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Triangle of Sadness – Triângulo da Tristeza


Um filme com um propósito muito claro: destroçar a visão que algumas pessoas possam ter sobre os ricos e elevar à última potência a crítica sobre as diferenças sociais. Triangle of Sadness começa de uma forma e vai revelando-se aos poucos. Achei o começo instigante, mas do meio para o final o filme perde força, assim com o tom irônico, e acaba abraçando uma ideia “revolucionária” que, vista em contexto, não chega a ser tão inovadora. Mas, algo é fato: o diretor e roteirista Ruben Östlund faz mais um filme ousado. Calculado para chocar, aparentemente. Importante você ter um bom estômago, especialmente para encarar a parte mais “escatológica” de Triangle of Sadness. Ela acontece, e é um tanto longa.

A HISTÓRIA

Começa com um apresentador testando o som para uma câmera que está gravando ele em frente a vários modelos. Quando começa a entrevistar os modelos que estão ali, ele pergunta para o primeiro sobre quais são os aspectos mais importantes para ser um modelo masculino. O rapaz, de cabelos compridos, responde que ser bonito. Vários modelos riem. O entrevistador pergunta o que mais. O modelo responde que é isso. Outro, que está ao fundo, complementa que “desfilar”. Em seguida, o apresentador pede para o modelo desfilar. Vemos a sala cheia. Todos estão ali para fazer um casting. Em breve, a história vai se desenvolver tendo um dos modelos que vemos em cena, Carl (Harris Dickinson), como protagonista, ao lado de Yaya (Charlbi Dean).

VOLTANDO À CRÍTICA

(SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Triangle of Sadness): Eu estava curiosa com esse filme. Primeiro, porque ele tinha ganho a Palma de Ouro em Cannes como o melhor filme do festival na edição de 2022. Depois, porque a produção está concorrendo em três categorias do Oscar – incluindo a principal, de melhor filme.

Como sempre, procuro não saber nada sobre a produção que eu vou assistir antes de conferir o que o diretor e roteirista quis nos apresentar. Assim, nem tinha me tocado que Triangle of Sadness é dirigido pelo sueco Ruben Östlund, a figura controversa que lançou, em 2017, The Square (produção comentada por aqui).

Ao me tocar disso, claro, eu já esperava uma certa “polêmica” ou uma “vontade de chocar” nesta nova produção. Afinal, Östlund parece curtir trabalhar com certos temas e castas sociais e elevar a temperatura quase ao ponto de ebulição. Vimos um pouco disso em The Square e vemos isso novamente, mas de forma mais irônica e escatológica, aqui neste Triangle of Sadness.

Honestamente, acho que não preciso escrever uma crítica longa sobre este filme. Até porque ele não tem muitas camadas – ele é bem direto e simples em sua mensagem. Diferente de outras produções que estão concorrendo ao Oscar neste ano, que tem diversas camadas, que apresentam um nível maior de complexidade e de profundidade, Triangle of Sadness é bastante simples, um bocado direta.

(SPOILER – não leia se você não viu ao filme). Como comentei lá no início, o grande foco de atenção de Östlund neste filme são os ricos e, em segundo plano, a desigualdade social absurda em que vivemos. Tudo se resume a isso. Ele pinta um quadro deprimente dos ricos, ridicularizando, em especial, os super ricos que mandam e desmandam no iate, uma alegoria sobre o habitat preferido desta casta social.

Não dá para mentir que ele tem certa razão na forma como pinta essas figuras. De fato, muitos ricos são ridículos, patéticos, amam se empanturrar do que há de mais caro, usam quem está ao redor para satisfazer todos seus caprichos. Eles nem sabem como gastar tanto dinheiro, então fazem ações e gestos patéticos sempre para revelar sua alegada “superioridade” – financeira, claro, como bem argumenta o diretor e roteirista. Porque, no fundo, eles geralmente são toscos, sem grande conhecimento de nada, quase nunca cultos e, principalmente, quase nunca sabem se virar.

Ao menos essa é a leitura de Östlund sobre as pessoa que detém grande parte da riqueza do mundo. Ele resume esses homens e mulheres como gente tosca, que ama controlar tudo e todos e que não consegue sobreviver em situações difíceis. Essas são as pessoas que devem ser servidas no iate, que concentra a segunda parte da narrativa – não comentei antes, mas Triangle of Sadness é dividido em três partes.

Antes de avançarmos, vale voltarmos um pouco na história. Depois daquela introdução irônica e engraçada sobre o “mundinho da moda” no início do filme, quando somos apresentados a um dos protagonistas do filme, Carl, Triangle of Sadness entra na parte 1 da história: Carl & Yaya.

Nesta parte, mais “suave”, que serve como uma introdução para a história, conhecemos um pouco mais sobre estes dois personagens, a relação que eles estão desenvolvendo e o contexto que os cerca. Descobrimos que Carl e Yaya trabalham como modelos, mas como prevê o “mundo da moda”, ela, por ser mulher, ganha muito mais do que ele. Quando vemos Yaya pela primeira vez, ela está abrindo um desfile de moda e existe quase uma “torcida organizada” que grita o nome dela. Enquanto isso, Carl foi deslocado da ponta da primeira fila para diversas posições atrás.

Em seguida, temos uma sequência que começa em um restaurante, em uma divergência sobre quem pagará a conta, e que termina no quarto de hotel que os dois estão dividindo – mas que é pago por Yaya. Os diálogos entre eles – e o comportamento de Carl, em especial – são bastante ilustrativos. Existe ali um jogo de poder constante, com Carl e Yaya disputando quem fica “por cima” ou em uma posição “inferior”, com ambos revelando estratégias de manipulação.

Enquanto Carl vem com um papo de “macho desconstruído” e defende que eles tenham uma relação mais “igualitária” – interessante ele falar isso quando ele está morando e comendo às custas dela, ao menos naquela noite -, Yaya deixa claro que eles estão juntos porque isso é favorável para ambos. Ou seja, eles praticamente tem uma relação comercial. Com bastante franqueza, Yaya diz que está com Carl porque ele ajuda ela a vender “publis”, afinal, ele é bonito, eles ficam bem nas fotos, eles se gostam e a relação deles ajuda nos “negócios”.

Quando Carl questiona que ela ganha mais, Yaya diz que isso não importa. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Ele, bastante autocentrado (para dizer o mínimo), pergunta o que importa. Yaya fala, com muita propriedade, sobre a fragilidade de sua profissão. Que se ela engravidar, ela precisa saber que o cara que está com ela vai cuidar dela – porque ela terá que parar de trabalhar, claro. Depois, comenta que só deixaria a vida de modelo para ser uma “esposa troféu”. Ou seja, se pudesse casar com um cara rico.

Depois desta “introdução” sobre os protagonistas da história, mergulhamos na segunda parte do filme, a mais longa de Triangle of Sadness. Na parte 2, focada no iate, temos o núcleo da narrativa de Östlund, quando ele escancara as diferenças sociais desta época estranha em que vivemos. Tudo no iate gira em torno dos ricos que pagaram caro para estar ali – com exceção de Yaya e Carl, que ganharam aquela viagem por causa da repercussão que eles têm nas redes sociais (Instagram, em especial).

Pouco a pouco vai ficando muito evidente como naquele iate convivem, em maior ou menor medida de convivência, diferentes “castas”. Os hóspedes, forrados de dinheiro, são todos brancos, a maioria homens e mulheres de meia idade ou idosos. A fonte da riqueza deles é diversa, desde o russo Dimitry (Zlatko Buric) e suas duas mulheres, que fez fortuna “vendendo merda” (fertilizante para agricultura), até o casal Clementine (Amanda Walker) e Winston (Oliver Ford Davies), que fabricam armas – sendo o produto principal deles a granada de mão.

Claro que temos também um representante da economia “mais moderna”, Jarmo (Henrik Dorsin), que ficou rico ao vender sua última empresa. Ele trabalha com a área de tecnologia, criando códigos para aplicativos. Essas figuras, e outros ricos do mesmo calibre, estão naquele iate para serem servidos. Eles representam a casta mais alta. Abaixo deles está o grupo que forma a equipe de atendimento do navio, formado por homens e mulheres jovens, bonitos, muitos deles loiros e… todos brancos. Liderados por Paula (Vicki Berlin), eles devem satisfazer todos os desejos e caprichos dos ricos embarcados.

A terceira casta é formada pela equipe de camareiros, liderada por Abigail (Dolly de Leon). Esse é outro grupo que tem certo contato com os hóspedes, mas eles estão em uma posição intermediária. São, basicamente, filipinos ou asiáticos. Há ainda a equipe da segurança e da manutenção, formada por homens fortes e de diferentes origens – e que, geralmente, não tem contato com os ricos do navio. Além deles, temos um capitão que fica geralmente trancado em sua cabine e que parece viver bêbado (interpretado por Woody Harrelson), o primeiro oficial Darius (Arvin Kananian) e mais a turma da cozinha.

Aquele cenário diminuto é um exemplo concentrado das diferenças que existem entre estas castas e as relações de poder da sociedade atual. Os ricos mandam e os demais obedecem. Basicamente é isso. Não importa o quanto absurdo é o desejo do rico, mas todos devem satisfazer esse desejo – o exemplo mais ilustrativo é o de uma das mulheres de Dimitry, Vera (Sunnyi Melles), que do nada resolve colocar a garota que está lhe servindo champagne na jacuzzi para entrar no local e depois ordena que toda a tripulação caia no mar usando um tobogã. Claro que os desejos dela são atendidos, mesmo com as pessoas constrangidas.

Mais ou menos no meio do filme, temos a mais longa sequência tenebrosa e escatológica da produção. (SPOILER – não leia… bem, você já sabe). É um desfile de cenas nojentas que vemos a partir de um jantar com o capitão muito mal planejado. O tal jantar é marcado na data em que eles vão passar pelas maiores tribulações da viagem e quase todos os ricos empanturrados de comida e de bebida passam mal. Os banheiros acabam transbordando e os únicos “resistentes”, o capitão bêbado e o russo igualmente bêbado Dimitry causam ainda mais caos com uma transmissão em que discorrem sobre comunismo, capitalismo, as “classes dominantes” e os crimes do governo dos Estados Unidos. Ah sim, e antes, a dupla alega que eles estão naufragando, o que causa ainda mais pânico.

Francamente, achei parte desse episódio “iate” bastante chata. Ok, Östlund quer “causar”, impactar, tanto com as cenas nojentas, várias delas repetidas – realmente era necessário? -, quanto com aquela sequência de debate comunismo versus capitalismo e a derrocada moral da nossa sociedade. Ok, o diretor e roteirista tem o direito de fazer o que ele quiser. Mas nem por isso a gente pode achar tudo interessante. Achei meio repetitivo, um tanto apelativo e, principalmente, o debate entre o russo e o americano, um bocado chato – tudo poderia ter sido resumido, talvez.

Depois, vamos para o capítulo final da produção. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). O iate é atacado por um grupo de piratas – e temos a cena irônica do casal que produz armas de guerra, especialmente granadas, sendo mortos por uma delas. Agora sim, eles naufragam. Poucos sobrevivem e chegam até uma ilha. E a parte 3 do filme se passa nessa ilha. Agora, em condições de sobrevivência, os ricos sobreviventes se mostram ineptos, incapazes de fazerem qualquer coisa para se manterem aquecidos, protegidos ou alimentados.

Nesse capítulo final do filme, os papéis são invertidos. Abigail passa a ter um papel dominante no grupo porque ela é a única que sabe se virar – ela pesca, ela sabe fazer uma fogueira, entre outras técnicas de sobrevivência. Os ricos então passam a servir e, mais que isso, a conviverem como “iguais” com um suspeito de pirata, Nelson (Jean-Christophe Folly); com uma ex-camareira agora em posição de liderança, Abigail; e com a líder da tripulação do iate, Paula. Naquele cenário, dinheiro e joias não jogam papel algum. O que interessa é quem está mais apto a sobreviver.

Enquanto esperam o resgate, o novo grupo vai aprendendo a conviver, agora sem a diferença de castas. No início, Abigail atrai para perto as mulheres, procurando fortalecer suas “alianças”. Depois, ela percebe que Carl está aberto a novas “trocas comerciais”. Literalmente, ele é o típico cara que vai na direção do que lhe convém, do cenário que pode ser mais favorável.

Na ironia final do filme, aquele grupo pode conseguir socorro com facilidade, mas aí tudo voltará como era antes. Quem aprendeu que pode existir igualdade, mesmo que de forma artificial, não quer voltar com o sistema extremamente desigual de antes. Dá para entender a pessoa com facilidade, mas nunca justificando a violência. A sequência final, mais uma vez, fica um tanto caricata, exagerada. Parece que o diretor precisa desta dose de exagero, de teatralidade. Novamente, achei um pouco desnecessária a forma como ele transforma Yaya quase em uma pintura ao mesmo tempo em que quase bestifica Abigail. Desnecessário.

(SPOILER – não leia… bem, você já sabe). Ainda que o final não fique explícito, podemos concluir, com certa margem para acerto, que sim, Abigail desferiu o golpe – e que ela foi acompanhar Yaya já com más intenções. A corrida de “arrependimento” de Carl me pareceu um bocado superficial, como se não adiantasse mais correr para impedir uma mudança de virada de chave social que já estava em curso. Enfim, um filme interessante, com leituras bem simples, uma boa dose de exagero, escatologia e afins. Eu não indicaria como Melhor Filme do ano, mas ele vale ser visto pela curiosidade.

NOTA

7,8 7,5.

OBS DE PÉ DE PÁGINA

Minha gente, o tempo está curto. Estamos a uma semana da entrega do Oscar. Então prometo finalizar essa parte aqui de comentários extras em breve. Mas vou publicando a crítica enquanto isso para acelerarmos um pouco as publicações antes do dia da premiação, beleza? Até breve.

Minha ausência foi rápida desta vez. 😉 Voltei. Sim, estamos na reta final para a cerimônia do Oscar. Não parece, mas falta menos de uma semana para a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood promover seu evento mais importante. Então é a hora de acelerar. Depois de atualizar a crítica de Tár, chegou a vez de finalizar a crítica de Triangle of Sadness com esses comentários de “pé de página”.

O nome fundamental desta produção é o do diretor e roteirista sueco Ruben Östlund. Esse filme não seria o que ele é sem a digital de seu realizador. Östlund gosta de causar, isso é um fato. Com uma carreira relativamente curta, ele alcança, com Triangle of Sadness, suas duas primeiras indicações ao Oscar.

Östlund estreou na direção com o vídeo Free Radicals, em 1997. No ano seguinte ele dirigiu mais um vídeo, em 2001 fez seu primeiro curta e, em 2002, dirigiu o primeiro média-metragem. Ainda em 2002, ele dirigiu um vídeo musical. A estreia na direção de longas veio em 2004, com Gitarrmongot. Depois, vieram mais dois curtas, até que ele lançou em 2008, De Ofrivilliga, o primeiro filme dele que realmente “causou” (você pode acessar a crítica do filme por aqui). Mas o filme que realmente marcou a carreira do diretor foi The Square (crítica neste link).

Dos longas do diretor, não assisti Gitarrmongot (2004), Play (2011) ou Turist (2014). Não posso falar sobre estas produções. Mas assistindo apenas a outras três que ele dirigiu até aqui, é possível dizer que Östlund não gosta de caminhos fáceis ou fórmulas. Ele gosta de ousar, apresentando ideias inovadoras em maior ou menor medida a cada nova produção. Particularmente, acho que ele inova bem menos em Triangle of Sadness do que nos outros filmes que eu assisti. Ao mesmo tempo que ele quer chocar com diversas cenas e algumas linhas do roteiro, Östlund cai em alguns pré-conceitos bastante conhecidos e até em lugares-comuns.

Para além do roteiro, Östlund faz um bom trabalho na direção. Nada que, a meu ver, o credenciasse a ser indicado ao Oscar de Melhor Direção. Mas… como sempre, o Oscar tem suas indicações “forçadas”. Eis uma delas. Claro que Östlund entende de seu ofício, mas o trabalho dele não vai muito além do que é esperado na direção.

Do elenco de Triangle of Sadness, ninguém chama muito a atenção. Mas, claro, há alguns nomes que se destacam, até porque o roteiro dá espaço para um punhado de atores mais do que para os outros. Há uma separação clara, portanto, entre os protagonistas e os atores que mais aparecem na história depois deles e aqueles que tem um papel bastante pontual.

Entre os atores de maior destaque, vale comentar o bom trabalho de Harris Dickinson como Carl e o de Charlbi Dean como Yaya, o casal de protagonistas – talentosos, além de muito, muito bonitos, que era o predicado central da história de ambos; Dolly de Leon está muito bem como Abigail – fora a sequência final da personagem dela, um tanto exagerada demais; Zlatko Buric cômico como o “russo maluco” e muito, muito rico Dimitry; Iris Berben em um belo trabalho em um papel difícil como Therese; Vicki Berlin bem como a chefe da tripulação Paula; Henrik Dorsin igualmente bem como Jarmo, o rico ligado à tecnologia; e Jean-Christophe Folly como Nelson, mais um naufragado que faz parte do grupo que termina essa história.

Além destes atores, vale citar alguns nomes que tem destaque no segundo capítulo da produção: os veteranos Amanda Walker como Clementine e Oliver Ford Davies como Winston, casal que ficou rico vendendo armas e dispositivos de destruição; Sunnyi Melles como Vera, uma das esposas de Dimitry, um dos maiores exemplos dos excessos de sua classe; Woody Harrelson em um papel meio “bobo” como o capitão do navio; Thobias Thorwid como Lewis, que entrevista os modelos no início do filme; Carolina Gynning como Ludmilla, a segunda mulher de Dimitry; e Arvin Kananian como Darius, o segundo homem no comando do navio. Há ainda diversos outros nomes envolvidos na produção, mas ninguém com destaque para ser mencionado(a) aqui.

Entre os aspectos técnicos da produção, vale citar a edição de Mikel Cee Karlsson e de Ruben Östlund; a direção de fotografia de Fredrik Wenzel; o design de produção de Josefin Åsberg; a direção de arte de Daphne Koutra; os figurinos de Sofie Krunegård; a equipe de 22 profissionais envolvida com os Efeitos Especiais e a equipe de 37 profissionais responsáveis pelos Efeitos Visuais do filme.

Triangle of Sadness estreou em maio de 2022 no Festival de Cinema de Cannes. Depois, até março de 2023, o filme participaria, ainda, de outros 37 festivais e mostras de cinema pelo mundo. Entre outros eventos, a produção participou dos festivais de Sydney, Melbourne, Toronto, Helsinki, Zurique, Hamburgo, Busan, Roma e Gijón.

Em sua trajetória, Triangle of Sadness ganhou 20 prêmios e foi indicado a outros 70 – incluindo três indicações ao Oscar 2023. Entre os prêmios que recebeu, destaque para a Palma de Ouro como Melhor Filme no Festival de Cinema de Cannes, onde o filme também recebeu o CTS Artist – Prêmio Técnico; e para os prêmios de Melhor Filme Europeu, Melhor Diretor Europeu para Ruben Östlund, Melhor Ator Europeu para Zlatko Buric e Melhor Roteirista Europeu para Ruben Östlund no European Film Awards.

Para quem gosta de saber onde os filmes são feitos, Triangle of Sadness teve cenas externas rodadas na Grécia, em locais como Evoia e Katakolo, e cenas de estúdio rodadas na Suécia.

Agora, vale citar algumas notas da produção. Fiquei chocada com uma notícia. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). A atriz Charlbi Dean, que aparece belíssima na tela e que eu achava um nome com grande potencial para filmes no futuro, morreu logo após Triangle of Sadness ser lançado. Segundo as notas de produção, apesar da causa da morte não ter sido divulgada oficialmente, tudo indica que ela morreu por causa de uma infecção pulmonar. O estado de saúde dela foi complicado porque ela perdeu o baço em 2009 por causa de um acidente de carro. A atriz tinha apenas 32 anos quando morreu, em agosto de 2022. A cicatriz que ela apresenta no filme foi da cirurgia de retirada do baço.

Segundo os atores do filme, Ruben Östlund costumava fazê-los gravar mais de 20 vezes a mesma cena. Em entrevista, Harris Dickinson, que interpreta Carl, disse que ele gostava desse estilo de trabalho porque ele sentia que estava “sendo usado ao máximo” ao invés de apenas passar muito tempo no set esperando para ter suas cenas gravadas. Dickinson foi escolhido para o papel depois de outros 120 atores fazerem testes para o personagem de Carl.

A sequência de abertura do filme, que mostra o casting de modelos, foi inspirada nas vivências da esposa do diretor, Andrea Östlund, que trabalhou como fotógrafa de moda.

Durante o filme são falados diversos idiomas: inglês, sueco, francês, grego, alemão, twi (idioma falado em Gana), croata e tagalo (língua falada na República das Filipinas).

Triangle of Sadness foi aplaudido de pé por oito minutos após sua exibição no Festival de Cinema de Cannes.

Vale citar uma fala do diretor sobre o que ele queria comunicar com esta produção. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Segundo Östlund, ele quis retratar todas as pessoas do filme como legais. “Eu não queria torná-los ignorantes ou mesquinhos porque acho que talvez essa seja a maneira convencional como olhamos para as classes (sociais), quando descrevemos as pessoas de baixo como genuínas e generosas e as pessoas ricas como egoístas e superficiais. Eu não queria seguir esse caminho porque não acredito que isso seja verdade”. Bem, me parece que ele retratou quase todos os ricos como egoístas e superficiais, não?

Vou colocar aqui também um tira-dúvidas sobre o final da produção. (SPOILER – realmente não leia se você ainda não assistiu ao filme). A atriz Dolly de Leon afirmou em entrevistas que, de fato, sua personagem Abigail mata Yaya com uma pedrada no final. A cena acaba não mostrando a morte, apesar dela ficar bastante sugerida.

Esqueci de comentar isso antes, mas o título original do filme, Triangle of Sadness, apesar de ter uma explicação logo no início do filme – quando uma das pessoas que está fazendo o casting pede para que Carl relaxe seu “triângulo da tristeza”, que é a área entre as sobrancelhas onde, muitas vezes, são formadas as linhas de expressão, eu também entendi o título como uma alusão às três partes da narrativa – daí o “triângulo da tristeza”, afinal, nada ali poderia ser considerado realmente alegre, muito pelo contrário. (SPOILER – não leia… bem, você já sabe). Outra explicação dos produtores para o título do filme, além das duas explicações já citadas, seria uma alusão ao triângulo amoroso vivido entre Carl, Yaya e Abigail.

O crítico Peter Bradshaw afirmou, depois que Triangle of Sadness ganhou a Palma de Ouro em Cannes, que o ponto central da história não era original. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Segundo ele, a premissa de pessoas ricas vítimas de um naufrágio e que acabam presas em uma ilha, ficando dependentes de um antigo empregado para sobreviver, é a mesma da peça de JM Barrie chamada The Admirable Crichton, de 1902.

Os usuários do site IMDb deram a nota 7,4 para Triangle of Sadness, enquanto que os críticos que tem os seus textos linkados no site Rotten Tomatoes dedicaram 184 críticas positivas e 71 negativas para o filme – o que lhe garante um nível de aprovação de 72% e uma nota média de 7,2. Até o momento, esse é o filme com o menor nível de aprovação entre os críticos que eu vi e que concorre ao Oscar de Melhor Filme.

O site Metacritic apresenta o “metascore” 63 para Triangle of Sadness, fruto de 28 críticas positivas, 15 medianas e quatro negativas. Novamente, o filme com menor nível de aprovação entre os principais concorrentes ao Oscar deste ano.

Triangle of Sadness teria custado cerca de 10 milhões de Euros (o equivalente a US$ 10,7 milhões. De acordo com o site Box Office Mojo, o filme faturou cerca de US$ 24,3 milhões nos cinemas – sendo US$ 4,5 milhões apenas nos Estados Unidos.

Triangle of Sadness é uma coprodução dos Estados Unidos com a Suécia, o Reino Unido, a Alemanha, a França, a Turquia, a Dinamarca, a Grécia, a Suíça e o México. Uau, que desfile de países que aplicaram recursos nessa produção! Há tempos não via uma salada tão grande quanto esta.

Não é a primeira vez, mas sei que não é muito comum eu baixar notas dos filmes depois de publicar a crítica por aqui. Mas, depois de publicar essa crítica, refleti um pouco mais sobre o filme e suas “mensagens” e achei que eu deveria baixar um pouco sua nota.

CONCLUSÃO

Um filme para fazer rir, que provoca um certo nível de reflexão e que, principalmente, foi feito para chocar. Bem ao estilo do diretor e roteirista Ruben Östlund. Triangle of Sadness escancara a visão mais sórdida e ácida possível sobre os ricos, deixando-os, literalmente, nus – e em posições nada bonitas. A ideia é escancarar e depois elevar até a última potência os absurdos e a cafonice dos ricos, sempre contrastando a posição deles com a das pessoas que “existem” para servi-los. Até certo ponto, o filme é interessante, mas depois ele chega a ser cansativo e a cansar um pouco pelo esforço de Östlund em passar sua mensagem e nos chocar. Mediano.

PALPITES PARA O OSCAR 2023

Triangle of Sadness foi indicado nas categorias Melhor Filme, Melhor Roteiro Original e Melhor Direção para Ruben Östlund. Francamente, acho que esta produção tem um belo lobby por trás, porque eu não acho que ela merecia essas indicações. Talvez a de Melhor Roteiro Original – e olha lá. Não o colocaria na concorrência por Melhor Filme e Melhor Direção.

Acho que o filme não tem chances de ganhar uma estatueta do Oscar. Observando as bolsas de apostas, Triangle of Sadness aparece na última colocação entre os concorrentes das categorias Melhor Roteiro Original e Melhor Direção. Na categoria Melhor Filme, ele aparece na penúltima posição, na frente apenas de Women Talking.

Seja pela bolsa de apostas, seja pela minha ótica de merecimento e de qualidade dos filmes, realmente acho que será justo Triangle of Sadness sair de mãos vazias deste Oscar. Respeito o estilo de Östlund e acho o filme dele interessante, até certo ponto, mas exagerado e um tanto chato por outro lado. Acho que as indicações dele ao Oscar já podem ser considerados uma vitória dos realizadores.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 20 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing e, atualmente, atuo como professora do curso de Jornalismo da FURB (Universidade Regional de Blumenau).

2 respostas em “Triangle of Sadness – Triângulo da Tristeza”

[…] (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Women Talking): Minha gente, que filme potente! Dirigido com primor por Sarah Polley, uma das minhas diretoras favoritas, e com um roteiro escrito com zelo, com atenção em cada palavra, este filme surpreende após diversas produções medianas que eu vi por causa das indicações ao Oscar. Chega a ser um abismo, na comparação com o filme anterior que eu assisti – Triangle of Sadness (comentado aqui). […]

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