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Das Leben der Anderen – The Lives of Others – A Vida dos Outros


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O filme Das Leben der Anderen estava na minha lista para ser visto faz muito tempo. Mas ainda não tinha conseguido vê-lo, até três dias atrás. Ele chegou até mim com várias e várias recomendações e comentários positivos, além do peso do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2007. Dito isso, admito que tinha grandes expectativas a respeito. E digo que, apesar dessas grandes expectativas, eu gostei muito do filme. Ele não apenas segue a escola alemã de cinema, muitas e muitas vezes caracterizada pela qualidade de roteiro e de direção mas, mais que isso, pela “veia filosófica” de suas produções, como também traz mais uma contribuição para a lista de filmes alemães que toca em pontos importantes e chagas não-curadas do que faz a Alemanha ser o país que é hoje. Como 79 am DDR (ou Good Bye Lenin!) e outros filmes recentes, Das Leben der Anderen conta uma história contemporânea alemã, narrando um pouco da vida na Alemanha do Leste – também conhecida como RDA (República Democrática Alemã) ou sua versão em alemão, DDR – Deutsche Demokratische Republik – antes da queda do Muro de Berlin. Mas, diferente de 79 am DDR, que conta um pouco da vida de pessoas comuns, Das Leben der Anderen toca em uma chaga ainda aberta: o trabalho de vigilância, censura, tortura, repressão e controle que a chamada Agência de Segurança Nacional seguia fazendo mesmo depois da queda do regime nazista – com técnicas que lembram alguns abusos do tempo da ditadura alemã.

A HISTÓRIA: Gerd Wiesler (Ulrich Mühe) dá aulas em uma universidade de Berlin, no ano de 1984, sobre técnicas de interrogatório utilizadas pela Agência de Segurança Nacional – para a qual já trabalhou. No final de uma de suas aulas, ele recebe a visita de um antigo colega de trabalho, Anton Grubitz (Ulrich Tukur), atualmente um importante membro da Agência de Segurança Nacional. Grubitz convida Wiesler para assistir a uma peça de teatro naquela noite, em que estará presente o Ministro das Artes, Bruno Hempf (Thomas Thieme). A peça em questão é de utoria de Georg Dreyman (Sebastian Koch), e estrelada por Christa-Maria Sieland (Martina Gedeck). Nessa noite, Grubitz pede ajuda a Wiesler para vigiar o casal Dreyman e Sieland, buscando provas para incriminá-lo por subversão e por oposição ao atual governo, enquanto o ministro tenta por todas as maneiras manter um caso com a famosa atriz.

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que parte do texto a seguir narra trechos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Das Leben der Anderen): O filme, como se pode presumir do resumo acima, trata de parte da história da Alemanha no pós-guerra. Claro, nesse caso está, que ele se dedica a mostrar um pouco da realidade da Alemanha do Leste, a DDR que aparece em comum nos dois filmes. A Alemanha Oriental fica fora da história.

Para mim foi muito interessante acompanhar o estado de permanente vigilância em que vivem as pessoas daquela Alemanha. Mas Das Leben der Anderen não trata apenas da “Alemanha como ela era”, mas questiona também o poder da arte e sobre o que uma pessoa “comum” – nesse caso um artista que produz uma peça de teatro – pode fazer para mudar a sua realidade, para contribuir para modificar um sistema com o qual não está de acordo. É fato que os intelectuais e os artistas de cada país são os primeiros a sofrer quando surge uma ditadura ou uma forma “democrática” de poder que não deixa vez para as opiniões dissonantes. Mas também mostra como uma pessoa comum, no caso o personagem de Gerd Wiesler, pode estar dentro do sistema e, ainda assim, mudá-lo a sua maneira -nem que seja impedindo que alguns inocentes morram ou sejam mortos. Ou seja: não interessa em que lugar você esteja, mas de que lado você está. E podes estar em um lugar que parece ser o errado mas, ainda assim, sempre se pode escolher que caminho seguir. Essa para mim é uma das importantes questões do filme.

Os atores do filme realmente estão afinadíssimos e conseguem um desempenho digno de prêmios. Fiquei fascinada especialmente por Ulrich Mühe e por Sebastian Koch, assim como por Martina Gedeck. A direção e o roteiro de Florian Henckel von Donnersmarck também merecem aplausos – especialmente o seu roteiro, com algumas “reviravoltas”, surpresas e com um final de arrepiar – sem contar que ele consegue evitar todos os clichês do gênero.

Das Leben der Anderen nos faz refletir sobre a possibilidade das pessoas mudarem. Eu, que normalmente sou um pouco resistente a idéia de que as pessoas realmente podem mudar – em pequenos graus sim, mas não na essência – admito que o filme me fez pensar. Ainda que eu ache que, no caso de Wiesler, sua natureza não seja da violência ou da maldade, mas por um tempo ele cedeu ao fascínio de interrogar, vigiar e tudo o mais porque parecia “a coisa certa a fazer” e porque, talvez naquele contexto, essa era sua melhor alternativa. Mas quando o tempo passa e ele vai mudando – especialmente, na minha opinião, quando ele entra no mundo acadêmico, campo fértil de questionamentos -, não consegue mais fazer o que fazia antigamente. Sem contar que, no caso do filme, tanto a música quanto o teatro, ou seja, a arte, faz com que essa mudanaça seja ainda mais profunda.

Gostei muito e recomendo. Um bom texto, uma grande direção e ótimas interpretações em uma história corajosa sobre uma Alemanha que os alemães ainda lembram – e do qual não querem esquecer.

NOTA: 9,5.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: O filme ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2007 e outros 42 prêmios – um desempenho excepcional, eu diria.

Das Leben der Anderen é todo filmado em Berlin.

A produção comprova que filmes de “baixo” orçamento podem ser muito, mas muito bons e bem sucedidos. Das Leben der Anderen teria custado US$ 2 milhões e arrecadou, somente nos Estados Unidos, mais de US$ 11,2 milhões.

Este filme é o primeiro longa-metragem do diretor Florian Henckel von Donnersmarck, que antes tinha filmado quatro curtas-metragens. Ele tem 34 anos e nasceu em Cologne, na Alemanha.

No site IMDb o filme contabiliza um importante 8,5, enquanto no Rotten Tomatoes ele mantêm 129 críticas positivas e apenas 9 negativas.

CONCLUSÃO: Um filme importante por contar uma parte da história alemã que não é tão conhecida, além de ser uma bela peça de cinema – une com perfeição um bom trabalho técnico e um belo trabalho de interpretação e de bom texto. Especialmente interessante por fugir da maioria dos clichês – quando você acredita que algo vai acontecer por ser a resposta mais óbvia ou “esperada”, o filme te mostra outra possibilidade. Recomendo.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 25 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing, professora universitária (cursos de graduação e pós-graduação) e, atualmente, atuo como empreendedora após criar a minha própria empresa na área da comunicação.

2 respostas em “Das Leben der Anderen – The Lives of Others – A Vida dos Outros”

Alessandra queria realmente te dar os parabéns por este belo blog, e íncrivel a descoberta de filmes maravilhosos que tem no seu blog, acompanho diariamente seu blog a busca de novidades, garimpando seu blog encontrei esse filme e não poderia deixar elogiar sua crítica e a indicação do filme, e agora que estou vendo sua críticas anteriores parece um mundo de descoberta uahsuahsuahsuahsuahsuahsuhhsua.
E pelo jeito vou ter muitas supresas ótimas ainda, que bom Parabéns.

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