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Out of the Furnace – Tudo por Justiça


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Filmes sobre odisseias de vingança pululam no cinema mundial. Especialmente Hollywood tem vários exemplares do gênero. Para quem já assistiu a uma boa parte destes filmes, Out of the Furnace parece apenas mais do mesmo. Uma pena, porque o filme começa bem, com estilo e foco bem definido. O elenco também é promissor. Pena que o roteiro não mostra força do meio para o final.

A HISTÓRIA: Vários carros parados em frente a um telão. De dentro de um deles, um homem se inclina para vomitar. Ele é Harlan DeGroat (Woody Harrelson), um sujeito violento que fica irritado com a mulher com quem está saindo (Dendrie Taylor) porque ela fica preocupada com a volta para casa e ri depois que ele fala que o carro se dirige sozinho. Depois de agredir a mulher, DeGroat espanca um homem (Carl Ciarfalio) que saiu de outro carro porque ficou incomodado com a situação. E foge dali.

Cenas de uma cidade industrial. É ali que trabalha duro, em uma siderúrgica, Russell Baze (Christian Bale). Tudo está sob controle na vida dele, que tem Lena Taylor (Zoe Saldana) como namorada e vive entre os cuidados com o pai doente (Bingo O’Malley) e o irmão caçula, militar, que gosta de jogar e tem algumas dívidas, Rodney Baze Jr. (Casey Affleck). Tudo parece em ordem, até que um acidente começa a mudar a vida da família Baze.

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso só recomendo que continue a ler quem já assistiu a Out of the Furnace): Belo cartão-de-visitas o diretor Scott Cooper nos apresenta na sequência inicial desta produção. Pena que aquela sacada não se repita em mais momento algum da produção.

As imagens rodadas no drive-in são perfeitas porque jogam com duas perspectivas de planos e sequências de câmera. A primeira está sendo exibida no telão, e a segunda, é a própria dinâmica da câmera que roda Out of the Furnace. Este jogo cria uma perspectiva interessante, a ponto das cenas do telão darem a impressão de “crescerem” conforme a câmera comandada por Cooper ia descendo de um plano superior para o que se aproxima dos carros. Grande sacada!

Em seguida, o filme segue bem ao explorar a característica da cidade industrial onde boa parte do roteiro de Brad Ingelsby e Scott Cooper se desenvolve. Aquele contexto ajuda a explicar a falta de perspectivas de alguns personagens e também o jeito “grosseiro” que eles tem de resolver muitos de seus problemas. Como acontece em tantas cidades dos Estados Unidos e de outros países bem industrializados, há muitas cidades que tem a economia e, consequentemente, o modo de vida de seus cidadãos moldados por determinadas indústrias.

No caso de Out of the Furnace, a siderúrgica em que Russell Baze trabalha tem esta função. A única perspectiva para muitos homens pagarem as suas contas e terem uma vida decente é trabalhar naquela empresa. Que exige sacrifícios, como bem exemplifica o doente patriarca da família. É neste ambiente em que encontramos uma irmandade clássica em filmes em que haverá encrenca: o irmão mais novo de Russell quer escapar desta vida difícil e, para isso, procura a saída em caminhos bem mais fáceis como o mundo das apostas.

Como reza a história clássica dos jogadores no cinema, Rodney só se dá mal e começa a acumular dívidas. A sorte inicial dele é que estas dívidas são contraída com o vilão “bonzinho” John Petty (Willem Dafoe). O proprietário de um bar está acostumado a emprestar dinheiro e também a dever grana. Adepto das lutas ilegais, ele introduz Rodney neste cenário e, mesmo relutante, leva o irmão mais novo de Russell a entrar no mercado barra pesada de disputas que podem levar até a morte.

É neste último cenário em que entra em cena novamente o vilão da história, o violento Harlan DeGroat. Era evidente que, mais cedo ou mais tarde, os lados opostos de Russell e Harlan iriam se chocar. E não apenas esta previsibilidade ajuda a tornar o filme fraco, mas como a escolha sobre a forma do encontro torna esta produção uma obra requentada.

(SPOILER – não leia se você ainda não assistiu ao filme). Existem muitas histórias no cinema de irmãos mais novos que colocam os mais velhos e protetores em encrenca. Depois, é clássica a ideia de que o “bom-menino-vítima-do-vilão-desalmado” tinha topado entrar em uma última missão (seja ela um assalto à mão armada, um assassinato ou, no caso deste filme, uma luta no melhor estilo Fight Club) e se deu mal por ter encarado esta tarefa. E daí alguém da família da vítima resolve se vingar e assume as armas.

Ou seja: vários lugares-comum explorados por outras produções são agrupados em Out of the Furnace para envolver o público. Não há surpresas ou inovação neste filme. Exceto por aquela sequência bem filmada, inicial, já comentada anteriormente, e pelo trecho da história “fora da curva” que é aquele em que Russell se acidente e provoca pelo menso uma morte – o filme não deixa claro se mais de uma pessoa morreu naquela batida. Também ficamos sem saber quanto tempo Russell ficou preso – um dado que seria interessante já que, ao sair da prisão, ele nos apresenta uma cidade um pouco mais decadente.

Se o roteiro do diretor Cooper e de Ingelsby é o calcanhar de Aquiles deste filme, a fortaleza da produção é o trabalho dos atores. Aliás, que grande elenco foi escalado para esta produção! Além dos já citados Woody Harrelson, Christian Bale, Casey Affleck, Willem Dafoe e Zoe Saldana, estão em cena também Sam Shepard e Forest Whitaker. Tudo bem que nem todos os personagens destes atores são bem desenvolvidos, mas isso faz parte de um roteiro fraco.

De qualquer forma, Christian Bale e Woody Harrelson estão ótimos. Os papéis deles são os melhores trabalhados – ainda que, no fim das contas, Harrelson se resuma a um vilão cruel e nada mais que isso, já que não sabemos nada sobre a vida pregressa ou mesmo o entorno que o cerca no presente. Mas foi bom ver Harrelson em um papel deste naipe após tanto tempo – impossível não lembrar do ator em Natural Born Killers. Gostei também do trabalho de Casey Affleck. Os demais atores tem que tentar emocionar com poucos argumentos, especialmente Dafoe e Saldana – sem contar Shepard e Whitaker que tem, cada um, praticamente pontas neste filme.

Um outro recurso que Out of the Furnace utiliza e que outras produção já utilizaram é o de mostrar um personagem que não consegue superar as cicatrizes criadas por ter servido à pátria-amada, os Estados Unidos. Desta vez esta figura é encarnada por Affleck. E a verdade é que, ao pensar em Out of the Furnace em perspectiva, o único detalhe que destoa um pouco da história clássica de vingança é este do ex-militar que não tem nada a perder porque não consegue se recuperar do que viu enquanto servia ao Exército no Iraque – por quatro vezes, importante dizer.

Só acho que o personagem de Affleck poderia ter estas cicatrizes melhor exploradas. Afinal, ele parece mais perdido do que traumatizado no filme. Perdido por perdido, há muita gente por aí que não sabe o que quer fazer da vida. Mas ter traumas profundos e achar que não tem nada a perder porque a morte, talvez, seria uma boa solução para esquecer os próprios fantasmas é algo bem diferente. E, pelo visto, o personagem deveria seguir mais a segunda linha. De qualquer forma, mais uma vejo que o problema está mais no roteiro do que no trabalho do ator.

NOTA: 7.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: Bem planejadas e executas as sequências de pancadaria no melhor estilo Fight Club. O único problema daquelas sequências é que elas lembra demais o filme de David Fincher de 1999 – e que, este sim, merece ser visto e revisto.

Da parte técnica do filme, vale citar a boa direção de Scott Cooper – ele manja mais deste ofício do que tem talento como roteirista, aparentemente – e o bom trabalho do diretor de fotografia Masanobu Takayanagi. Além deles, vale citar o competente editor David Rosenbloom. E isso é tudo.

Há tempos eu estava curiosa sobre este filme. Não apenas por causa de Christian Bale, de quem gosto, mas porque o cartaz me remetia aos bons filmes policiais. Também porque esta produção chegou a ser cotada na temporada pré-Oscar para aparecer em algumas categorias da premiação. Mas que nada. Out of the Furnace ficou totalmente de fora do prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. E cá entre nós, a ausência não foi injusta.

Out of the Furnace estreou em novembro de 2013 no AFI Fest. Depois, o filme participaria de outros três festivais. Nesta trajetória, recebeu um prêmio e foi indicado a outros cinco. O único que levou para casa foi o prêmio de “melhor estreia e segundo filme” (título estranho, não) para Scott Cooper no Festival de Cinema de Roma.

Por falar no diretor, este é apenas o segundo filme dirigido por Cooper. Antes de Out of the Furnace, ele dirigiu a Crazy Heart (comentado aqui no blog). Para o meu gosto, o filme anterior de Cooper é melhor. Agora, o tira-teima vai ficar com Black Mass, filme estrelado por Johnny Depp, Guy Pearce Benedict Cumberbatch e Joel Edgerton e que está previsto para estrear no próximo ano.

Uma das qualidades de Out of the Furnace, além do bom trabalho dos atores, é a ótima escolha da música Release para dar o tom do começo e do fim da produção. Esta é apenas mais uma das grandes canções da banda Pearl Jam.

Agora, algumas curiosidades sobre esta produção. Como é de seu feitio, Christian Bale realmente aprendeu a operar um forno siderúrgico para este filme – evitando, assim, o uso de dublês. Algo que o ator costuma fazer nas produções em que decide mergulhar.

Cooper prometeu para Bale que não faria Out of the Furnace sem ele. Essa promessa foi feita em 2011. O diretor teve que esperar até o ano seguinte para que Bale conseguisse um espaço na agenda e para que eles conseguissem concretizar o projeto.

O filme que aparece nas cenas iniciais da produção sendo projetado no drive-in é The Midnight Meat Train, de 2008, dirigido por Ryûhei Kitamura.

Os atores Billy Bob Thorton e Viggo Mortensen chegaram a ser cogitados para o papel de Harlan DeGroat mas, no final, o personagem ficou com Woody Harrelson.

Out of the Furnace foi totalmente rodado nos Estados Unidos, com cenas externas e em estúdios feitas em Moundsville (West Virginia), Burgettstown, Beaver Falls e Braddock (Pensilvânia).

Esta produção teria custado cerca de US$ 22 milhões e faturado, apenas nos Estados Unidos, pouco mais de US$ 11,4 milhões. Ou seja, falta um bom caminho ainda para o filme começar a dar lucro.

Os usuários do site IMDb deram a nota 6,9 para este filme. Uma boa avaliação, levando em conta o padrão do site. Os críticos que tem os seus textos linkados no Rotten Tomatoes dedicaram 89 críticas positivas e 81 negativas para a produção, o que lhe garante uma aprovação de 52% – e uma nota média de 5,9.

CONCLUSÃO: Contar uma história de vingança, nos dias atuais, precisa de um pouco de ousadia. E este é um elemento que não faz parte de Out of the Furnace. Então ou este é o primeiro filme do gênero que você assiste, ou ficará inevitável o gosto de comida requentada na sua boca. Não há frescor neste filme, apenas ideias requentadas. Uma pena. Mas se a história deixa a desejar, o elenco está bem escalado e faz um bom trabalho. Há tempos Woody Harrelson nos devia um vilão cruel como o que encontramos neste filme. Fora o bom trabalho dos atores, sobra pouco de interessante neste filme. Assista apenas se já tiver visto todas as opções melhores do cinema antes.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 25 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing, professora universitária (cursos de graduação e pós-graduação) e, atualmente, atuo como empreendedora após criar a minha própria empresa na área da comunicação.

3 respostas em “Out of the Furnace – Tudo por Justiça”

Olá!

realmente esperava mais do filme, já o elenco cumpriu sua função e foi indispensável para evitar o total fracasso da produção.
Destaco também a música Release da banda Pearl Jam, música que fez parte do aclamado albúm de estréia da banda grunge, “Ten”.
Grande abraço!

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