrik; Pip Torrens um tanto assustador como o Dr. Hexler, o primeiro a “tratar” Einar; Matthias Schoenaerts perfeito e maravilhoso como Hans Axgil, amigo de infância de Einar e grande parceiro de Gerda e Lili; e o grande Sebastian Koch muito bem como o médico Warnekros, o primeiro a entender os transexuais e fazer cirurgias de readequação genital.

Para quem ficou interessado pelo tema, assim como eu, recomendo a leitura de algumas perguntas e respostas sobre transgêneros e transexuais disponíveis aqui no site iGay.

The Danish Girl estreou em setembro de 2015 no Festival de Cinema de Veneza. Depois, o filme participaria ainda de outros cinco festivais de cinema. Em sua trajetória, até agora, o filme recebeu 18 prêmios e foi indicado a outros 63, incluindo quatro indicações ao Oscar. Entre os prêmios que recebeu, destaque para 10 premiações para Alicia Vikander como Melhor Atriz Coadjuvante, como “Performance Arrebatadora” de uma Atriz ou Atriz do Ano (prêmio que ela normalmente recebeu junto com a interpretação em outros filmes); e para um prêmio para Eddie Redmayne como Melhor Ator e outro para Tom Hooper como Melhor Diretor – além de um Queer Lion para ele no Festival de Cinema de Veneza.

Esta produção teria custado US$ 25 milhões e faturado, até ontem, dia 20 de janeiro, pouco mais de US$ 9,1 milhões nas bilheterias dos Estados Unidos. Nos outros mercados em que o filme já estreou ele fez outros US$ 13 milhões. No total, quase US$ 22,2 milhões. Ou seja, ele está longe ainda de se pagar – levando em conta que qualquer estúdio gasta muito mais do que apenas os recursos para a produção do filme. É preciso adicionar ainda os gastos com distribuição e publicidade. The Danish Girl precisa melhorar o desempenho para conseguir pagar o investido.

The Danish Girl foi filmado em Copenhagem, na Dinamarca; em Bruxelas, na Bélgica; em Londres e Hertfordshire, no Reino Unido; em Vigra Island e em Mount Mannen, na Noruega; e em Berlim, na Alemanha. Diversos lugares, não? Sem dúvida uma boa parte do orçamento foi nestes deslocamentos da equipe e elenco.

Agora, algumas curiosidades sobre o filme. The Danish Girl é baseado no livro homônimo de David Ebershoff que, na verdade, recria de forma ficcional a vida de Einar Wegener/Lili Elbe. Ou seja, não se trata de uma biografia real. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Relatos históricos apontam que Gerda Wegener era lésbica e que preferia a feminilidade de Lili do que a masculinidade de Einar. Além disso, eles teriam um relacionamento aberto e, quando o casamento deles terminou, cada um foi para um lado. Ou seja, uma história beeeeem diferente do filme. E, cá entre nós, que faz mais sentido. É bacana pensar em um amor de entrega tão grande quanto o que vemos de Gerda no filme, mas me parece que a história real é mais plausível.

Uma fonte mais fidedigna do que aconteceu com Einar/Lili está no livro Man into Woman, assinado por Niels Hoyer. Esse nome, Niels Hoyer, na verdade é o pseudônimo para Ernst Ludwig Hathorn Jacobson, editor de Lili que reuniu as cartas e o que ela escreveu em seu diário para que este material fosse transformado no livro autobiográfico. Este sim deve ser interessante de ler.

A verdadeira origem de Gerda Wegener não é americana e sim dinamarquesa. Gerda Gottlieb Wegener Porta nasceu no dia 15 de março de 1886 e faleceu no dia 28 de julho de 1940. Ela foi “tranformada” por Ebershoff em americana para agradar aos leitores dos Estados Unidos. A história real aponta para que Gerda era lésbica e tinha um relacionamento aberto com Einar/Lili. Na verdade, o relacionamento delas tinha mais a ver com o de irmãs do que de amantes ou cônjuges. No livro/filme Gerda aparece como uma esposa fiel que nunca deixou Lili. Bem, a história real não foi bem essa. Mais uma razão para eu deixar a nota do filme aonde ela está.

No início, Nicole Kidman queria estrelar e produzir o filme, com ela interpretando Einar/Lili. Para o papel de Gerda foram escaladas e depois pularam fora do projeto Charlize Theron, Gwyneth Paltrow, Uma Thurman, Marion Cotillard e Rachel Weisz. Tenho certeza que um projeto envolvendo Kidman e qualquer uma destas atrizes teria sido interessante mas, francamente, eu acho que foi muito mais justo com a história e interessante termos um homem passando pela experiência de Einar/Lili. Me parece muito mais lógico.

Einar/Lili não foi a primeira pessoa a se submeter à cirurgia de redefinição de sexo, mas esteve entre as primeiras. Carla van Crist, Toni Ebel e Dorchen Ritcher tinham feito a cirurgia antes de Lili. Magnus Hirschfeld fundou em Berlim em 1919 o Instituto Sexual de Berlim, nos mesmos moldes do Instituto Kinsey. Os nazistas destruíram os arquivos do instituto em 1933, por isso não é possível saber exatamente quem foi a primeira pessoa a fazer a cirurgia de redefinição de sexo.

Os personagens de Hans Axgil e Henrik não existiram na vida real. Eles foram inventados pelo autor do romance (e, consequentemente, aparecem no filme). (SPOILER – não leia… bem, você já sabe). O namorado de Lili quando ela morreu era um negociar de arte chamado Claude Lejeune, com quem ela esperava casar e ter um filho. Gerda também não estava perto de Lili quando ela morreu e sim estava casada com um oficial italiano chamado Fernando Porta. Ela se casou com ele em 1931 e os dois foram morar juntos na Itália. Dez anos depois, no Marrocos, Gerda soube da morte de Lili. Fernando Porta acabou com as economias da artista que, em 1936, resolveu se divorciar dele. Ela não teve filhos e não se casou novamente. Voltando para a Dinamarca, Gerda começou a beber muito e morreu pobre em 1940.

O casamento de Einar e Gerda durou 26 anos, entre os anos 1904 e 1930. Ele tinha 22 anos e ela 18 quando se casaram. Lili tinha 47 anos quando fez a cirurgia para redefinir o seu sexo e morreu aos 48 anos graças à rejeição de órgãos após fazer um transplante de útero. Gerda tinha 44 anos durante os eventos retratados no filme e morreu aos 54 anos vítima de um ataque cardíaco.

The Danish Girl inspirou mais pesquisas sobre o período retratado, assim como uma exposição das obras de Gerda que retratam Lili que será feita em Copenhage.

Dois atores transgêneros fazem duas super pontas neste filme. A atriz Rebecca Root interpreta a uma das enfermeiras de Lili e Jake Graf, um homem transgênero, faz uma ponta ao lado de Matthias Schoenaerts na galeria de arte em que estão sendo expostas as obras de Gerda.

No dia 23 de novembro a Casa Branca promoveu o evento Champions of Change em que foram homenageadas as pessoas por trás de The Danish Girl, Tangerine e da série Transparent.

Os quadros mostrados no filme são uma adaptação da obra de Gerda feitas pelo designer de produção Eve Stewart e pela artista britânica Susannah Brough. Não foram utilizada réplicas do trabalho de Gerda porque eles quiseram fazer quadros que parecessem com Redmayne e com Amber Heard.

Muitos estranharam (como eu) que Alicia Vikander foi nomeada como Melhor Atriz Coadjuvante. Isso porque ela acaba aparecendo mais até que Eddie Redmayne no filme. Mas há uma razão para isso: os produtores de The Danish Girl quiseram que ela fosse indicada a Melhor Atriz Coadjuvante porque acharam que ela teria mais chances de ganhar o Oscar. A atriz acabou não comentando esta polêmica.

O nome pós-transição adotado por Einar foi o de Ilse Elvenes. Quem deu o nome de Lili Elbe para ele foi a jornalista de Copenhagen Louise Lassen. Esta é uma de várias imprecisões da história de Einar.

No livro e na primeira versão do roteiro deste filme a personagem de Amber Heard era uma cantora de ópera chamada Anna Fonsmark. Mas no final, para o filme, a personagem passou a ser a bailarina Ulla Paulson. O personagem é inspirado em duas amigas de Einar: a atriz dinamarquesa Anna Larssen Bjorner e a bailarina do mesmo país Ulla Poulsen Skou.

Outra fantasia que não tem a ver com a história real. Lili e Gerda se mudaram para Paris em 1912 – detalhe que o filme começa em 1926. Paris foi uma cidade bastante liberal nos anos 1910 e 1920 e, justamente por isso, as duas se mudaram para lá. Na capital francesa Gerda vivia abertamente como lésbica. Por isso mesmo a cena em que Einar é espancado por dois homens em Paris não teria acontecido realmente.

Um fato interessante que foi deixado fora do roteiro do filme – assim como o transplante de útero que matou Lili e que foi a quinta cirurgia dela: o terceiro médico que ela consultou a diagnosticou como intersexual e afirmou que ela teria órgãos sexuais femininos rudimentares. As análises hormonais feitas pouco antes da primeira cirurgia dela indicaram que ela tinha mais hormônios femininos que masculinos no corpo – o que sugere que ela tivesse o cromossomo XXY, da Síndrome de Klinefelter, algo que seria reconhecido pela Medicina apenas a partir de 1942.

Esta é uma coprodução do Reino Unido com os Estados Unidos, a Bélgica, a Dinamarca e a Alemanha.

Os usuários do site IMDb deram a nota 6,8 para esta produção. Provavelmente uma das menores notas entre os filmes indicados ao Oscar 2016. Os críticos que tem os seus textos linkados no Rotten Tomatoes dedicaram 118 críticas positivas e 47 negativas para a produção, o que lhe garantiu uma aprovação de 72% e uma nota média de 6,6. Também uma das avaliações mais baixas entre os filmes bem cotados nesta sequência de premiações em Hollywood.

CONCLUSÃO: Uma grande, imensa história de amor, e um filme que fala sobre a coragem de alguém que resolve assumir a sua própria identidade, mesmo que ela afronte o que a sociedade considere natural. The Danish Girl é um filme corajoso e duro, mas importante. Ele questiona a nossa própria capacidade de entender o que é diferente. Não é exatamente fácil assisti-lo. Mas isso pouco importa. Com grandes atuações e uma direção sensível e cuidadosa, é um belo filme na aparência e na mensagem.  E as premiações que deram destaque para ele até agora, como o Oscar, estão de parabéns por colocar um título tão diferente em evidência. Importante.

PALPITES PARA O OSCAR 2016: The Danish Girl está concorrendo em quatro categorias da premiação máxima da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood: Melhor Ator (Eddie Redmayne), Melhor Atriz Coadjuvante (Alicia Vikander), Melhor Design de Produção e Melhor Figurino.

A melhor chance do filme, me parece, está na categoria Melhor Atriz Coadjuvante. Alicia Vikander enfrenta Kate Winslet, que já foi premiada por Steve Jobs, e Rooney Mara, que está espetacular também em Carol (comentado aqui). Francamente, se eu votasse no Oscar, eu ficaria em dúvida entre Vikander e Mara. São interpretações com tonalidades muito diferentes, mas acha que as duas estão impecáveis. Não assisti ainda a Winslet. Preciso ver Steve Jobs para opinar definitivamente sobre esta categoria.

O ator Eddie Redmayne está ótimo, mais uma vez, nesta produção, mas ele tem um páreo duríssimo ao concorrer com Leonardo DiCaprio. O favorito é o protagonista de The Revenant (com crítica neste link). Redmayne só leva a estatueta para casa se a Academia demonstrar, mais uma vez, que tem bronca com DiCaprio.

Agora, as duas indicações técnicas do filme. Na categoria Melhor Figurino The Danish Girl tem uma parada dura. Para mim, o favorito nesta categoria é Mad Max: Fury Road (comentado aqui), seguido de Cinderella e de Carol. Como não assisti a Cinderella, pessoalmente o meu voto iria para Carol, mas acho que Mad Max: Fury Road pode faturar. The Danish Girl corre um pouco por fora.

A categoria Melhor Design de Produção também está bem concorrida. The Danish Girl e Bridge of Spies concorrem por fora, com a decisão nesta categoria tendo Mad Max: Fury Road, The Revenant e The Martian (com crítica aqui) como as produções que estão se digladiando pela estatueta. Pessoalmente, eu ficaria dividida entre Mad Max e The Martian. Ou seja, The Danish Girl tem sérias chances de não levar nenhuma estatueta para casa. As melhores chances, se for levar algo, estão nas categorias dos atores. Veremos.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 20 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing e, atualmente, atuo como professora do curso de Jornalismo da FURB (Universidade Regional de Blumenau).

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