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Truth – Conspiração e Poder


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A busca da verdade é uma premissa fundamental do jornalismo. Mas afinal, o que é a verdade? Essa questão filosófica já rendeu muitas teorias e obras. Há quem diga que não existe a verdade, apenas versões da verdade. Alguns contra-argumentam que afirmar isto é uma forma de relativizar tudo. Independente da tua própria verdade, caro leitor, Truth nos apresenta mais um roteiro baseado em uma história real sobre uma investigação jornalística em busca da verdade. Desta vez, um grupo de jornalistas experientes tenta comprovar que o presidente dos Estados Unidos mentiu. Um bom filme, com grande elenco, mas ele poderia ser melhor.

A HISTÓRIA: Começa com a narrativa de jornalistas sobre a perspectiva para a reeleição de George W. Bush. A população estava bem dividida na fase da campanha. Corta. Em Washington, em outubro de 2004, a jornalista Mary Mapes (Cate Blanchett) está tricotando na sala de espera do advogado Dick Hibey (Andrew McFarlane). Quando eles começam a conversar, existe tensão no ar e Mapes fala sobre os seus 20 anos trabalhando como jornalista, atuação que lhe rendeu dois Emmy, a denúncia dos abusos em Abu Ghraib e uma prisão por proteger as suas fontes. Mas em breve ela terá que contar com a ajuda de Hibey para se defender de um outro caso, desta vez uma denúncia feita pela equipe dela envolvendo o presidente candidato à reeleição George W. Bush.

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Truth): Gosto de filmes com técnica e grande elenco. Como não gostar? Esta produção com roteiro e direção de James Vanderbilt baseada no livro de Mary Mapes apresenta logo no início estas duas qualidades. Recentemente assistimos ao premiado como Melhor Filme no Oscar 2016 Spotlight, outra história sobre uma investigação jornalística. E ainda que os dois filmes tratem dos bastidores da profissão, eles tem abordagens, qualidade e defeitos muito diferentes um do outro.

Como já falei de Spotlight neste texto, vamos nos concentrar em Truth. Como eu disse, logo nos primeiros minutos do filme somos apresentados a duas de suas principais qualidades: um grande elenco, com ótimos atores, e muita técnica. Para tornar a história sobre jornalismo e bastidores da política interessante, Vanderbilt utiliza algumas técnicas conhecidas no cinema.

Para começar, ele parte de um ponto quase perto do final da história como introdução para fisgar a atenção do espectador, colocando drama e suspense na trama, para então voltar seis meses no tempo em um longo flashback narrativo que será o núcleo deste filme. Começamos com a protagonista Mary Mapes claramente pressionada, mas ainda não sabemos de que forma. Só presumimos que ela está com um bom problema já que está procurando um ótimo advogado. Depois de demonstrar que é uma mulher forte e com opinião, ela diz que apenas fez o seu trabalho. Hibey pede para ela explicar melhor o seu trabalho como jornalista, e é assim que voltamos seis meses no tempo.

Mary Mapes é a produtora do conhecido programa 60 Minutes, um dos mais premiados e importantes programas da TV americana de todos os tempos. Ela trabalha com Dan Rather (Robert Redford), um dos nomes mais conhecidos e respeitados do jornalismo dos Estados Unidos. Quando a história volta no tempo, ela retrocede o suficiente para mostrar Mapes liderando um dos grandes furos do jornalismo dos anos 2000: a denúncia de abusos e torturas praticados por militares americanos em Abu Ghraib.

Depois deste golaço, Mary Mapes volta a focar em uma história que ela não tinha conseguido aprofundar quatro anos antes, no ano 2000. Vale ponderar, contudo, que estamos falando de abril de 2004, quando o então presidente George W. Bush estava tentando a reeleição – e as pesquisas mostravam uma disputa apertada. No ano 2000 a jornalista tinha recebido a dica de ligações entre os Bush e a família Bin Laden.

Assim como a sugestão de que Bush teria servido a Guarda Aérea Nacional do Texas por influência política e sem, de fato, servir do jeito que deveria – apenas para fugir da Guerra do Vietnã e para, claro, participar do “grupinho” de poderosos daquele tempo. No ano 2000 Mary não conseguiu comprovar estes fatos mas agora, em 2004, em plena campanha de reeleição de Bush, ela resolve voltar ao assunto.

Daí entra em cena outra técnica importante do cinema e bem utilizada por Vanderbilt: imprimir um tom de suspense e aventura na trama. Mary Mapes lista um grupo de pessoas que ela quer “convocar” para a missão de apurar este caso. Eles são apontados como se fossem agentes especiais de um filme de ação. A boa edição e a trilha sonora de Truth ajudam nesta tarefa de dar ritmo e suspense para a trama. Vanderbilt, sem dúvida, entende bem do seu ofício.

Desta forma que entram em cena outros atores importantes deste filme: Topher Grace como Mike Smith, jornalista “underground” e que claramente é contra as políticas “contaminadas” do sistema; e Elisabeth Moss como Lucy Scott, jornalista que ajuda a equipe a ir atrás das fontes que podem comprovar a história. Além deles, a esta altura, já tinham aparecidos outros dois nomes fundamentais do filme – além da protagonista, é claro: o sempre fantástico Robert Redford, um dos grandes atores de seu tempo, e Dennis Quaid como o tenente-coronel Roger Charles, um consultor para assuntos militares com grande experiência em investigações jornalísticas.

Aí está o grande elenco. As técnicas citadas, especialmente a boa edição e trilha sonora que reforçam o roteiro preocupado em uma história com ritmo, continuam até o final. Mas e a história propriamente dita? Neste ponto Truth se torna um filme interessante e também apresenta o seu principal problema. Enquanto Spotlight trata de uma longa investigação que será publicada no meio impresso, Truth aborda uma investigação bem feita, mas apressada, e que será vinculada pela TV. Essa diferença fundamental entre os meios define parte dos problemas que serão enfrentados por Mary Mapes e sua equipe.

Perguntar, perguntar e não parar de fazer perguntas é uma das premissas mais importantes do jornalismo. Mary Mapes e sua equipe acertam ao fazer as perguntas, mas erram em querer apressar as respostas. Com uma janela para divulgação da reportagem sobre as mentiras que teriam garantido a carreira militar do presidente dos Estados Unidos – um tema importante para qualquer país, mas ainda mais para os Estados Unidos, uma das nações mais poderosas do mundo e sempre envolvida nos principais conflitos mundiais – curta, Mapes e sua equipe aceitam as poucas respostas que eles conseguem como suficientes para comprovar o que eles tem certeza que é verdade.

Mas eis que surge um ponto fundamental para o jornalismo dar certo: a apuração tem que ser bem feita, bem cercada, sem furos ou fios soltos. Fazer bom jornalismo investigativo dá trabalho, e muito. Envolve tempo, energia, gente talentosa. Em Truth não faltaram energia e gente talentosa, mas faltou tempo. E por mais que Truth, importante ressaltar que inspirado no livro de Mary Mapes – ou seja, com um ponto de vista bem definido e claro -, tente mostrar o heroísmo dos jornalistas envolvidos naquela reportagem de 60 Minutes sobre a fraude de Bush, não dá para ignorar que eles colocaram no ar uma matéria sem amarrar bem as pontas.

Conforme o filme vai se desenvolvendo, percebemos a fragilidade das “provas” que os jornalistas tinham para comprovar que o presidente dos Estados Unidos tinha mentido sobre o seu heroísmo militar. Mary Mapes quer mostrar as relações de poder e de que forma os poderosos e ricos se protegem, inclusive interferindo nas Forças Armadas, mas ela não consegue fazer isso correndo. Boa parte da reportagem é baseada em documentos que são questionados pela tipografia – blogueiros dizem que os documentos que seriam dos anos 1970 tinham sido feitos bem depois e utilizando o Word – e não tem os testemunhos ou outras provas para corroborar estes documentos.

Essa é a fragilidade do trabalho que acaba derrubando Mary e toda a equipe. E ainda que a origem dos documentos acaba não sendo totalmente desmentida, há dúvida suficiente no ar para colocar o trabalho dos jornalistas sob suspeita. Um trabalho jornalístico bem feito deve ser à prova de contradições e de refutações. Esse não é o caso da história mostrada em Truth. Quando a equipe é ainda mais pressionada para achar a origem dos documentos e pressionam a fonte do tenente-coronel Bill Burkett (o competente Stacy Keach), a história que ele conta, meio que sem pé e nem cabeça, torna tudo ainda pior.

A verdade é que faltou mais tempo para a equipe de jornalistas que apurou o assunto. O ideal é que eles tivessem seguido no caso e não tivessem colocado no ar uma reportagem sem ela estar bem amarrada. Mas a pressão por dar o assunto antes, não apenas da concorrência, mas das eleições, fizeram eles se apressarem sem o devido cuidado na apuração de um assunto tão delicado. E depois que o assunto foi ao ar, a internet e a concorrência da CBS cuidou de desmontar a apuração deles.

Uma empresa de comunicação séria teria esperado mais tempo para colocar o assunto no ar, para começar. E depois que tivesse transmitido a informação, antes de fazer uma “caça às bruxas” da própria equipe para não perder verba do governo e publicitária, essa mesma empresa teria apoiado os seus jornalistas atrás da verdade. Ora, aqui entra em cena o grande problema deste filme: mais que mostrar o que aconteceu em 2004 antes, durante e depois daquela reportagem ser colocada no ar, revelando os bastidores de interesse do jornalismo, Truth deveria, de fato, buscar a verdade. Avançar na apuração do assunto.

Quem garantiu que Mary Mapes, Dan Rather, Mike Smith e Lucy Scott não seguissem investigando o assunto? Por que ninguém mais deu a oportunidade para eles apuraram de fato o que se escondia na história de George W. Bush. Aliás, nem foi a pior história sobre ele que colocaram em cena com aquela reportagem – no trabalho encabeçado por Mapes foi explorado apenas como Bush teria sido favorecido pelos poderosos do Texas e reconhecido na Força Aérea sem ter merecido. E, aparentemente, manipulou a situação para fugir do Vietnã. Mas a possível relação dele e de sua família com a família Bin Laden nem veio à tona.

Por que nenhum outro jornalista conseguiu comprovar aquelas questões envolvendo Bush e o favorecimento dele na Força Aérea? Ninguém realmente foi atrás do tema ou simplesmente aquela história não era verdadeira? Para mim esta é uma questão fundamental de Truth e acaba não sendo respondida pelo filme. Ele se limita a apenas contar o que aconteceu naquela investigação jornalística que acabou com a carreira de dois dos grandes nomes da imprensa americana e a explorar o ponto de vista de Mary Mapes e não avança na questão.

Se o que eles contaram sobre Bush era verdade, o trabalho jornalístico deles foi eclipsado pelos interesses comerciais da CBS e os interesses políticos de Bush e companhia. Se o que eles contaram era mentira, Truth é um grande filme sobre a falta de cuidado na apuração de um assunto de relevância para a sociedade.

Neste segundo caso, poderíamos falar de arrogância por parte de Mary Mapes e Dan Rather que, depois de serem reconhecidos por diferentes trabalhos, descuidaram de seguir fazendo bem o seu trabalho ao imaginar que eles estavam “sempre certos” – importante recordar que eles tinham acabado de marcar um golaço com Abu Ghraib. Também poderíamos tratar da pressão por resultados da TV e da pressão pelo tempo deste meio cada vez mais preocupado em “furar” a concorrência.

Agora, se seguirmos a premissa de Mapes de que eles estavam falando a verdade, este filme estraçalha os interesses envolvendo uma grande corporação de mídia. O presidente da CBS News Andrew Heyward (o competente Bruce Greenwood) encarna, nesta produção, tudo o que o jornalista investigativo odeia. Ele está interessado no negócio da TV, ou seja, em seus anunciantes e, neste caso específico, na verba que vem direta ou indiretamente do governo.

Quantas empresas de mídia todos os dias e enquanto você lê este texto não decidem o que elas publicam ou veiculam levando em conta, em primeiro lugar, os seus interesses comerciais e não o interesse público? Não por acaso muitas pessoas, especialistas na área ou não, questionam a capacidade da mídia em seguir relevante para os seus públicos. Acho que não preciso desenhar para explicar melhor que os interesses públicos colocados em segundo plano, atrás dos interesses comerciais, nunca vão garantir um jornalismo melhor e mais relevante, não é mesmo?

Por outro lado, e os executivos das empresas jornalísticas podem argumentar isso, o bom jornalismo não é feito sem recursos. E por isso a área comercial tem a sua relevância e continuará tendo. Verdade, o negócio da empresa jornalística precisa ser sustentado – e apenas o público consumidor não faz isso. Mas existem limites para a relação dos interesses comerciais e da informação. Quem está à frente de um negócio como este esse não deve nunca esquecer o papel social da mídia. Truth levanta este e outros temas e, apenas por isso, ele já merece ser visto. E, a exemplo de Spotlight, levado para as salas de aula de jornalismo para ser debatido.

Finalmente, este filme levanta, perto do final, outra questão fundamental: como a inclinação política de um jornalista pode influenciar o seu trabalho. Francamente, depois de quase 20 anos de jornalismo, sou da opinião que todo jornalista é influenciado por suas crenças – sejam religiosas, políticas ou do que for. Isso não quer dizer que a apuração dele seja “falsificada” ou “deturpada” por estas crenças, mas sem dúvida alguma a escolha de alguns temas e não de outros – quando o jornalista pode fazer a reportagem que acha importante – é influenciada pelo que ele acha importante retratar no mundo.

Mais do que o que a imprensa fala, é importante observar o que ela ignora. Neste sentido, um jornalista vai sempre buscar assuntos relevantes para a sociedade que ele próprio acredita – como, então, ter um jornalismo totalmente imparcial? A apuração da verdade será sempre criteriosa – ou deveria ser -, mas as escolhas dos temas é sim influenciada pelo que o jornalista acredita. Truth também aborda este tema de forma bem interessante.

NOTA: 9.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: Como jornalista, acho interessante e importante que o cinema de Hollywood tenha voltado o seu olhar para a profissão. Até para que mais pessoas que não são da minha área possam voltar a refletir sobre a importância do trabalho dos bons jornalistas. Vocês já pensaram o quanto sabemos hoje da Operação Lava-Jato, por exemplo, que jamais saberíamos se não fosse a imprensa? Aliás, será que essa e outras operações existiriam e não seriam “enterradas” o mais rapidamente possível se não fosse o trabalho da imprensa em divulgá-las?

Sem contar as investigações jornalísticas que trouxeram tantos temas relevantes à tona e contra interesses poderosos. O jornalismo é fundamental para a sociedade e, por mais que uns acreditem que ele não é “tão necessário” na época da internet, me arrisco a dizer que ele continua e sempre continuará sendo importante para as sociedades em que ele é exercido de forma livre e independente.

Truth tem alguns momentos muito bons. Gostei, em especial, de três. Esses momentos podem – e deveriam – render muitas horas de debate nas faculdades de jornalismo. O primeiro deles é quando a CBS pressiona Dan Rather a praticamente “acabar” com o tenente-coronel Bill Burkett em uma entrevista que, claramente, está para culpar Burkett e isentar o canal de TV da responsabilidade pelos documentos envolvendo Bush. O segundo é quando o mesmo Rather é obrigado pela CBS a se desculpar em rede nacional. E o terceiro e último é quando o mesmo Rather se despede como apresentador âncora da emissora. O discurso dele é de arrepiar. Momentos fortes.

Cate Blanchett e Robert Redford estão ótimos nesta produção. Não é por acaso que eles são dois dos melhores atores de suas respectivas gerações. Redford mesmo… ele não precisa dizer quase nada para fazer um grande trabalho. Muito expressivo, ele é um dos atores que mais passa credibilidade quando está em cena. Uma escolha perfeita para outro nome que é sinônimo de credibilidade, Dan Rather.

O diretor James Vanderbilt faz um grande trabalho com Truth. Ele sabe usar todos os recursos do cinema moderno para prender a atenção do espectador e dar ritmo para a história. Seus enquadramentos são precisos, com um olhar diferenciado para diversos momentos da produção. Seu trabalho ponderado e preciso também sempre evidencia o bom trabalho dos atores – afinal, como não fazer isso com um elenco tão bom? Seria um desperdício. O roteiro dele também tem diversas qualidades, mas ele erra ao não avançar além do livro de Mary Mapes. Apenas por isso a produção não é perfeita.

Da parte técnica do filme, há muitos elementos que funcionam muito bem e que ajudam Vanderbilt em seu trabalho. Para começar, ótima a edição de Richard Francis-Bruce. Muito boas também a trilha sonora de Brian Tyler, apesar dela exagerar um pouco no tom “heróico”; a direção de fotografia de Mandy Walker e os figurinos de Amanda Neale. Também ajudam a compor a época e os ambientes desta história o design de produção de Fiona Crombie; a direção de arte de Fiona Donovan; e a decoração de set de Glen W. Johnson.

Todos do elenco citados até agora fazem um belo trabalho. Estão centrados e coerentes com os seus respectivos papéis. Além deles, vale citar o trabalho de John Benjamin Hickey como Mark Wrolstad, marido de Mary Mapes; David Lyons como Josh Howard, diretor da TV que logo questiona toda a equipe; Dermot Mulroney como Lawrence Lanpher, um dos líderes da comissão contratada para investigar a reportagem liderada por Mapes; Rachael Blake como Betsy West, diretora da TV que também logo rói a corda e sugere que Mapes deixe de frequentar o local; Noni Hazlehurst como Nicki Burkett, mulher do tenente-coronel Bill Burkett e que tem uma das melhores sequências de diálogo do filme; e Philip Quast como Ben Barnes, uma peça importante da denúncia de Mapes.

Pequeno comentário antes de seguir com as últimas considerações sobre este filme: mais uma vez a tradução de um título de filme feito fora do Brasil é infeliz. Truth é um nome perfeito para esta história. Alguém deve ter achado que o título original ou apenas a tradução literal para Verdade não atrairia o grande público – tenho dúvidas sobre isso, especialmente porque o elenco desta produção é estelar. Mas Conspiração e Poder é para acabar, ou não? Poder ainda vá lá, porque o filme trata disso. Mas Conspiração? Não era para tanto. Questionaram a reportagem feita por Mapes e equipe, mas daí a considerarem eles conspiradores… ou a conspiração seria de outra parte? Juro que não entendi e achei infeliz a escolha.

Truth estreou em setembro de 2015 no Festival Internacional de Cinema de Toronto. Depois, o filme passou ainda por outros seis festivais mundo afora. Nesta trajetória o filme conquistou um prêmio e foi indicado a outros três. O único que recebeu, até agora, foi o prêmio para Cate Blanchett dado pelo Festival Internacional de Cinema de Palm Springs que reconheceu a atriz não apenas por este filme, mas também por Carol.

Não há informações sobre os custos de Truth, mas sim sobre a bilheteria do filme nos Estados Unidos até o dia 22 de fevereiro deste ano, quando o filme saiu de cartaz em seu país de origem. Entre o dia 16 de outubro de 2015 e o dia 22 de fevereiro de 2016 esta produção conseguiu pouco mais de US$ 2,5 milhões. Pouco, especialmente envolvendo o elenco estelar de Truth. Mas isso só comprova como histórias relevantes e interessantes nem sempre são vistas – geralmente não são – por um grande público. Uma pena.

Apesar da história ser totalmente ambientada nos Estados Unidos, Truth é uma coprodução dos Estados Unidos com a Austrália e teve diversas cenas rodadas em território australiano – incluindo cidades como Sydney e Penrith. Várias cenas foram rodadas também em Nova York e Los Angeles.

Os usuários do site IMDb deram a nota 6,8 para esta produção, enquanto os críticos que tem os seus textos linkados no Rotten Tomatoes dedicaram 86 textos positivos e 53 negativos para a produção – o que lhe garante uma aprovação de 62% e uma nota média de 6,2. Acho que apesar dos problemas deste filme, ele merecia uma avaliação melhor.

Procurando saber um pouco mais sobre Truth lendo as notas de produção do filme, descobri o porquê de parte do filme ter sido rodada na Austrália: isso foi feito para atender a um pedido de Cate Blanchett. A atriz queria ficar mais próxima da família durante as filmagens desta produção. Faz sentido, até pela proximidade de sua personagem com a família.

Esta é a estreia na direção de James Vanderbilt. Antes deste filme, ele havia feito o roteiro de outras oito produções, começando por Darkness Falls, de 2003, e passando por produções interessantes como Zodiac e por blockbusters como The Amazing Spider-Man e The Amazing Spider-Man 2.

Claro que Truth não poderia ter sido feito sem ter rendido posterior polêmica. A rede de TV CBS se recusou a passar os comerciais do filme porque argumentou que esta produção é um “desserviço” à verdade, ao público e aos jornalistas. Certo. Por sua vez, Dan Rather afirmou que Truth é uma representação muito fiel ao que aconteceu naquela época e envolvendo os fatos contados pela produção.

Ah sim, e eu já ia esquecendo de compartilhar um texto interessante na Wikipédia sobre este caso. Deram o nome de “controvérsia dos documentos Killian” – lembrando que Killian era o nome do tenente-coronel que teria questionado a colocação de Bush nos anos 1970. Vale dar uma conferida neste texto da Wikipédia e, claro, procurar mais fontes que abordem o assunto. Afinal, a verdade propriamente dita não encontramos neste Truth. 😉

CONCLUSÃO: Um filme interessante sobre uma grande reportagem que acabou mal – pelo menos para as pessoas que se envolveram no trabalho de contar aquela história. Bem narrado e, principalmente, com grandes atores, Truth nos faz refletir sobre o jornalismo e os jogos de poderes envolvendo empresas jornalísticas e o poder – leia-se políticos e principalmente o Estado. Evidentemente há muitos elementos que fazem o espectador pensar neste filme, e isso é positivo, mas Truth poderia ser ainda melhor se tivesse ido além da narrativa daqueles fatos.

Por que não avançar e tentar, de fato, comprovar se aquela teoria mostrada pelos protagonista da história era verdadeira? Faltou essa ousadia para a produção – algo que poderia ter sido feito já que se passaram alguns anos dos fatos. Apesar de desperdiçar a chance de avançar na história, este é um bom filme. Especialmente para levantar debates.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 25 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing, professora universitária (cursos de graduação e pós-graduação) e, atualmente, atuo como empreendedora após criar a minha própria empresa na área da comunicação.

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