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Mad Max: Fury Road 3D – Mad Max: Estrada da Fúria 3D


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A expectativa sobre um filme, um relacionamento ou um emprego é sempre algo ruim. Devemos viver sem ilusões, procurando conhecer como as coisas são sem fantasiar antes, durante ou depois. Dito isso, admito que eu tinha grandes expectativas para Mad Max: Fury Road e, possivelmente por esta razão, me frustrei com o resultado.

Fora os minutos iniciais de muita adrenalina e a construção visual do filme, sobra pouco para passar o tempo. Tanto que acabei cochilando em alguns trechos e, tudo indica, não perdi nada. História e roteiro contam pouco aqui. Adrenalina, infinitas cenas de ação e uma ótima fotografia são as protagonistas. Se você gosta disso, se jogue. Se não, procure um filme melhor e que tenha roteiro.

A HISTÓRIA: Ronco de carro. Uma voz se apresenta como Max (Tom Hardy), e afirma que o seu mundo é feito de fogo e sangue. Em seguida, o áudio de notícias explica como o mundo ficou caótico: primeiro com as guerras pelo petróleo, depois, pela água. O protagonista comenta que, um dia, ele foi um policial, mas que depois o mundo e a humanidade foi desmoronando, até que, agora, ele apenas sobrevive assombrado por vivos e mortos. Max aparece, apenas para, em seguida, ser perseguido por um bando em busca de sangue. Ele é levado para o reino de Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne), aonde acompanha a rebelião liderada por Imperator Furiosa (Charlize Theron).

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso só recomendo que continue a ler quem já assistiu a Mad Max: Fury Road): Antes de mais nada, meus bons leitores, quero pedir desculpas pela ausência. Tive meses de muito trabalho duplo – no jornal em que eu trabalho e também em casa, terminando uma novela particular nos estudos. Agora, finalmente, consigo começar a retomar o blog.

Importante comentar que eu comecei este texto ainda em maio, quando o filme estava em cartaz. Então, serei franca, que não lembro de todos os detalhes da produção, mas vou comentar os pontos principais. Para começar, devo dizer que filmes e personagens que marcaram época não deveriam ser revisitados, exceto se for para apresentar algo melhor. Fui ver este filme com o Mad Max original, de 1979, na cabeça.

Imaginem comigo que nada menos que 36 anos separam aquela produção dirigida por George Miller desta nova versão também dirigida por ele. O que aconteceu com o mundo, com a compreensão da humanidade sobre os recursos naturais e com o próprio cinema neste tempo todo? As mudanças não caberiam neste blog. O cinema, em especial, evoluiu muito tecnicamente, inclusive com direito ao cada vez mais presente 3D. Inclusive fui conferir este filme nesta versão.

Essa mudanças todas fizeram este Mad Max versão 2015 ficar melhor que o original? Em termos de história, com certeza não. O Mad Max de 1979 explorava muito mais a loucura das pessoas e as relações (des)humanas. Já naquele ano o olhar louco que marcaria Gibson começava a se revelar, e o ator mostrava a capacidade de demonstrar diversas nuances de seu personagem. Diferente de Tom Hardy, que apesar de ter aquele perfil durão e implacável, carece de habilidade para mostrar as nuances necessárias do personagem.

Se o protagonista e a história de 1979 eram melhores – ainda que com bem menos ação, é verdade – , outros aspectos técnicos da versão 2015 conseguem ganhar um certo protagonismo. O destaque principal vai, sem dúvida, para a direção de fotografia de John Seale. Esse é o ponto forte da produção, sem sombra de dúvida. Assim como os primeiros minutos do filme, que são de pura adrenalina. Primeiro, Miller aposta em uma clássica perseguição de carros. Depois, em uma tentativa de fuga de Max e uma consequente perseguição humana.

Se Hardy não tem expressividade, a protagonista feminina da história faz diferente. Logo após a segunda captura de Max, aparece em cena Charlize Theron. Ela sim, consegue imprimir emoção em sua destemida e também hardcore personagem. Ela brilha mais que o ator que faz Max, o que não deixa de ser um sinal dos tempos para esta grife de filmes. Nos primeiros minutos da produção também fica claro o tom rock’n roll de Mad Max: Fury Road.

Passado os minutos iniciais, o problema é o que vem na sequência. Não demora muito para percebermos que Imperator Furiosa se rebelou e que, com essa fuga, ela passou a ser o alvo do exército de Immortan Joe. E para onde ela e as outras mulheres que ela está levando junto com ela estão indo? (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Para um lugar que é para ser o Paraíso, aonde elas possam viver bem e em paz, longe da escravidão de Immortan Joe. E aí que o filme inteiro é a tentativa delas de encontrar este lugar e, depois de verem que o Paraíso não existe, retornar para o ponto de partida.

Claro que tudo isso é uma desculpa para inúmeras cenas de perseguição, porrada e violência. Mas inevitável perguntar: ok, tudo isso para mostrar um grupo de mulheres apoiada por poucos homens tentando a libertação e descobrindo que o “lugar prometido” não existe? Durante o filme, me pareceu evidente uma pegada feminista no roteiro de Miller, Brendan McCarthy e Nick Lathouris. Afinal, são as mulheres que se rebelam, que carregam a ação nas costas e que acabam sendo a esperança do povo esfomeado em busca de migalhas de pão e de um pouco de água.

Com um pouco de criatividade, é possível imaginar que os roteiristas quiseram passar uma mensagem de rebeldia da figura materna, por muitos plasmada na Mãe Terra, diante de tanta cobiça e dominação dos homens – simbolizados por Immortan Joe. O próprio nome deste personagem poderia brincar com a ideia equivocada dos homens – enquanto Humanidade – de busca pela imortalidade sem saber que, neste tentativa, eles estão acabando com os recursos naturais e com a própria vida.

Claro que é preciso imaginação para pensar em tudo isso. Mas essa criatividade ajuda a deixar a história repetitiva e arrastada, apesar da ação constante – mas sem novidade – um pouco mais interessante. No mais, o filme poderia ser bem mais curto – quem sabe, até um curta. Comparado a outros filmes 3D, achei que esse recurso foi pouco utilizado na produção. A direção de fotografia continuou sendo o mais interessante, assim como inúmeras cenas com efeitos especiais de explosões e perseguições. Pena que apenas isso não torne o filme além de mediano.

NOTA: 7,8.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: Para explicar esse novo Mad Max, é importante observar quem está à frente da produção: George Miller. Esse diretor australiano de 70 anos tem 16 filmes, curtas e séries no currículo. Depois de dirigir dois curtas em 1971, ele estreou nos longas justamente com o Mad Max de 1979.

Depois daquele primeiro filme estrelado por Mel Gibson, Miller fez outros dois filmes da grife até enveredar por outro caminho com filmes bem diferentes como The Witches of Eastwick, que marcou os anos 1980; o sentimental Lorenzo’s Oil; e os bonitinhos Babe: Pig in the City e Happy Feet.

Nenhum deles, contudo, com o impacto de Mad Max. Não por acaso o diretor voltou à sua grife de sucesso agora. Depois do filme de 2015, o diretor já está planejando a sequência, atualmente chamada de Mad Max: The Wasteland. Sem data ainda para estrear, o filme seria novamente estrelado por Tom Hardy e Charlize Theron.

Agora, algumas curiosidades sobre o Mad Max original e esta repaginada com outra configuração e levada de 2015. Os roteiristas da versão original foram outros: James McCausland e Byron Kennedy, junto com Miller. Além do diretor, um outro nome envolvido nos dois projetos foi o ator Hugh Keays-Byrne, que em 1979 interpretou ao vilão Toecutter e, agora, ao vilão Immortan Joe. No filme original ele teve bem mais trabalho na interpretação do que nesta última produção. O ator indiano de 68 anos tem 46 trabalhos no currículo e apenas um prêmio pelo trabalho em Rush, de 1974.

A direção de fotografia deste novo Mad Max é tão expressiva que conseguiu inspirar diversos artistas gráficos que não apenas criaram utilizando o estilo do filme, como inspirou fotógrafos e diversas empresas para fazer produtos com o novo estilo do filme.

Vale saber um pouco mais sobre o diretor de fotografia John Seale. Australiano que vai completar 73 anos de idade no dia 5 de outubro, Seale tem 42 produções no currículo e um Oscar, além de outros 20 prêmios. O Oscar ele recebeu pela direção de fotografia de The English Patient. Para o prêmio máximo da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood ele foi indicado outras três vezes: por Witness, em 1985; Rain Man, em 1988; e Cold Mountain, em 2003. Uma de tantas referências na área e que merece os nossos aplausos.

Além da direção de fotografia e das ótimas cenas de ação, especialmente da sequência inicial do filme, Mad Max: Fury Road tem como uma de suas grandes qualidades a trilha sonora de Junkie XL, nome artístico do holandês Tom Holkenborg; a maquiagem importantíssima com 46 profissionais envolvidos; para a edição de Margaret Sixel; e para o design de produção de Colin Gibson. Há quem tenha gostado dos figurinos do filme, por isso vale citar quem assina esse trabalho: Jenny Beavan.

O elenco deste filme é muito, mas muito fraquinho. Charlize Theron salva a lavoura. Além dela e dos atores já citados, o filme é composto por meia dúzia de belas atrizes, do estilo modelo e com pouca variação interpretativa, e alguns atores que fazem caras de loucos e de maus antes de morrerem. Vale citar, do elenco, por terem mais destaque na trama, Nicholas Hoult como Nux (que vira-a-casaca lá pelas tantas, deixando de seguir o guru imortal para defender a mulherada desprotegida); Josh Helman como Slit; Nathan Jones como Rictus Erectus; Zoë Kravitz como Toast the Knowing; Rosie Huntington-Whiteley como The Splendid Angharad; Riley Keough como Capable; Abbey Lee como The Dag; e Courtney Eaton como Cheedo the Fragile.

Mad Max: Fury Road teve première na Califórnia no dia 7 de maio. No dia 13, a première foi em Sydney – no mesmo dia a produção estreou na Bélgica e na Jamaica. Nos dois dias seguintes o filme estreou massivamente em dezenas de países, inclusive no Brasil.

Esta foi uma produção milionária, de fato. Mad Max versão 2015 teria custado cerca de US$ 150 milhões. Nas bilheterias dos Estados Unidos o filme faturou US$ 151,15 milhões e, nos outros mercados, mais US$ 216 milhões. Ou seja, no total, cerca de US$ 367,15 milhões. Conseguiu se pagar e obter um pouco de lucro – já que não deve ter saído barata a divulgação mundial massiva como ele teve. Para comparar, o Mad Max original conseguiu US$ 8,75 milhões nas bilheterias dos Estados Unidos – em um tempo em que este valor era bem significativo.

Para quem se interessa sobre as locações dos filmes, Mad Max: Fury Roda foi rodado principalmente no Deserto da Namíbia, mas teve cenas rodadas também em estúdios na África do Sul e na Austrália.

Esta é uma produção da Austrália e dos Estados Unidos.

Antes que alguém me interprete mal e venha aqui dizer: “Ah, mas você não gostou do filme porque você não gosta de filmes de ação e/ou pós-apocalípticos”, deixa eu tornar a questão mais clara. Meu problema com este novo filme não é apenas porque tenho uma lembrança melhor do Mad Max original – que, apesar de ser um pouco enrolado no desenvolvimento, valoriza muito mais a relação entre os personagens e a loucura que começa a tomar conta das pessoas -, mas porque eu não gosto de filmes sem história e que são pretensiosos.

Vou dar um exemplo: gostei mais de The Expendables 3 (comentado aqui) do que deste Mad Max: Fury Road. Os dois filmes são, declaradamente, de ação. Existem para isso, para um desfile de cenas de perseguições e afins. A diferença é que The Expendables 3 deixa claro que existe só para isso e o roteiro tira sarro do próprio gênero. Há “penso” e despretensão no filme. Mad Max: Fury Road se leva muito a sério e tenta ser icônico. Nada mais chato, para o meu gosto.

Além disso, assistindo a produtos como The Walking Dead (HQ e série de TV), que se passam em um ambiente pós-apocalíptico mas que vão muito além de uma história de zumbis versus humanos, explorando bem os sentimentos humanos e a desumanização das pessoas conforme a rotina vai se tornando cada vez mais cruel e sem esperança, Mad Max: Fury Road parece um retrocesso por não ter nenhum aprofundamento deste gênero.

Como em outros casos, a minha opinião parece não acompanhar a da maioria. Prova disso é que os usuários do site IMDb deram a nota 8,4 para este filme, enquanto que os críticos que tem os seus textos linkados no Rotten Tomatoes dedicaram 273 textos positivos e apenas cinco negativos para esta produção – o que lhe garante uma aprovação de 98% e uma nota média 8,8. Nota essa, diga-se, bem acima da média para o site.

Antes que eu me esqueça: algo importante que fez eu não gostar tanto deste Mad Max é porque eu fui para o cinema com grandes expectativas. Amigos meus tinham visto a produção antes e achado ela incrível, fazendo bastante propaganda… fui seca, achando que eu veria algo inesquecível, mas rapidamente vi que não seria nada disso. Daí o cansaço bateu, e eu pesquei durante a exibição – algo que não é nada comum. Por isso, meus caros, tentem não ter expectativas antes de ver um filme. Agora, da minha parte, vou tentar manter esse blog mais atualizado. Mudando de foco da próxima vez. 😉

CONCLUSÃO: Um filme que dá voltas ao redor do próprio rabo e que não se cansa disso. Ou, em outras palavras, uma história que poderia ser contada em meia hora. Mad Max: Fury Road tem um ótimo começo e um final edificante mas o recheio deixa a desejar. Como comentei na introdução desta crítica, apenas a fotografia, algumas cenas de ação e, para quem gosta de rock, a trilha sonora valem o esforço. Mas se tens pouco tempo para ver um filme, recomendo procurar uma produção melhor. Para quem lembra do Mad Max original, que marcou a carreira de Mel Gibson, não há dúvidas: aquela história foi muito melhor.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 25 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing, professora universitária (cursos de graduação e pós-graduação) e, atualmente, atuo como empreendedora após criar a minha própria empresa na área da comunicação.

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