Dois grandes atores em suas respectivas primeiras fases de suas longas e profícuas carreiras. Jezebel nos apresenta Bette Davis e Henry Fonda em um belo trabalho. Um filme que retrata os Estados Unidos dividido entre o Norte e o Sul e prestes a passar por mais uma crise envolvendo a saúde pública. Produção bastante datada, que trata de forma franca um estilo de vida que foi importante para os Estados Unidos. É um filme interessante especialmente pelo desempenho de seus astros.
A HISTÓRIA: Começa em New Orleans, em 1852. As ruas estão cheias de comerciantes e pessoas comprando de roupas, máscaras até flores. Carruagens são conduzidas por escravos negros, e senhores bem vestidos caminham pelas ruas. Em uma carruagem, Buck Cantrell (George Brent) pede para o cocheiro parar em um hotel. Ele vai, junto com Ted Dillard (Richard Cromwell), para o bar do hotel, para eles tomarem uma dose de whisky antes da festa de Julie (Bette Davis).
No bar do hotel, Buck acaba se desentendendo por causa de comentários feitos sobre Julie. Como manda o costume da época, ele deve enfrentar o desafeto em um duelo. Em seguida, Buck e Ted vão para a festa de Julie, que chega atrasada, causando comentários de reprovação em parte dos convidados.
VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Jezebel): Eu não vou mentir para vocês. O grande interesse desse filme é ver a dois grandes atores, que marcaram as suas épocas – e, porque não dizer, a história do cinema -, em grande fase. Bette Davis era o nome de destaque deste filme. E não por menos, já que ela tinha sido indicada ao Oscar de Melhor Atriz em 1935 e vencido o Oscar nessa mesma categoria em 1936.
Ou seja, Jezebel, quando estreou, estava sendo estrelado por uma atriz que recém tinha vencido o Oscar. Bette Davis estava em ascensão quando fez este filme. Não por acaso o seu nome aparece em tamanho maior do que o dos outros astros da produção. Ela é a protagonista, e a história orbita ao seu redor. Mas afinal de contas, o que o roteiro de Clements Ripley, Abem Finkel e John Huston nos apresenta?
Apesar do filme ter sido lançado em 1938, um ano antes do começo da Segunda Guerra Mundial, a história em si de Jezebel se passa em 1852. Importante ter isso em mente. Também é fundamental sabermos que estamos na região Sul dos Estados Unidos – o roteiro do filme nos lembrará disso inúmeras vezes.
Porque apesar de Jezebel ser um filme centrado em uma mulher que resolve romper as regras vigentes daquele período – e é sempre criticada por isso -, ele também trata, de maneira muito direta e franca, as diferenças entre os ianques (do Norte do país) e os sulistas. Ou seja, entre os que querem a abolição da escravatura e aqueles que a defendem.
Vale, nesse sentido, lembrar que este filme se passa nove anos antes do início da Guerra de Secessão – ou Guerra Civil Americana. Todo o cenário que vemos em Jezebel, das diferenças cruciais entre o Sul e o Norte dos Estados Unidos, serão a base do conflito militar que duraria quatro anos e que teria provocado cerca de 618 mil mortes – alguns projetam números até maiores do que este. De qualquer forma, um número espantoso de vítimas por um conflito que teve as suas bases um pouco esboçadas nesta produção.
Antes de falar deste fundo cultural, político, econômico e de costumes de Jezebel, vamos tratar da essência desta produção. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). A protagonista do filme, e na qual a história é centrada, é a destemida, “mimada” e temperamental Julie Marsden (Bette Davis). Ela era uma garota à frente da sua época porque, apesar de concordar com algumas convenções e de amar a sua terra natal, ela também queria romper com alguns costumes e mostrar que tinha tanto direito quanto os homens de opinar e de marcar posição.
Esse é um clássico. Uma mulher que procura romper os costumes conservadores e o “modus operandi” de uma sociedade machista para fazer-se ouvir e respeitar. Depois de namorar a Buck, Julie agora é noiva de Preston Dillard (Henry Fonda), um super partido da época por ser herdeiro de uma família respeitada e por trabalhar em um banco. Além de tudo, ele era bonito e elegante. Julie não poderia querer alguém melhor.
O problema é que logo percebemos que Julie quer tudo a sua maneira. E por uma razão idiota, porque Julie quer que o noivo vá com ela na prova do vestido que ela deseja usar no baile de gala da cidade, mas ele está ocupando em uma reunião importante no banco e não vai com ela, Julie resolve quebrar uma regra social considerada importante naquela época. A regra também é ridícula, convenhamos, mas a simbologia da atitude dela é o que muda tudo.
Como Preston resolve terminar a reunião que tinha começado no banco para defender a construção de ferrovias para investidores, Julie resolve “escandalizar” a todos ao optar por um vestido vermelho para ir para o baile. Naquela sociedade conservadora e cheia de regras, uma moça solteira só poderia ir para o baile vestida de branco. Uma pena, nesse sentido, que Jezebel ainda seja um filme preto e branco. Fiquei imaginando como, em uma produção colorida, teria sido chocante ver Julie vestida de vermelho em meio a um salão de mulheres com vestidos brancos.
Mesmo não vendo esse contraste em todo o seu esplendor por causa do preto e branco, conseguimos imaginar a cena. E sim, por causa de um costume tão idiota e de uma “cabeça dura” tão grande como Julie, ela acaba sendo deixada pelo noivo. Como a vida anda para a frente e não para trás – ainda que Julie tenha preferido ficar com a própria vida paralisada à espera de Preston -, depois de romper com a protagonista, Preston vai para o Norte do país trabalhar e lá ele conhece à Amy Bradford Dillard (Margaret Lindsay).
Os dois se casam e, após um ano do rompimento com Julie, Preston volta para o Sul por causa da epidemia de febre amarela que está assolando a região de New Orleans. Honestamente, eu não vejo que essa teria sido a melhor decisão a tomar, voltar para uma região com epidemia crescente, mas Preston é do tipo que quer ajudar o banco no qual ele é um dos responsáveis.
Além disso, claro, nesse caso, o roteiro não pode ser tão lógico porque o que importa mesmo é a nova fase de “tensão” entre Julie e Preston. Como Amy é uma garota “ianque”, do Norte do país, isso rende uma série de comentários hostis por parte de Julie e da sua eterna marionete Buck.
Olhando especificamente para a protagonista deste filme, os roteiristas parecem nos dizer que uma mulher, quando resolve ter opiniões próprias, ir contra as convenções e assumir uma postura egoísta – funções que parecem ser restritas apenas aos homens -, causa apenas dor, destruição e morte. A Jezebel do título é explicada pela tia de Julie, Belle Massey (Fay Bainter), que lembra a sobrinha de uma mulher que foi contra Deus, na Bíblia, e que tinha esse nome.
Verdade que os joguinhos e o egoísmo de Julie provocaram mais conflitos – e inclusive uma morte – do que ela gostaria. Mas será que ela foi realmente a responsável pela morte de Buck, por exemplo? Ela mesma pede para ele deixar para lá o costume dos duelos, e não confrontar Ted por uma bobagem. Mas ele é orgulhoso e defende até o final os costumes do Sul. E aí que mais uma vida se perde por uma bobagem.
Daí entramos naquele fundo social do qual eu falava antes. Jezebel trata indiretamente vários elementos que serviriam de estopim para ocorrer a Guerra de Secessão nove anos depois desta história. Por um lado, temos a uma sociedade conservadora e cheia de regras – ao ponto de uma garota ser considerada uma “pária” porque não usou uma cor de vestido em uma determinada festa. Sociedade essa que defendia o uso de escravos e colocava a honra acima da vida – vide os duelos que poderiam terminar em morte por causa de desentendimentos.
Bem diferente desta visão de mundo, temos no filme Amy e um Preston com nova visão após ter morado no Norte do país. Naquele região, as pessoas acham que os negros devem ter as mesmas oportunidades que os brancos, e que uma mulher também deve ter liberdade de escolher como ela deve se vestir. No Norte não existem tantas convenções sociais ou regras, e as máquinas começam a exigir uma nova postura dos trabalhadores – ao ponto de Preston afirmar, com todas as letras, que as máquinas vão superar o trabalho escravo em breve.
Esse choque de visões e de maneiras de encarar a realidade cria tensão na casa de Julie e da tia Belle da mesma maneira que cria divisões e conflitos em qualquer outra casa do Sul do país. Jezebel, desta forma, além de uma história de amor mal resolvida, se revela um filme que ajuda a explicar um contexto social e histórico importante por Estados Unidos.
Por tudo isso, esse filme se revela interessante. Apesar disso, um grande problema do roteiro de Jezebel é que ele é um bocado previsível. Não existe, descontados um ou dois momentos, nenhuma grande surpresa. No lugar disso, o que vemos é uma carga um tanto exagerada de melodrama – especialmente a partir do ponto em que Julie parte em “socorro” do amado que não está mais com ela. Dá para entender as escolhas dos roteiristas e do diretor William Wyler, já que este estilo deveria ser apreciado pelas audiências na época.
Mas, para o meu gosto, o filme poderia ser um pouco mais surpreendente e um pouco menos melodramático. O roteiro também não apresenta nenhuma grande novidade, ainda que Ripley, Finkel e Huston acertam ao não centrar a história apenas na garota rebelde e sua história de amor frustrada, mas também em nos apresentar um pano de fundo histórico interessante.
De qualquer forma, o grande interesse do filme está mesmo em ver Bette Davis e Henry Fonda ainda jovens e em grande momento. Uma das sequências desta produção, quando Julie encontra Preston após um ano, vestida de branco, e que se ajoelha em frente ao amado, certamente é uma das imagens mais repetidas quando tratamos do trabalho de Bette Davis. O filme merece ser visto apenas por isso, pelo desempenho da atriz e por sua troca com o grande Henry Fonda. Ambos estão muito bem. Mas o filme, infelizmente, é um pouco datado e previsível demais.
NOTA: 8.
OBS DE PÉ DE PÁGINA: Para quem se interessou em saber um pouco mais sobre os conflitos entre o Sul e o Norte dos Estados Unidos, vale dar uma lida nessa curiosa matéria da Superinteressante. Apesar daquela era revelada por Jezebel já fazer parte do passado dos Estados Unidos, certamente as suas marcas continuam ajudando a ditar o cotidiano do país em pleno 2018 – vide a questão racial mal resolvida no país, entre outras questões.
Vale comentar que Jezebel está completando, em 2018, nada menos que 80 anos de seu lançamento nos cinemas. Impressionante pensar que há oito décadas já tínhamos filmes com o zelo, o cuidado e o talento de atores como Bette Davis e Henry Fonda nos cinemas. Esse filme faz parte da história do cinema norte-americano, sem dúvidas.
O roteiro de Jezebel, escrito por Clements Ripley, Abem Finkel e John Huston, é baseado na peça de teatro de Owen Davis. Além dos três roteiristas, contribuíram para o roteiro, apesar de não terem recebido crédito por isso, Robert Buckner e Louis F. Edelman. Interessante como naquela época diversos nomes se envolviam em um mesmo roteiro – hoje, por outro lado, é mais comum que um ou dois roteiristas, no máximo, se envolvam em um projeto.
São épocas diferentes, sem dúvida. Na época de Jezebel, na era dos estúdios, o nome dos astros e estrelas, assim como os dos diretores, tinham mais relevância do que o dos roteiristas. Os projetos eram capitaneados pelos produtores e pelos estúdios muito mais do que hoje em dia.
Vou admitir algo que é difícil para “engolir” nessa produção. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Entendo que a produção retrate uma situação em pleno século 19, nos Estados Unidos, mas a ideia de que uma mulher é a origem da “desgraça” dos homens, ao estilo da Jezebel da Bíblia e de Eva, idem, me incomoda. Como eu disse antes, os homens fazem o que bem entendem, inclusive nessa história, mas a culpa acaba sendo das “ardilosas” mulheres que os provocam? Ah vá! Quando as pessoas serem realmente responsáveis pelos seus atos?
Jezebel é um filme de William Wyler, um dos grandes diretores da época dos estúdios em Hollywood. Nesta produção, ele faz um trabalho correto e bem conduzido, valorizando os cenários e os locais de luxo que ajudam a explicar a origem dos personagens. Ele também captura muito bem o ritmo de uma cidade na época e o trabalho dos atores, valorizando muito bem os talentos que foram escolhidos para esta produção. Faz um trabalho competente, ainda que, tecnicamente falando, ele não entregue nada assim de tão excepcional. Os seus ângulos e dinâmica das câmeras já tinham sido explorados com talento antes por vários nomes. Nada demais, portanto.
Bette Davis e Henry Fonda são as grandes estrelas desse filme. Com um certo destaque para a atriz, que realmente conduz a história e brilha com a sua personagem cheia de nuances. Além deles, vale citar o belo trabalho de George Brent como Buck Cantrell; de Margaret Lindsay como Amy Bradford Dillard; de Donald Crisp como o Dr. Livingstone, amigo da família Dillard e de Julie; Fay Bainter muito bem como a tia Belle Massey; Richard Cromwell como Ted Dillard, irmão mais novo de Preston e um sujeito pouco afeito a “desaforos”; Henry O’Neill como o general Theopholus Bogardus, tutor de Julie; Lew Payton como o “tio” Cato, um escravo que era empregado da família de Julie há muito tempo; Eddie “Rochester” Anderson como Gros Bat, escravo de confiança da família; e Matthew “Stymie” Beard como Ti Bat, um simpático escravo que servia como “garoto de recados” e quase um “faz tudo”.
O filme não tem muitos personagens importantes, ma tem diversos personagens com pouca relevância ou figurantes. Alguns outros nomes tem algumas falas e um pouco de importância no filme, mas nada que mereça realmente ser mencionado.
Entre os aspectos técnicos da produção, vale destacar a direção de Ernest Haller; a trilha sonora de Max Steiner; e a edição de Warren Low. Também valem ser mencionadas a direção de arte de Robert M. Haas; os figurinos de Orry-Kelly; e o departamento de arte de Fred M. MacLean, Pat Patterson e George Sweeney.
Jezebel estreou em première no dia 10 de março de 1938 em Nova York. No mesmo ano, o filme estreou em outros 11 países, incluindo uma participação no Festival de Cinema de Veneza em agosto daquele ano.
Agora, vale citar algumas curiosidades sobre esta produção. A atriz Bette Davis concluiu que William Wyler era um diretor diferenciado porque ele fazia questão de apresentar para ela o resultado das filmagens do dia. Nenhum diretor tinha feito isso com ela antes. Eles assistiram juntos, por exemplo, a uma cena em que a atriz estava descendo uma escada e que, quando foi filmada, tinha irritado Bette Davis porque Wyler tinha pedido para a sequência ser repetida pouco mais de 30 vezes. Ao rever o material, contudo, Wyler mostrou a sequência em que Bette Davis tinha feito uma expressão fugaz e que resumia bem a sua personagem. A partir daí, a atriz não questionou mais nenhuma sequência que o diretor pediu para ser repetida.
Bette Davis teria gravado cerca de 45 takes até que ela conseguiu aperfeiçoar o gesto em que ela levanta a capa da sua montaria – na parte inicial do filme. Isso demonstra, assim como o parágrafo anterior, o nível de exigência da atriz e do diretor com os detalhes desse filme. De fato, nada aparece em cena sem que tudo tenha sido ensaiado e/ou gravado até a exaustão para que ficasse “perfeito”.
Depois que o filme terminou de ser gravado, Bette Davis chorou durante alguns dias. Não apenas porque ela teria terminado uma das suas experiências cinematográficas mais gratificantes mas, também, porque ela descobriu estar grávida de William Wyler. Agora sim, faz ainda mais sentido o diretor preocupar-se em mostrar as cenas rodadas a cada dia para a sua então amada. 😉
Bette Davis recebeu o Oscar de Melhor Atriz por Jezebel em 1939. Em 2001, esse Oscar que ela recebeu pelo filme foi leiloado por US$ 57,8 mil pela Christie’s. Quem arrematou a estatueta foi Steven Spielberg que, na sequência, doou o prêmio para os arquivos da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.
Bette Davis conheceu William Wyler durante o teste que fez para o filme A House Divided em 1931. Como estava atrasada para o teste, Davis pegou um vestido de tamanho menor do que o dela e, enquanto caminhava, ouviu o seguinte comentário de Wyler para uma pessoa de sua equipe: “O que você acha dessas damas que mostram os seus seios acreditam que podem conseguir um emprego por causa disso?”. Davis se sentiu humilhada por esse comentário e fez questão de lembrar Wyler sobre ele quando os dois se encontraram para tratar de Jezebel. A ironia do episódio é que Bette Davis era conhecida por renunciar do seu sex appeal – muitas vezes aparecendo nos testes e nos encontros com os diretores e produtores sem maquiagem.
Durante as filmagens de Jezebel, Bette Davis e William Wyler tiveram um caso. Na época, Davis era casada com Harmon Nelson. Quando Jezebel foi rodado, Nelson trabalhava, principalmente, em Nova York, e o casamento dele com Davis encaminhava-se para o fim. Enquanto isso, a atriz passava muitas noites na casa de Wyler onde, entre uma noite e outra de amor, eles também falavam do filme que estavam fazendo juntos.
Após brigar com Wyler em um determinado momento, Bette Davis embarcou em um caso com Henry Fonda. Isso aumentou muito a tensão nos sets de filmagem. Mas depois que a esposa grávida de Fonda ligou para o marido, Davis desembarcou desse caso.
Para alguns críticos, Jezebel é a versão preto e branco de Gone with the Wind, que estava em fase de pré-produção na época em que o filme de Wyler foi rodado. Francamente? Acho Gone with the Wind melhor. Mais maduro enquanto produção e com interpretações mais marcantes.
O ator Henry Fonda foi liberado de ficar junto com a equipe até o final das rodagens porque ele estava ansioso para acompanhar ao nascimento da sua filha Jane Fonda. Por isso ele gravou algumas cenas com antecedência e foi liberado. Enquanto isso, Bette Davis perdeu o pai durante as filmagens de Jezebel. Ele morreu durante o Ano Novo de 1938. Como a produção estava 24 dias atrasada, Davis tirou uma folga para ir até o funeral do pai.
A peça em que o filme foi baseado, estrelada pela “inimiga” de Bette Davis, Miriam Hopkins, foi um fracasso na Broadway. A atriz Miriam Hopkins chegou a afirmar que, em seu contrato, estava determinado que ela estrearia o filme baseado na peça. Mas a verdade é que o contrato não era determinista – apenas dizia que ela seria “considerada” caso a produção rendesse um filme.
Humphrey Bogart, que tinha acabado de trabalhar com Wyler em Dead End, alertou Bette Davis que ela poderia odiar trabalhar com o diretor já que ele tinha o hábito de pedir que uma sequência fosse rodada diversas vezes sem, contudo, orientar os atores sobre o que eles poderiam fazer diferente. No primeiro dia de filmagens, Davis teve que rodar 28 vezes uma cena considerada simples em uma loja de roupas. Inicialmente, ela não gostou daquilo. Mas quando viu o resumo das filmagens do dia e percebeu que a cada nova rodagem na sequência a interpretação dela ficava melhor, ela foi convencida pelo jeito de trabalhar do diretor.
Jezebel ganhou em duas categorias do Oscar de 1939 e foi o vencedor de outros três prêmios – além de ter sido indicado a outros quatro. O filme ganhou o Oscar de Melhor Atriz para Bette Davis e de Melhor Atriz Coadjuvante para Fay Bainter. Ele ficou ainda no Top Ten Films da National Board of Review, em 1938; o National Film Registry do National Film Preservation Board dos Estados Unidos em 2009; e a Special Recommendation para William Wyler no Festival de Cinema de Veneza de 1938.
Impressionante a trajetória de Bette Davis. Ela recebeu duas vezes a estatueta de Melhor Atriz no Oscar, em 1936 por Dangerous e em 1939 por Jezebel, e foi indicada outras nove vezes ao Oscar – mas nunca mais ganhou uma estatueta. A primeira indicação dela veio em 1935, por Of Human Bondage; e a última, em 1963, por What Ever Happened to Baby Jane?
Os usuários do site IMDb deram a nota 7,6 para Jezebel, enquanto que os críticos que tem os seus textos linkados no Rotten Tomatoes dedicaram 15 críticas positivas e uma negativa para a produção – o que lhe garante uma aprovação de 94% e uma nota média de 7,5.
Escolhi Jezebel para figurar na lista dos filmes da seção Um Olhar Para Trás porque este é o primeiro filme da lista destaca pelo livro 1001 Filmes para Ver Antes de Morrer. Como sempre, gosto de destacar parte da crítica da produção que é feita no livro. Em seu texto, R. Barton Palmer comenta o seguinte: “O segundo mais famoso retrato de Hollywood de uma mimada bela do Sul, Jezebel ofereceu a Bette Davis o veículo perfeito para seus talentos como atriz em um papel marcante. Davis interpreta Julie Marsden, a mais cobiçada debutante da Nova Orleans de 1850, uma sociedade regida por códigos de comportamento inflexíveis que a jovem considera sufocantes”. Como sempre, vale ler toda a crítica de Palmer, que faz uma interessante comparação de Jezebel com Gone with the Wind.
Esta é uma produção 100% dos Estados Unidos. Por isso, esse filme também figura na lista de produções que atendem a uma votação feita há algum tempo aqui no blog.
CONCLUSÃO: Essa produção se desdobra sobre um tempo dos Estados Unidos que já passou mas que, até hoje, tem os seus desdobramentos no país. Uma mulher que busca ter opinião própria sofre com uma sociedade cheia de regras e na qual os homens decidem os rumos da sociedade. Esse é um dos temas do filme. O outro é a diferença brutal entre a “forma de ser” da região Norte e Sul do país, com as suas diferenças “irreconciliáveis”. Um filme interessante, com dois atores ótimos em suas fases iniciais de carreira, mas que sofre um pouco com o fato de ser muito datado e por ficar um tanto “indeciso” sobre qual é o foco principal da história.