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Stories We Tell – Histórias Que Contamos


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Cada pessoa é uma ilha, um indivíduo completo e cheio de referências, de heranças, capaz de sobreviver por conta própria até um certo ponto mas que se conecta com outras ilhas por escolha e seguindo a característica das relações da nossa sociedade. Mas o que acontece quando uma ilha destas submergiu, não está mais visível, mas as outras ilhas que a conheceram resolvem falar sobre ela? A quem interessa a nossa história, ou a história de qualquer indivíduo? Por que as pessoas querem lembrar, querem ter legado, desejam saber mais sobre as suas origens? Stories We Tell é um destes documentários fascinantes, de derrubar o queixo, não apenas pela história que conta, mas pelas perguntas que desperta em quem assiste ao filme. Um público que não sairá igual após a sessão.

A HISTÓRIA: Cenas de estrada com uma paisagem cheia de neve. O narrador comenta que quando alguém está no meio de uma história, ela não se parece em nada como uma história. Na verdade, tudo parece confuso. Ele dá vários exemplos desta confusão e afirma que apenas tempos depois é possível perceber o que aconteceu como uma história. E isso acontece quando você conta o que aconteceu a si mesmo ou a outra pessoa. Corta. Michael Polley pergunta para a filha, Sarah Polley, diretora do filme, quanto ele deve subir. Ela responde que três andares. Ele continua subindo, até chegar ao estúdio em que vai gravar o áudio como narrador deste filme, um documentário sobre a história da família Polley.

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Stories We Tell): Este filme é um verdadeiro perigo. Porque ele merecia um longo texto sobre tudo o que abriga. Impossível escrever aqui, no blog, mesmo que os textos normalmente sejam extensos, tudo o que deveria ser dito sobre Stories We Tell. Mas tentarei falar dos pontos principais.

Toda família é uma confusão. Há segredos, aqui e ali, e leituras muito diferentes sobre as mesmas pessoas. Nenhuma história é simples, aparentemente, e há muito em jogo que jamais será entendido ou explicado. Stories We Tell trata destes pontos, mas vai além. Este documentário fala do próprio interesse ou repulsa das pessoas por exporem as próprias intimidades. Achei muito, mas muito corajoso mesmo o projeto de Sarah Polley em contar a história familiar. Resgatar a memória da mãe morta, personagem onipresente do filme e que jamais terá a capacidade de explicar a própria versão dos fatos. E não é isso que acontece ao nosso redor cotidianamente?

Quantos personagens conhecemos, sejam familiares ou históricos, dos quais ouvimos falar mas que nunca tiveram uma oportunidade de explicar-se? O que sabemos sobre eles é a verdade? E aí Stories We Tell nos lança, mais para o final do filme, a derradeira pergunta: o que é a verdade? Como jornalista, há muito tempo estou convencida de que a verdade não existe. O que conhecemos são fragmentos da verdade. E apenas isso. Porque a verdade completa, plena, não está ao alcance de ninguém. Ainda assim, o que conhecemos não pode ser considerado mentira.

Vejamos. Os sentimentos de uma pessoa sobre o que aconteceu são parte da verdade. E para aquela pessoa, naquelas circunstâncias, são a própria verdade. Daí que seja tão importante Stories We Tell e toda a reflexão que você pode ter feito sobre isso antes ou depois do filme. Saber que o que você presenciou, viu e sentiu é a verdade mas que existem outras verdades tão importantes e relevantes quanto é fundamental. Para não ficarmos tão cheios de nós mesmos, da nossa capacidade de compreender ou de acreditar que tudo pode ser explicado de forma simples. A vida não é assim. E as famílias, consequentemente, também não.

Mas vamos falar diretamente do trabalho de Sarah Polley. Achei fascinante como ela conduziu esta história. Primeiramente, ela mergulha o espectador no meio de uma narrativa confusa. Como a introdução do filme mesmo explica, é como se a gente estivesse vivendo aqueles fatos, no meio da história e, consequentemente, sem perceber que ela é uma história. Quer dizer, até sabemos que ela é uma história, mas somos incapazes de entendê-la. Ajuda neste processo o fato da diretora não identificar as pessoas mais que com o nome delas. Então é com o passar do tempo que entendemos quem é quem. Qual é a relação entre as pessoas.

Esta escolha da diretora faz com que tudo seja uma surpresa para quem assiste a esta história. E ela vai ficando mais e mais complicada e interessante com o tempo. Também bacana a forma com que Sarah foca o próprio trabalho, mostrando desde a chegada do pai dela no estúdio até o trabalho dos dois juntos. Ela não desaparece do processo, como uma narradora “oculta”. Até porque, e o nosso grande Eduardo Coutinho já tinha nos mostrado isso, ela é parte da história. Nada mais justo que vermos como ela trabalha e como ela conseguiu fazer este documentário.

Só depois de bastante tempo é que vamos entender a importância daquelas palavras do narrador. O que desperta a vontade de assistir novamente ao filme, para perceber as palavras de outra forma. Afinal, a história se torna mais fascinante conforme ela evoluiu e entendemos a responsabilidade e o papel de cada um dos “personagens” que aparecem nela. E essa lógica é como a vida mesma. Só vamos perceber a importância e o papel que nós mesmos e a outras pessoas que conhecemos desempenham ou desempenharam conforme o tempo passa.

Impossível assistir Stories We Tell e não ficar fascinado pela história dos Polley e dos Gulkin na mesma medida em que refletimos sobre a nossa própria história. E das nossas famílias. O quanto você sabe sobre o seu pai, ou sua mãe? Além da história deles, sobre o que eles sentiram ou pensaram? E você mesmo, o quanto você é transparente com os demais? No fim das contas, fica evidente que a tentativa de Sarah em contar a história da própria família e, consequentemente, dela própria, é falha. Como será falha qualquer tentativa de tentar chegar na verdade completa.

Mas tentar é importante. E é tão bonito! E o que eu achei mais bacana desta fascinante e muito humana história de Stories We Tell é a forma com que cada pessoa enxerga tudo o que aconteceu. Cada um tem a própria ótica mas, e o bacana de tudo isso, é que os filhos de Diane não olham para ela com dureza. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Pelo contrário. Exceto talvez por Mark, o mais sério dos irmãos de Sarah e o que parece ter se decepcionado mais com a mãe ao descobrir que ela foi infiel no casamento com Michael, os demais tinham uma leitura aparentemente bastante justa sobre as diferenças do casal Diane e Michael e sobre o “bacana” que foi a mãe deles ter se sentido valorizada e encontrado o amor junto a Harry.

Achei essa visão generosa muito interessante. E um desafio para a maturidade de qualquer filho que, normalmente, tem a tendência de buscar a perfeição nos pais. Mas vamos lá, nossos pais são humanos como a gente. E se nós somos falhos e cometemos erros, por que nossos pais não seriam assim também? E afinal de contas, o que de fato é errar? O primeiro choque de Stories We Tell para mim foi quando os entrevistados no filme revelam que Diane pensou em abortar a última filha que era, justamente… Sarah! Uau! Inicialmente, me coloquei no lugar dela e fiquei pensando o quanto difícil deve ser você saber que os seus pais pensaram em não ter você.

Mas daí, por várias razões, Diane mudou de ideia. E Sarah nasceu. E o mundo ganhou uma ótima atriz e diretora. E conforme Stories We Tell vai se desenvolvendo, passamos a entender melhor o porquê da ideia do aborto ter passado pela cabeça de Diane. E não foi apenas porque ela tinha mais de 40 anos. E daí surgem os outros “choques” da história. Interessante como todos lidaram com os novos fatos, especialmente Sarah.

Este filme, que pelo gosto de Harry Gulkin seria totalmente narrado por ele – que chegou a escrever um livro a este respeito, mas teve a ideia criticada por Sarah -, ganha diversas matizes pela forma com que a diretora resolveu contar a história. Além dos depoimentos de pessoas diretamente envolvidas nos fatos, temos a narração de Michael, que nada mais é que um corajoso texto de sua autoria escrito logo após saber da real paternidade de Sarah, e uma interessante troca de e-mails pessoais entre a diretora e seus dois pais.

Dando ritmo e dinâmica para o filme, além dele seguir uma lógica temática do início ao fim – começando pelas cenas de bastidores e dos principais entrevistados se arrumando para as perguntas frente às câmeras até as perguntas similares sobre o câncer de Diane e etc. -, ajuda na narrativa o vasto material de imagens de época pessoais da família. Elas estão presentes desde o princípio, garantindo que Stories We Tell tenha uma personagem ausente que ajuda a contar a história o tempo inteiro: Diane, através destas imagens de arquivo e com as pessoas falando dela.

Agora, não demora muito para o espectador perguntar-se sobre o que teria levado Sarah Polley a expor a família e a si própria tanto assim? E o mais bacana de Stories We Tell é que esta pergunta está presente. Assim como o “desconforto” de alguns dos entrevistados, especialmente os pais de Sarah, Michael e Harry, em não terem o controle da história nas mãos. Isto é o que torna este filme tão diferenciado. Porque ele não conta apenas uma história muito humana e fascinante, mas também questiona a si próprio e as motivações das pessoas. Além do próprio sentido da exposição e da verdade. Quantos filmes você conhece que já fizeram ou fazem isso?

Para mim, houve dois momentos especialmente importantes. Quando Michael, depois de saber de toda a verdade, pondera sobre “porque falamos, falamos e sem transmitir o que realmente somos” e quando, motivada por um e-mail de Michael, Sarah pensa sobre as razões “escondidas” que podem estar motivando-a a fazer este filme – além daqueles citados antes, de resgate da memória familiar e para discutir o próprio sentido de verdade.

De fato, muitas vezes na nossa vida percebemos que falamos demais. Não por ser exagerado, mas porque muito foi dito de fato. E no fim das contas, o que de verdade cada um de nós falou sobre si mesmo? O quanto fomos e/ou somos verdadeiros? E o quanto representamos por uma série de convenções ou necessidades? O questionamento de Michael é válido. Assim como a reflexão de Sarah sobre a própria motivação. E o questionamento dela é pertinente para qualquer um de nós em época de Facebook, Twitter e afins: por que, afinal, nos expomos?

No caso de Sarah, fica evidente que ela está buscando a identidade da mãe que morreu. E não apenas dela, mas da própria família e, por consequência, de si mesma. No fim das contas, ela presta uma corajosa homenagem para a mãe e, por tabela, a todas as mães e famílias que seguem dando continuidade para a humanidade.

A história também conta a busca da diretora pelo próprio pai – evidentemente. Mas não é apenas isto. Diz aquela velha frase que “recordar é viver”. E resgatar a história de alguém é como que tentar prolongar aquela vida, aquelas lembranças e sentimentos. Por isso homenageamos os mortos. E por isso seguimos contando as nossas próprias histórias.

Não tenho dúvidas de que a exposição das pessoas atualmente, muito mais simples e ampla do que antigamente, é esta nossa busca por permanecer. Por seguir com alguma presença e relevância além da nossa insignificância e mortalidade. O ser humano, acredito que desde o princípio, tenta ser menos efêmero do que é de fato. Acho que esta é uma condição tão inerente a nossa condição quanto a de querer viver o máximo possível – sentido de sobrevivência.

Stories We Tell fala de tudo isso de uma forma muito bonita, corajosa e como homenagem à memória das pessoas que ajudaram a moldar a vida uma das outras. Lindo filme. Inteligente, sensível e muito bem acabado. Sarah conta a sua história mas, porque não dizer, a nossa também.

NOTA: 10.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: Teve um outro tema levantado por Stories We Tell que eu não mencionei antes: o amor sempre é desigual. Interessante o filme tratar disso porque esta é, sem dúvida alguma, uma das grandes verdades que vamos aprender com o passar do tempo. Em uma relação sempre, mas sempre mesmo, há uma entrega diferente entre as pessoas. Por isso mesmo, sempre achei inútil e idiota as pessoas perderem tempo “medindo” afeto. Ele é e sempre vai ser desigual.

Isso vale para qualquer relação. Mas especialmente nos casamentos eu acho que esta constatação é válida. Uma pessoa ama e se entrega mais para a outra do que vice-versa. E não vejo isso como um problema, desde que as pessoas não cobrem um retorno diferente. E nem queiram sempre medir o amor.

Duas pessoas estarem e ficarem juntas por muito tempo, como foi o caso de Michael e Diane, depende mais que tudo de uma escolha. Decisão esta baseada em amor, compromisso, afeto, respeito e tantos outros elementos. Mas dificilmente uma pessoa vai encontrar na outra aquilo que lhe falta. Ter estas expectativas pode ser natural, mas também é uma grande cilada. Stories We Tell nos fala um pouco sobre tudo isso.

Sarah Polley é uma pessoa fantástica. Falo isso sem conhecê-la, evidentemente. 🙂 Mas admiro a diretora, roteirista e atriz há muito tempo. Como atriz, passei a observá-la com muito mais atenção desde My Life Without Me, de 2003, dirigido pela ótima Isabel Coixet. E como realizadora, atuando como diretora e roteirista, desde o lindo e sensível Away From Her, de 2006, comentado aqui no blog. Admiro Sarah pelas escolhas que ela fez – e sabemos que as escolhas de alguém falam muito sobre aquela pessoa.

Vale comentar um pouco sobre a trajetória de Sarah Polley. Ela começou a atuar como atriz muito, muito jovem. Fez uma ponta na série de TV Night Heat em 1985, quando tinha apenas seis anos. No mesmo ano, participaria do primeiro filme, One Magic Christmas. Nesta época a mãe dela ainda estava viva – Diane Polley iria falecer apenas em 1990. Os pais de Sarah ficaram mais conhecidos pela carreira no teatro, mas buscando mais informações sobre eles no site IMDb foi possível perceber que Diane participou de algumas séries de TV e que Michael também fez alguns papéis no cinema.

Algo que achei interessante neste filme é a postura de Sarah Polley em querer defender a história da própria família. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Afinal, ela não acha que seja adequado Harry Gulkin sair publicando a sua ótica do que aconteceu. Por outro lado, ela torna Michael Polley o narrador de Stories We Tell. É como se ela deixasse muito claro de que família ela veio. Ok, Harry é o pai biológico dela. Sarah é fruto de uma paixão verdadeira. Mas quem esteve com ela desde o princípio? Quem foi mãe e pai de Sarah quando Diane morreu? Certo que Michael parecia não satisfazer as necessidades de Diane, mas é evidente em Stories We Tell o cuidado e o amor que Sarah tem por ele. Achei muito bonita a homenagem que ela faz para Michael e Diane, independente dos problemas que eles tiveram ou dos defeitos que possam ter tido. Eis uma linda declaração de amor familiar.

Stories We Tell funciona porque ele é feito de surpresa, momentos engraçados e emocionantes. Tudo está ali. E há trechos verdadeiramente preciosos. Um dos meus preferidos, na parte de humor, é quando Michael brinca sobre a “falta de coração” da filha, Sarah, quando ela está trabalhando. Ele se recorda de um vídeo que ela fez com ele mergulhando na piscina, uma alegoria para a “falta de tato” que ela está tendo agora, com Stories We Tell. Interessante.

Da parte técnica do filme, além da ótima direção e narrativa feita por Sarah Polley, logo no início do filme me chamou a atenção a ótima trilha sonora com arranjos de Jonathan Goldsmith. A maioria das músicas é de composições de Abraham Lass. Também excepcional o trabalho da diretora de fotografia Iris Ng e a edição de Mike Munn. Trabalho irretocável.

Vale citar o comentário de Sarah no início do filme: eles não estavam fazendo apenas um documentário, mas haviam desenvolvido um “processo de interrogatório”. Em alguns momentos, é isso que parece. Mas de forma muito sutil. E daí fiquei pensando: e o que um documentário e uma matéria jornalística são, de fato, além de espécies de interrogatórios? Perguntar e não parar de buscar respostas são recursos básicos para uns e outros.

Como comentei antes, Stories We Tell tem diversos momentos divertidos. Engraçadas, por exemplo, as reações dos irmãos de Sarah e de seus pais em diversos momentos. A própria diretora é personagem da história, não apenas por ser um ponto fundamental de tudo o que aconteceu com a família, mas por ser a condutora do filme. Interessante como algumas vezes ela faz uma pergunta, especialmente a primeira da produção, e ri do que está fazendo porque sabe como os outros vão reagir.

Como em qualquer família, na de Sarah as personalidades de cada um dos irmãos é diferente. Joanna é, para mim, a mais divertida. Ela tem um espírito sarcástico e direto muito interessante. Susy aparece menos, parece ser mais séria e emotiva. Mark faz as vezes do irmão mais sério, e aquele que fica um tanto decepcionado com Diane, enquanto John é o mais descontraído e aquele que entende as fraquezas e fortalezas de todos com naturalidade. Interessantes todos eles. Esta diversidade ajuda a dar graça para Stories We Tell.

Em certo momento, quando Harry questiona o filme da filha, interessante como ele tenta explicar a probabilidade da verdade ser contada. Quando ele fala sobre as pessoas diretamente envolvidas nos fatos e nos círculos de gente que vão se aglutinando a estas pessoas, fica ainda mais clara a identidade e o envolvimento dos entrevistados no filme.

Os personagens diretos, claro, são Harry e Michael – ainda que Harry acredite que apenas ele e Diane poderiam contar aquela história de forma legítima. Ele está certo sobre a história do romance deles, mas sobre o quadro completo, sem dúvida, Michael e os demais, especialmente os filhos que ficaram com o primeiro marido dela, tinham elementos importantes para revelar. Depois de Harry e Michael, o círculo seguinte de “contato com a verdade” é dos filhos. Depois, vem o círculo de amigos e outros familiares que acompanharam as histórias em segundo plano. Interessante pensar nestas “camadas narrativas” ao pensar sobre qualquer história.

Aliás, vale deixar um pouco mais clara a filiação de cada um dos irmãos de Sarah. Susy e John nasceram no primeiro casamento de Diane e acabaram ficando sob a guarda do pai. Mark, Joanna e Sarah nasceram do casamento de Diane e Michael.

Stories We Tell estrou em agosto de 2012 no Festival de Cinema de Veneza. Depois o filme participaria de outros 19 festivais, sendo o último deles o Festival de Cinema de Lisboa e Estoril agora, em novembro. Nesta trajetória, o filme conquistou cinco prêmios e foi indicado a outros seis. Entre os que recebeu, destaque para o de Melhor Documentário e Melhor Filme Canadense dado pela Associação de Críticos de Cinema de Toronto.

Não encontrei informações sobre o custo de Stories We Tell. Mas segundo o site Box Office Mojo, a produção conseguiu pouco mais de US$ 1,6 milhão nas bilheterias dos Estados Unidos. Ou seja, até o momento, este é um filme muito mais popular nos festivais de cinema do que entre o grande público. Reparei também que o filme nunca chegou a muitas salas de cinema. O máximo, segundo o site IMDb, foram 70 salas durante uma semana, em junho deste ano.

Os usuários do site IMDb deram a nota 7,7 para Stories We Tell. Uma avaliação muito boa, levando em conta a média do site. Os críticos que tem os seus textos linkados no Rotten Tomatoes dedicaram 100 textos positivos e apenas cinco negativos para o filme – o que lhe garante uma aprovação de 95% e uma nota média de 8,6.

De acordo com alguns críticos, como Peter Knegt da IndieWire, Stories We Tell é um forte candidato ao Oscar 2014 de Melhor Documentário. Disputariam com ele, segundo Knegt, filmes como 20 Feet From Stardom, Tim’s Vermeer e Blackfish. Logo mais veremos se, de fato, Stories We Tell consegue uma vaga na lista final de indicados ao Oscar.

Stories We Tell é uma produção 100% do Canadá.

Ah, como eu estava com saudade de um bom documentário. Infelizmente eu acabo assistindo a eles principalmente na época pré-Oscar. Mas este gênero de filmes é excelente. Especialmente pela diversidade de histórias e de formas de narrativa. Quero ver se vejo a outros documentários em breve.

CONCLUSÃO: Brilhante. Esta foi a primeira definição para este filme que passou pela minha cabeça quando ele já tinha se desenvolvido além da metade. Contar histórias é algo fascinante e talvez uma das mais nobres e bonitas capacidades do ser humano. Mas nem todos sabem contá-las com maestria. A diretora Sarah Polley é uma destas pessoas que sabe como fazê-lo. Neste documentário forte e que explora a intimidade dela e da família de forma contundente, Polley dá uma aula de cinema. Nos mostra como contar uma história não é apenas encadear fatos ou, tratando-se de um documentário, fazer as pessoas falarem de forma sincera e surpreendente. Contar uma história é esconder e revelar fatos com inteligência e de forma com que o espectador sinta-se quase um personagem.

Stories We Tell é fascinante não apenas por ter histórias muito humanas, com valores potentes como o amor pela vida, a valorização da família, a fortaleza e a fraqueza que compõe qualquer indivíduo. Mas também porque aborda temas tão caros para o nosso tempo, como podem ser a exposição da intimidade das pessoas para desconhecidos, a busca pela própria identidade e pela verdade. O que é a verdade? A quem interessa uma história particular? Perguntas importantes e para as quais Stories We Tell joga alguma luz, mas com a sabedoria de deixar a reflexão e as respostas ao gosto de cada espectador. Brilhante. Perfeito. Uma aula de cinema e de contemporaneidade.

PALPITE PARA O OSCAR 2014: Não existe, ainda, uma pré-lista de documentários para o próximo prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Por enquanto, a Academia divulgou apenas a lista de filmes que estão disputando uma vaga na categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira, assim como os longas e os curtas de animação que estão habilitados para o próximo Oscar e os finalistas para Melhor Curta de Ficção.

O que existe, por enquanto, são especulações sobre os filmes que podem chegar na reta final da categoria Melhor Documentário. O crítico Peter Knegt, como eu comentei antes, é um dos que acredita que Stories We Tell tem grandes chances de estar entre os cinco indicados ao Oscar. Ainda não vi aos outros candidatos bem cotados, mas posso afirmar, desde já, que Stories We Tell merece chegar lá.

Primeiro porque é um documentário bem diferente do que estamos habituados a assistir. Ele inova na narrativa e na proposta conceitual. Além de funcionar muito bem porque tem humor, surpresas e emoção. Além de ser um filme que fala muito sobre o nosso tempo – tanto pela busca incessante pela importância da família quanto pela crescente preocupação sobre a privacidade e/ou a exposição das pessoas. É cedo ainda para falar se este é o meu favorito ao Oscar. Mas, sem dúvida, sou uma apaixonada por esse filme e, até assistir aos demais, meu voto iria para ele. 🙂

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 25 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing, professora universitária (cursos de graduação e pós-graduação) e, atualmente, atuo como empreendedora após criar a minha própria empresa na área da comunicação.

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