Um filme duro, muito sensível e necessário. Close trata sobre diversos temas, todos muito atuais, ainda que eles sejam também perenes. A narrativa, a forma como o roteiro nos conduz pela história, a câmera sempre próxima do protagonista e dos atores centrais e, claro, a interpretação destes atores, são pontos que diferenciam esta produção da maioria. Um filme importante para pais, mães, jovens, professores, escolas e todos que desejam, um dia, viver em uma sociedade um pouco menos cruel.
A HISTÓRIA
Começa com alguém sussurrando: “O que fazemos aqui?”. Outra pessoa responde para ele não fazer barulho. Em seguida, uma das vozes comenta que vai sair. Mas o amigo pede que não. Ouvimos o nome de Léo (Eden Dambrine). Ele se move rápido e pede para o amigo, Rémi (Gustav De Waele), se esconder. Eles estão brincando, fazendo de conta que estão se escondendo de homens com armaduras. No final da brincadeira, os dois correm a toda velocidade para fora, passando por campos floridos. Essa é a parte da rotina destes dois amigos, que logo vão para a escola.
VOLTANDO À CRÍTICA
(SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Close): Sempre falo sobre isso por aqui, mas neste caso, em especial, é importante o lembrete: continue lendo essa crítica apenas se você já assistiu ao filme. Afinal, vou falar sobre questões que a produção aborda e que merecem ser vistas conforme a narrativa é desenvolvida e não conhecidas antes da experiência de ver ao filme.
Esse filme é muito importante. Esse é o primeiro comentário que gostaria de fazer sobre ele. Depois, quero destacar como esta produção não aborda apenas um tema, mas diversas questões relevantes.
Acho muito interessante como, apesar do diretor e roteirista Lukas Dhont, que escreveu o roteiro desta produção ao lado de Angelo Tijssens, tratar de um tema relativamente (e infelizmente) “corriqueiro” na atualidade, que é a questão do bullying, ele faz isso de uma forma bastante diferenciada.
Close é um filme que inicia tratando sobre uma amizade linda, forte, a partir de uma ótica muito bacana. A câmera de Dhont fica muito próxima do protagonista, Léo, e de seu melhor amigo, Rémi, desde o princípio. Com isso, nos tornamos próximos deles. A ligação entre os dois é algo especial, lindo, assim como a relação que eles parecem ter com seus pais.
Essa parte inicial do filme é belíssima e irretocável. Mas ela começa a mudar quando os amigos vão para o colégio. Segundo o professor, que pede para os estudantes se apresentarem, eles estão começando o primeiro ano. A classe dos amigos, que até então são inseparáveis, tem garotos e meninas da faixa etária entre 12 e 13 anos de idade.
No intervalo das aulas, os estudantes conversam entre si, curiosos uns com os outros, e aí começa a mudança decisiva na narrativa. Em uma sociedade preconceituosa, com pouco diálogo e na qual crianças e jovens aprendem a seguir a mentalidade dos pais, ou seja, a julgarem a proximidade de dois meninos como algo “suspeito” e com contornos sexuais, logo a curiosidade dos estudantes descamba para insinuações sobre a relação que Léo tem com Rémi.
Isso acontece por lá, acontece por aqui e, acredito, em quase todas as partes. Qual é o problema se dois meninos ou duas meninas são “grudados”? Por que logo alguém tem que tornar essa proximidade como um tema sexual? Por que crianças e jovens devem perder sua inocência de forma tão brutal e com comentários tão ridículos?
A pressão social é uma merda, especialmente quando envolve crianças e jovens. E isso acontece em que ambiente? Geralmente na escola. Infelizmente. Um local que deveria ser de amizade e de aprendizado se transforma, por ignorância alheia – construída em uma sociedade igualmente ignorante – em um ambiente hostil, especialmente para quem é puro, não tem maldade e ainda vive na inocência.
Por que adultos e seus filhos tem tanta preocupação com a sexualidade alheia? O que interessa para um adulto ou para seu filho se a pessoa ao lado se interessa pelo sexo oposto ou por um(a) semelhante? O que isso, de fato, irá mudar a vida dessa pessoa? São perguntas que, até hoje, não consegui responder. Não entendo essa fixação das pessoas pelo prazer dos outros. O que lhes interessa? Isso tudo só me parece maldade.
Pois bem, nesse cenário de ignorância e de maldade, comentários cretinos e uma certa “curiosidade” dos colegas de Léo e de Rémi acaba com a beleza e a inocência daquela amizade. Pouco a pouco, Léo se sente pressionado pelos comentários, olhares, risadas e por uma ou outra agressão no intervalo das aulas e resolve mudar sua postura.
Ele quer se distanciar da desconfiança de que tem um relacionamento amoroso com o amigo. Tudo que ele quer é seguir na escola sem parecer que faz um “casal” com Rémi. Como eles moram próximos, um do outro, esse distanciamento é feito de forma gradual, mas crescente. Em paralelo, como dita o “manual de instruções” do bom “macho” – ou protótipo de macho, no caso, já que estamos falando de garotos de 13 anos de idade -, Léo começa a participar de atividades envolvendo outros garotos, especialmente as esportivas – jogando futebol no pátio e começando a treinar hóquei no gelo.
Afinal, “garotos de verdade” fazem esportes e não tocam flauta, como Rémi, não é mesmo? Nem preciso falar sobre o absurdo deste pensamento, certo? Enfim… Léo segue nesta linha, aproximando-se dos esportes e dos garotos com características mais “machas” do que Rémi, enquanto o velho amigo vai ficando escanteado. Até que Rémi não aguenta… e aí o filme entra em uma outra dinâmica.
Espero que esta produção, ao invés de acionar algum gatilho, sirva de alerta e de reflexão para quem está passando por tempos difíceis ou para quem está ao redor desta pessoa. Close, assim, não trata apenas sobre uma sociedade machista, homofóbica, com pouco (ou nenhum diálogo), palco de bullying, sobre como escolas podem ser o local perfeito e infeliz da perda da inocência de crianças e jovens, mas aborda também a triste questão do suicídio.
Uma parte importante da narrativa mergulha neste tema. Que é sempre difícil, doloroso, e que neste filme de Dhont é tratado com o devido cuidado, respeito e atenção. Sentimos a dor da perda de Rémi porque o roteiro aborda muito bem essa questão sob a ótica de três pessoas fundamentais nesta história: Léo e os pais de Rémi, Sophie (a fantástica Émilie Dequenne) e Peter (Kevin Janssens).
Como encarar a perda de alguém tão importante quanto Rémi? Como pais amorosos e atentos, como Sophie e Peter, seguem tocando a vida sem a presença do filho único? Como Léo, que até recentemente tinha em Rémi seu melhor amigo, e sabendo o que fez para se afastar dele, segue a vida dividindo-se entre o peso da ausência do amigo e a culpa pelo que fez com ele? Como vocês podem perceber, esse filme desperta muitas questões.
A dor da perda é impossível de ser ignorada ao assistir a este filme. As interpretações dos atores são decisivas, neste quesito. Seja acompanhando Léo ou Sophie, em especial, seja nos momentos em que observamos o “passar dos dias”, fica impossível ignorar a ausência de Rémi e tudo que aconteceu para que isto ocorresse.
Depois do fato consumado, a escola em que eles estudavam busca incentivar o “diálogo” dos estudantes, com a turma de Rémi e Léo seguindo aquela cartilha de “vamos falar sobre o que aconteceu e relembrar Rémi”. Claro que estas ações não estão erradas, mas as tentativas da escola e das famílias parecem inócuas – ou um tanto vazias.
Léo deveria ter recebido um acompanhamento mais direto, especialmente pela relação que ele tinha com Rémi, mas não é isso que acontece. Parece que a escola só segue um protocolo para situações como esta, mas sem realmente conseguir trabalhar o problema do bullying ou o suicídio de um aluno. Os pais de Léo também parecem incapazes de lidar com a situação.
Neste ponto, Close levanta uma série de outras perguntas. O quanto a falta de diálogo, seja em ambiente escolar, seja em ambiente familiar, permitiu que tudo isso acontecesse? Quanto essa falta de diálogo e de atenção aos sentimentos e aos valores que são repassados para as próximas gerações continuam sendo a regra daquela, da nossa e de tantas outras sociedades?
Estamos em pleno ano de 2023 e parece que, infelizmente, não conseguimos sair desse enrosco. Pais seguem sem evoluir e as gerações que estão vindo por aí sofrem com isso. Alguém pode dizer: “Ah, mas isso não é justo, você parece estar colocando toda a culpa nos pais!”. Não estou colocando a culpa nos pais, pelo menos não apenas neles, mas se não começarmos a olhar para as diferentes responsabilidades sobre o que vemos acontecendo na nossa sociedade, como podemos avançar e evoluir?
Close trata, assim, de forma bastante sensível e sem discursos prontos, sobre temas mais que relevantes, com destaque, em especial, para a questão do suicídio entre os jovens e sobre a falta de diálogo nas famílias e no ambiente escolar. De fato, estamos propiciando ambientes de inclusão, de fraternidade, de compreensão entre as pessoas? Ou seguimos tirando o ar e tornando os dias de alguma pessoas mais do que doloridos, chegando ao nível do insuportável – ou quase isso?
Mais do que ensinar Léo a trabalhar e a cultivar flores, os pais dele deveriam ter ensinado o garoto a enfrentar o preconceito e perguntas cretinas, como as que foram feitas para ele no colégio. Alguém pode dizer que os pais dele não poderiam adivinhar que aquilo iria acontecer e que, assim, não poderiam preparar o garoto para aquela situação. Ok, mas o que eles poderiam ter feito é ter criado um ambiente seguro e confiável em que o garoto, sendo confrontado com aquela situação, tivesse liberdade para falar sobre o tema em casa, não? Isso teria feito toda a diferença.
O mesmo pode ser falado sobre a casa de Rémi. Por mais que Sophie e Peter parecessem próximos do filho, ele não conseguiu compartilhar com os pais sobre o que estava acontecendo. Será que eles tinham tempo para o diálogo franco e para ampliarem a confiança com o filho? Nunca vamos saber, assim como não dá para entender totalmente o contexto de Léo. Afinal, com Close temos apenas um breve recorte daquela realidade.
Mas outras questões podem ser feitas sobre o ambiente escolar. Nenhum professor, conhecendo como os garotos começaram o ano letivo, poderia ter identificado uma mudança importante no comportamento e na relação deles a ponto de puxar Rémi ou Léo de canto para saber o que estava acontecendo? Ou então investigarem sobre isso questionando colegas dos dois?
Em certo momento do filme, Léo admite culpa para Sophie sobre o que aconteceu. É um de vários momentos difíceis e marcantes da produção. Ele não está errado em assumir parte da culpa – e sei que é difícil admitir ou aceitar isso -, mas ele não é o único “culpado” pelo que aconteceu. Antes, listei diversos outros corresponsáveis. E há quem possa alegar que “ninguém tem culpa”. Será mesmo? Acho que enquanto ignorarmos as responsabilidades, seguiremos perdendo pessoas que poderiam ter tido algum amparo e alguma ajuda antes de darem o passo em uma direção irreversível.
Enfim, acho que Close é um filme potente e que apresenta muita sensibilidade ao tratar de um tema mais que relevante nestes dias. A forma como o diretor aproxima sua câmera dos atores, nos levando junto para acompanhar cada detalhe daquelas vidas, torna a narrativa ainda mais pessoal e potente. Impossível ficar indiferente ao que acontece quando estamos tão próximos daqueles personagens. Isso tudo potencializa a história e torna mais fácil as pessoas se envolverem com a narrativa.
Achei o filme potente e belo, apesar de trágico. A forma como Dhont conduz a história, seja pela direção, seja pelo roteiro, tornam esta produção diferenciada e uma bela pedida nesta safra do Oscar. A direção de fotografia e o trabalho dos atores são dois pontos fundamentais da produção. Todos estão excelentes em cena. Um filme para ficar na memória por bastante tempo. E, espero, que ele vá para além desta fronteira, servindo de subsídio para alguns debates importantes nas famílias e escolas. Estamos precisando evoluir, em vários sentidos.
Algo que me marcou muito, quando assisti a Close, é como o filme nos mostra o peso da perda para quem fica. Claro que Rémi sofreu muito, e isso não pode ser negado ou ignorado. Mas o que falar sobre Sophie, Peter e, principalmente, Léo. O garoto, que amava Rémi, nunca mais será o mesmo. Ele vai seguir adiante, assim como os demais, mas a vida de nenhum deles será mais a mesma. O abismo da ausência cobrará sempre um preço alto. Como seguir adiante? Essa parece uma pergunta que perdura durante metade da produção. Eles vão seguir, precisam, vão conseguir. Mas o esforço para isso, será gigantesco.
Claro, dizem, o tempo ameniza a dor da ausência. Quem já perdeu alguém importante, entende bem sobre isso. Mas apesar da dor ser amenizada, a ausência seguirá… e é algo para o qual não há solução. Ao menos, nesta vida. Close trata muito bem sobre isso, de uma forma delicada, bela e triste. Porque não há outra forma de abordar este assunto.
NOTA
9,5.
OBS DE PÉ DE PÁGINA
Que filme, meus amigos, que filme! Considero impossível assistir a Close e não ficar tocado, sensibilizado. Para além disso, espero que o filme provoque algumas reflexões, como comentei antes.
Vejo Close como um grande filme, um dos mais interessantes desta temporada, mas não dei uma nota maior para ele porque algumas cenas e escolhas da produção me incomodaram um pouco. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Em especial, um certo “exagero” na ausência de diálogo no ambiente escolar e familiar de Léo. Ok, sabemos que isso acontece, mas acho que Dhont exagerou um pouco neste ponto, maximizando as ausências para enfatizar seu ponto de vista sobre a falta de diálogo. Além disso, uma cena em especial me incomodou um pouco: aquela em que Léo procura se “defender” com um pedaço de pau no bosque depois de sair do carro de Sophie. Ok, que ele estava fragilizado e se sentindo acuado, mas realmente fazia sentido ele pegar um pedaço de pau? Ele pretendia bater em Sophie? Achei um pouco forçado.
Comentei essa questão para justificar a nota que eu dei para esta produção. Quero dizer, no entanto, que esses são detalhes, nada que tire todo o caminhão de méritos e de acertos da produção. O filme tem muito mais pontos positivos e acertos do que questões para criticar.
Falando em qualidades e acertos… quero destacar, em especial, o trabalho do elenco. Dhont acertou ao focar a atenção do roteiro em poucos personagens. Close tem um protagonista claro. Ao redor dele, orbitam alguns outros personagens relevantes. Este grupo é pequeno, no entanto. O que é um acerto, até para que nos aproximemos mais dos personagens, o que torna o filme “intimista” e, por consequência, potente.
Do elenco, o destaque evidente vai para Eden Dambrine, que interpreta, com muito talento, potência e sensibilidade, o protagonista Léo. O trabalho dele é incrível, muito marcante. Junto com ele, parceiro fundamental de cena e com todas as qualidades citadas para Dambrine, temos Gustav De Waele, que interpreta Rémi. Esses dois fazem um trabalho impecável, irretocável. São pontos fundamentais para o sucesso da produção.
Além deles, vale citar alguns coadjuvantes que tem destaque nesta produção, ajudando, em especial, a dimensionar o contexto da perda que a história nos apresenta. Neste sentido, destaque para o trabalho de Émilie Dequenne como Sophie, a mãe de Rémi, e quase uma “segunda mãe” de Léo. Ela faz um trabalho muito sensível e apaixonado. Carismática, ela preenche a cena quando está presente. Impecável.
Outros coadjuvantes que fazem um belo trabalho, apesar de terem papeis menores na trama: Léa Drucker como Nathalie, mãe de Léo, tem uma presencial bem pontual na trama mas, quando aparece, mostra um belo trabalho; Igor van Dessel como Charlie, irmão de Léo e a pessoa de quem ele mais consegue se aproximar após a partida de Rémi – o ator faz um bom trabalho, ainda que um tanto “morno”; Kevin Janssens como Peter, pai de Rémi, com poucas cenas na trama, mas com uma sequência especialmente marcante; e Léon Bataille como Baptiste, o garoto que gosta de hóquei no gelo e que vira o novo “melhor amigo” do protagonista.
Além deles, temos atores que também tem certa relevância na trama, mas com presença ainda mais pontual. Entre outros, vale citar Marc Weiss como Yves, pai de Léo. Outros atores e atrizes mirins aparecem como colegas de Léo e Rémi, mas não consegui identificar os principais nomes para poder listá-los por aqui.
Entre os aspectos técnicos da produção, o destaque principal vai para a direção de Lukas Dhont, que mantém as câmeras sempre próximas dos atores ao mesmo tempo em que ele zela por cada frame, por cada sequência, imprimindo um bom gosto visual do início ao fim. Em diversas cenas, verificamos como as cores, a iluminação e a dinâmica, o movimento em cena, são elementos importantes para o diretor (e, claro, para a história). Neste sentido, vale destacar também a direção de fotografia de Frank van den Eeden.
Outro aspecto importante da produção é o roteiro de Lukas Dhont e de Angelo Tijssens. Falei bastante dele durante a crítica, mas vale ressaltar a qualidade do texto, que evita discursos fáceis ou alguns chavões para apresentar uma história que convence pela naturalidade de seu desenvolvimento. Uma ou duas falhas da produção também tem a ver com o roteiro – o que só demonstra como este ponto é fundamental para qualquer e todo filme.
Além destes pontos, vale citar a trilha sonora interessante, pontual e bela de Valentin Hadjadj; a edição muito competente de Alain Dessauvage; o design de produção de Eve Martin; os figurinos de Manu Verschueren; e a equipe de 16 profissionais envolvidos com a gestão das câmeras.
Close estreou em maio de 2022 no Festival de Cinema de Cannes. Depois, o filme participaria, ainda, de outros 107 festivais pelo mundo – um número realmente IMPRESSIONANTE de festivais. Não lembro de ter assistido a outro filme que tenha feito uma carreira tão grande em festivais e mostras de cinema pelo mundo. Além de Cannes, ele participou por diversos festivais importantes, como os de Sydney, Karlovy Vary, Telluride, Hamburgo, BFI London, Rio de Janeiro, Palm Springs, Gijón, Dublin, entre outros.
Em sua trajetória, Close conquistou 37 prêmios e foi indicado a outros 64 – incluindo a indicação na categoria de Melhor Filme Internacional. Entre os prêmios que recebeu, destaque para o prêmio de Melhor Filme Internacional dado pelo National Board of Review; para o de Melhor Filme dado pelo Festival de Cinema de Sydney; para o Grand Prize of the Festival conferido para este filme e para Stars at Noon pelo Festival de Cinema de Cannes; para sete prêmios que o filme recebeu no Festival de Cinema de Oostende, um dos principais da Bélgica; e para o prêmio de Melhor Filme no Festival de Cinema de Hamburgo.
Close foi indicado também na categoria Melhor Filme em Língua Não-Inglesa no Globo de Ouro.
Existe uma questão que talvez muito levantem nesta produção. (SPOILER – não leiam esse parágrafo caso vocês não tenham assistido ao filme). Afinal, Léo ou Rémi ou os dois eram homossexuais? Nunca saberemos. E talvez nem eles sabiam. Volto a puxar um tópico que apontei anteriormente. Os dois garotos não tinham malícia e não estavam pensando na própria sexualidade até que os “colegas” jogaram esta questão na cara de ambos. Cobraram um posicionamento que eles não estavam prontos para ter e que nem acho que fosse o momento para se questionarem. Realmente pré-adolescentes de 13 anos tem que definir isso na vida? E mesmo depois, qual é a idade para o “grupo” cobrar o reconhecimento da sexualidade de quem for? Enfim, acho que Léo ou Rémi serem homossexuais ou não pouco importa. Um deles poderia ser, ou os dois, ou nenhum. O filme vai além disso. Sim, é um absurdo questionarem um jovem homossexual sobre isso, pressionarem neste sentido, mas é um absurdo, na verdade, a cobrança de um “posicionamento” nesta idade – ou depois – para qualquer pessoa. Ninguém deveria ter o direito de fazer isso, de questionar, ridicularizar, “fazer piada”. Esse é um dos pontos centrais desta produção, a meu ver.
Agora, vale citar algumas curiosidades sobre esta produção. O diretor Lukas Dhont escolheu o ator principal deste filme de uma forma inusitada. Dhont estava viajando de trem, ouvindo músicas de Max Richter, quando ele notou um garoto que viajava na frente dele e que estava interagindo com alguns amigos. O garoto era Eden Dambrine. Por estar ouvindo música, Dhont não ouvia o que Dambrine falava com os amigos, mas as expressões faciais dele chamaram a atenção do diretor. Foi então que Dhont conversou com Dambrine e perguntou se ele não gostaria de participar de um casting. Dambrine disse que sim, e logo Dhont ofereceu o papel de Léo para ele. A escolha foi perfeita, de fato.
Close é uma produção da Bélgica, com coprodução dos Países Baixos e da França. Os idiomas falados no filme são o francês, o flamengo e o holandês. Daí você se pergunta: existe o idioma flamengo? Fui pesquisar a respeito. Segundo este site, o flamengo, também conhecido como holandês belga ou vlaams, é o nome dado ao dialeto do holandês falado na Bélgica. É um dos idiomas oficiais da Bélgica, junto com o francês e o alemão, e a única língua oficial da região de Flandres.
Por falar em Flandres, é de lá que veio o diretor e roteirista Lukas Dhont. Achei o trabalho dele tão interessante, que fui atrás de mais informações sobre a trajetória do diretor. Ele estreou na direção em 2012 com o curta Corps Perdu. Depois, ele dirigiria mais dois curtas e um vídeo até estrear na direção de um longa em 2018 com Girl, filme vencedor de 32 prêmios e indicado a outros 40 – incluindo uma indicação ao Globo de Ouro. Entre Girl e Close, ele dirigiu mais um curta, em 2021: Our Nature. Eis um nome que eu acho interessante acompanharmos – fiquei curiosa para ver Girl.
Outra dúvida que eu fiquei com o filme foi: por que Léo e Rémi estavam no primeiro ano da escola aos 13 anos de idade? Concluí, pesquisando um pouco a respeito, e citando este conteúdo como referência, que os amigos entraram no primeiro ano do ensino médio quando a história desta produção começou a se desenvolver. Isso porque, segundo o conteúdo citado, os alunos entram no ensino médio a partir dos 12 anos de idade. De fato, na turma dos dois, há alunos de 12 e de 13 anos.
Os usuários do site IMDb deram a nota 7,9 para esta produção – uma bela nota, especialmente se compararmos com os outros filmes que estão concorrendo ao Oscar deste ano. Apenas para citar os filmes que eu já assisti e que concorrem em Melhor Filme Internacional, Close está com uma nota maior que Im Westen Nichts Neues (comentado aqui) e do que Argentina, 1985 (com crítica neste link). E, cá entre nós, concordo com essa avaliação melhor para Close. Também acho um filme melhor que os outros dois citados.
Os críticos que tem os seus textos linkados no site Rotten Tomatoes dedicaram 96 críticas positivas e 11 negativas para a produção – o que garante para Close o nível de aprovação de 90% e a nota média de 8,4. Um belo nível de aprovação e de críticas positivas também. O site Metacritic, por sua vez, apresenta um metascore de 81 para o filme, fruto de 24 críticas positivas e de duas medianas, além do selo “Metacritic Must-see”.
De acordo com o site Box Office Mojo, Close faturou US$ 3,9 milhões nos cinemas, sendo US$ 487 mil nas bilheterias dos Estados Unidos. O local em que o filme faturou mais, nos cinemas, foi na França, onde ele fez quase US$ 1,4 milhão.
CONCLUSÃO
Este filme apresenta uma fórmula marcante: ao mesmo tempo que Close é belíssimo, carregado de sensibilidade, ele nos traz uma história duríssima. Uma produção que não tem como não afetar quem for assisti-la. Caso alguém conseguir ver a este filme sem sentir-se triste, angustiado ou, ao menos, reflexivo, devo dizer que esta pessoa está perto de ser uma pedra. Muito bem conduzido, com uma trilha sonora marcante, direção e fotografia diferenciadas, interpretações marcantes, convincentes e no tom certo, passando muita credibilidade para a história, Close trata de alguns aspectos muito cruéis das nossas sociedades. Evoluímos em algumas direções, mas em outras, temos muito ainda a evoluir. Esse filme trata de forma franca sobre tudo isso e nos mostra que o caminho não é simples, além de ser muito doloroso. Merece ser visto, revisto e discutido.
PALPITES PARA O OSCAR 2023
A jornada foi longa para Close conseguir emplacar no Oscar deste ano. Representante da Bélgica na disputa, o filme primeiro figurou na lista de 92 produções que estavam habilitadas a concorrer na categoria Melhor Filme Internacional – lista divulgada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood no dia 6 de dezembro de 2022.
Depois, para os ansiosos de plantão, a Academia divulgou, no dia 21 de dezembro, as “shortlists” em 10 categorias – incluindo a de Melhor Filme Internacional. Assim, soubemos que Close conseguiu avançar na disputa e figurar entre os 15 filmes que seguiam na disputa buscando uma das cinco vagas entre os finalistas. No dia 24 de janeiro de 2023, finalmente, Close apareceu entre as cinco produções indicadas ao Oscar deste ano.
Para conseguir sua vaga entre os finalistas, o filme deixou para trás outros fortes concorrentes, como Decision to Leave e Holy Spider (esse último, comentado aqui no blog). Pela relevância da história que ele narra, pela sensibilidade do roteiro e da direção e pelo “conjunto da obra”, considero que Close mereceu chegar até os finalistas. Pessoalmente, eu teria colocado Holy Spider na lista também… Agora, pelo número de indicações recebidas pelo representante da Alemanha na disputa, que teve nada menos que nove indicações ao Oscar deste ano, fica claro quem vai vencer esta disputa.
Im Westen Nichts Neues (ou All Quiet on the Western Front, comentado neste link) vai ganhar o Oscar de Melhor Filme Internacional. Seria uma grande zebra se isso não acontecesse. Claro, a “zebra” que poderia acontecer é o filme alemão surpreender e ganhar como Melhor Filme, a exemplo do que Gisaengchung (ou Parasite, com crítica por aqui) fez em 2020. Mas, como Everything Everywhere All at Once (com crítica neste link) aparece arrasador com 11 indicações no Oscar deste ano, acho que o filme dos Daniels deve levar a melhor mesmo. Assim, sobrará a Close apenas a indicação na categoria mais interessante da noite.
Resta a pergunta: entre os filmes na disputa, quem merecia mesmo ganhar? Pela sensibilidade da direção e pela história, vou ser franca que, até o momento, ainda prefiro Close. Mas pelo primor técnico e pelo realismo da narrativa, Im Western Nichts Neues merece ganhar também. Não será injusta a vitória do filme alemão, portanto. Apesar que, pela ótica de gosto pessoal, ainda prefiro uma narrativa mais “intimista” e “existencial”, ao estilo de Close.
Uma resposta em “Close”
[…] Close (Bélgica) […]
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